Uma das imensas vantagens de passar uns dias fora, sem acesso a notícias e a internet, é que no regresso, enquanto nos pomos ao corrente do que se passou entretanto, temos por algumas horas a sensação de que acabámos de chegar de Marte e tudo é, por esse breve período, novidade. E o que se respira nas capas de jornais e online é uma estranha sensação de regresso à normalidade. Mas não a normalidade de estar tudo novamente bem. Não é essa que falo. É aquela normalidade que acontece quando algo de excepcional chega ao fim, e regressamos todos à nossa mediocridade. As mesmas caras de sempre com as mesmas ideias imbecis e sem futuro, as mesmas auto-importâncias vazias revelando a insignificância de quem saloiamente as exibe, as intenções gulosas de tal maneira mal disfarçadas que dá a ideia que já nem se incomodam porque isto agora é tudo nosso e vão fazer o quê. Sabemos que vão falhar, sabemos que entretanto nos vão arrastar com eles, sabemos que no entanto tudo será temporário. Dois passos para a frente, um para trás. Por muito que custe, é assim que funciona e é assim que deve ser.
Não sou grande fã de analogias de futebol, mas há uma que me parece tão óbvia que não resisto a usá-la: isto soa tudo ao periodo pós-Scolari, em que depois de alguns anos em que nada era impossível, em que o título mundial estava realisticamente ao alcance, voltámos a Queiroz e à tristeza das qualificações a custo, para gáudio de quem acusava o brasileiro de nunca ter ganho nada. Tinha-se acabado o periodo excepcional em que mostrámos aquilo que éramos capazes, para voltar à mediocridade e ao desperdício de capacidades.
Mas esse regresso não é definitivo, felizmente, porque há sempre algo que fica quando passa o turbilhão. Fica, para uns, a memória indelével desse tempo em que éramos apontados no NYT como exemplo pela inovação, e para outros, os medíocres que agora se regozijam, fica o fantasma que os vai perseguir quando não o conseguirem. Rasteiraram o campeão, mas a barra continua lá. Bastante mais alta, para todos verem. Agora saltem.
Assim é, Vega: nem tudo se perde. Algumas árvores foram plantadas e as sua raizes solidificaram. Um dia destes darão frutos.
Mas é verdade, os próximos tempos serão daquela “apagada e vil tristeza” que nos é tão peculiar e onde tantos, neste País, parece que se deliciam em viver. Só que, atrás de tempo, tempo vem; melhores dias hão-de vir e uma nova esperança brilhará, assim não haja desistência na prossecução dos objectivos que se procuraram atingir, mas que agora irão hibernar por algum tempo, talvez não tanto como isso.
Mundial? O homem nem o europeu, em PORTUGAL, ganhou.
Foleiro…
ora ainda bem que vim aqui ler. Ando eu tão desmoralizada nestes tempos a sentir que “tínhamos uma solução e detámo-la fora”… e a ouvir o presidente, que parece agora que não se cala.. estava mesmo a precisar de olhar lá para cima e ver a barra.
Vega:
Excelente texto. A prova mais provada que somos um País amargurado e só damos valor ao que não é nosso está no segundo comentário. Se nos referimos a algo que fez levantar o nosso ego, vem logo os velhos do Restelo carpir que não foi assim mas assado.
Bem vindo de volta à bloga, Vega:) Muito bem visto, é um regresso à normalidade, a essa normalidade. O que foi plantado dará frutos, e a barra de facto está alta. Agora que salte quem tanta questão fez de por em causa o país e inclusive o euro para chegar ao governo. Assim é a alternância democrática , em Portugal, na UE. Nesta UE onde o medo, o conservadorismo ganham tanto terreno. Logo numa altura em que a UE podia ser a nossa força, ou talvez por isso. Nos outros estados-membros como em Portugal, o que se passa é muito semelhante. Como dizes, agora saltem. Outros tempos virão, cabe-nos também exercer a nossa cidadania e não esmorecer.
Adorado vega, qual luz de Lira que nos ilumina intensamente com a tua força e inspiração. Nem os teus 25 anos-luz de distância nos afastam do essencial. Irmão agora regressado, a tua ausência pesou sobre o meu coração e quero que te sintas de novo em casa, no conforto do amor e gratidão do coração.
As boas novas é que existe um novo projecto grandioso em marcha e tu assumes um lugar especial nele. Por isso te quero relembrar, uma vez que os teus afazeres te impediram decerto o contacto com a boa-nova. Aqui fica de novo a carta magna do nosso futuro comum, amado e fiel irmão da luz. Aceito propostas de pequenas mudanças, antes de me mudar completamente para Paris:
“Quanto mais vos escuto mais vos ADORO: continuam a prestar homenagem ao homem mais genial da política portuguesa, mesmo depois da injustíssima derrota que os animais rastejantes organizados sobre a forma de tsunami de merda lhe provocou, o que me sensibiliza profundamente.
Já tenho até uma proposta para a comissão instaladora da Basílica para beatificação do Santo Sócrates (SS):
Presidente: Vigário Mor – Valupetas
Sacristãos: Isabel Moreira, José do Carmo Francisco, Vega9000
Capelão: Shark e Aniper
Acólitos: Penélope, Mário, Marco Alves, Sinhã, Ibn Erriq, S. Bagonha, José Fernandes, Carmim, Aeme, catarina, Margarido teixeira, AP Santos, edie e muitos outros amigos e fiéis.
Para moço de recados: Manuel Pacheco e outros recém convertidos.
A PAZ ESTEJA CONVOSCO
EU ADORO-VOS”
A barra está alta ,mais a mais quando a Drª MFL preconizou que o mafarrico nem na oposição poderia ficar ! Com Sócrates transformado em assombração ,como é que a barra não lhes há-de parecer ainda mais alta !
José Oliveira, assim é realmente. Mas tenho cá a impressão que teremos que ter em mente que os frutos são o que importa quando quem não os plantou os quiser colher. Eu, pelo menos, vou ter de assistir à futura noticia da presença de Passos Coelho – se durar até lá – na inauguração da fábrica da Embraer num sítio sem objectos de fácil arremesso. É que as televisões são caras.
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Sofia C, nem mais. Obrigado pela simpatia :)
Bom, se estamos actualmente no Queiroz, quem imaginas que venha a ser o Paulo Bento?
Vega9000:
Não resisti ao que aconselha sobre o positivismo no seu texto. Tomo a ousadia de enviar este vídeo, que filmei ontem num encontro de poetas levado a cabo pela Associação Cultural e Recreativa Pedaços de Nós, de Freamunde, que celebra no próximo dia 1 dez anos de existência.
Com a colaboração da Câmara Municipal de Paços de Ferreira e a Comissão de Festas Sebastianas 2011 – que se celebram no segundo fim-de-semana de Julho – a quem endereçou convites a todas as câmaras Municipais do País para se fazerem representadas pelos seus poetas. Apareceram algumas e o evento teve efeito ao ar livre, o que prejudicou em muito, a actuação dos poetas declamadores e vários amadores que como eu o filmaram derivado ao vento que se fazia sentir e ao ruído. Quem escreveu e declamou o poema em questão não é natural e nem residente desta laboriosa terra, que tenho imenso orgulho em pertencer, mas que deu a todos nós, Freamundenses, uma lição de conhecimento e bairrismo que esta terra teve tem e terá.
É com estas atitudes e comportamentos que o País dá um pontapé no marasmo em está mergulhado.
Bem “voltado”, Vega9000
:)))
eheheh, Valupi, é precisamente por essas que não gosto de usar alegorias de futebol. Pronto, não volta a acontecer, foi uma vez sem exemplo…
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Obrigado, mdsol. :)
?
a realidade é sempre preferível à imagem da avestruzlidade. :-)
Ó adoro-vos, passa lá pela capela quando tiveres tempo que dou-te uma bênção daquelas que ficam gravadas na alma com o diâmetro de uma hóstia.
Já agora, costumas ajoelhar com frequência nos teus rituais de fé?