Nesta quinta-feira vamos ter a reedição do psicodrama por que passámos para a aprovação do Orçamento, onde Cavaco forçou o acordo. Na altura, era a sua reeleição que estava na berlinda, e não o interesse nacional – como ficámos a saber com o discurso da tomada de posse, em que contradisse tudo o que tinha andado a defender em relação à estabilidade e acalmia dos mercados.
Agora, temos o líder da oposição a brincar aos poderosos, ele que nem no seu partido tem mão. À sua volta vê uma Europa que admira Portugal, inesperadamente, como um exemplo de resistência à especulação que ataca o euro. E dentro de casa tem todo o tecido económico na dependência da sua decisão, a parada não pode ser maior. Não é só areia a mais para a sua camioneta, é o facto da sua camioneta ter os pneus furados e a bateria nunca ter funcionado. A retórica do coitadinho que está muito magoado com o malcriadão do Primeiro-Ministro apenas serve para alimentar os tontos e os fanáticos, no mundo dos adultos fazem-se contas à vida e reina a mais gélida lucidez.
De maneira que se formos para eleições por causa do PSD, pondo-se em causa o que o Governo negociou com os seus parceiros europeus, Passos Coelho entrará para a História como um dos mais criativos políticos que este país já conheceu. E logo se verá se foi suicida ou genial.
Ou «patricida» ?
esta gente tem uma visão tão paroquial das questões. são medíocres e, sinceramente, não me admira que deitem tudo a perder para irem “lamber o pote”.
passos emergiu no psd, devido ao estado lastimável a que esse partido chegou depois dos mendes, menezes e ferreiras leites lá do sítio. mas a mim custa-me muito a acreditar ainda como é que uma pessoa como cavaco consegue ocupar o cargo de chefe de estado. só mesmo em portugal. confesso, às vezes não gosto nada da democracia.
Essa de reduzir a atitude de Sócrates a uma mera malcriação que pelos vistos só deveria ofender o PSD tem a sua piada. Val, que tens a dizer, então, das palavras de Mário Soares, Vital Moreira e António Arnaut?
Começo a notar muita azia neste blog…
HG, e podes juntar Maria de Belém e outros. Mas constato que não enquadras essas críticas no contexto: um ataque do Presidente da República como se fosse líder da oposição e estivesse a apresentar uma moção de censura. Isso, juntamente com os interesses nacionais a serem defendidos pelo Governo numa crucial negociação, explica o sucedido responsabilizando todas as partes.
De resto, não sei como a opinião crítica, mesmo que negativa, pode prejudicar a democracia no PS e no País. Diria que é ao contrário.
Valter, antipatizas com a ferreira leite, mas declaras que às vezes não gostas nada desta democracia que elege cavacos. Não era a manela que queria suspender a democracia por uns meses? Ela disse isso a brincar, como tu, mas também foi sincera, como tu. Acho graça ver tantos democratas constantemente a queixarem-se da democracia – a brincar, mas sempre sinceros. És democrata, mas não gostas do resultados das eleições. É giro. Faz lembrar aquela tirada: não sou racista nem xenófobo, mas os pretos bem podiam ir para casa deles.
Excelente artigo e analise
abraço
HG, esses a que te referes já devem ter engolido o que disseram por esta altura. Nem sempre se percebe o que está em causa à primeira.
Gostaria de perguntar, se acima dos interesses dum país, podem estar todas estas questiúnculas e tão esfarrapadas desculpas?
O preço que vamos pagar não será demasiado elevado?
Se o problema do nosso país fosse este governo, não havia problema nenhum, se o que viesse a seguir resolvesse o problema, mas é demasiado evidente que o problema é estrutural e que só uma conjugação de esforços de todos poderia amenizar e racionalizar meios para a resolução dos nossos problemas e é aí, quanto a mim, que os nossos políticos falham redondamente, quando colocam os dividendos políticos acima da resolução dos nossos reais problemas, como flagrantemente agora acontece.
Não dá para perceber que o REI vai nú e que qualquer crise política que possa resultar em eleições vai trazer mais do mesmo?
Sócrates e sua equipa, fazem o que fazem porque têm as costas muito largas…
mas não há dúvida que são excelentes executantes das políticas que lhes são sopradas pelos banqueiros (por aqueles que os lá puseram). Por sua vez os banqueiros não se poupam a gastos quando se trata de contratar peritos que os ajudem a definir essas políticas. Muito recentemente o BES contratou um ex “peixe graúdo” do Lehman Brothers, Sr. Antony Fry que, ou muito me engano ou é especialista a fazer trafulhices bancárias. Vindo de aonde vem sabe muito bem quando um primeiro-ministro deve ou não deve ignorar o presidente da república (e quanto mais um coelhinho da oposição).
Centrar as críticas à política que se faz em Portugal na pessoa de Sócrates é pura miopia mental.
Aqueles que os lá puseram? Manolo, desde o 25 de Abril que a malta vota e esse teu tempo saudoso já acabou. Ainda não deste por isso?
Agora reparei que se calhar li na diagonal, desculpa-me…
Um dos mais graves problemas do PSD é mesmo esse do ‘logo se verá’, e já existia bem antes deste PEC. É espantoso que não tenhamos a mais pálida ideia de quais são as alternativas deste partido que não se cansa de repetir que está preparado para tomar as rédeas da governação. Sinceramente, ainda não percebi quais as diferenças entre esta e a última liderança do PSD. A última apostou tudo na ‘política de verdade’, na prática, tratava-se de repetir até à exaustão que Sócrates era mentiroso, quanto ao resto, era o ‘logo se verá’, com os resultados que se viram. Com a nova liderança é exactamente a mesma coisa, o Governo mente em relação a tudo, usa-se e abusa-se da palavra ‘verdade’, e é só isso. Ideias para resolver os problemas do País, ‘logo se verá’.
Desde que assumiu a liderança do partido, e tirando o clamoroso falhanço da revisão constitucional que propôs, de Passos Coelho não se ouviu nada nem uma única ideia. Os seus discursos são tão ou mais ocos do que os da sua antecessora. Deve acreditar que nos bastam, a nós eleitores, aos mercados e às restantes instituições internacionais, os seus lindos olhos. Bem, há uma ideia que tenho ouvido ultimamente, a de que não devemos diabolizar o FMI, diabolizamos antes Sócrates e todas as medidas do Governo, aproveitamos e diabolizamos também todos os resultados da execução orçamental, sobretudo se forem bons, os números das exportações e restantes números positivos, e todos os elogios que as instituições internacionais possam fazer às políticas do Governo. Quer isto dizer que quando for o FMI a ditar as medidas de austeridade as mesmas serão óptimas e necessárias e é óbvio que o povo nessa altura, ao contrário de agora, que não aguenta mais sacrifícios, terá de as aguentar.
Ou será que Passos também bateria o pé a estas medidas do PEC se fossem impostas pelo FMI? A propósito, nas várias peças jornalísticas sobre a entrevista do primeiro-ministro, não vi reproduzir em lado nenhum a parte em que este enumerava algumas dessas prováveis medidas, como o corte do 13º mês, do subsídio de férias, redução do salário mínimo, despedimento de funcionários públicos e por aí fora. Terá sido por serem mais uma mentira de Sócrates ou os nossos jornalistas e comentadores não estão muito interessados em discutir isso agora apostando também no ‘logo se verá’?
Genial és tu, meu Caro Valupi…
Vou fazer link, obviamente para “A Carta a Garcia”.
Abraço,
Osvaldo Castro
Tudo isto é ridículo. Ancorados no discurso do presidente, dizem que não aceitam mais medidas de austeridade. Impensável, dizem. Então por que razão haveria o governo de perder tempo a apresentar-lhes minuciosamente o novo plano de medidas (exigido pela UE, note-se), para eventual negociação, antes do Conselho de 11 de Março? Para não ter nada a apresentar no dito Conselho? Give me a break!
Fez o governo muito bem, confrontando-os agora com uma escolha: ou a boa solução encontrada em concertação com a UE e o subsequente alívio da pressão dos mercados, que toda a gente só pode reconhecer que é positivo, ou eleições, instabilidade, juros a subir, eventualmente FMI e, no final, medidas muito mais duras. Neste segundo cenário, tudo o que há de melhor para os portugueses, portanto! Se isto não é colocar o interesse pessoal de P Coelho e seus acólitos à frente do interesse da maioria da população portuguesa, digam-me o que é! Que nojo.
Vai ser genital e foder tudo.
democracia quando calha,
eu não disse que queria suspender a democracia, eu apenas referi que muitas vezes não gosto dos seus resultados. embora não goste, eu não acho que ela deva acabar. eu não gosto de muita gente, mas não desejo que essas pessoas morram.
também não disse explicitamente que não gosto de ferreira leite, disse que o partido estava “destruído” depois das zaragatas internas, que ocorreram quando essas pessoas estiveram na liderança do partido, porque não tenho dúvidas que ela seria uma pessoa bem mais competente e melhor preparada para estar à frente do psd do que passos coelho, que tem como curriculum, o facto de ter sido líder de uma jota, o que eu considero muito pouco.
não há génios na política apenas asnos de curtas vistas
THE DAY AFTER SOKRATES-DA FALSA IRRITAÇÃO NAS PALAVRAS
OS VERDADEIROS ANALFABETOS POLÍTICOS
NÃO SÃO AS POBRES POPULAÇÕES SEMI-LETRADAS E CRENTES EM MESSIAS
MAS OS DIRIGENTES LOCAIS E NACIONAIS CUJA MENTALIDADE
INCONSCIENTE DO VALOR DAS PALAVRAS
Ora analisemos as danças DAS PALAVRAS
Passos Cuniculus: Já me estás a irritar!
irritável
SócrateS: Porquê? O que é que se passa?
gente que quer saber a causa das coisas
de resto perguntar qualquer coisa serve para demonstrar interesse
Passos: Passa-se que estou assim. Tudo me chateia, tudo me irrita.
Tu existes e já me estás a irritar!
a existência dos outros limita o crescimento do eu político
SócrateS: Já percebei, vá, deixa-te lá disso.Esta crise é evitável.
basta haver largueza de espírito e de outras coisas
ou seja não percebeu
há muitos percebei’s em campanha
Passos: Até me deixava mas tu também não facilitas!
esta é mais difícil
SócrateS: Então porquê?
(…)
Passos: Continuamos pouco amigos?
SócrateS: Não estou para ai virado…
estava de costas….
Não nos esqueçamos que podemos também concretizar alguns dos objectivos com iniciativas legislativas dos cidadãos, para as quais bastam 35 mil assinaturas. Obrigamos assim a Assembleia a votar a proposta. Deste modo teremos mais uma oportunidade de perceber quem é quem, entre a acefalia da disciplina partidária e a definição da opinião de cada deputado. Subscrevam a petição em: http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N7885
Eu acho que nem o próprio Sócrates acredita tanto nele como alguns dos “clientes” da Aspirina.
Ingenuamente ou por mera distracção, ainda quis acreditar que estas medidas adicionais seriam propostas desesperadas do governo para se sujeitarem ao crivo das instâncias europeias, por forma a se evitar a intervenção do FMI. Ora, uma proposta implica discussão e negociação. Mas tudo indica que não é isso que aqui tem estado em causa. Foram medidas impostas para se poder beneficiar da ajuda do tal fundo europeu, não foram de todo negociadas ou “concertadas”, não havia margem para isso. Muito menos foram de mera precaução como referiu o PM na sua recente entrevista. Ou eu ouvi mal e ele não disse tal coisa? Por isso é lamentável todo este teatro de, candidamente, ainda mostrar-se disponibilidade e abertura para negociar com o PSD, como se fosse possível negociar o que já está mais do que decidido e fechado e assim fazer crer aos tolos ou a quem não tira as palas dos olhos que a crise política que aí vem é da responsabilidade de Passos Coelho. Isso sim, mete nojo.
A Penélope fala de uma “boa solução”. Custa-me aceitar a frieza de alguém para quem a congelação de reformas de 200 e tal euros é uma “boa solução”.
Espero nunca me esbarrar na rua contra estas laranjas podres, já num estado muito avançado de incontinência pelo poder, são bem capazes de sacar de uma arma, dar-me um tiro, e justificar-se dizendo que fui eu que provoquei, o que não deixa de ser verdade. Mas não é isso que está em causa, pois não ? Este tipo de retardamento, sim, mete nojo.
Este bilu bilu deve ser primo do tio tadeu ;-)
HG, tens as ideias confusas. A boa solução é evidentemente no contexto das outras possíveis.
Já agora, importas-te de aqui dizer o que propões para combater a subida dos juros da dívida para valores isustentáveis, sem razão aparente a não ser a especulação, e no quadro da União Europeia e do euro? Gostaria de saber.
Quanto ao resto que referes, as linhas gerais das medidas apresentadas podem ser objecto de alterações, até ao mês de Abril. Não podem é deixar de ser dadas as garantias pedidas a quem nos vai «acudir». Esteja no governo que estiver. A lista final pode excluir algumas das avançadas e acolher outras de efeito equivalente no âmbito da redução da despesa. Isto parece-me claro e há tempo para isso, assim haja vontade.
Havendo um Conselho prévio importante, como o que houve no dia 11 de Março, era fundamental que o governo apresentasse ali as linhas gerais das medidas de ajustamento previstas. Ora, a avaliar pelo que dizem agora os PSDs, “mais austeridade não” cantando um hino à demagogia, a eventual discussão pública das medidas antes de 11 de Março que benefício traria? Que iria Sócrates fazer a Bruxelas, no caso de o PSD fazer saber que não as apoiaria, como diz agora? Declarar a sua impotência perante a estupidez nacional? Pedir a vinda do FMI?
Penélope, no meio desta teia feita de mentiras, acusações mútuas e pouca transparência, é-me díficil não ficar confuso. Mas tento manter a clarividência possível.
Começando pela especulação. Sendo certo que é um mecanismo condenável, também não me parece que surja por obra e graça do Espírito Santo. Se temos um défice público galopante há algum tempo e uma economia que não cresce em conformidade, existe um risco maior de sermos vítimas de especulação, ou não? Pode até ser injusto, mas é a dura realidade.
Que soluções proponho? Não sou político nem técnico, mas causa-me alguma espécie que tendo nós uma máquina do estado tão pesada, recorra-se mais uma vez à solução mais fácil e óbvia, como a de congelar pensões ou acabar com deduções fiscais na saúde. E bem sabendo de antemão que o PSD nunca iria aceitá-las. Não entendo, para apresentar essas tais linhas gerais de ajustamento no Conselho prévio de dia 11, não haveria tempo para comunicar abertamente com o PSD e o PR? Ou foi tudo decidido à pressa em curtas horas? A mim, e a muita gente até dentro do PS (e não vi ainda nenhum dos notáveis socialistas que vieram criticar o PM a engolir o que disseram, como afirmas acima), parece-me não haver justificação para se ter “escondido” a intenção de apresentar tais medidas impostas por pressão europeia, a não ser que seja uma artimanha para precipitar uma crise política e responsabilizar o PSD por esse cenário. É que foi tudo feito de forma a que o PSD dissesse que não, seja pelo alcance das medidas, seja pela forma como o processo foi conduzido apenas nos corredores de Bruxelas. Passos Coelho, em coerência, não poderia tomar outra posição.
E pergunto eu: se o recurso ao fundo europeu é agora certo, porque é que ao longo destes meses nos foram dizendo que as medidas adoptadas seriam suficientes para evitar esse cenário e fomos contraindo empréstimos a juros cada vez mais absurdos? O Val bem pode dizer que a realidade é mutável e ter algum fundo de razão, mas pelos vistos Sócrates ou Teixeira dos Santos são ingénuos e não sabem disso. Ou então são simplesmente mentirosos.
HG, não queres perceber, não percebas. Faço uma última tentativa:
Até ao Conselho de 11 de Março ninguém conhecia, ou não dava por adquirido, que os parceiros europeus estavam disponíveis para aumentar e flexibilizar o Fundo de Ajuda Europeu. Estando a ser exercida pressão nesse sentido por vários Estados-Membros, entre os quais Portugal (ida a Berlim deve ter alguma coisa a ver), e estando obviamente José Sócrates ciente de que tal flexibilização teria forçosamente contrapartidas (é a Europa que temos, não é outra!, olha para a Irlanda, que vai ser obrigada a aumentar o IRC se quiser renegociar a dívida), viu-se obrigado a propor algumas das medidas que considerou enquadrarem-se nas exigidas, isto na hipótese, ou até na iminência, da flexibilização e do aumento do tal Fundo. Coisa que, repito, não estava garantida.
O que aconteceria se as linhas gerais dessas medidas fossem propostas formalmente para discussão, digamos, em Fevereiro? Quanto a mim, exactamente o que está a acontecer agora: berreiro, ameaças de crise política (tens presente a discussão do orçamento?) e, para efeitos da reunião de 11 de Março, total ineficácia negocial junto das instâncias europeias.
Agora, revelada a mudança de posição da Europa em relação aos Estados em dificuldades, José Sócrates pode apresentar-se com, ele agora, uma contrapartida positiva para o país do fornecimento das tais garantias: a continuação do financiamento nos mercados, sem FMI e com juros comportáveis. Não querem o congelamento das pensões? Proponham então algo mais justo e de receita equivalente. Há tempo e abertura para isso!
Para mim, um governo minoritário não deixa de ser governo e, enquanto governo, tem toda a legitimidade para procurar e lutar pela melhores soluções para o país. Não sou do governo, nem me chamo José Sócrates, mas não posso deixar de reconhecer que a via seguida, deixando embora amuada a oposição, é a mais positiva para o país.
Quanto às razões para a subida galopante das taxas de juro da dívida, nada – nem a execução orçamental, nem a taxa de crescimento da economia e das exportações, nem a redução assinalável da despesa já conseguida – a justifica, como é fácil de ver e como os próprios parceiros europeus reconhecem ao flexibilizarem as suas posturas.
Penelope:
Parabens e obrigada boas explicações vem dando,
tambem pela muita paciencia q demonstra,
que hoje por hoje, é uma preciosa virtude mui virtuosa…
abraço
Obrigada eu, Aires.