Dominguice

O funeral de Carter originou uma situação fascinante, cuja causa principal radica na ausência de Michelle Obama. Como ela não esteve presente na Catedral Nacional de Washington, o protocolo sentou Trump e Obama ombro com ombro. De imediato, Trump começou a conversar com o tal fulano que espalhou não ter nascido nos EUA. As imagens mostram um Trump inclinado para Obama, e um Obama exemplarmente composto, respondendo sem olhar para Trump nem ter a mínima inclinação do tronco na sua direcção. Mas o que surpreendeu tudo e todos foi o registo descontraído, sorridente, risonho que o diálogo ia gerando. Um outro elemento de surpresa fascinante veio através de Harris, que não resistiu a olhar para os dois na palheta atrás de si (portanto, ouvia-os) e que perdeu as defesas emocionais ao se deixar apanhar com um esgar de profunda aversão na sequência — o qual, na minha interpretação, veio de ela achar indecente a falta de decoro que os dois estavam a manifestar, comportando-se como se estivessem num café. Também parte saborosa desta incrível reunião de soberanos norte-americanos foi a pancada na barriga que Bush dá a Obama quando foi sentar-se, sinal de intimidade, e o olhar esgazeado de Trump para Harris quando esta chegou. Ele estava desesperado por um olhar dela, o qual não obteve para seu visível desgosto. Após a cerimónia, respondendo a jornalistas, Trump exibiu-se como o narcisista megalómano que é. Parecia feliz da vida por Obama ter dado sinais de que gostava dele. Estava-lhe tão penhorado que até largou um alucinado “We have a little different philosophies”, de repente fantasiando que eram politicamente parecidos. É esta a insaciável carência de um ego frágil, sempre à procura de atenção e validação, condenado à maldição de Tântalo. Obama não disse nada publicamente sobre a conversa entre os dois.

O fascínio deste momento veio de estas pessoas se terem comportado como pessoas que são, não como actores nos palcos do poder supremo. Precisamos de nos lembrar mais vezes disso, pois tal convida à participação política.

16 thoughts on “Dominguice”

  1. “Trump começou a conversar com o tal fulano que espalhou não ter nascido nos EUA.”

    E o tal fulano que antes havia dito Trump ser impróprio para o cargo começou a conversar com ele.

  2. Sejam bem-vindos ao site da Caras.

    Funerais como o do Carter são sempre uma oportunidade perdida: podia-se limpar muita canalha que lá se junta. Como em qualquer ninho de baratas era só aplicar Raid.

  3. Outra coisa. Onde param os representantes e porta-vozes da União Europeia e da Nato quando um país, supostamente seu aliado, resolve iniciar procedimentos de anexação de uma parte do território da Dinamarca? Onde anda a chefe da diplomacia europeia Kallas? Calou-se? A seguir à sabotagem do Nordstream, este é mais um episódio a ilustrar como a subserviencia e submissão da Europa aos neocons de Washington a conduziram ao total desprezo pelo resto do mundo. Também por isso, França está a ser corrida de África e do seu ultramar a pontapé.

  4. «Trump exibiu-se como o narcisista megalómano que é. Parecia feliz da vida por Obama ter dado sinais de que gostava dele.»

    Obrigatoriamente Trump estava perante e de frente a ver o caixão de Carter a fazer julgamentos pessoais acerca da certeza do seu futuro. Era o seu narcisismo megalómano a sentir que quaisquer que sejam as suas façanhas megalomaníacas o seu futura está determinado. E determinado quer acredite ou não no método científico, na alquimia, no gnosticismo ou na fé do deus que diz ir falar com ele quando precisa.
    Assim, o homem ‘MAGA’ sentindo as vísceras fracas tentou ser humano ao lado de Obama mas, saído do ambiente de futuro negro local, logo, voltou a tirar forças bélicas da fraqueza física para atirar ao mundo mais ameaças de “fogo & fúria’, exemplares e educativos. Contudo, nota-se que o bronco que quer ser façanhudo à força já não é o mesmo da primeira candidatura, pelo contrário, estará mais próximo de ser um novo velho gasto Biden do que aquele garanhão que vai às putas porque a mulher está grávida.
    Contudo, como narcisista megalómano à maneira de Xi e Putin, e dado o pouco tempo que lhe resta, está com pressa de deixar a sua marca de César conquistador e unificador de um império à medida de sua gigantesca egomania. Tendo ganho o seu estatuto de “feroz” junto dos seus apaniguados já não pode voltar a ser outra coisa. Está obrigado a ser um avatar de um deus irado para manter as hostes continuamente focadas e em tensão acerca da sua ‘palavra’ de escritura, infalível.
    Tal qual o fizeram todos os ditadores tiranos históricos conhecidos, perante o caixão de Carter e a visão de sua breve morte inevitável o tirano, trava a sua ultima batalha para ganhar a imortalidade como herói.
    O bronco ainda não sabe que no séc. XXI já não há heróis militares por cometerem chacinas sobre os povos.

  5. Fiquei estupefacto. José Prata Roque perdeu eleições para FAUL para uma militante que é eurodeputada. Mas o que é isto? A maior organização distrital do país entregue a uma eurodeputada em desfavor de um excelente quadro, como me parece ser Prata Roque. Li a notícia há pouco e fiquei desolado. Aprecio muito este senhor. Não conheço a senhora, mas interrogo-me como é que uma eurodeputada pode exercer coma deva ser este cargo na Faul – e no parl. da UE.
    Quanto à cena acima referida……
    É tudo escória.

  6. tu não ficaste agora, já és estúpido defacto:

    1 – sim, o resultado da eleição foi 30% para o prata roque e 70% para a uma militante que é eurodeputada que se chama carla tavares e anteriormente foi vereadora e presidente da câmara da amadora.

    2 – isto que não percebes é democracia e a tua reacção é clubismo de espectador do wrestling político, fomentado pela comunicação social para formatar as cachimónias e insuflar disparates de artolas como tu, que depois ficam desolados com a derrota dos seus elvis presleys, que lhes parecem ser excelentes quadros. pois, a eleição para a faul tem critérios de apreciação diferentes da escolha do melhor quadro dum museu de pintura.

    3 – tanto quanto sei o cargo não é remunerado e a carla tavares não pretende usá-lo para se candidatar à próxima presidência da câmara de lisboa.

    4 – do prata roque ficam os casacos esquisitos, o penteado e a boa educação asfixiante de bugalhos e morgados, da outra que não conheces e adjectivas de escória ficam 20 anos de experiência autárquica na amadora.

  7. Por que te destemperas assim e desatas a chamar-me “estúpido”?
    Onde associei a senhora a escória?
    “Casacos esquisitos, penteados, boa educação “….. – não me digas que és militante do PS……?
    Não te dás conta de que és parvalhão?

  8. Ó amigo Fernando, dilacera-me o coração mas tenho que admitir, o Piaçaba tem razão em relação ao Prata Roque. É um amaneirado candidato a estrela de tv a fazer chichi às pinguinhas por voos muito mais altos, com todas as condições de moderno “socialista-progressista” que, infelizmente, lembra outras abetardas por quem o Fernando já se apaixonou (e o Piaçaba também). Dai a insultá-lo devia ir uma distância grande, mas o papel de guardião da sede não lhe permite evitar.
    Mas não desespere Fernando, o Prata Roque é tão empanturrado dele mesmo e está tão disposto a ser estrela, que não faltarão oportunidades de apoiar o “excelente quadro”.

    O Piaçaba escusava de, nessa vertigem de sniper bom, se pôr a fazer fogo amigo e perceber que o Fernando estava a chamar escória aos americanos do post (curiosamente e com muita graça, ao próprio Obama, outra paixão assolapada).

  9. “Não te dás conta de que és parvalhão?”

    somos todos parvalhões, mas há uns que se esforçam mais e têm prazer em demonstrá-lo.

    “Por que te destemperas assim e desatas a chamar-me “estúpido”?”

    o tempero é teu, identificas a carla como “militante que é eurodeputada” e o roque pelo nome completo, só faltou o nif, depois estabeleces comparações para o cargo baseado em ignorância confessada e especiarias televisivas.

    “Onde associei a senhora a escória?”

    aqui:
    “Quanto à cena acima referida……
    É tudo escória.”

    afinal era no poste do enterro, que fica 6 comentários acima daquilo que escreveste. só me faltava ter de contratar um enguias para descodificar a tua estupidez e defender a dele, que ninguém luta pelo segundo lugar.

  10. Héhehehe! Vê que o balde que tem na cabeça o obriga a viver aí sozinho, nesse escuro pestilento a que se deixou condenar.
    Com o Fernando, embora em habitual discordância, consegue-se viver com a salubridade normal das pessoas decentes. Consigo é mais difícil, você não convive, apenas existe aí na arrecadação das traseiras. Ao menos, com este frio, obrigue-os a porem-lhe aí um aquecedor.

  11. ” Consigo é mais difícil, você não convive, apenas existe aí…”

    obrigado pelo elogio. na realidade não ando aqui para combíbios evangelizadores e muito menos para consensos com fachos de direita ou de esquerda. tão-pouco existo, só aquilo que te custa a engolir ou estraga a homília.

    essa forma do verbo héver (Héhehehe) apresenta vários erros e revela algum nervosismo de quem não tem argumentos. primeiro porque não existe, caso existisse eram três glamorosas asneiras de quem não percebe de sintaxe, ortografia e fonética e em segundo lugar porque ninguém se ri com esse trejeito. escusas de agradecer.

  12. Realmente eu querer trocar cromos com um génio da sintaxe que aplica: “não ando aqui… para consensos com fachos de direita ou de esquerda” é demasiado para si. Desculpe Piaçaba, tenha a benevolência de entender o atrevimento da minha ignorância.

  13. «O fascínio deste momento veio de estas pessoas se terem comportado como pessoas que são, não como actores nos palcos do poder supremo. Precisamos de nos lembrar mais vezes disso, pois tal convida à participação política.»

    Claro, os “actores nos palcos do poder supremo” num tempo recente mas, contudo, o tempo suficientemente longo face à rapidez dos acontecimentos. Todos são passado e não apenas o morto no caixão; o próprio Trump, que se julga um futuro ainda nunca visto, vai ser sujeito ao passado consuetudinário das leis, costumes e história dos antepassados e conterrâneos atuais.
    Naquele local envolvido de futuro de sombras para velhos ex-Presidentes, as memórias são inquietantes; tudo se passou tão rapidamente e tudo se alterou tão inconformemente com o arquitetado e planeado que lhes resta serem mais humildes e humanos do que eram como quando deslumbrados por luzes e poderes excessivos que lhes encandeavam olhos e mentes.
    Podemos ver e sentir que “tal convida à participação política” nos democratas o facto de ex-presidentes, antes, soberbos de poder assistirem como gente normal em homenagem à morte de um deles. Nas democracias é um facto que tais exemplos de humildade face à fraqueza humana perante o tempo nos convida a refletir acerca de haver um tempo para a política e os outros e um tempo para nós próprios e família, ao contrário dos totalitarismos. Nestes regimes tal não é normal nem visível, nem é normal sequer existirem ex-Presidentes vivos, pois, ou morrem no posto em estado de geronteocracia ou são arredados por golpes internos acusados de erros graves e depois completamente arredados de vida política e vistas públicas. Na substituição do poder totalitário por outro de igual sentido é, tão só, exaltado o novo poder do novo senhor num ritual de religiosidade onde o novo senhor se inicia como o “Ele” que fala e dita e todos devem obediência ou serão obedientes à força.
    No totalitarismo uma vez instalado no poder o senhor “Ele” não mais este pode dar, em circunstância alguma, sequer o mínimo sinal de humildade, fraqueza ou erro; e a infalibilidade d’Ele é a lei.

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