Dissertação sobre a memória dolorosa de um tempo que passou
Cheguei muito cansado ao alto desta calçada depois de uma manhã passada à procura de raridades na Feira da Ladra. São coisas que ajudam a entender uma certa memória do meu tempo de jovem. São revistas, programas de teatro, jornais, fotografias de artistas de cinema desse tempo, uma memória de papel. Recorto e colo em cadernos.
Mas há outras memórias. São fortes como quistos, são negras como papilomas, agarram-se à pele e fazem sofrer. Eu tinha sete anos de idade. Um dia na Rua da Verónica estava um grupo de rapazes a jogar à bola. Passavam poucos automóveis, era o tempo da II grande guerra, a gasolina estava racionada e havia táxis a gasogénio. Essa era a alcunha de um jogador que veio dos Açores para o Benfica e, visto ao longe, parecia um automóvel com o seu depósito de gasogénio. Era o Teixeira. Estava eu distraído com o jogo quando um polícia apareceu e me levou para a esquadra. Os miúdos foram dizer ao meu pai e, passados alguns minutos, lá apareceu ele. Identificou-se perante o agente da PSP que lhe fez continência e me deixou em paz. Não houve multa. O meu pai era militar de carreira e o polícia não quis alimentar conversas. Passado poucos dias eu cheguei à Escola e disse ao director: – «Bom dia senhor director!» A resposta da cavalgadura foi uma estalada que me deixou marcas no rosto até ao fim do dia. O canalha queria que eu fizesse a saudação nazi com o braço levantado. Era o tempo da guerra e aquele porcalhão era germanófilo. O meu pai soube do caso por uma vizinha mas não fez nada. Ao contrário do polícia (um pobre diabo) o director da Escola (um pulha) ficou sem punição. Hoje subo a calçada e olho para esses momentos dos meus sete anos com um repúdio feito de ódio, rancor e ressentimento. Não lhes posso perdoar.
oh meu! andas armado em deolindo do estado novo? vai aldrabar para outro lado, se nasceste em 1951 e se tinhas 7 anos como apregoas, a treta que cantas, a ser verdadeira, tem uma década adiantada e nos capítulos anteriores o teu pai era motorista da pide.
Não dá para perceber, amigo Zé. Isto é ficção ou História? Fomenko não é de certeza e o vento não bate assim. O texto, apesar de dogmático e generalizante, está muito bonito e cheio daquela simplicidade que agrada a quase toda a gente e a alguns brutos como eu. E digo “brutos” porque conheço dezenas de catraios desses tempos e nunca nenhum deles me contou ter levado assim um tabefe sem mais nem menos, mais a mais depois dum bom-dia, de canalhas e cavalgaduras à espera de saudações nazis.
Mais cruz, menos cruz, mais foice menos martelo, a pintura podia ter saído dum kolkos ou dum kibutz. Coisas que os políticos aprenderam com a Coca Cola e a General Motors.
Caro amigo Kalimatanos – dá para perceber porque se trata de um texto meu sobre uma realidade de outra pessoa. O meu livro «Os guarda-redes morrem ao Domingo» está todo escrito na primeira pessoa do singular e eu nunca joguei futebol. E não tinha 7 anos em 1942…Um abraço JCF
efabulações de um deolindo com umbigo tipo 7 cidades, pouca freguesia e mal aconselhado. podias fazer uma join venture com o kamandros, cagas umas postas, o teu amigo do peido transforma em metano e vendem à cristas para iluminar o ministério.
E o Sporting lá foi buscar 800 mil dólares por um saco de 4 bolas, a Angola.
Dizem alguns “pretos” que continuam a ser explorados pelos “brancos”.
Na realidade o sporting do angolano Peyroteo na faria a figura que fez agora com aquele avançado…como se chama mesmo?
Por essas e outras, tornei-me ateu.
Eu tinha 7 anos em 1945 quando caiu a Bomba Antonia, era assim que os garotos ouviamos.
Nesse tempo se um director da escola, eu só conhecia a professora que me puxava as orelhas aquela sacana, se esse director me batesse queixava-me a Cristo, A Salazar ou ao Carmona que estavam na parede da escola.
Mas essa criança vítima do faxismo com essa idade, com tal curriculo deve ter chegado longe na vida.
Caro consócio – diplomacia oblige. Eu estava lá em Alvalade quando aconteceu aquela vergonha (para eles, claro) do jogo Portugal-Angola. Foi das coisas mais repugnantes que vi em tantos anos de futebol de 1988 a 2006. Naquele tempo não havia faxes por isso não havia faxismo – havia sim fascismo a sério que eles não brincavam em serviço. Veja-se José Dias Coelho e Humberto Delgado por exemplo.
Caro consócio, lembro-me daquelas cenas daquele jogo em Alvalade, embora andasse por outras paragens.
Mas o Sporting, e Benfica evidentemente, era e penso que ainda é um clube muitissimo respeitado por aquelas paragens, e é uma vergonha sujeitar-se a goleadas seja em Luanda ou Madrid ou Barcelona.
Sobre o fascismo sei o que era o salazarismo e não confundo alhos com bogalhos.
História interessante e caraterizadora de uma época que pensava longe de se repetir.
Claro que há canalhada que nunca andou obrigatorimanete de farda com 10 anos de idade, a quem o braço estendido em continência não diz nada, que até defende a política do “bico calado que aqui mando eu”, que reclamam pelo Otelo falar em golpes de estado, mas não reclama com os que foram dados na Grécia e na Itália, enfim…
Quanto ao fascismo que era diferente do salazarismo, geralmente vem de gente que nunca teve familiares em Peniche, para quem o Tarrafal seria uma colónia de férias, que pensa que ordenar aos pobres militares que na India se viram com mausers, lee-enfields ou metrelhadoras dreyse para afrontar aviões e carros de combate receberem ordens de combater até ao último cartucho e que no regresso foram apelidados de cobardes e traidores, que as pessoas que caíam de janelas ou eram assassinadas pelos esbirros da Pide só levavam por não terem estado quietos, que a exoneração sem direito a pensão de diplomatas, militares e funcionários públicos era coisa de pouca monta, que a repressão policial que se abatia sobre a população nas cidades e da GNR nos campos, com mortos e estropiados são contos da carochinha.
Talvez se esqueçam que nos países onde os mortos foram superiores e as vítimas mais abundantes, existiram guerras, umas civis outras de ocupação.
Tentar dar um banho de cal ao fascismo nacional apelidando-o de salazarismo é o mesmo que dizer que a DGS era diferente da PVDE.
Meu Caro Teófilo tem toda a razão mas os meus comentários são contra o branqueamento – o maluco não conta para o totobola. Os outros comentadores escreveram faxismo e eu logo espingardei – não esqueço o quadrilátero da vergonha – Aljube, Caxias, Peniche, Tarrafal. Ainda há pouco tempo num texto sobre o Horóscopo de Delfos se falou nisso – pessoas que caíam à rua das janelas das casas.