«A casa e as sombras» de Joaquim do Nascimento
Este é um título feliz para o conjunto de 18 crónicas sobre uma aldeia do Alto Douro (Pereiros) e os seus quotidianos entre 1930 e 1980. A casa pressupõe sinais de vida; as sombras são sinais de morte. Entre a vida e a morte, estas crónicas são povoadas por pessoas e pelas suas memórias. Ou seja: «As casas fizeram-se para serem habitadas. Mas não chegaram a cumprir o seu destino, mudada que foi a sina de quem lá iria viver e, desabitadas, começaram a sofrer de frio, a criar fantasmas, a revelar segredos antigos. E o povo começou a olhá-las de lado.»
O autor domina a geografia do espaço («Esta rua, sem deixar de ser a mesma, toma várias designações ao longo da sua extensão: Fonte da Ladeia, Rua de Cima, Cômbaro, Fundo do Povo, Rua de Baixo, Acácias») mas também a dos afectos a partir dum retrato a enviar para Angola: «Vê lá tu António estão lindas as nossas filhas, olha como cresceram e se fizeram mulheres. Que mal te fizemos nós, António?» A partir de uma foto de estudantes surge outra memória: «Sinto um terno prazer em revisitar cada um de vós, nome, rosto, voz, a circunstância, a terra, já soube de cor a terra de cada um de vós, nesse tempo era mais natural perguntar a alguém donde és do que perguntar quem és porque o lugar onde se nascia era um elemento importante da identidade».
Entre a casa e as sombras fica o registo das tarefas agrícolas («Vindimas pobres, sem rogador, nem rancho, nem concertina, nem ferrinhos, nem bombo») dos artistas de ofício («carpinteiro, pedreiro, sapateiro, modista, alfaiate, tecedeira, ferrador, barbeiro») e das viagens: «Da Meda para o Pinhão era jornada de meio-dia. Antes do Vilarouco fica os Pereiros, aqui entrava pouca gente e saía ainda menos, mas quem quisesse ir dos Pereiros a Penedono ao mercado quinzenal subia a pé o Monte Airoso que começa nas margens do rio Torto, Póvoa, Bebezes, Granja, Santa Eufémia, o castelo sempre à frente, para descer à tardinha. A Fernanda sabe.»
(Editora: Padrões Culturais, Apoio: Associação Amigos de Pereiros, Capa: Mário Andrade)
hum, cheirou-me a vinho doce e a tardes- meninas na Régua.:-)
Também podes dizer «vinho fino» já agora. Gostei que tivesses gostado…
gostei, sim. :)
(mas olha que não gosto disso fino).:-)
Obrigado José do Carmo Francisco pela sua leitura e pela sua bela nota.
No domingo irei apresentar estas memorias à gente dos Pereiros, cujo nome só fora escrito em livros burocráticos, nunca em crónicas ficionadas que as envolvem pela primeira vez.
Não quer o amigo subir a estrada nacional 222, desde o Pinhão, há-de cheirar a mosto nas encostas do Torto, o rio da minha aldeia, e hão-de deixar-se ver, ao longe, os castelos de de Numão e de Penedono ?!
Venha com Sinhã, se for “ela”, sentada a seu lado, na Carreira da Viúva, ou não, venha antes com Fernanda !
Jnascimento
:-) tu gostas de aspas, jnascimento. disso e de nabos
(mas aposto que o teu púcaro continua cheio).:-D
Ele não disse nada de mal – aqui nunca se sabe com quem estamos a contactar. Eu sou um caso especial pois percebe-se logo que «jcfrancisco» não é um disfarce. JNascimento também não. A propósito – a Sinhá sabe onde fica Pereiros algures entre Penedono e São João da Pesqueira???
mal nenhum. :-) (quem levou a mal?):-)
nunca lá fui. e então, deveria ter ido?:-)