(sobre foto Estúdio Goes)
A princesa do mouchão
Menina no meio da terra
Tem nos olhos a canção
Coração em pé de guerra
Da água toda a frescura
Mata a sede aos animais
Em manadas na lonjura
Do lado oposto do cais
Papoilas são raparigas
Na voz da terra a cantar
Água e terra são amigas
Só a água vai para o mar
Olhas a terra trazida
Pelas cheias deste rio
Milhões de dias de vida
Entre o calor e o frio
Memória é pensamento
Auto-estrada é novidade
Os baldinhos de cimento
Passam sem velocidade
Sobre os carros da gente
Numa nuvem de poeira
Vem o vento de frente
Mistura o pó da caldeira
Neste ar em circulação
Onde os nosso pulmões
A olhar para o mouchão
Fazem dos olhos canções
Pois, bem me parecia que isto me estava a fazer lembrar outra coisa, mas com uma diferente circulação de ar. Em 71 o Ary dos Santos fez esta para a Tonicha, não para a Filipa. São coisas que ficam no subconsciente…
Menina de olhar sereno
raiando pela manhã
no seio duro e pequeno
num coletinho de lã.
Menina cheirando a feno
casado com hortelã.
Menina que no caminho
vais pisando formosura
levas nos olhos um ninho
todo em penas de ternura.
Menina de andar de linho
com um ribeiro à cintura.
Menina da saia aos folhos
quem te vê fica lavado
água da sede dos olhos
pão que não foi amassado.
Menina do riso aos molhos
minha seiva de pinheiro
menina da saia aos folhos
alfazema sem canteiro.
Menina de corpo inteiro
com tranças de madrugada
que se levanta primeiro
do que a terra alvoraçada.
Menina de fato novo
ave-maria da terra
rosa brava rosa povo
brisa do alto da serra.
edie, o Ary dos Santos não percebia nada do assunto, nem sequer faz referências a baldes de cimento, pó da caldeira ou a pulmões.
correcção: o jcf não fala em baldes, fala em baldinhos de cimento, o que é muito mais ternurento :) (olha, rimei…)
Meus caros, não é possível fazer comparações. Há aqui apenas um elemento comum: uma «menina». O poema do Ary é lindo, perfeito. Este só é conseguido até ao verso «entre o calor e o frio». Daí até ao fim, temos: «Os baldinhos de cimento/Passam sem velocidade.»; «Sobre os carros da gente (da polícia?)». Mas o que me espanta é: «Onde os nossos pulmões/A olhar para o mouchão/Fazem dos olhos canções». Vocês sabiam que os pulmões têm olhos?! Pelo amor de Deus!
pois, eu não estava a comparar a qualidade, mas os elementos curiosamente comuns: a menina, a água, os olhos, a terra…
Escrevam as bacoradas que quiserem mas não façam comparações. Isso é miserável. A evitar, absolutamente.
Não me digas que não queres comparações com o Ary dos Santos. Porquê? Achas que és melhor do que ele? A evitar absolutamente é a falta de qualidade dos teus versos – não lhe chamo poesia. Já viste que puseste olhos nos pulmões?! E as nossas palavras é que são «bacoradas»? Perante tão grande disparate, a que não respondes nem dás explicações, só posso continuar a dizer: pelo amor de Deus!
My name.
Faz um poema sobre bácoros. Eu agora estou sem inspiração. Algo do género,
O bácoro porcalhão,
caga e mija no meio de tudo,
como se o tudo fosse dele,
É a liberdade, pois então!
Ó bácoros de fatos lavados,
Colarinhos brancos e rabo preso,
Estragais a nossa terra,
Em vara e com roubalos dados
Publica aí. É um original.
jcfrancisco, tens a memória curta. Há muito tempo publiquei um texto no Aspirina, intitulado “Ti’Silvina” e foste o primeiro a fazer uma comparação com o “Ninguém escreve ao coronel” de Gabriel García Márquez. Há que ser coerente naquilo que se diz.
Não vejo o mal das comparações. A intertextualidade em literatura é sempre inevitável e, muitas vezes, malgré soi.
jcf, aconselho-te a leres “Palimpstes, la littérature au second degré” de Gérard Genette.
Fica bem.
jcfrancisco Jul 1st, 2008 at 22:49
É uma história paralela a «Ninguém escreve ao coronel» só não percebi se perdeu os dois na guerra ou um na guerra e o outro na emigração. Excelente texto.
Hoje escreves:
jcfrancisco Set 10th, 2010 at 19:21
Escrevam as bacoradas que quiserem mas não façam comparações. Isso é miserável. A evitar, absolutamente.
jcf, é um site brasileiro, mas é para entenderes que há fenómenos inevitáveis que é melhor não ignorar:
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/ensino/transtextualidade.htm
Não consegui fazer copy past do original.
Granda Cláudia.
Apanha aí Ó VALUPI!
Não fosse alguns comentadores teus, onde pensas que estava este blog of yours, man?
Tu és espertito, andas a seguir os meus conselhos, publicas a Cláudia, o qu eacho bem, meu biatu caralhadu.
Um abraço e não abuses, manganãoe.
Então, meu, e os pulmões com olhos? Fiquei curioso em saber. Responde, pá! Se calhar tens olhos nos teus, além dos outros três!
Boa, Cláudia, assim é que é!
Ó Senhor Mário, bem, então, «outros três»? Um não conta, que é cego. Só espirra e manda trovoadas.
Porra, o JFk é um homem de visão. À atenção dos oculistas e oftalmologistas. Comecem a fazer óculos para os pulmões, devidamente preparados para o dióxido de carbono.
Analisemos o poema de per se. Vejamos que é um conjunto de versos, que muito nos diz do seu autor. As figuras de estilo, a personificação, as parábolas, as comparações, o sentimento.
Se calhar é uma canção de amigo, ó Cláudia, tu que sabes de literatura, disserta aí sobre a técnica do enjambement, sa fachabor.
D. Diniz, o homem do pinhal, também foi um óptimo trovador, então? dava pancada na isabel das rosas para se inspirar, contar e cantar aquela versalhada toda, no meio de pernas de frango e vinho da pipa. o TRAQUES nessa altura já anadava por lá, largando e o pinto da Minha Pessoa, rebolava-se no meio da malta em género de bobo da corte, aceitando os ossinhos vitaminados das gentes.
Zé, esta quadra à venda por um euro e 25. Interessado?
Melhor que eu? Nem Camões!
Eu sei bem aquilo que valho,
Só não há olhos em pulmões
Pra quem não vê um “c……”.
Velhos tempos, velhas memórias