(a Fernando Marques)
Largo do Rato tão velho
Onde chegava sozinho
Poupava pelo conselho
Dado no fim do caminho
Descia a pé toda a rua
Do alto das Amoreiras
Parece que continua
Na atitude e maneiras
Poupança de três tostões
Hoje sem equivalente
Continua a haver razões
Nas ideias desta gente
Vinha da Rua do Ouro
E jantava a todo o gás
Cada livro um tesouro
O Curso era ser capaz
Fosse na Veiga Beirão
Ou na Patrício Prazeres
Estudar era a paixão
Labirinto de saberes
Fixo agora o momento
Na memória virtual
Está o carro São Bento
Estrela-Príncipe Real
E o do Conde Redondo
O que passa e o que fica
Resguardo onde escondo
O cinco vai para Benfica
Ou um 24 para o Chile
Sai do Carmo pontual
Leva um «Canto Civil»
E quer mudar Portugal
Largo do Rato tão novo
Todos os dias procuro
Nove ruas onde o povo
Parte em busca do futuro
LISBOA MENINA E MOÇA
No Castelo ponho um cotovelo
Em Alfama descanso o olhar
E assim desfaço o novelo
De azul e mar
À Ribeira encosto a cabeça
Almofada da cama do Tejo
Com lençóis bordados à pressa
Na cambraia de um beijo
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
No Terreiro eu passo por ti
Mas na Graça, eu vejo-te nua
Quando um pombo te olha sorri
És mulher da rua
E no bairro mais alto do sonho
Ponho o fado que soube inventar
Aguardente de vida e medronho
Que me faz cantar
Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura
Cidade a ponto luz bordada
Toalha à beira mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
Lisboa do meu amor, deitada
Cidade por minhas mãos despida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida
Ary dos Santos
No Largo do Rato vive-se melhor do que no Gabão.
está embaladinha.:-) os autocarros eram giros, pareciam torradeiras. :-)
É mesmo isso Sinhã, aquele parte do meio do largo era onde os eléctricos faziam resguardo.
e agora o que há lá? (só me lembro que aqueles trilhos são quilhados para os saltos) :-)
ó pá, a poesia não pode ser parada, pá, a poesia não pode ser um conjunto de rimas de conveniência, pá, a poesia meu tem de ser bonita, transmitir com sensibilidade, ó trambolho, olha lá, aprende com os poetas pá, aprende o verso, ó pedregulho, pá, faz uma balada á citroen pá ou aos pêlos no olho do cu, pá, tens mais sucesso, meu, porque ainda fazes rir, agora com isto, só me dizes que estás patologicamente condenado, meu, sem apelo nem agravo, pá, garnda marrecu, já me tás a irritar, sempre com esta lavagem encardida de palavras, ó pá, dás vontade de formar a inquisição, fogo.
Agora foi tudo desnivelado e a placa do meio é de trânsito automóvel, já não há eléctricos como em 1966.
eheeheh, já não há electricus, ó pa ele, é só sôdades, ó pá, o quia pra benfica era o 15 pá, qual cinco qual carapussa, ó marmanju, pá.
Se ao menos nestes versos se falasse duma ratinha velhinha sentada num banco de jardim em Oklahoma…
e gostas mais ou menos, agora?:-)
Gosto menos Sinhã, gostava muito dos eléctricos. O 5 para Benfica, o 22 e o 23 para S. Bento, o 24 para o Chile, o 25 e o 26 para Estrela-Gomes Freire e o 29 e o 30 para Estrela-Príncipe Real. Ao contrário de um ignorante que entrou aqui por enagno e não percebe a diferença entre o 5 eléctrico e o 15 autocarro – esse depois substituído pelo 58, hoje 758. Aparece cada maluco…
deixa lá isso. tens de ir, matar saudades, ao museu do carro eléctrico – instalado na antiga central termo-eléctrica de Massarelos. :-)
Já lá fui uma vez quando passei um fim de semana no Porto, até demos um passeio de barco no Douro. É muito bonito o Museu.
vais outra vez: o que é bom é para repetir sempre.:-)
Chamei ignorante mas devia chamar paranóico – só um maluco se atreve a tentar desmentir quem conhece o «5» eléctrico Carmo-Benfica por nele ter viajado tantos anos.
Um poema de memória que é uma das matérias com que se constrói a História. Simples e complexo, como é tudo o que é simples. Os dois tostões que hoje não têm equivalência é, só por si, algo de muito complexo. Aqui a padaria, onde eu compro o pão meu de cada dia, passou as bolas de 20 cêntimos para vinte cinco, foi só 25% de aumento. Eis a não equivalência: somos duplamente explorados, pelos sacanas que nos governam, homens cumpridores das troiskas e amedrontadores das gentes, e por alguns pulhas comerciantes.