Este é o cartaz mais cognitivamente estimulante da campanha, porque o mais difícil de interpretar. O protagonista está a rir, vai sem discussão, posto que exibe a cremalheira toda. Mas a mensagem leva-nos para o choro e o sofrimento de milhões. Se Portugal precisa de salvação, e a salvação virá do fulano no cartaz salvífico, então é porque o desespero no País atingiu uma dimensão infernal. Estamos fatalmente perdidos, certamente por causa dos 50 anos de democracia, como outros cartazes do mesmo fulano explicam ao povo. Portanto, vai ser preciso recorrer ao Ventura para nos salvarmos, quem mais?
Eis o berbicacho na cachimónia do votante no Chega. Ele concorda com a perdição, está pronto para enterrar o 25 de Abril, mas hesita na adesão ao riso. Fica baralhado. Do que se ri o salvador? Do mal causado pelos corruptos, ciganos e indostânicos? Das mães e filhas portuguesas violadas por monhés e dos portugueses na miséria por causa dos subsídios à ciganagem? Da pretalhada com catanas? Ou será que a coisa não está tão mal assim, e o riso é apenas um sinal secreto para mostrar aos portugueses de bem que eles estão prestes a ser chamados para chefes disto e daquilo a mando do herói no cartaz?
Dilema fodido.