Entraram à noitinha na taberna, mandaram encher dois copos. Vinham de longe, quiseram impressionar.
– E aquela ribeira que passámos, onde havia um moinho no bico dum choupo?! – atirou ao moço o almocreve.
– Não vá, senhor, sem resposta! Nesse lugar vi um dia dois machos eguariços, carregados de fanegas, a trepar choupo acima! – isto retorquiu um aldeão.
– Pois hoje mesmo topámos nós um ganapo de sete braços! Está aqui o moço que não me deixa em mentira!
– Minta mais a modo, meu amo! Que o rapaz de sete braços não chegámos a topá-lo! Vimos-lhe foi a camisa de sete mangas, pendurada no estendal!
Transigiu o almocreve, e pagou uma geral.
Jorge Carvalheira
Um trisavô meu, José Henriques, era almocreve. Carregava umas mulas com panos de Castanheira de Pera e ia vendê-los de terra em terra até Trás os Montes. Na aldeia de Passos, perto de Mirandela, hospedava-se na casa da senhora Bárbara, minha tetravó, que tinha uma filha, a Graciana. O Zé Henriques era casado em Castanheira, mas engravidou a Graciana e foi corrido à pedrada pela estalajadeira. Daí nasceu a minha bisavó Maria Henriques, não confundir com a do cancioneiro, que viveu o suficiente para contar esta e outras histórias a lápis num bloquinho de capa preta.
São comentários como o Zé da Gaita que põem a escrita em dia e nos salvam do aborrecimento, sem escusadas ajudas de copos de três e tabernices.
Meu Caro Jorge, não há nada a fazer. Há sempre gente que sabe mais do que nós…
O mundo andava mal, se assim não fosse, Daniel.
Não surpreenda, pois, nem cause sobressalto.
JC,
É certo que mesmo aqui “a um passo de teclado” tem escritos diferentes, mas este, pela sua singeleza e uma certa alegria de alma trouxe algo de novo de si. Parabéns.