Bónus: Leonor da Fonseca Pimentel
Arquivo da Categoria: Valupi
Exactissimamente
Salvar Portugal
«Procura de viagens para o verão bate novo recorde. "Mais oferta houvesse, mais se vendia", dizem agências
Portugueses nunca compraram tantas viagens para o estrangeiro como na primeira metade deste ano. Procura cresce 15% face a 2024, refere ANAV. Caraíbas rouba clientes ao Algarve com preços mais baixos.»
Perguntas simples
Que tem estado a adiar a nova campanha da Ikea sobre casos giros com políticos? Será que a fartura de temas fornecidos por deputados e dirigentes do Chega, que vão desde a posse ilegal de armas, passando pela prostituição com menores, e chegando (lá está) ao roubo de malas no aeroporto (estes três exemplos sendo só uma amostra), levaram à paralisia criativa? Será que as cabeças da Hidra-Spinumviva estão a dificultar a escolha do produto Ikea mais adequado para ser promovido no boneco, com o natural receio de ficar rapidamente desactualizado?
Começa a semana com isto
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Dominguice
Pode haver ignorantes e estúpidos, mas não há inocentes. Quem vota no Chega está-se a marimbar para o seu programa, ainda mais para a sua moral. Votam porque gostam do Ventura. E gostam do Ventura porque ele promete violência política. Sem a violência na retórica, Ventura perderia o apelo que congrega indivíduos com quem não queremos privar.
A violência fascina cérebros imaturos e cérebros disfuncionais. Não foi com este tipo de cérebros que se inventou e desenvolveu a civilização da lei e da liberdade.
Português de lei
Fernando Venâncio (1944-2025)
O Fernando deu-nos a honra, e o subido prazer, de fazer parte do Aspirina B. A história dessa história, começada antes do começo deste pardieiro, algures nos finais de 2004, está contada aqui: O Fernando, o Jorge e o blogodrama
Não sou amigo dele, não o conhecia. Mas vim a conhecê-lo, ficámos amigos. Não há neste testemunho contradição, houve felicidade.
Para além da língua portuguesa, a sua amada Galiza também está de luto.
Carneirada
«É muito importante ter a consciência de que a maioria dos portugueses escolheu o PS para segundo partido.»
Aviso prévio: sou simpatizante deste cidadão, caso venha a ser secretário-geral do PS deixa-me com expectativas positivas para o que possa dar à cidade, e estas declarações que agora comento não têm qualquer importância seja para o que for (excepção para o texto aqui do pilas). Dito isto, bute lá malhar enquanto o ferro está quente.
A ideia de que o PS possa ser considerado o líder da oposição por ter mais votos do que o Chega (mais 4 313, exactamente) não é apenas esdrúxula, nem apenas absurda, é também antidemocrática. Este critério só poderia ser invocado em caso de empate no número de deputados. Não sendo o caso, espanta que os neurónios de JLC tenham sido responsáveis pelas declarações que a notícia regista. De acordo com a sua lógica, ou falta dela, a Joana Amaral Dias montada em cima dos 81 594 votos do ADN poderia exigir ficar com o lugar dado a Filipe Sousa, eleito deputado com 20 911 cruzinhas. Se o disse para que sirva de antidepressivo no partido, o tiro saiu pela culatra.
Eis o que adoraria ter ouvido da sua boca. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para ser a terceira força partidária nesta legislatura. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para ter menos deputados do que o Chega. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para deixar de poder defender a Constituição. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para deixar de participar na escolha dos juízes do Tribunal Constitucional. E que a maioria dos portugueses talvez venha a dar ainda piores resultados eleitorais ao PS em futuras legislativas. Que a maioria dos portugueses talvez um dia deixe de querer que o PS tenha representação na Assembleia da República. E que a maioria dos portugueses confia mais no Ventura e sua gente para resolver os problemas do País do que nas pessoas ligadas ao PS — as quais andam desde Abril de 1974 a servir o Estado, o bem comum e a comunidade.
A democracia não precisa do PS, apesar do tanto que lhe deve. Ao contrário é que a coisa funciona, como tem sempre funcionado ao longo da sua história.
Ai chega Chega
Quem fez isto:
Anda agora a dizer isto:
A cartilha populista é tão previsível. As mesmas encenações e manobras, a mesma manipulação básica das emoções e dos ódios.
— Mafalda Anjos (@manjos) May 16, 2025
É um singelo exemplo entre infindos. Escolho-o porque Mafalda Anjos não tem défices de cognição nem de literacias comunicacionais e políticas. A capa obtida com recurso à deturpação da mensagem — e da boa-fé — do então governante era comercialmente, corporativamente e narcisicamente irresistível. Teve profundo e extenso impacto, continua a ser citada no laranjal.
Só que, foda-se caralho, lá está: não passa de uma manipulação básica das emoções e dos ódios. Alimento do populismo que engordou por causa, principalmente, da estratégia de terra queimada seguida pela direita partidária e mediatizada desde 2004.
Perguntas simples
Curiosidades da pulharia
Dentre as caudalosas explicações que o editorialismo e o comentariado produzem em frenesim para a votação espantosa do Chega (que já o era em 2024, agora intensificada em votos e deputados, e multiplicada pela desgraça onde o PS foi parar), eis o que nunca encontramos, nunca encontraremos:
1º Que não teríamos chegado aqui se Passos Coelho não tivesse ido buscar Ventura à CMTV em 2017.
2º Que não teríamos chegados aqui se Passos Coelho não tivesse decidido colocar Ventura em Loures para testar nessa demografia e eleitorado um discurso de extrema-direita com a chancela do PSD.
3º Que não teríamos chegado aqui se Passos Coelho tivesse retirado Ventura da campanha em Loures quando o CDS rompeu a coligação por causa das declarações sobre a comunidade cigana.
4º Que não teríamos chegado aqui se Cavaco Silva e Ferreira Leite, e outras figuras gradas do PSD, tivessem apelado a que o partido não aceitasse fazer um acordo com o Chega para os Açores em 2020 — ao contrário do que realmente fizeram.
5º Que não teríamos chegado aqui se Rui Rio tivesse recusado esse acordo com o Chega nos Açores — ao contrário do que fez, tendo até admitido repetir o acordo no Continente.
6º Que não teríamos chegado aqui se o sistema partidário, o editorialismo e o comentariado tivessem tido tolerância zero para a retórica de apelo à violência política que é a constante da propaganda do Chega, e logo desde a sua origem na campanha eleitoral autárquica do PSD em Loures no ano de 2017 — ao contrário do que realmente fizeram, por considerarem que Ventura poderia ser útil para desgastar e conspurcar um PS então no Governo através das calúnias sobre corrupção.
7º Que não teríamos chegado aqui se ouvíssemos, ou lêssemos, Passos Coelho declarar que o Chega é uma ameaça à democracia e à liberdade — ao contrário do que realmente tem dito, aberta e intencionalmente.
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Dominguice
Embora impossível, imaginemos. Fazia-se um referendo com a seguinte questão: “Concorda que em Portugal as pessoas caucasianas devem ter mais direitos do que as não caucasianas?”. Tendo em conta o resultado eleitoral das últimas legislativas, qual seria uma previsão razoável, fundamentada, para a resposta a este referendo imaginado?
Ninguém se identifica como racista e xenófobo se interrogado na via pública. Mas pelo voto os conhecereis.
Pedro Adão e Silva explica
Vamos lá a saber
PNS, o Ruben Amorim do PS
Desde 2011 que Pedro Nuno Santos era visto como um fatal candidato vitorioso a secretário-geral do PS. Parte dessa convicção vinha da sua personalidade então carismática, parte vinha da notoriedade que lhe foi dada pela direita e seus impérios mediáticos por causa de uma declaração juvenil acerca do pagamento da dívida e das pernas dos banqueiros alemães. Precisava só de amadurecer um bocadinho. O seu papel como secretário de Estado dos assuntos parlamentares, entre 2015 e 2019, deu-lhe essa maturidade de estadista. De 2019 em diante começou a fase do estrelato, sendo crescentemente evidente que já se concebia como o sucessor de Costa a cada ano que passava.
Neste longo período de preparação à conquista do PS, o comentador Daniel Oliveira, pago pelo Balsemão, fez uma perseguição odienta a Costa. Em simultâneo, apontava PNS como sendo o messias que traria de volta o BE e o PCP para a ribalta do poder, muito provavelmente dando-lhes o merecido direito a pisarem as alcatifas dos gabinetes ministeriais. Era este o projecto, era esta a marca do homem. 2015 a 2019 ficava como a idade de ouro da esquerda pura e verdadeira, na versão deste prolixo comentador, pelo que Costa e muchachos ao serviço do capital deviam desaparecer do mapa cobertos de escarros e fezes. A pose de PNS, durante o ciclo promocional da sua pessoa, foi invariavelmente de grande cagança, ostensivamente petulante para com Costa, e nessa estratégia de “sucessor consumado” prometendo vir a ser um líder do PS fortíssimo.
Em 2023, PNS chegou lá. Primeiro sinal, de estranheza: a sua vitória sobre José Luís Carneiro, um discreto rival na compita, mostrou um PS muito mais dividido do que se antecipava. Segundo sinal, de preocupação: a frieza com que abandonou João Galamba num momento de injusto ostracismo, não o tendo convidado para as listas (algo que este até poderia depois vir a recusar), exibiu uma pulsão cínica, desleal. Seguiu-se uma campanha para as legislativas de 2024 onde a sua marca começou a ficar híbrida, porque não estabeleceu pontos de referência diferenciadores. O resultado dessas eleições disse mais da fraqueza de Montenegro como candidato a primeiro-ministro do que do poder de atracção do eleitorado de PNS, mesmo assim o acaso poderia ter-lhe dado uma simétrica vitória por migalhas sobre a AD. Menos de um ano depois, resolveu posicionar-se como um bronco político, fazendo comentários sobre a imigração que reforçaram a propaganda da direita. Não contente, partiu para um ataque ao Governo de Costa e a quem o defendeu. Chegou a ameaçar que tinha mais na manga para castigar esses seus camaradas. A sua marca entrava em dissolução, substituída por uma peçonha onde reinava esta contradição insanável: o tipo pintado como “amigo do Bloco e dos comunas” estava a querer entrar no comboio da xenofobia fazendo-se de amigo do zeitgeist. E, finalmente, aconteceu-nos o histórico 18 de Maio de 2025. Na sequência de uma campanha eleitoral com peças de comunicação inenarráveis, e debates televisivos onde não levou o rio a correr para a fonte, tendo assim reforçado a suspeita de não ter coragem política, veio o desengano: o actual líder do PS é um dos maiores logros na história da política nacional.
Dito isto, não o responsabilizo pelos resultados eleitorais. Só imbecis ou adversários se dedicarão a essa vingança torpe. O voto no Chega nasce de factores que transcendem a sua pessoa e o PS, implicando um ecossistema social e cognitivo tóxico; onde a informação mais eficaz está a ser produzida pela propaganda civicamente terrorista, não pelo jornalismo – e muito menos pelos discursos dos políticos que tentam falar para um eleitorado com literacia e racionalidade políticas. Responsabilizo-o é pelo que fez à sua marca, assim enfraquecendo a cidade. Tal como com Ruben Amorim, estar-se cheio de confiança garante boas entradas, não garante mais nada.
Exactissimamente
A montenegrização do regime vem aí a galope
A democracia é a pior forma de governo, indo a Churchill, por causa da sua essência caótica. À partida para as urnas, qualquer coisa pode acontecer na cachimónia dos eleitores. As sondagens são apenas induções, com a sua inerente falibilidade epistémica. E os especialistas na coisa, seja essa coisa as sondagens ou o povão, enganam-se como os néscios.
Ninguém previu o resultado mais importante saído destas eleições legislativas: o PS deixou de poder defender a Constituição. Se nas democracias os resultados eleitorais são ontologicamente bons, partidariamente há resultados para todos os gostos. No caso do PS, perder as eleições é sempre um mau resultado. Mas ficar empatado com o Chega, ou que fosse pouco acima, seria em qualquer cenário eleitoral um péssimo resultado. Vir a ficar com menos deputados do que os salazarentos, quiçá também menos votos, corresponde a uma humilhação traumática. Por cima disto, deixar de contar para uma eventual revisão constitucional é uma verdadeira, historicamente inaudita, catástrofe.
A direita não vai deixar passar a oportunidade, resta saber com que profundidade e radicalidade. Na versão mais benigna, alucinadamente ingénua, limitavam-se a varrer o Preâmbulo da Constituição, há décadas gerador de azia. Na versão mais provável, porque fundamentada em declarações públicas, esta é uma ocasião imperdível para aplicar a receita que Passos não se cansa de publicitar: “À chegada ao almoço dos ex-líderes do PSD, o antigo primeiro-ministro sublinhou a necessidade de “um espírito reformista”.
Irá o PSD juntar-se à IL e ao Chega para tal? A pressão para essa união das direitas não pode ser maior. Basta recordar que, em 2020, o santinho Rui Rio aceitou um acordo com Ventura para os Açores, depois de Cavaco e Ferreira Leite terem feito campanha pública nesse sentido. Ao tempo, Rio admitia estender o acordo a nível nacional. Donde, por maioria fanatizada de razão, a segurança social, a legislação laboral, a saúde e a escola públicas, os direitos das mulheres e das minorias, aquilo que se constitui como o legado e labor de Abril está agora nas mãos do que Montenegro quiser fazer com eles. Nada nem ninguém se lhe poderá opor.
Começa a semana com isto
NOTA
Num Estado de direito democrático — portanto, na nossa democracia — não há resultados eleitorais maus. São todos, sempre, bons. O único resultado eleitoral mau é aquele definido pela ausência de bem: a abstenção, e os votos intencionalmente inválidos e em branco. Neste platonismo, o ideal supremo é a liberdade de cada um a servir as necessidades de todos. E todos necessitamos de ter representantes políticos, ter quem Governe, ter quem permanentemente tente encontrar as melhores leis para o tempo presente e futuro, ter quem exerça, garanta e defenda a soberania.
Assim, parabéns àqueles que foram votar a 18 de Maio de 2025 com a intenção, e a esperança, de que o seu voto seja um dos símbolos maiores da sua liberdade.