Arquivo da Categoria: Valupi
Revolution through evolution
Scientists reveal the everyday habits that may shield you from dementia
.
Does Your Child Have Social Anxiety? Here’s How You Can Help
.
Study Reveals Efficacy of Nicotinamide for Skin Cancer Prevention
.
Daily eye drops could make reading glasses obsolete
.
From Icebreaker to Power Play: The New Rules of Workplace Humor
.
Why AI Is Never Going to Run the World
.
What Nations Around the World Can Learn From Ukraine
.
Continuar a lerRevolution through evolution
Dominguice
Van Jones, figura popular na esquerda norte-americana, revelou ter recebido um convite de Charlie Kirk na véspera de ter sido assassinado. Esse convite vinha na sequência de uma polémica a respeito do assassinato de Iryna Zarutska, uma refugiada ucraniana de 23 anos cuja vida se perdeu tragicamente ao ser irracionalmente esfaqueada por um afro-americano. Jones foi alvo de muitas ameaças de morte ao entrar na discussão com Kirk, este tendo aproveitado o crime para acicatar o racismo, e esse foi o contexto para a proposta de dialogarem no programa de rádio do influente aliado de Trump. Jones faz uma inequívoca homenagem a Kirk, colocando-o no campo da decência por causa desse convite e da sua prática dialogante com opositores políticos. Significativamente, porém, em nenhum passo do texto deixa um sinal de ter querido aceitar o convite. E aqui podemos apostar que iria recusar, não porque tivesse receio de debater com ele, antes porque o convite era envenenado. Ao ir para o seu estúdio, estaria a transformar-se num suporte da propaganda MAGA pois nada do que lá dissesse teria eficácia argumentativa, sequer retórica, para aquela audiência. O trabalho de edição nas peças que Kirk lançaria faria de Van Jones mais um derrotado no triunfal currículo da estrela Republicana. Obviamente, posso estar completamente enganado.
Onde não perco a aposta é nesta ideia: um dos factores na base do crescimento do Chega está na ausência de debates entre Ventura e pessoas decentes — mas também corajosas. Para tal, porém, o chunga teria de aceitar um formato que o impedisse de boicotar a discussão (o seu microfone ficaria fechado enquanto o interlocutor discursasse). A comunicação social portuguesa não organiza tal porque tem mais alergia à decência do que aos fachos.
Coisas do Carvalho
Tanto Fernanda Câncio como Isabel Moreira fizeram um rasgadíssimo elogio a este artigo do Manuel Carvalho: Manual de instruções para tempos sombrios. E isso coloca-me na aborrecida fatalidade de ir contra a sua opinião, eu que sou convicto e agradecido fã das duas por inúmeras razões.
O texto é um exercício de reconhecimento de um grave perigo para a democracia: Ventura não é só o palhaço que serviu às mil maravilhas para lançar ataques soezes contra o PS e a esquerda em geral; ele, afinal, pode mesmo chegar ao poder e dar cabo desta merda toda. O alerta é meritório, creio ter sido essa a valorização feita por Câncio e Moreira, mas quem o lança não tem cara para botar faladura na matéria. O que resulta no enésimo discurso hipócrita e cobarde vindo de jornalistas que andaram anos, décadas, a repetir contra os Governos do PS exactissimamente o que o Ventura bolça sobre a classe política.
Por ser este fulano uma das minhas irritações de estimação, sendo esta a décima terceira entrada na série “Coisas do Carvalho” (fora os extras), tenho documentado com exaustão o seu contributo para o enfraquecimento da democracia e para o crescimento do populismo. Enquanto director do Público, empenhou-se a fundo nessa tarefa. Os seus editoriais eram invariavelmente demagógicos e sensacionalistas, não se distinguindo nisso dos seus colegas editorialistas, do Expresso ao esgoto a céu aberto. Com frequência, citava o caluniador profissional da casa, atribuindo-lhe estatuto de autoridade moral. O que volta a fazer neste artigo, pois estamos perante irmãos siameses. Ambos encheram o pasquim da SONAE com centenas, se não foram milhares, de calúnias acerca de uma “elite plutocrata” que tinha criado um “sistema tentacular” (de polvo, de máfia). O “capo de tutti capi” deste gangue era Sócrates, claro. E o regime, nas caudalosas e fogosas tiradas desta dupla, estava podre.
Podemos imaginar um almoço entre o Carvalho, o caluniador profissional e o Ventura em que os três, erguendo os copos num brinde efusivo, estariam de perfeito acordo sobre a existência de um grupo criminoso constituído pelos dirigentes do PS, Caixa Geral de Depósitos, Banco de Portugal então dirigido por Vítor Constâncio, Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento, mais quem desse jeito ir buscar. Em Salgado só tocaram quando caiu, como calhordas que são, e mesmo assim apenas pela rama. Estragava um bocado a pintura ir sujar Cascais, dada a fileira direitola que foi alimentada pelo universo BES desde sempre. Esta teoria da conspiração do Sócrates monstro do crime que, montado no PS, iria meter a República no bolso foi dita e repetida à boca cheia na “imprensa de referência” durante anos e anos, sistematicamente, obsessivamente, de forma totalitária. Ventura limitou-se a repetir o bordão.
Por isso, ler agora deste senhor cagadas lacrimosas a respeito do delfim de Passos Coelho, como “Ele foi capaz de instituir a percepção generalizada de um país corrupto, liderado por políticos infames” e “As mentiras mil vezes repetidas tornaram-se finalmente na realidade”, causa-me um sentimento de náusea. Uma náusea breve, visto não ser o Manuel Carvalho, sozinho, o responsável directo por qualquer voto no Chega. Trata-se apenas de um exemplo relevante do que acontece quando o ideal jornalístico é pulverizado pela pulsão sectária. Cresce no espaço público quem melhor conseguir aproveitar esse sectarismo à solta. Contagiante. Inebriante.
RubenAmorim Futebol Clube
Olhando para o mundo, para o que se passa na Palestina, Ucrânia, Sudão, Iémen, Afeganistão, Haiti, na outrora democracia norte-americana, na vaga fascizante que varre a Europa, no Portugal onde Ventura se ri de tudo e de todos e Seguro deverá receber o apoio do PS a menos que surja um milagre, haverá problema maior e mais urgente do que a situação de Ruben Amorim no Manchester United? Não creio.
A coisa é a seguinte, vai aqui em sumário executivo:
– O homem, ainda antes de aterrar em Ringway nos idos de Novembro de 2024, garantiu que de imediato a equipa iria exibir uma “ideia”. Essa “ideia” era sua, pois claro. E as vitórias poderiam tardar, porque é preciso tempo para treinar aquelas jogadas mesmo fixes que resultam em golos, umas, e em defesas estupendas, outras. Mas quanto à “ideia”, isso ‘tava garantido. Porque a “ideia” era dele, estava-lhe acessível, o homem entendia-a, apenas tinha de mandar a rapaziada mostrar a “ideia” no relvado.
– As semanas sucederam-se às semanas, os meses aos meses, com jogos pelo meio. No final da época passada, Ruben Amorim tinha conseguido levar o United ao pior registo em 51 anos no campeonato inglês. Vieram promessas e juras de tal não se voltar a repetir, de regressar à glória já a seguir. Vieram contratações de fama. Começa a presente época e Ruben Amorim já conquistou o pior arranque da equipa em 33 anos de história. Não contente, juntou-lhe a eliminação do MU na Taça da Liga por uma equipa do quarto escalão. Quarto, o tal que costuma ficar abaixo do terceiro.
– Após a recente derrota por 3-0 com o City, o actual treinador do United veio proclamar que não iria mudar a sua “filosofia”. O que é a filosofia? Um conjunto de ideias, bué delas ao molho.
Donde, o jogo de amanhã com o Chelsea, em casa, vai ser um dos mais divertidos à disposição do espectador, gargalhada garantida. Porque tudo pode acontecer, como sempre, mas, aconteça lá o que acontecer, o idealista nosso patrício está fodido. Se perder, é despedido ou despede-se. Se empatar, despede-se ou é despedido. E se ganhar, será despedido uma semana depois quando for ao estádio do Brentford, uma equipa merdosa, empatar ou, o que será mais provável, perder.
A gargalhada não o tem como alvo. Desejo-lhe as maiores felicidades quando vier substituir o Mourinho no Benfica. E merece uns meses de descanso e recuperação após a tortura em que se meteu. A gargalhada é dirigida ao futebol como indústria que leva os adeptos para experiências de alucinação onde se fantasiam a derrotar a ontológica aleatoriedade do real.
Ruben mostra que também é um feroz adepto — no caso, de si próprio.
Volta para a tua terra, pá!
Miguel, larga o vinho
Não acompanhei a carreira jornalística de Miguel Carvalho, pelo que não tinha dele qualquer opinião. Os elogios entusiásticos de Pedro Marques Lopes a seu respeito, aquando do lançamento do Por Dentro do Chega: a face oculta da extrema-direita em Portugal, mesmo que insuflados por factores subjectivos e pela temática do livro, merecem-me credibilidade. O seu currículo regista prémios de imprensa. Donde, não me causará surpresa se a sua reputação profissional for elevada, ou até muito elevada.
Passemos para as palavras do homem:
«Tenho a tese de que o criador do Chega não foi André Ventura, nem foram essas pessoas. Acho que quem criou o Chega, o que esteve na origem deste partido, foram sucessivos Governos que falharam nas promessas e na palavra dada. É uma coisa que hoje muita gente fala e eu ouvi muito essas queixas, no terreno, por parte de eleitores do Chega, que não concordam, às vezes, com muitas coisas que o André Ventura defende, mas acham que o seu voto de protesto tem que ir para ali, porque têm a noção de que a generalidade dos Governos, nas últimas décadas, falharam as promessas com as quais se comprometeram.
Estamos a falar de coisas muito simples: o desmantelamento do Estado ao longo do território nacional, pessoas que se queixam do posto dos Correios que fechou, do hospital prometido que não foi construído, a estrada prometida que não foi construída, a escola que fechou e agora é a 30 quilómetros, entre outras coisas. Nas minhas conversas — e muitas delas foram muito longas, tenho entrevistas de cinco e seis horas com alguns eleitores, militantes e ex-dirigentes —, raramente aflora, no início, as questões que são as questões da pauta de André Ventura. O que vem primeiro, sobretudo nas zonas de interior, são estas queixas.»
Isto é uma tese de merda. Da grossa, vinda de um suposto especialista no Chega. Comecemos pelo argumento de que há pessoas a votar no Ventura porque “os Governos“+”nas últimas décadas“+”falharam as promessas“. Três vacuidades ao nível da epistemologia praticada na Feira da Malveira. Mas vamos admitir que o diagnóstico é profundo e rigoroso. E que, na sua lógica, óbvio é não ter existido uma única década, após o 25 de Abril, em que os Governos tivessem cumprido as suas promessas (seja lá o que isto queira dizer). Donde, por que caralho os carentes votantes no Chega não votaram no PCP logo desde os anos 80? Se a motivação para dar o voto a fachos e pulhas é relativa ao “posto dos Correios que fechou, do hospital prometido que não foi construído, a estrada prometida que não foi construída, a escola que fechou e agora é a 30 quilómetros, entre outras coisas“, quem melhor do que o PCP para dar isso tudo e muito mais? O PCP, após o 25 de Novembro, aceitou conviver com a democracia liberal e desenvolveu uma sólida e bela fama de integridade, dedicação aos interesses do povo e qualidade de trabalho na gestão autárquica. Tinha tudo para captar o voto de protesto, inclusive uma fortíssima presença militante no partido e nos sindicatos que fazia com que o seu programa, as suas promessas, fosse do conhecimento de toda a população. Qual a relação do Ventura e do Chega, desde 2017 até à actualidade, com essas questões de investimento local supostamente na origem do voto nos salazarentos? Nenhuma de nenhuma de nenhuma de nenhuma.
Ventura foi lançado em Loures por Passos Coelho. Tratou-se de uma experiência de radicalização originada pelo rancor e revanchismo advindos da perda do Governo em 2015. Passos quis testar um discurso de extrema-direita com a chancela do PSD. Se assim o pensaram, obscenamente o fizeram, para espanto do CDS que teve um acto de coragem e decência ao quebrar a aliança autárquica em Loures. Quem não quebrou foi Passos, que validou e apoiou o discurso xenófobo e racista de Ventura. A partir dessa data, e depois com o Chega como partido autónomo, jamais se desfez a cumplicidade ostensiva entre Passos e Ventura. A que se veio juntar Cavaco, Ferreira Leite, Rui Rio e Montenegro, para só nomear os dirigentes históricos que não só normalizaram um partido com discurso e práticas simbólicas fascistas como o elevaram a parceiro desejado ou consagrado.
E é isto que o Miguel Carvalho reconhece num outro momento da sua entrevista, contradizendo a tese inicial:
«O Chega, obviamente, que atraiu aquela direita mais ou menos ideológica que andava nos extremos há muitos anos, ou seja, toda a direita que andava nas margens do sistema e que não tinha propriamente um partido para escolher — ou um partido com esta força para escolher. Desde neonazis, pessoas das elites financeiras e económicas que antes poderiam estar no CDS e no PSD, e, se calhar, continuam a apoiar na mesma, mas viram no Chega a garantia de que o Estado Social não tem grande futuro e os seus interesses são melhor servidos ali com o espetáculo que tem sido dado e que agrega eleitorado já suficiente para se tornar a segunda força política.»
Portanto, agora o “Estado social não tem grande futuro“, e é exactamente por isso que esses abutres foram a correr para o Chega. Ou seja, os papalvos do posto de correios, do hospital e da estrada prometida estão a dar o seu rico voto a quem lhes vai até esmifrar as pensões e reformas de miséria, deixando-os mil vezes pior. Não faz sentido nenhum, a menos que se admita que os papalvos estão a mentir. Que as suas respostas são para jornalista ingénuo ou cúmplice registar. Que não têm coragem para revelar a motivação mais poderosa que os atrai para o Chega: a promessa de poderem ser eles a roubar, porque o líder tem a bófia e o Ministério Público na mão e não esconde a sua gula rapace. Indo por aqui, a sociologia do crime que se anda a construir a partir das figuras do Chega já apanhadas pelas autoridades ganha outra relevância. Porque é lei arcana, quem mais acusa os outros de corrupção é quem mais inveja a corrupção fantasiada e caluniosa.
É espantoso ver este jornalista de investigação a apagar e branquear a história da ascensão fulminante de um populista circense chamado Ventura. Alguém que tudo deve a Passos Coelho, o responsável pelo seu palco na política. E o responsável pelo seu poder na degradação da comunidade que somos, quando o Pedro quis que a desumanização extrema agitada na retórica da campanha eleitoral em Loures ficasse como espaço legitimado e pronto a crescer. A direita decadente adubou de imediato esse terreno — o fanatismo digitalizado, a ignorância histórica e o ressabiamento crónico vieram preenchê-lo com crescimento geométrico.
«o Chega não terá futuro quando houver, primeiro, políticos que saibam honrar a palavra verdade»
Eis o Miguel Carvalho a exibir-se potencial, ou inevitável, votante no Chega. Onde estão os tais políticos da “verdade”? Não nos 50 anos de democracia, como o Ventura apregoa. Também Cavaco e Ferreira Leite se lembraram disso contra um adversário que sabiam invencível por vias legítimas. Então, trataram de o pintar como mentiroso e criminoso; em nome da “verdade”, pois claro. É preciso não ter a mínima noção do que escreveu Maquiavel para achar que a função dos políticos numa democracia liberal é “dizer verdades”, como se fossem definições do dicionário ou contas de somar e subtrair. E é preciso achar que Maquiavel defendeu a corrupção política como ideal supremo da governação para confundir e misturar o pobre coitado do posto dos correios com o ogre neonazi que gostava de matar uns escurinhos. Todos juntinhos à espera do Messias que lhes vai revelar a verdade verdadinha.
Miguel, larga o vinho.
Nas muralhas da cidade
«O “terrorismo estocástico” é um termo cunhado no início deste século e define-se pelo uso de “linguagem hostil por indivíduos influentes que aumenta estatisticamente a probabilidade de violência sem apelos explícitos.” A cartilha de procedimentos é mais ou menos sempre a mesma. Primeiro, define-se um inimigo. Depois, desumaniza-se: já não se trata de pessoas, mas de pragas, cancros, invasores; wokes, marxistas culturais ou mesmo de sicários. Investe-se na retórica do nojo (politics of disgust); reduz-se o outro a coisa repulsiva, ilegítima, indesejável e perigosa para as sociedades, e que, portanto, é preciso combater.»
Começa a semana com isto
Revolution through evolution
Scientists uncover surprising link between diet and nearsightedness
.
Depression Remission Endures 5 Years After Psilocybin Trial
.
Plant-Based Nutrient Improves Immune Cells’ Ability to Fight Cancer
.
One daily habit could save you from chronic back pain
.
The foods that delay dementia and heart disease. Backed by a 15-year study
.
How to Use Nature to Restore Your Focus, with Marc Berman
.
Buying Flowers May Boost Well-Being, Reduce Stress
.
Continuar a lerRevolution through evolution
Dominguice
Charlie Kirk tinha uma iniciativa que começa por parecer um bom serviço à cultura política. O formato “Prove me wrong” expunha-o a perguntas e diálogos imprevistos vindos de uma audiência universitária política e moralmente opositora às suas ideias. Fixe, né? Só que não. Quem aceitava participar aceitava só isso, ser um participante. Participar num espectáculo assimétrico onde Kirk controlava o ambiente e o desfecho. Seria impossível alguém provar que estivesse errado, fosse no que fosse, dado as questões na berlinda serem dilemáticas. Exemplo: aborto. Quem optar por um dos lados do dilema muito improvavelmente virá a mudar de opinião, não existindo argumentos capazes de operar tal mudança visto a opção prévia obrigar a desconsiderar essas linhas de raciocínio alternativo. Podem ser escutadas, e até entendidas, mas não são pensadas. Isto é, não geram uma experiência de pensamento crítico. Daí só restar o ataque e a indiferença como respostas numa eventual discussão. Para o que Kirk fazia, era até irrelevante se ele acreditava no que dizia pois estava a produzir um espectáculo onde os participantes seriam transformados em figurantes através do raciocínio motivado da estrela no palco e do aparato da encenação. Era eficaz para a sua agenda? Claro que sim. Era um acto de amor à cidade? Népias.
Kirk praticava uma arte muito antiga, inventada pelos gregos no tempo em que também inventaram a filosofia: a erística. A sua deusa não é boa conselheira.
Perguntas simples
Burger King
“Agora digam-me o quão ridículo isto é” pic.twitter.com/ttyOGWOJN1
— volksvargas (@volksvargas) September 11, 2025
As coisas como elas é
A cultura MAGA, nos EUA, é antidemocrática. Não querem estar sujeitos à liberdade de voto. Consequentemente, não querem pensar. Passam a abominar o que não conseguem compreender, entender, perceber. Essa alteridade que os cerca, que cresce assustadoramente na relação directa em que os MAGA atrofiam para uma identidade cada vez mais fanática, mais paranóica, mais delirante. Mais ditatorial. Tirânica.
O Chega é igual. Quem se aliar ao Chega, ou dele se servir, igual, igual, igual.
SICários
No Código Deontológico dos jornalistas portugueses — aprovado no 4º Congresso dos Jornalistas a 15 de janeiro de 2017 e confirmado em referendo realizado a 26, 27 e 28 de outubro de 2017 — não há a mais vaga referência a qualquer temática ou problemática de saúde mental. Imagino que os jornalistas responsáveis pela elaboração e aprovação do código dirão não terem de assumir deveres nesse domínio, dado não serem médicos nem familiares das pessoas com quem interagem para produzirem e realizarem o seu trabalho de jornalistas — o chamado, porque suposto, jornalismo.
Os jornalistas, por atacado, estão-se a marimbar para o seu código deontológico, tenha lá ele o que tiver escarrapachado. Por uma simples razão: é impeditivo do modelo de negócio que lhes dá emprego. Então, por que perdem tempo a aprovar versões da coisa com décadas de intervalo? Aqui imagino que perante essa interrogação os jornalistas ficariam em silêncio. A farsa é de uma dimensão tal que provoca algum pudor, até nos caluniadores profissionais.
Acresce que a psiquiatria é a disciplina médica que exige a maior complexidade informativa e cognitiva para chegar a diagnósticos e tratamentos. Porque convoca conhecimentos que vão da neurologia e da neuropsicologia até à sociologia, antropologia, história. E porque lida com o que é objectivamente um mistério: a subjectividade humana. É também a prática clínica onde a ética é um imperativo do princípio ao fim da relação entre médico e paciente.
Para cúmulo, a tradição milenar cristã é responsável pelo estigma que ainda rodeia a doença mental. A somar à falta de escolaridade e às iliteracias reinantes a respeito da ciência e da medicina, esta juliana cultural e sociológica leva o jornalismo para uma inumana devassa. Filmar e meter o microfone à frente de pessoas que estão sob o efeito de choques emocionais, potencialmente traumáticos, para lhes fazer a ignóbil pergunta “como se sente?”, ou deixar pessoas afundarem-se em estados de raiva e/ou delírio com a cumplicidade de um entrevistador, é o pão nosso de cada dia nas televisões. O espectador aprova, consome voraz esse tipo de violação da fragilidade alheia, lambuza-se com a miséria moral. A violência como espectáculo de massas não começou com os romanos nem deixou de nos distrair desde eles.
Vem este relambório a propósito de uma decisão de Ricardo Costa, Chief Content Officer na Impresa: voltar a chamar, agora em 2025, Manuela Moura Guedes para falar sobre Sócrates.
[para continuar]
Exactissimamente
__
NOTA
É tão estúpido ir buscar o termo “sicário”, porque resulta numa automutilação, que acho possível ter sido engano. A ser, acho provável que tenha nascido do texto do Ricardo Costa saído na quinta-feira, Porque Sócrates nunca vai mudar, onde no último parágrafo aparece esta expressão: “pequena falange se sequazes” [sic, vai aqui com a gralha que lá está, e tudo, porque ela regista o frenesim do ódio].
O mano Costa não identifica quem são os elementos da temível falange de Sócrates, ’tá claro. É uma boca para o ar, a expressão da sua gana em dar cabo do último organismo na Terra em que detecte a presença do socratismo. Porém, o uso do termo “sequazes” tem impacto, alia a erudição ao insulto. É coisa para impressionar um fulano especialista em baixa política nas vésperas de dar uma entrevista em que vai lavar as mãos e despejar sujidade para cima do PS.
A memória do Moedas poderá ter-lhe pregado essa rasteira, nunca o saberemos. A ironia é a de, a partir desta entrevista, ele ficar como o mais eficaz sicário contra a sua personalidade de político. Apontou ao carácter, veremos se foi fatal.
Começa a semana com isto
Uma pergunta: @Moedas sabe o que significa “sicários”? Se sabe, é muito grave.
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) September 8, 2025
Revolution through evolution
Experts warn: Smartphones before 13 could harm mental health for life
.
Common allergy spray slashes COVID-19 risk in surprising trial
.
A 3-minute brainwave test could spot Alzheimer’s years before symptoms
.
Metformin’s mysterious metal effect could explain its big health benefits
.
Scientists reveal how breathwork unlocks psychedelic bliss in the brain
.
How Can We Age Gracefully?
.
Scientists just found a hidden quantum geometry that warps electrons
Dominguice
Realmente, não nos devia admirar que a democracia liberal fosse um dos mais difíceis conceitos nascidos da civilização. Entender os seus fundamentos implica compreender a história da filosofia desde os gregos e do direito desde os romanos. Por isso, só o escol a poderia inventar — nessa paradoxal intencionalidade de permitir ao pulha e ao bronco o acesso igualitário ao poder. Um risco inevitável, que vale a pena correr pois a alternativa é pior. Nos outros modelos onde o pulha toma todo o poder para si, ou onde o bronco herda todo o poder para si, a malta sofre muito mais.
Donde, governar corre sempre mal, nem que seja por não poder correr sempre bem. Mas sabemos que pode correr pior. Sabe o pulha, e quer. Não sabe o bronco, por isso também quer.
Montenegro urbano, Montenegro rústico
«Desde que Imelda Marcos, a primeira-dama das Filipinas entre 1965 e 1986, se aplicou a constituir uma colecção privada de sapatos, guardada em segredo no palácio presidencial e descoberta pelos filipinos que invadiram o palácio e submeteram à concupiscência e ao espanto dos cidadãos os 1200 pares de sapatos da extravagante colecção, feita com a cabeça e não com os pés, nunca mais tinha havido notícias de uma paixão coleccionista ter assaltado qualquer figura eminente do governo ou da presidência de um país. Até que apareceu o nosso actual primeiro-ministro que colecciona 55 – cinquenta e cinco – prédios, uns urbanos, outros rústicos. Não se percebe o pudor do Luís coleccionador, que tudo fez para não contar publicamente, nem deixar contar, “cinquenta e cinco” em voz alta, número muito mais pronunciável do que os mil e duzentos que a pobre Imelda manteve em silêncio. A ambos podemos apontar o exemplo do libertino Don Juan que sem ligar ao juízo de Deus e à moral dos homens contou em voz alta o número da sua colecção de conquistas: mille e tre. Toda a colecção suscita uma contagem e impõe-se pelo número.»