Nesta semana foi anunciado, e promovido com destaque na comunicação social “de referência”, um espectáculo com estreia a 1 de Abril de 2026. Intitula-se “Sr. Engenheiro — Alegadamente Um Musical”. O autor diz que se baseou apenas no que foi publicado sobre Sócrates na imprensa, nisso imitando o método do caluniador profissional que mais dinheiro já ganhou com o mesmo filão, e promete encher o Tivoli com multidões que vão rir e gargalhar até os bofes lhes saltarem pela boca.
Há semanas, a Guida comentou um episódio que também me tinha chamado a escrever: Vergonha alheia. Não foi a primeira vez que aconteceu, ao contrário. O que me interessa na recorrente situação de se tratar a Operação Marquês como matéria irrisória é ver Pedro Marques Lopes, excelente como mais ninguém no comentariado na defesa da decência e do Estado de direito, igualmente a alinhar, ora passivo ora cúmplice, na função a que se entregam os restantes parceiros: ritualizar o linchamento simbólico que institui uma culpabilidade indelével ao arrepio do que possa factualmente ficar estabelecido em tribunal. Decidiram que Sócrates não só não tem direitos, a começar pelo direito de defesa e demais direitos de personalidade, como igualmente pode ser alvo de um ódio mercantilizado e febril.
Pergunta-se: mas esta gente não tem consciência do que está a fazer? E insiste-se: mas isto é gente que quer ser levada a sério, quando os próprios se esvaziam de princípios morais e cívicos na ânsia de espetarem a forquilha no monstro? E vem a resposta: eles acham que podem ser ambivalentes e volúveis, cínicos e hipócritas, al gusto, pois não lhes chega qualquer penalização pelas antinomias.
Então, vamos rir. Rir do fraco, da vítima, do que se transformou em bode expiatório sem que importe o que possa ter feito. Principalmente, que não se perca tempo a tentar descobrir se houve algum exagero ou incorrecção no que os probos procuradores colocaram na praça pública e os impérios da imprensa de imediato crismaram. Tudo pessoal sério, do melhor. A fina flor do entulho deontológico e ético.
Bute rir. Rir no país onde o Ministério Público comete crimes, sistemáticos, há décadas, e cada vez mais graves. Com o apoio dos juízes. E ai do juiz que não alinhe. Ai do político que levante a cabeça. O esgar sardónico do Ministério Público é fatal promessa: serão eles os últimos a rir.