Nas muralhas da cidade

«Hoje, a linguagem do esclarecimento volta a ser transformada em instrumento de obscurantismo. Esta dinâmica invertida, ou este fator de apropriação indevida, transforma cada acto de responsabilização em “ataque”, cada crítica em “censura”, cada investigação em “perseguição”. A “segurança” torna-se eufemismo para repressão de minorias e “liberdade” significa direito a incitar violência sem consequências. Como um espelho aldrabão que reflete sempre a imagem inversa: o agressor vê-se como agredido, o opressor como oprimido.

Estamos, na verdade, perante uma estratégia deliberada de destruição efetiva, que não é ingénua nem resulta de confusões semânticas. Visa, sim, matar-nos a alegria e os próprios referentes éticos básicos que protegem a humanidade do caos e da autodestruição. Se “discurso de ódio” pode significar seja o que for, então não significa coisa nenhuma. Se “liberdade de expressão” protege igualmente a dignidade humana e a sua negação, então não protege realmente nada. Se a “tolerância” inclui a intolerância, então deixa de o ser. Esta erosão dos fundamentos da política não visa apenas confundir o debate público, mas impossibilitar qualquer orientação ética. Como se alguém trocasse sistematicamente as bússolas de uma cidade inteira: todos os caminhos conduzem a lugares errados, mas mantém-se a ilusão de mapeamento e orientação.»


Graça Castanheiro

5 thoughts on “Nas muralhas da cidade”

  1. tem piada, fico com a sensação, pelo pouco que consegui ler do texto, que a graça acha que não é só o sono da razão que cria monstros, mas que a dependência total da racionalidade, reprimindo ou esquecendo a emoção, também tem essa capacidade de nos transformar a todos em monstros, desde que alguém mal intencionado (e uma das falácias socráticas que mais permanece no inconsciente colectivo é a de que alguém que defenda ideias injustas está enganado ou é burro) se dê ao trabalho de virar de pernas para o ar todos os referentes éticos racionais de que dispomos e em que nos apoiamos. Nesse caso super-hipotético, seríamos capazes até de defender genocídios com base em argumentos lógicos e racionais.
    mas pode ser só impressão minha.

  2. sim , claro , deixamos o enxame de vespas que o costa mandou vir poisar e picar à vontade sem reagir. adoro estes discursos que ignoram os factos novos , introduzidos sem nos consultar , e que fazem apitar instintos. então , depois da manifestação “convidados” a exigir entrar no governo da casa ?

  3. de post sobre teorias de conspiração sobre o assassinato do charlie kirk, até porque mnhã é o dia da rapture e depois os evangélicos não os vão ver

  4. ” Nesse caso super-hipotético, seríamos capazes até de defender genocídios com base em argumentos lógicos e racionais.
    mas pode ser só impressão minha. “

  5. esse meu comentário defendeu genocidios? uau, bebé!
    achas-te capaz de explicar como ou preferes teorias de conspiração sobre o assassinato do kirk?
    anda, querido, sem medos

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