Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
O meu receio é digam, QUANTO MAIS ME MALTRATAS MAIS GOSTO DE TI.
No país com horas trabalhadas acima da média europeia e o salário recebido abaixo, trabalhamos mais que os outros para recebermos menos, os patrões querem o Governo vá [ainda] mais longe nas alterações à lei do trabalho e facilite [ainda mais] os despedimentos e aumente [ainda mais] a carga horária.
Nos idos do Governo da troika era o Estado na banca rota, a sujeição a uma intervenção externa, as agências de rating, o défice, a dívida pública, e o caralho, agora que o PS roubou a agenda à direita e deixou as contas certas, superavit, Portugal com classificação A nas agências de notação financeira, é só a raça deles, do PSD, do partido que não existe – CDS, dos ilusionistas liberais, e do oportunista partido da taberna. Pediram a direita no poder?
Por que é que nascem tão poucas crianças? O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?
Pais de filhos até 12 anos podem perder direito de recusa de trabalho ao fim-de-semana. Governo quer limitar licença de amamentação. Governo pretende eliminar falta por luto gestacional. E tivemos de esperar uns longos 18 anos para o Luís a trabalhar dar solução às interrogações do homem que 18 anos depois havia de patrocinar o trabalho do Luís. Agora é esperar pelo próximo desenterramento, desembalsamento, desembafiamento de Cavaco, numa daquelas aparições periódicas nas páginas dos jornais para mostrar que é o português mais esperto da história de Portugal e que vê coisas que mais ninguém consegue ver, todas boas para o futuro do nação, para nos explicar o Luís a trabalhar em prol da natalidade. Pediram a direita no poder?
PEDIRAM POIS
ENTÃO CALEM-SE
O PLAGIO, que está carregado de razão, ecoa o sentimento do volupi: bem feita. Votaram na direita, aqui têm o resultado. É difícil discordar – desde que não se faça de conta que a alternativa melhor era ter dado outra vez poleiro ao Partido Sucateiro, ou que este é esquerda.
Quanto à recessão demográfica, coarctar (melhor, erradicar) o capitalismo e criar incentivos pró-natalidade deve ajudar, mas não será suficiente. Podendo escolher, a maioria das pessoas contenta-se com um a dois filhos; e cada vez mais preferem não ter nenhum. O mal é geral.
Mal? Será um mal? A questão é sempre enquadrada de forma utilitária e egoísta: haver quem nos pague a pensão, quem nos limpe o rabo na velhice. Manter o esquema de ponzi a rolar. Antes de trazer mais gente ao mundo devíamos focar-nos em torná-lo mais digno de gente.
Filipe Bastos faz-se passar por alguém que está acima das ideologias, mas na prática repete um discurso muito comum: desvaloriza todas as opções políticas como más, e nega o problema da quebra demográfica com uma moral pseudo-filosófica (“não devíamos trazer mais gente ao mundo”).
Mas e depois? O que propõe? Nada.
O cinismo pode parecer sofisticado, mas é uma forma de fuga à responsabilidade política. Quando nada serve, tudo se afunda.
A crítica que faz ao argumento da natalidade (“quem nos limpe o rabo na velhice”) é deliberadamente provocatória. Mas revela uma incompreensão grave do princípio de solidariedade inter geracional que sustenta o nosso modelo de pensões:
Cada geração ativa contribui para sustentar a anterior, como a anterior sustentou a anterior, num pacto social contínuo. Isto não é um “esquema de ponzi”, como tenta caricaturar. A diferença é simples:
um esquema de ponzi assenta na fraude: promete rendimentos insustentáveis sem valor real.
A Segurança Social é um pacto coletivo sustentado por leis, trabalho real, e redistribuição.
Nos EUA, o sistema é muito mais individualizado e capitalizado:
Cada trabalhador acumula uma poupança gerida por fundos privados.
Em tempos de crise (como em 2008), milhões viram os seus fundos desvalorizar brutalmente.
Sem rendimentos mínimos garantidos, há quem continue a trabalhar aos 75 anos.
Os fundos são públicos, não sujeitos a flutuações de mercado.
Em crises, o Estado pode intervir, manter o sistema e proteger os mais vulneráveis.
E quanto à taxa de substituição?
A taxa de substituição é a percentagem do último salário que a reforma garante. A OCDE tem dados muito claros:
Portugal: taxa de substituição bruta ronda os 70% do salário.
EUA: fica muitas vezes abaixo dos 40% (e menos ainda para salários médios-altos).
Ou seja, em Portugal o sistema público garante uma velhice mais digna e previsível — ao contrário do que o autor do comentário parece sugerir.
Terminar com a frase “devíamos tornar o mundo mais digno antes de trazer mais gente” parece profundo… mas é fugir à ação.
Como se torna o mundo mais digno? Com:
justiça social, proteção aos idosos, igualdade no acesso à educação, saúde e habitação.
Tudo isso requer comunidade, redistribuição e sistema público — não cinismo nem recusa de natalidade.
Mas sobre isso nada; Chega destes merdas…
Uma crítica razoavelmente pensada e bem escrita no aspirinab? Deve ser dia de festa.
Rolando, acertou: acredito mesmo que nada disto serve. Ou melhor, serve a uma minoria cada vez menor da população – aos mamões, aos seus lacaios pulhíticos, a uma classe alta e média-alta que vai mamando no capitalismo, e alguma classe média que ainda vai comendo as migalhas que sobram.
A tendência é piorar. A tecnologia, que devia servir para todos viverem melhor, vai permitir aos mamões controlar e esmifrar cada vez mais a classe média e as inferiores; chegará a altura em que simplesmente as eliminam ou expulsam para guetos. Se isto lhe parece ficção, não está a prestar atenção.
A sustentabilidade da SS é uma regra arbitrária como qualquer outra; funciona como decidirmos que deve funcionar, não como o capitalismo ou o deus-mercado mandam. A primeira e evidente solução é limitar a riqueza, e também as pensões mais altas. Expropriar quem tem a mais, redistribuir, acabar com educação e saúde privadas, partir todas as empresas acima de certo valor, democratizar a economia.
A tudo isto e mais que eu diga v. – como qualquer xuxa, ou qualquer direitalha, o que vai dar basicamente ao mesmo – responderá com troça e cepticismo, sugerindo mil dificuldades e impossibilidades. Claro que as coisas dão trabalho e poucas são fáceis, de contrário já estariam feitas; mas é por persistirmos nas v/ ilusões e meias-tintas que estamos aqui. Isto precisa duma grande volta, xuxa Rolando.
—Isto precisa duma grande volta, —
Claro que sim, mas por enquanto a grande volta vai no pior sentido.
O povo é sereno, e é mais fácil enganá-lo, do que convence-lo que está a ser enganado.
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Este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório
Mandaram-nos vir
Agora aturem-nos
O meu receio é digam, QUANTO MAIS ME MALTRATAS MAIS GOSTO DE TI.
No país com horas trabalhadas acima da média europeia e o salário recebido abaixo, trabalhamos mais que os outros para recebermos menos, os patrões querem o Governo vá [ainda] mais longe nas alterações à lei do trabalho e facilite [ainda mais] os despedimentos e aumente [ainda mais] a carga horária.
Nos idos do Governo da troika era o Estado na banca rota, a sujeição a uma intervenção externa, as agências de rating, o défice, a dívida pública, e o caralho, agora que o PS roubou a agenda à direita e deixou as contas certas, superavit, Portugal com classificação A nas agências de notação financeira, é só a raça deles, do PSD, do partido que não existe – CDS, dos ilusionistas liberais, e do oportunista partido da taberna. Pediram a direita no poder?
Por que é que nascem tão poucas crianças? O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?
Pais de filhos até 12 anos podem perder direito de recusa de trabalho ao fim-de-semana. Governo quer limitar licença de amamentação. Governo pretende eliminar falta por luto gestacional. E tivemos de esperar uns longos 18 anos para o Luís a trabalhar dar solução às interrogações do homem que 18 anos depois havia de patrocinar o trabalho do Luís. Agora é esperar pelo próximo desenterramento, desembalsamento, desembafiamento de Cavaco, numa daquelas aparições periódicas nas páginas dos jornais para mostrar que é o português mais esperto da história de Portugal e que vê coisas que mais ninguém consegue ver, todas boas para o futuro do nação, para nos explicar o Luís a trabalhar em prol da natalidade. Pediram a direita no poder?
PEDIRAM POIS
ENTÃO CALEM-SE
O PLAGIO, que está carregado de razão, ecoa o sentimento do volupi: bem feita. Votaram na direita, aqui têm o resultado. É difícil discordar – desde que não se faça de conta que a alternativa melhor era ter dado outra vez poleiro ao Partido Sucateiro, ou que este é esquerda.
Quanto à recessão demográfica, coarctar (melhor, erradicar) o capitalismo e criar incentivos pró-natalidade deve ajudar, mas não será suficiente. Podendo escolher, a maioria das pessoas contenta-se com um a dois filhos; e cada vez mais preferem não ter nenhum. O mal é geral.
Mal? Será um mal? A questão é sempre enquadrada de forma utilitária e egoísta: haver quem nos pague a pensão, quem nos limpe o rabo na velhice. Manter o esquema de ponzi a rolar. Antes de trazer mais gente ao mundo devíamos focar-nos em torná-lo mais digno de gente.
Filipe Bastos faz-se passar por alguém que está acima das ideologias, mas na prática repete um discurso muito comum: desvaloriza todas as opções políticas como más, e nega o problema da quebra demográfica com uma moral pseudo-filosófica (“não devíamos trazer mais gente ao mundo”).
Mas e depois? O que propõe? Nada.
O cinismo pode parecer sofisticado, mas é uma forma de fuga à responsabilidade política. Quando nada serve, tudo se afunda.
A crítica que faz ao argumento da natalidade (“quem nos limpe o rabo na velhice”) é deliberadamente provocatória. Mas revela uma incompreensão grave do princípio de solidariedade inter geracional que sustenta o nosso modelo de pensões:
Cada geração ativa contribui para sustentar a anterior, como a anterior sustentou a anterior, num pacto social contínuo. Isto não é um “esquema de ponzi”, como tenta caricaturar. A diferença é simples:
um esquema de ponzi assenta na fraude: promete rendimentos insustentáveis sem valor real.
A Segurança Social é um pacto coletivo sustentado por leis, trabalho real, e redistribuição.
Nos EUA, o sistema é muito mais individualizado e capitalizado:
Cada trabalhador acumula uma poupança gerida por fundos privados.
Em tempos de crise (como em 2008), milhões viram os seus fundos desvalorizar brutalmente.
Sem rendimentos mínimos garantidos, há quem continue a trabalhar aos 75 anos.
Os fundos são públicos, não sujeitos a flutuações de mercado.
Em crises, o Estado pode intervir, manter o sistema e proteger os mais vulneráveis.
E quanto à taxa de substituição?
A taxa de substituição é a percentagem do último salário que a reforma garante. A OCDE tem dados muito claros:
Portugal: taxa de substituição bruta ronda os 70% do salário.
EUA: fica muitas vezes abaixo dos 40% (e menos ainda para salários médios-altos).
Ou seja, em Portugal o sistema público garante uma velhice mais digna e previsível — ao contrário do que o autor do comentário parece sugerir.
Terminar com a frase “devíamos tornar o mundo mais digno antes de trazer mais gente” parece profundo… mas é fugir à ação.
Como se torna o mundo mais digno? Com:
justiça social, proteção aos idosos, igualdade no acesso à educação, saúde e habitação.
Tudo isso requer comunidade, redistribuição e sistema público — não cinismo nem recusa de natalidade.
Mas sobre isso nada; Chega destes merdas…
Uma crítica razoavelmente pensada e bem escrita no aspirinab? Deve ser dia de festa.
Rolando, acertou: acredito mesmo que nada disto serve. Ou melhor, serve a uma minoria cada vez menor da população – aos mamões, aos seus lacaios pulhíticos, a uma classe alta e média-alta que vai mamando no capitalismo, e alguma classe média que ainda vai comendo as migalhas que sobram.
A tendência é piorar. A tecnologia, que devia servir para todos viverem melhor, vai permitir aos mamões controlar e esmifrar cada vez mais a classe média e as inferiores; chegará a altura em que simplesmente as eliminam ou expulsam para guetos. Se isto lhe parece ficção, não está a prestar atenção.
A sustentabilidade da SS é uma regra arbitrária como qualquer outra; funciona como decidirmos que deve funcionar, não como o capitalismo ou o deus-mercado mandam. A primeira e evidente solução é limitar a riqueza, e também as pensões mais altas. Expropriar quem tem a mais, redistribuir, acabar com educação e saúde privadas, partir todas as empresas acima de certo valor, democratizar a economia.
A tudo isto e mais que eu diga v. – como qualquer xuxa, ou qualquer direitalha, o que vai dar basicamente ao mesmo – responderá com troça e cepticismo, sugerindo mil dificuldades e impossibilidades. Claro que as coisas dão trabalho e poucas são fáceis, de contrário já estariam feitas; mas é por persistirmos nas v/ ilusões e meias-tintas que estamos aqui. Isto precisa duma grande volta, xuxa Rolando.
—Isto precisa duma grande volta, —
Claro que sim, mas por enquanto a grande volta vai no pior sentido.
O povo é sereno, e é mais fácil enganá-lo, do que convence-lo que está a ser enganado.