O Público é um pasquim. Mas parece ter uma bicefalia editorial porque alguém na casa decide, em certos casos, que o caluniador profissional a quem enchem os bolsos não tenha destaque na edição digital ao longo do dia. Ele fica disponível na secção da “Opinião”, óbvio, mas ao correr a página não se encontra. Em que casos? A minha hipótese é a de serem naqueles textos onde o apelo ao ódio — que faz a sua marca — é mais repulsivo do que o costume. Como neste exemplo: António Vitorino foi o melhor amigo de António José Seguro. Curiosamente (leia-se: sistematicamente), o mesmo editorialismo escolhe o apelo ao ódio para fazer o apelo à leitura ou, no que talvez seja mais provável, para mostrar que o patrão gosta muito da passagem em causa.
Isto comprova as vantagens de se optar por uma carreira como caluniador profissional. A quem aproveita esse serviço trata de proteger o recurso, até o apaparica. E se a prosa estiver fétida, esconde-se a porcaria debaixo do tapete e finge-se que o cheiro nauseabundo está a entrar pela janela.
Há muito tempo que ignoro o salivar deste tipo. Nem lhe dei satisfações, como já fiz a dois daquele espaço, os quais deixei de ler. Um deles é uma gaja destravada, reacionária o raio que a parta. Lê-lo, ou dar-lhe troco, seria besuntar-me de substância fétida. Este ano estive para não renovar a assinatura. Mas ainda vale a pena, atendendo ao cômputo geral…
(Já disse, mas repito. Conheci bem a ditadura, e desde muito novo tornei-me “viciado” em informação. A esmagadora maioria dos jornalistas de então ao pé da canalha que pulula hoje nos ocs…. quase me leva a enaltecer a sua arte de comunicar, sem achincalharem demasiado a sua dignidade pessoal. Notava-se que havia essa preocupação. Quer nos jornais, quer, mais tarde, na televisão. Não é por acaso que Marcelo Caetano sentiu necessidade das “Conversas em Família”. Coitado. Revelou não ter jeitinho nenhum para aquela merda. E esta direita estúpida não lhe perdoou. A sua referência é o fascista Salazar. Pelo salivar, nota-se que são fascistas. Eles não têm o mínimo de respeito pelo povo a que pertencem)
É um pasquim, escrever que Mouta Liz era de extrema direita é bem o reflexo disso
José Marques
“Revista Crítica dos Jornais” de Eça de Queiroz
-Páginas de jornalismo, Vol. 4, Pág. 759 – Obras de Eça de Queiroz – Lello & Irmãos-
Cito um pedacito.
– E no meio desta luta perpétua, destas inquietações da alma, destes esgotamentos da vida e da seiva moral, não lhe é permitida ao menos a espontaneidade do espírito, da ideia, das palavras. Tem de se conter: tem graves obrigações impostas pela consciência própria e por aquela posição onde é contemplado e vigiado. Nunca deve perder a atitude do bem, da justiça, da verdade, da opoisção serena.
O elemento humano quase que não entra naquela alma; nem a indignação, nem o ódio, nem o desespero, nem a paixão lhe são permitidas; o sentimento pessoal e íntimo não deve encher a sua palavra, para que a não desvie; deve ter só um pensamento, o interesse público, o ideal social. Paixões, inclinações,, amizades, tendências do coração, simpatias, tudo deve despir; deve fica só com a rigidez da verdade e da justiça. Tem por fim fazer triunfar o bem: para isso escreve, publica e pensa –
(Estava a referir-se ao “dever” dos jornalistas. O Eça tinha uma costeleta de utopista. No meu caso, vou deduzindo, é o espinhaço todo)