Carneirada

«É muito importante ter a consciência de que a maioria dos portugueses escolheu o PS para segundo partido.»

José Luís Carneiro

Aviso prévio: sou simpatizante deste cidadão, caso venha a ser secretário-geral do PS deixa-me com expectativas positivas para o que possa dar à cidade, e estas declarações que agora comento não têm qualquer importância seja para o que for (excepção para o texto aqui do pilas). Dito isto, bute lá malhar enquanto o ferro está quente.

A ideia de que o PS possa ser considerado o líder da oposição por ter mais votos do que o Chega (mais 4 313, exactamente) não é apenas esdrúxula, nem apenas absurda, é também antidemocrática. Este critério só poderia ser invocado em caso de empate no número de deputados. Não sendo o caso, espanta que os neurónios de JLC tenham sido responsáveis pelas declarações que a notícia regista. De acordo com a sua lógica, ou falta dela, a Joana Amaral Dias montada em cima dos 81 594 votos do ADN poderia exigir ficar com o lugar dado a Filipe Sousa, eleito deputado com 20 911 cruzinhas. Se o disse para que sirva de antidepressivo no partido, o tiro saiu pela culatra.

Eis o que adoraria ter ouvido da sua boca. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para ser a terceira força partidária nesta legislatura. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para ter menos deputados do que o Chega. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para deixar de poder defender a Constituição. Que o PS foi escolhido pela maioria dos portugueses para deixar de participar na escolha dos juízes do Tribunal Constitucional. E que a maioria dos portugueses talvez venha a dar ainda piores resultados eleitorais ao PS em futuras legislativas. Que a maioria dos portugueses talvez um dia deixe de querer que o PS tenha representação na Assembleia da República. E que a maioria dos portugueses confia mais no Ventura e sua gente para resolver os problemas do País do que nas pessoas ligadas ao PS — as quais andam desde Abril de 1974 a servir o Estado, o bem comum e a comunidade.

A democracia não precisa do PS, apesar do tanto que lhe deve. Ao contrário é que a coisa funciona, como tem sempre funcionado ao longo da sua história.

12 thoughts on “Carneirada”

  1. não concordado com o que o carneiro disse, é verdade que o partido socialista foi o segundo partido em número de votos, o que os eleitores metem nas urnas são votos e não deputados. feitas as contas e os acertos do método de hondt, foi o terceiro em número de deputados, que o que conta para o campeonato.
    todo o resto do que escreveste é um perfeito disparate, especialmente isto:
    “A democracia não precisa do PS, apesar do tanto que lhe deve. Ao contrário é que a coisa funciona, como tem sempre funcionado ao longo da sua história.”
    a democracia precisou e precisa de todos os partidos políticos que aceitam e defendem o regime democrático, considerar o contrário é confundir bacalhau à braz com braz há bacalhau.

  2. A tal maioria não quer mais dividas ..sabe que o ps afundou o país em dívida . Criou tantos ou mais problemas do que resolveu

  3. o que a democracia não precisa é de fachos, discordo. A democracia precisa dos cidadãos, não precisa dos partidos. Isto porque são os cidadãos que criam os partidos. E que na sua liberdade podem entrar e sair dos partidos. Podem mudar de partido quando lhes der na gana. Na sua liberdade, um cidadão até pode não votar no partido a que pertença, quiçá que esteja a liderar.

    Ao limite, a cada eleição poderia haver apenas novos partidos. Para a democracia seria indiferente, pois a essência da democracia consiste na ausência de sectarismo. Os partidos são apenas mediações para colocarmos cidadãos a governar e a administrar a coisa pública, o bem comum.

  4. O volupi passa alegremente por cima de um dos absurdos – em defesa dele, um dos absurdos menores – desta partidocracia: o PS recebeu quase o mesmo nº de votos do Chega, mas tem menos dois deputedos. A dondoca Joana Dias recebeu 4x mais votos que o JPP, mas não tem nenhum.

    Não é só em Portugal, claro: o FPTP usado em Inglaterra e noutros países é também uma treta, para não falar do abstruso colégio eleitoral americano. Mas carneiros e apologistas do regime como o volupi tudo engolem para legitimar a sua cara ‘democracia’, por deficiente e injusta que seja.

    Em Portugal só 56% dos eleitores inscritos votaram em qualquer dos partidos e só uns 18% votaram no que irá formar governo. É sempre assim: eleição após eleição, seja PS ou PSD o governo é sempre eleito por ~20% dos eleitores. Ou seja, 80% NÃO o querem. Mas todos fazem de conta que é isto a ‘escolha da maioria’. Qual maioria? Nem PSD + PS + Chega + IL têm metade dos eleitores.

    Isto, claro, sem entrar nas fantasias mais delirantes do volupi: que o PS “anda desde Abril de 1974 a servir o Estado, o bem comum e a comunidade”, ou do “tanto que a democracia deve ao PS”. Essas falam por si. Não há maior cancro do regime ou da democracia do que o Partido da Sucata.

  5. morreu o Fernando Venâncio. que tragédia, estou desolada, estava a aguardar a chegada do meu carro novo a gás e gasolina para ir vê-lo e conversar. estúpida por esperar.

  6. Os emigrantes Portugueses na Suíça votaram no Partido Chega que aí alcançou um resultado de 45,72%, o motivo pelo qual os emigrantes Portugueses na Suíça votaram nesse partido está relacionado com o «…fim da taxa reduzida de 10% aos pensionistas ao abrigo do regime de residente não habitual…» que foi «…eliminada no final de 2023, o que levou a que muitos emigrantes, sobretudo de países da Europa com reformas elevadas, tenham passado a ser taxados pela taxa normal de IRS…»:

    https://www.noticiasaominuto.com/politica/2796584/suica-vitoria-do-chega-deve-se-a-tributacao-ressentimento-e-frustracao

    Conclusão, em Portugal não se vota por Princípios e Valores ou para reformar e desenvolver o País, os emigrantes Portugueses na Suíça votaram no Partido Chega não por se identificarem com essa força política ou por estarem preocupados com a grave situação do Portugal, mas sim porque estão preocupados com o bolso deles.

  7. «Conclusão, em Portugal não se vota por Princípios e Valores ou para reformar e desenvolver o País, os emigrantes Portugueses … votaram no Partido Chega … porque estão preocupados com o bolso deles.»

    Parabéns pela descoberta, Figueiredo. Noutras notícias, o sol queima e a chuva molha.

    O egoísmo é, até antes da apatia e do carneirismo partidário, o mais difícil dos problemas da democracia – e também desta partidocracia podre. Como fazer as pessoas verem além dos seus interesses mais crus e imediatos? Como incutir-lhes solidariedade, responsabilidade, honestidade, tolerância, empatia, em suma, como torná-las pessoas decentes? Como criar uma sociedade mais justa e igualitária?

    E como fazê-lo num sistema capitalista que fomenta – e premeia – ganância e egoísmo?

  8. afinal, quem está fora do ‘sistema’?

    O ‘sistema’, aqui, é o ‘método de Hondt’.

    [“O método Hondt é um modelo matemático utilizado para converter votos em mandatos com vista à composição de órgãos de natureza colegial. Este método tem o nome do seu criador, o advogado Belga Victor D’Hondt, nascido em 1841 e falecido em 1901, que se tornou professor de Direito Civil na Universidade de Gand em 1885” (Comissão Nacional de Eleições, 30/5/2025)]

    O ‘sistema’ é a abstração que converte os ‘votos em ‘mandatos’. Que vulgarmente designamos por «o sistema de Reptesentação» que adoptamos para um regime a que chamamos ‘Democracia’.

    De um lado as pessoas (votos); do outro, o equivalente às pessoas (mandatos, deputados).

    Quando o PS tinha uma ‘maioria’ de votos e de mandatos afirmava publicamente que o ‘Chega’ estava fora-do-sistema. Porém, quando perdeu a maioria de mandatos (deputados), vem colocar-se na posição que criticava ao ‘Chega’. E o ‘Chega’ diz agora que o PS está fora-do-sistema, ao não aceitar aquela conversão (equivalência) determinada pelo ‘sistema’.

    Até daria vontade de rir, se já não tivéssemos, aqui, no Aspirina B, antecipado essa crise e colapso do actual ‘regime democrático’ derivada da incapacidade do actual ‘sistema’ assegurar a ‘Representação’ (conversão abstracta entre pessoas e mandatos).

    Quem tem razão e legitimidade? Aqueles que contam o número de pessoas (votos), ou aqueles que contam o número daquilo que são equivalências abstractas das pessoas (mandatos)?

    Não se consegue decidir que tem mais razão ou legitimidade, senão, adoptando as regras e a lógica do ‘sistema’.

  9. E que a maioria dos portugueses confia mais no Ventura e sua gente para resolver os problemas do País do que nas pessoas ligadas ao PS — as quais andam desde Abril de 1974 a servir o Estado, o bem comum e a comunidade.

    Isto é a sério, Valupi?

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