Eu não vi absolutamente nada de “movediço” na exumação valupiana de posts e comentários ( Socorro!) sobre a arte de bem-falar e pronunciar com olho crítico ou diacrítico. O JPC manteve o frio para poupar o coração e fez muito bem porque “movediço” nem sequer é sinónimo de “provocatório”. E nem merece a pena citar frases lapidares de linguistas respeitáveis que acham que “o correcto é aquilo que as comunidades linguísticas esperam”, senão ainda nos embaralhamos mais.
É que no fundo, se nos lembrarmos bem, a tempestade original até nem passara de mera aragem (quem discordará da hipotética explicação de que “carapau” há trezentos anos ou ontem à hora do almoço, no telejornal do Cadaval, se dizia “cara de pau”?) muito embora tivesse brevemente servido para se entrar na guerrilha do detalhe lingo-gramatical que esconde muitas vezes pequenas vaidades sob as capas dos argumentos farpantes. Onde o Valupi perdeu um pouco nessa discussão sobre os nevoeiros dos falares regionais foi quando insistiu escravizar-se ao regulamento, mostrando a toda a gente como é que se monta a égua branca da língua bem dita. A ele far-lhe-ia bem sentar-se numa poltrona em Londres a ouvir o correspondente da BBC em Belfast.
Sem ir muito longe, dou-vos um exemplo fresquíssimo e natural de corrupção, evolução e dinamização da língua: o Valupi, mal lhe virei as costas aqui há dias, transformou em “Delbert” o Delbet de que lhe falei com tanto entusiasmo. Nada de mal nisso, um simples descuido, se descuido foi, que nunca se sabe nesta freguesia. De temer, no entanto, é que esta tendência para acrescentar erres e erros possa levar daqui a 50 ou 100 anos, por acumulação e extrema ignorância, algum estudioso mal-informado de blogues vetustos a referir-se à pessoa de JPC chamando-o de Soão Cedro da Bosta, homem de grande ventosidade, cultura e capacidade intelectual que costumava desperdiçar muito do seu precioso tempo atrás de borboletas fanhosas ou barifónicas para arrancar sorrisos aos tolos e tolas das tolas.
TT
Meu caro TT,
nada há de caótico na evolução de uma língua. Tudo evolui devido a questões que os estudiosos da língua na sua diacronia já identificaram há algum tempo (e cristalizadas no já referido Martinet, ao qual acrescento a sociolinguística de Labov – ou Lavob, como gostamos de apelidar o rapaz cá no Norte).
A evolução de «João Pedro da Costa» para «São Cedro da Bosta» é assim uma evolução altamente improvável (eufemismo), pois há nada do ponto de visto fonológico que justificaria uma evolução do fonemas /j/, /p/ e /k/ para /s/, /s/ e /k/. Ou seja: nada há a temer.
A língua não evolui por uma acumulação de erros, mas devido a fenómenos bem identificáveis que resultam da tensão entre diversos factores como uma gramática (síncrona), um sistema fonológico (diacrónico) e as motivações de uma comunidade linguística (sejam elas sociais ou até biológicas).
Resumindo: pouco acrescentas à discussão, o que me leva, movido pelo teu exemplo, a pensar um pouco sobre a finalidade do teu texto. Terá sido escrito para «arrancar sorrisos aos tolos e tolas das tolas»? Se for esse o caso, acho muito bem, pois, contrariamente a ti, estou muito longe de considerar essa finalidade um desperdício.
depois deste comentário do joão pedro, o que eu ia dizer afigura-se-me inútil. assim, evito ser ainda menos elegante do que o TT.
Apanhaste essa subtil e sinuosa alteração. Muito bem. Espero, no seguimento, que saibas a que Delbert presto homenagem.
Quanto à língua, dá sempre muito que falar. Parece-me, assim de ouvido ao te ler, caríssimo TT, que compraste a erística do meu mui estimado primo, o qual quis enfiar na betesga da questão dos tempos verbais o Rossio, a Praça do Comércio e o Campo das Cebolas da problemática dos desvios à norma.
Comeste gato por lebre, e soube-te a pato.
Ele há o caso do dezóóito… e do dezôôito. Esse compreende-se.
A simples dispensa/abandono do acento do pretérito perfeito, só pode ser ignorância. Não há explicação que a salve.
Anonymous: não estamos a falar do registo escrito, mas oral. (arre!)
João Pedro,
Insistes em que as coisas se passam no quase inocente, e decerto erótico (sugestão valupiana), registo oral. Lamento decepcionar-te. Tenho, na imprensa e em literatura, dezenas de amostras contrárias, estatisticamente significativas, de eliminações do acento no pretérito.
De resto: estive uns dias fora de circuito, e agora aparecem-me estas frondosas e inebriantes conversas vossas. Eia sus!
Caro Fernando, faço-te então um convite (manhoso, porque sei que irá dar algum trabalho)- começa a publicar aqui no blogue os exemplos / amostras que possuis para os podermos discutir.