Saiu a sorte grande à Ghislaine?

A degradação da democracia americana está a atingir um nível quase inimaginável. Diria que as chamadas “Repúblicas da Bananas” eram, apesar de tudo, mais discretas.

Quem, como eu, segue no X um punhado de ilustres democratas com as entranhas revolvidas desde a reeleição do Trump, constata dia após dia, mês após mês, a repetida e crescente indignação destas pessoas com o discurso, as políticas, o comportamento e os abusos de Donald Trump ao ponto de já quase lhes faltarem as palavras para comentarem o que veem. Esperavam o pior, é claro, mas não com esta gravidade.

Trump, recordemos, é um indivíduo que, alegadamente rico, se julga acima da lei, aliás julga ter todo o direito de não a cumprir, muito menos agora que é presidente e descobriu que pode fazer o que quer, e que, tendo extensa matéria criminal a persegui-lo, resolve passar a controlar as instâncias judiciais do país e garantir assim que não será mais na sua vida incomodado. Mas mais: que, se possível, irá silenciar os adversários com ameaças e acções judiciais (se as chantagens não funcionarem) com desfechos favoráveis garantidos, pois terá os juízes na mão, nomeadamente os do Supremo. É o caso agora com a perseguição a Obama, após se ver “entalado” com o caso Epstein. Pelo caminho, procurará garantir que ninguém o tirará da Casa Branca. Entretanto, transformou a sede do Governo na sede dos seus negócios, ganhando milhões com esquemas vários.

 

Temos então que o homem enche os bolsos na Casa Branca, internacionalmente admira ditadores e assassinos da índole de Putin e Kim Jong Un, desconhece o conceito de aliados, ignora a História, desrespeita todo o mundo (menos os tais ídolos), rodeia-se de fiéis incompetentes, desde que fiéis, manda para prisões rodeadas de jacarés e outras de enorme violência em El Salvador ou no Sudão pessoas estrangeiras que não cometeram qualquer crime enquanto trabalhavam nos Estados Unidos, gaba-se disso e goza, perdoou aos bandidos que assaltaram o Capitólio, enfim. O rol de enormidades e alarvidades é extenso. São abusos e escândalos permanentes de que não há memória num país considerado democrático.

Nas últimas semanas, na iminência de ver comprovadas as suas ligações ao falecido pedófilo Epstein e, suspeita-se, a sua participação nos crimes de abusos sexuais de menores por este cometidos, tornou-se evidente que arrisca perder a sua base de apoiantes, mesmo os mais brutos e fanáticos, incluindo os que por ele invadiram o Capitólio sem problemas em matar pessoas. Tudo isto porque a grande teoria da conspiração abraçada por muitos desses seus apoiantes dizia que os democratas lideravam uma rede de pedofilia a nível mundial, com Hillary Clinton à cabeça, e Trump seria o único ser à superfície da Terra capaz de a destruir. Dizia o Guardian em 2020:

The QAnon conspiracy theory is vast, complicated and ever changing, and its adherents are constantly folding new events and personalities into its master narrative. But the gist of it is that national Democrats, aided by Hollywood and a group of “global elites”, are running a massive ring devoted to the abduction, trafficking, torture, sexual abuse and cannibalization of children, all with the purpose of fulfilling the rituals of their Satanic faith. Donald Trump, according to this fantasy, is the only person willing and able to mount an attack against them.

link

 

Fantástica teoria! Agora, ser ele o pedófilo é que não pode ser. Seria o fim. Ser “impeached”, impensável.

A “Madame” que recrutava as miúdas para consumo de Epstein, Ghislaine Maxwell, encontra-se presa e a cumprir uma pena de 20 anos de cadeia. Está, obviamente, por dentro do esquema todo, sabendo sem dúvida quem eram os outros clientes das jovens prostitutas (que ela angariava) para além do Jeffrey. A Advogada Geral, Pam Bondi (trumpista), disse (em Maio) que tinha diante de si a lista de clientes e que o nome de Trump constava da mesma. Como o ruído e a pressão se tornaram demasiados (apesar dos desmentidos posteriores de Bondi) e vergonha é coisa que não assiste ao Donald, a ideia será agora levar o Departamento de Justiça (totalmente dominado) a interrogar a “Madame” Maxwell (algo totalmente inédito) para, aparentemente, que esta diga que nunca na vida viu Donald Trump a fazer fosse o que fosse de errado, muito menos que fosse cliente ou sequer frequentador dos círculos de Epstein. A paga para esta operação de limpeza, penso eu, será o perdão da pena. Assim, à descarada. Tudo indica que será esta a escapatória escolhida por Trump. Aliás, já hoje lhe perguntaram se iria perdoar a Ghislaine, ao que ele respondeu que o pode fazer, mas que ainda não pensou nisso (para rir).

E os americanos nada poderão fazer a não ser, mais uma vez, escandalizar-se. Até porque o mal está feito: como é que naquele país se pode admitir como candidato a Presidente um vigarista com o currículo e o cadastro do Trump? Como?

 

 

4 thoughts on “Saiu a sorte grande à Ghislaine?”

  1. Lembrou-se do Putin e do Kim, mas esqueceu- se do Khasar, que deve ser pior que todos os outros actuais juntos.
    Quanto á Ghislaine, não se preocupe, vai ser suicidada como o Epstein, — que por acaso também era khasar, donde fica logo a ideia de que o seu sucesso pode ter sido uma black op da mossada que passa, para fazer uns ficheiros bacanas sobre os tubaros do seu interesse para depois lhes lembrar< ou comes a papa ou vais fazer um casting<— ou se for libertada vai ter um acidente qualquer.
    O Q, não sabem o que é um khasar ?
    https://youtu.be/7afsA2WOTso
    https://youtu.be/U0zixgtQxhE

  2. E assim que têm conseguido o mundo, a bem da nação, com chantagem . Preparam o caldinho com miúdos, guardam registos e quando precisam, usam nos. Também lançaram o isco ao musk, que não mordeu, e doido mas não e doente

  3. É tão enternecedor o choque xuxo-burguês com o horrível Trump e os abusos à “democracia americana”. Lembra as crianças quando descobrem que a vida não é como nos filmes da Disney: os cães mordem, os ratos não falam e ser atropelado por um camião não faz apenas um ligeiro dói-dói.

    Penélope querida, há oitenta anos que os EUA são ‘o império do mal’, usando as imortais palavras de um actor medíocre, também presidente e co-responsável por incontáveis atrocidades pelo mundo. Às vezes penso se a v/ ignorância é inocente ou cínica; provavelmente um misto dos dois.

    Vocês, os fãs da “democracia americana”, esse circo de fantoches manobrados por lobbies mamões para gáudio duma carneirada abjecta, até sabem pelo menos parte do podre americano; até ‘leram umas coisas’; até se julgam objectivos, espertalhões e tal. Mas como julgam beneficiar do capitalismo, da pax americana e outras tretas que vos confortam a consciência, toleram alegremente a podridão.

    O Trampa, alminha, é a América sem máscara: faz tudo o que a canalha americana sempre fez, apenas com mais exagero e alarde – porque é alarve, e porque sabe que ovelhinhas como vós tudo toleram, incluindo os capachos europeus, os Bostas, Ruttes e Van der Leydens também, na v/ cabecinha, mui ‘democráticos’. Tal como o Musk não é uma anomalia, mas apenas o típico dono da ‘democracia’.

    O pior de tudo é que amanhã o Trampa cai ou morre, virá outro Biden ou Obama ou Kamala ou similar, e vocês ficarão todos contentes: viva o regresso da decência, do ‘estado de direito’, da sábia ‘liderança’ dos EUA!… que continuarão a fazer exactamente o mesmo, e vocês de cu para o ar.

  4. Perseguição a Obama? A inventona de Belém, de Cavaco, é uma história de criancinhas perto da mentira odiosa fabricada por Barak e seus amigos. Nem uma nem outra deveriam ficar impunes.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *