«Uma onda muito acima da ficção» no mais recente livro de José Mário Silva
Quando nos anos 80 Ernesto Rodrigues traduziu os «contos de um minuto» de Istvan Örkeni a recepção ao livro foi positiva mas a expressão contos de um minuto não ganhou popularidade em Portugal. «Efeito borboleta e outras histórias» de José Mário Silva (Editora Oficina do Livro) é um conjunto de histórias muito breves cujo ponto de partida é a definição de efeito borboleta: «se uma borboleta bater as asas, algures na Amazónia, pode provocar um tornado no Texas». Aqui se percebe que o amor é difícil: «Meu amor, Esta é provavelmente a última carta que te escrevo. Os meus netos venderão os móveis, deitarão fora o espelho e lerão, talvez com a indiferença de quem nada compreende, estas centenas de cartas que nunca te enviei.» Aqui se percebe que a morte é inevitável: «São sete da tarde. Alberto está na sua área, agitando o braço em semicírculo enquanto espera que algum automobilista se decida a estacionar. Depois de pedir ajuda a uma velhinha num 2CV preto vem a resposta com três notas de 50 euros – Meu filho, toma lá isto mas olha que nunca mais te quero ver nesta vida que levas, ouviste? – mas olhando melhor Alberto descobre uma gadanha no banco traseiro do 2CV. Aqui se aprende que nem sempre a literatura nos salva: «Quando A. M. Sousa publicou o seu primeiro romance aos 31 anos em 2014, a literatura portuguesa levou, nas palavras do crítico José Maurício Palhavã, um choque eléctrico fulminante. Ninguém esperava aquilo. Depois deu-se o previsível colapso. Cenas lamentáveis num talk show. O internamento numa clínica psiquiátrica. A longa travessia do deserto. O culto do silêncio. A vida austera num quarto sem nada. A pose do eremita.» Aqui se descobre o espanto de quem quer escrever um conto e leva com um tsunami em directo no ecran da televisão: «Alguém ligou a TV. Era domingo, manhã radiosa. E no outro lado do mundo uma onda erguia-se muito acima da ficção.»
nem uma palavra para o livro do Zé Mário, que até já foi visita da casa?
estranho…
será das borboletas?
Mais do que visita, luis eme, o Zé Mário é um dos autores desta casinha (já para não falar do enorme BdE, de que toda a blogosfera nacional é devedora – e este blogue em particular), apenas agora ausente. Partiu por sua iniciativa, e por ter mais e melhor para fazer (como se viu e vê).
Pois parece que às vezes a inteligência vai de férias…