Uma Vespa de 1955 em Brighton
Primeiro ouvia-se uma música suave numa praceta. O som brasileiro de João Gilberto em Brighton com saxofone tenor, contrabaixo, fliscorne, viola baixo e voz. Gente do mundo comia a ementa internacional – pizzas, saladas, massas, lasanhas. A moça abandona o grupo e pede, num chapéu, uns trocos para a banda. Acabados de chegar, contribuímos seguindo o princípio de Fausto Bordalo Dias – aos músicos dá-se sempre. Mais à frente, na praia de seixos grandes como ovos, um carrossel antigo e parado faz-se ouvir em músicas do meu tempo de menino ao domingo à tarde antes das transmissões desportivas dos anos 50 e 60: as eternas marchas de John Philiph de Sousa como «American Patrol», «Washington Post» ou «Stars and Stripes for Ever». Na galeria de pintores locais, entre «provas de artista» e «gravuras» com e sem «passepartout», uma colecção de caderninhos de apontamentos tem na capa a célebre «Vespa» de 1955. Com esse caderno vem toda a memória de uma música de liberdade. Por toda a Europa, a partir de Itália, a gente nova que não podia ter um automóvel, comprava uma «Vespa» a prestações. Mesmo com o contratempo das chuvas no Inverno, havia uma música de liberdade nessas «Vespas» do meu tempo de menino. Tu nasceste em 1955, como a famosa «Vespa» e sabes bem o que quer dizer «cinturinha de vespa». Fazia as delícias das modistas e das costureiras. Poupavam-se os saiotes para «armar» saias e vestidos. Entre o pó e o sol das tardes de Verão, os vestidos de tafetá brilhavam como relâmpagos no arraial. E não havia fotógrafos para registar o momento. Apenas o coração. Como vês trouxe de Brighton muito mais do que uma «Vespa» e uma rapariga de perfil em cinturinha de vespa…
Tocante postal. Quando inventarem a máquina do tempo, quero passar 10 anos na década de 50.
1 – Essa tua “uma rapariga de perfil em cinturinha de vespa…” deve ser coisa bem estranha. Sem dúvida preferiria a bem-amada de Juca Chaves com a bundinha para a frente e um só seio nas costas.
2- O português ou brasileiro que primeiro traduziu Flugelhorn por Fliscorne deve ter sido um “in flis”.
Bundinha para a frente, inda vá. Um só seio nas costas, Zeca? Pruquê, rapais? Ispilica que eu não estou entendendo.
O Juca explica: uma mocinha dessas pode parecer esquisita mas para acompanhar numa dança é excepcional.
Concordo com o Valupi, bom postal. Mas não sei se ele estaria no gozo com o seu “tocante”. Marcha militares antes de relatos de futebol? Essa era mesmo à Salazar! Capaz de andar a preparar os ferrenhos por futebol para uns tirinhos em África. Homem de visão, esse saudoso fascista…
1955 foi um bom ano, mas teria sido o ano em que a “Vespa” nasceu? Confirma, hoje é dia de se aprender. Assim que li, lembrei-me logo das “Férias em Roma”. Estranho o Valupi não ter reparado nisso.
E essa do Philiph escapou ao Zeca. Éfes a mais, acho eu.
Ok, prá dançar só com uma mão nas costas da muler. Safadão de Juca. Mas uma mão só abarca muita coisa…
Substancia, “Philiph” pode ser copos mas deve ser gralha.
A Vespa é de 1946, “Férias em Roma” é de 1952, jcf refere-se à famosa Vespa 150 GS de 1955 com motor de 150 cc, um luxo apaneleirado.
Em 1973 ainda fui ao Cascais Jazz com uma rapariga numa dessas Vespas e olha que não era nada apaneleirado, não senhor… Safa!