(a Jorge Silva Melo)
O encenador é o poeta do palco / Levanta do quase zero um plano / Palavras eficientes, roupas e cortinas.
Há 40 anos era aqui uma cantina / No primeiro andar uma reprografia / Fazia comunicados da malta em stêncil.
Eram uns folhetos em tamanho A5 / Os da Associação vinham de eléctrico / Era conforme, umas vezes o 24, outras o 5.
Em 1718 um caso parecido em Portugal / Luísa de Noronha recusou casar com o primo / E entrou para o Convento da Madre de Deus.
Tinha ela então 25 anos e ele apenas 15 / As famílias tinham já tudo decidido / Mas faltava o acordo da futura noiva.
Assumar, Alorna, Fronteira, as Casas / Não contam com o factor surpresa / E Luísa com 25 anos recusa casamento.
Sua irmã mais velha deu seu nome / A uma sua menina nascida em 1718 / Que veio a casar com 13 anos de idade.
Nesta peça se percebe como é inútil / Tentar alguém brincar com o amor / Porque a morte da camponesa é verdade.
O Teatro como a Poesia faz a ponte / Entre os mundos mais distantes / Separados pelo tempo que passou.
Pois é, o amor. Nada se faz sem ele. E, como diz o poeta,com o amor não se brinca. Pode-se é brincar ao amor, mas isso é outra conversa.
Amam-se é só paixão,
na rua vão de mão dada,
em casa é discussão
e muitas vezes porrada!
É assim o amor!
A propósito: há muitas pessoas que têm o poder de amar, mas outras amam o poder!
Há quem ame o poder,
dirigir e governar,
mas há outros, podem crer,
têm o poder d’ amar!
Mas nesta história a mocinha, já entradota, com 25 primaveras e a ver que ficava para tia, mesmo assim recusou casar-se com seu primo, rapaz apessoado, com 15 anitos a despontar para a vida, com força na verga e mesmo assim ela recusou. Eu acho que a mulher é para onde está virada. Nunca saberemos o sai dali. Para mim a mulher é tal e qual a abelha.
A mulher nova ou velha
é p’ra onde ‘tá virada,
mulher é como abelha,
ou dá mel ou ferroada!
Tenho dito!