Tantas bocas à espera
Da riqueza da baleia
Na lancha da Primavera
Não tememos maré-cheia
Os velhos lobos-do-mar
Sentados na nostalgia
Já nada podem pescar
Quando chega o fim do dia
Botes, lanchas e vapores
Na Vigia da Queimada
As vozes dos trancadores
São tempestade poupada
Quando o mar é labirinto
Quando saudade é memória
Tudo aquilo que eu sinto
Faz nascer a nova história
Aqui no centro do Mundo
Casa dos botes, meu lar
Sentimento mais profundo
Tem a fundura do mar
Com chapéu ou em cabelo
Há nestes homens cansados
As muralhas dum castelo
Batido por todos os lados
Mulheres são como sereias
Lanchas com nome escrito
Fazem as horas mais cheias
Quando se pesca em conflito
As Filarmónicas perdidas
Chegam o som junto ao cais
No mapa das nossas vidas
Há baleias de nunca mais
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(nota: A Balada das Baleias é um livro de Sérgio Ávila, Ermelindo Ávila e Sidónio Bettencourt, da Ver Açor Editores)