A Rua de todos os dias
Onde eu ia quatro vezes
E as noites mais sombrias
Demoravam como meses
Polícia à porta da Escola
A proteger as meninas
O amor era uma esmola
Pedida noutras esquinas
Poço dos Negros abaixo
Em cima era o Calhariz
Na memória que eu acho
Tudo é escuro e infeliz
Havia a guerra e o medo
Estava perto a inspecção
Um poema era segredo
Na Escola Veiga Beirão
Ao sábado até à uma
O trabalho continua
A bica de alta espuma
Espera por mim na rua
Manhã de segunda-feira
Vinte e oito na pendura
Uma vida verdadeira
Não se vive em ditadura
Nos cafés ao fim do dia
Os boatos são notícias
Falar é uma teimosia
À paisana são polícias
«Suplemento literário»
Quinta-feira nos jornais
Via o tempo ao contrário
Onde os sonhos eram reais
Passam já quarenta anos
Sobre mim sobre a calçada
Fora estes mitos urbanos
Parece que não houve nada
Excepto talvez a ternura
Que se gastou em excesso
A calçada é uma gravura
Mas virada do avesso
Onde até eu sou presente
Na multidão disfarçado
Estou no lugar da frente
Assim vou a todo o lado
Numa porta de Livraria
Vi Bocage em imagem
Na paragem da alegria
Acabou esta viagem
Um bom poema, josé. Pelo menos não diz disparates políticos que parecem orações festivas repetidas para inculcar verdades agendaciais em cérebros receptivos. Não nos abandones, senão lá se irá a pouca originalidade não temerosa de críticas que ainda reside neste blogue…
Bonita memória, meu caro José do Carmo.
Por mim preferia-a em prosa, mas só pela preguiça de lhe procurar o ritmo
ou a sua ausência, assim rimada.
Um abraço amigo
J
Bom poema, acho que o que falta em todas as areas é ouvir algo que nos diga alguma coisa, por vezes o pouco diz tudo, enquanto que o muito, muitas das vezes, nunca deixa de estar vazio. Obrigado e parabens.
Um lindo poêma que me tràz tantas saudades,quantas vêzes o subia a pé justo ao largo do Camôes.So o que me deixava perpléxo éra o quartél da guarda républicana ser na igreja ,làdo esquerdo quando subimos.Quando ia a Portugal tinha que o fazêr ainda a pé justo ao Castélo .Partia da rua da Esperança,sabia que nunca mais o poderia fazêr,o ouvir das varinas o elevador da bica,o Lorêto o Chiado antes do terrivel inçendio.Que saudàdes me tràz o teu poêma.Parabens
Boa proza Calhordas, wel cambeque.
Substantia Nigra.Ésò para relembràr.Vê na GUINÉ BISSAU o que significa cambeque.em todo o caso,nâo tenho ideias de là ir.
Nesse “eléctrico ascendente”
Iam todos de mau grado
iam os pides prá Paris
mais o noivo do Chiado.
Ia o cantador de ópera
e a céguinha cantadeira
todos juntos a rimar
à porta da Brasileira.
Liberdade de ir à missa
Liberdade de ir a Fátima
“Angústia para o jantar”
era o manjar do costume
quem se podia queixar?