Uma vez, entrei em casa de uma amiga minha. Já era amiga há uns tempos, mas não lhe conhecia a casa. Era uma zona chique de Lisboa oriental, com vista para o rio, e ela vivia ali há mais de vinte anos. Cheguei-me a uma das janelas e disse, excitado: «Olha o castelo de Palmela». E era um facto: ele recortava-se, nesse fim de tarde, com uma nitidez que feria. A minha amiga veio até à janela, num desassossego: «O castelo de Palmela? Onde?»
Fiquei sem palavras, é bem de ver. A minha amiga, que não é parva, até escreve livros e assim, nunca se tinha perguntado o que pudesse ser aquele acidente, de recorte estranho, na paisagem dos seus dias. Ora, para mim, num segundo, aquilo havia-se tornado numa completa topografia, num discreto GPS a orientar-me o corpo no vasto mundo.
Sou mais feliz eu? É mais feliz ela? Eu sinto-me feliz assim. Tenho a certeza de que ela o era já também. Não entendo nada da felicidade dela. E ela não perceberá jamais o que o castelo de Palmela, a vinte quilómetros, pode fazer feliz.
Isto da felicidade é um mistério.
Eu sempre disse que um dia iam aparecer homens de visão neste blogue. É pena que este, um deles, apesar de a ter, também gosta de nos deixar tristes e com saudades da outra banda. Se me permite, que fraca curiosidade para a descoberta tem essa sua amiga escritora! O eterno problema das paisagens não serem acompanhadas de legendas.
Amigo, não se excite muito com essas coisas. Castelos há muitos.
O mistério talvez resida no facto da felicidade resultar na relação dialéctica entre o sujeito da felicidade e o seu objecto. Basta um dos termos da equação mudar para a felicidade se desvanecer.
A felicidade é tão subjectiva como a fala.
Deus dá paisagens a que não tem olhos…
“Uma vez, entrei em casa de uma amiga minha”.
Esta frase faz muito sentido, imagine que tinha entrado na casa de uma amiga de outra pessoa…
“Isto da felicidade é um mistério”.
É mesmo… li e reli “El rei… ” fez-me lembrar Assis Pacheco, um misto de prosa e poesia, uma mistura de jornalista e escritor.
Ora, bolas…
Logo eu que detesto comentários anónimos.
Desculpem…
“Uma vez, entrei em casa de uma amiga minha”.
Esta frase faz muito sentido, imagine que tinha entrado na casa de uma amiga de outra pessoa…
“Isto da felicidade é um mistério”.
É mesmo… li e reli “El rei… ” fez-me lembrar Assis Pacheco, um misto de prosa e poesia, uma mistura de jornalista e escritor.
Enquanto o Fernando vai pesando cuidadosamente as vantagens e desvantagens do sistema “Valupi” de despachar as galinhas todas duma vezada quando os comentários começam a escassear, imaginemos as repercussões políticas que o seu texto opsio-nostálgico teria se começasse com estas palavras cândidas: “Uma vez, entrei na casa duma amiga minha chamada Margarida que não via um castelo à frente do nariz”. Iamos logo todos pensar que estava a referir-se à mesma dama aguerrida do comité central das várzeas de Benavente, não iamos?
BELTRANO, ÉS FULANO PARA DESENVOLVERES MELHOR O SISTEMA “VALUPI”? É QUE NÃO ME SINTO UMA GALINHA DESPACHADA NUMA VEZADA E DEIXASTE-ME ASSAZ CURIOSO.
BELO TEXTO, FERNANDO. COMO SEMPRE, A LUCIDEZ E A POESIA COMBINAM-SE NUMA PAISAGEM ÚNICA, A DO TEU OLHAR.
Ah, Fernando, a felicidade… Sou inimigo dessa palavra, desde que me apresentaram uma etimologia que remetia para a “taça cheia”. Bom, mas não será isso a impedir-me de ver, no horizonte das tuas palavras, o castelo de Palmela recortado com nitidez que suaviza.
Estou com o CAIXA: ó sicrano, explica-nos o sistema Valupi, please.
Enquanto também eu aguardo – para despachar as galinhas – pelas indicações do Beltrano quanto ao sistema «Valupi», aproveito para reconhecer ao Pedro Oliveira a finura duma paternidade que me atribui. Que bom que haja gente que leu bem o Assis Pacheco! Mas há mais pais, há mais. Com brilho na mesma constelação. Lá em cima. Somos filhos das estrelas, desculpe o lirismo.
Pois, Valupi, o “sistema” é esse mesmo, de despachar as galinhas no fim e não perderes tempo a meter água nos apeadeiros. No fim selas as diferenças com uns cuspinhos e ficamos todos com saudades de ti e tu de nós. Muito económico, a meu ver ,e não havia menospreço ou veneno na minha escrita.Fico é com o teu horizonte das palavras atravessado na garganta, a impedir-me de saciar a curiosidade ao CAIXA ALTA, derretido que ficou com o olhar do Fernando. Chiça, não quero nada com o homem.
Beltrano, nem eu descompus o penteado com o remoque. Deixas-me é com uma curiosidade: preferias que metesse água nos apeadeiros?
iilief oifguoope