Quando se tem um jornal e algum tempo pela frente, lê-se qualquer coisa. Quando se tem um jornal e muito tempo pela frente, lê-se bastante mais. Imaginem o que sejam dois jornais e muito, mas mesmo muuuito tempo pela frente. Sucedeu-me isso hoje.
Eu tinha já despachado o Público, quando o meu companheiro do assento adjacente deu por vasculhado o seu Correio da Manhã. Ah tempo, ah um jornal! suspirei. E, valente, sem a intelectualidade portuguesa o olhar-me por cima do ombro, fui indo, indo, e cheguei até ao «Desporto».
Num impulso de temeridade, li uma crónica desportiva. Era sobre o Pinto da Costa e a sua draconiana claque. E falava do treinador, o meu compatriota Adriaanse. Ora, e aviso, não vai ser questão nem do presidente nem do seu (se bem percebi) periclitante técnico. É pura questão de língua portuguesa, esta sagrada minha.
O autor da crónica, Rui Santos, exprimia-se assim:
«O problema é que Adriaanse não está nem na Holanda nem em Inglaterra. Co Adriaanse está em Portugal, num campeonato fraco, de pequena exigência…»
Até aqui percebo. Mas leiam comigo.
«…em que os jogadores não projectam uma cultura técnico-táctica e físico-atlética capaz de assimilar uma nova e fracturante conceptualidade».
Perceberam?
E depois, Valupi, a ti me queixo, a crítica literária do Expresso é que se exprime em enigmas e fumigações.