Nas muralhas da cidade

«Hoje, a linguagem do esclarecimento volta a ser transformada em instrumento de obscurantismo. Esta dinâmica invertida, ou este fator de apropriação indevida, transforma cada acto de responsabilização em “ataque”, cada crítica em “censura”, cada investigação em “perseguição”. A “segurança” torna-se eufemismo para repressão de minorias e “liberdade” significa direito a incitar violência sem consequências. Como um espelho aldrabão que reflete sempre a imagem inversa: o agressor vê-se como agredido, o opressor como oprimido.

Estamos, na verdade, perante uma estratégia deliberada de destruição efetiva, que não é ingénua nem resulta de confusões semânticas. Visa, sim, matar-nos a alegria e os próprios referentes éticos básicos que protegem a humanidade do caos e da autodestruição. Se “discurso de ódio” pode significar seja o que for, então não significa coisa nenhuma. Se “liberdade de expressão” protege igualmente a dignidade humana e a sua negação, então não protege realmente nada. Se a “tolerância” inclui a intolerância, então deixa de o ser. Esta erosão dos fundamentos da política não visa apenas confundir o debate público, mas impossibilitar qualquer orientação ética. Como se alguém trocasse sistematicamente as bússolas de uma cidade inteira: todos os caminhos conduzem a lugares errados, mas mantém-se a ilusão de mapeamento e orientação.»


Graça Castanheiro

11 thoughts on “Nas muralhas da cidade”

  1. tem piada, fico com a sensação, pelo pouco que consegui ler do texto, que a graça acha que não é só o sono da razão que cria monstros, mas que a dependência total da racionalidade, reprimindo ou esquecendo a emoção, também tem essa capacidade de nos transformar a todos em monstros, desde que alguém mal intencionado (e uma das falácias socráticas que mais permanece no inconsciente colectivo é a de que alguém que defenda ideias injustas está enganado ou é burro) se dê ao trabalho de virar de pernas para o ar todos os referentes éticos racionais de que dispomos e em que nos apoiamos. Nesse caso super-hipotético, seríamos capazes até de defender genocídios com base em argumentos lógicos e racionais.
    mas pode ser só impressão minha.

  2. sim , claro , deixamos o enxame de vespas que o costa mandou vir poisar e picar à vontade sem reagir. adoro estes discursos que ignoram os factos novos , introduzidos sem nos consultar , e que fazem apitar instintos. então , depois da manifestação “convidados” a exigir entrar no governo da casa ?

  3. de post sobre teorias de conspiração sobre o assassinato do charlie kirk, até porque mnhã é o dia da rapture e depois os evangélicos não os vão ver

  4. ” Nesse caso super-hipotético, seríamos capazes até de defender genocídios com base em argumentos lógicos e racionais.
    mas pode ser só impressão minha. “

  5. esse meu comentário defendeu genocidios? uau, bebé!
    achas-te capaz de explicar como ou preferes teorias de conspiração sobre o assassinato do kirk?
    anda, querido, sem medos

  6. Isto é tudo conversa de lana caprina. Tudo!

    Respeitem o outro, a liberdade do outro não pensar como nós. Não é preciso mais nada.

    A Graça, o Valupi… e outros pseudo donos das definições certas de ética, da ilusão do mapeamento e da orientação dos outros, são alguns dos melhores exemplos de intolerância. Mas não conseguem ver. São iguais, ou piores, que aqueles que atacam. Em vez de garantirem a existência das bases de assentamento de uma sociedade na heterogeneidade e na diferença, tornaram-se, caso lho permitissem, veículos de homogeneização obrigatória. Discurso de ódio é como o Natal, é quando um homem quiser.

  7. @Valupi
    Hm… O argumento graciano implica que as muralhas dessa tua Polis estao a ser defendidas por uma cambada de criancas mimadas e irresponsaveis.

    Por um lado as ferramentas politicas que a Graca se queixa de mau uso nao sao, nem nunca foram neutras:

    Foram embutidas com estruturas de poder no seu design, apresentandadas como neutras ou universais, mas na verdade privilegiando uma determinada posicao de poder.
    Quando alguém subverte essa estrutura – viz presente – a reação da Graciana (subscrita por ti) revela muito mais o desejo de manter o controlo, e não uma preocupação genuína com justiça, abertura – com a Polis portanto…
    A Graca nao faz mais que defender o status quo ante do poder proprio disfarçada de objeção moral.

    Por outro lado,
    Aceitando que o que se passa e um mau uso destas ferramentas politicas, entao quem as desenhou falhou clamorosamente em antecipar ou gerir responsavelmente as consequências de permitir o seu uso geram sem salvaguardas.
    A reclamação reflecte uma falta de previsão ética, especialmente se as ferramentas agora causam dano ou desvantagem para a Polis.
    Falha etica cuja responsabilidade rejeitam de forma anti-etica…

    Nao tenho pena nenhuma das Gracas desta vidinha, Valupi.
    Era o P sem “S” e achavam-lhe muita graca. A breve trecho sera sem “P” tambem e deixaram de achar graca ao processo de “letter dropping”?

  8. Deixo-vos um exercício:

    – Eu tendo a ser contrário ao aborto. Sou dos que acha que todos os passos possíveis e imaginários deveriam ser dados até que se decida por uma morte humana embrionária ou fetal.
    Será isto uma porta para me considerarem perto, ou dentro, do discurso de ódio?

    – O meu vizinho é favorável à transformação sexual. É dos que acha que a partir dos 16 anos, sem a autorização ou opinião dos pais, qualquer jovem poderá dar inicio a tratamentos hormonais e/ou outros que culminem na remoção de parte do seu aparelho reprodutivo e o substituam, ou acrescentem, por outras peças cirúrgicas que desempenhem um determinado efeito estético esperado.
    Será isto uma porta para o considerarem perto, ou dentro, do discurso de ódio.

    Ou será que o respeito pelo outro; o esforço desinteressado pelas necessidades do outro; a tentativa de diagnóstico com bom senso, são a garantia de agir com boa vontade, seja qual for a barricada em que cada um está?
    Há uma palavra que se tornou proscrita, porque é tida como impositora, que é juízo.

  9. “Os destruidores deste mundo vivem de acusar de “extremismo” ou “radicalismo” aqueles que defendem a igualdade inexorável dos seres humanos, a vida em comum, o respeito mútuo e os direitos de cidadania”

    basta ler isto para perceber que de boas intenções e gente armada ao pingarelho está o inferno cheio : a vida em comum só é possível partilhando os mesmos valores culturais , e se bem todos os homens são iguais , as suas formas de estar no mundo não a são ( cultura?). há que arranjar um denominador comum , e não é à custa de um , terá de ser mediado.
    e toda a gente defende , em teoria , os clichés da senhora.

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