Coisas do Carvalho

Tanto Fernanda Câncio como Isabel Moreira fizeram um rasgadíssimo elogio a este artigo do Manuel Carvalho: Manual de instruções para tempos sombrios. E isso coloca-me na aborrecida fatalidade de ir contra a sua opinião, eu que sou convicto e agradecido fã das duas por inúmeras razões.

O texto é um exercício de reconhecimento de um grave perigo para a democracia: Ventura não é só o palhaço que serviu às mil maravilhas para lançar ataques soezes contra o PS e a esquerda em geral; ele, afinal, pode mesmo chegar ao poder e dar cabo desta merda toda. O alerta é meritório, creio ter sido essa a valorização feita por Câncio e Moreira, mas quem o lança não tem cara para botar faladura na matéria. O que resulta no enésimo discurso hipócrita e cobarde vindo de jornalistas que andaram anos, décadas, a repetir contra os Governos do PS exactissimamente o que o Ventura bolça sobre a classe política.

Por ser este fulano uma das minhas irritações de estimação, sendo esta a décima terceira entrada na série “Coisas do Carvalho” (fora os extras), tenho documentado com exaustão o seu contributo para o enfraquecimento da democracia e para o crescimento do populismo. Enquanto director do Público, empenhou-se a fundo nessa tarefa. Os seus editoriais eram invariavelmente demagógicos e sensacionalistas, não se distinguindo nisso dos seus colegas editorialistas, do Expresso ao esgoto a céu aberto. Com frequência, citava o caluniador profissional da casa, atribuindo-lhe estatuto de autoridade moral. O que volta a fazer neste artigo, pois estamos perante irmãos siameses. Ambos encheram o pasquim da SONAE com centenas, se não foram milhares, de calúnias acerca de uma “elite plutocrata” que tinha criado um “sistema tentacular” (de polvo, de máfia). O “capo de tutti capi” deste gangue era Sócrates, claro. E o regime, nas caudalosas e fogosas tiradas desta dupla, estava podre.

Podemos imaginar um almoço entre o Carvalho, o caluniador profissional e o Ventura em que os três, erguendo os copos num brinde efusivo, estariam de perfeito acordo sobre a existência de um grupo criminoso constituído pelos dirigentes do PS, Caixa Geral de Depósitos, Banco de Portugal então dirigido por Vítor Constâncio, Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento, mais quem desse jeito ir buscar. Em Salgado só tocaram quando caiu, como calhordas que são, e mesmo assim apenas pela rama. Estragava um bocado a pintura ir sujar Cascais, dada a fileira direitola que foi alimentada pelo universo BES desde sempre. Esta teoria da conspiração do Sócrates monstro do crime que, montado no PS, iria meter a República no bolso foi dita e repetida à boca cheia na “imprensa de referência” durante anos e anos, sistematicamente, obsessivamente, de forma totalitária. Ventura limitou-se a repetir o bordão.

Por isso, ler agora deste senhor cagadas lacrimosas a respeito do delfim de Passos Coelho, como “Ele foi capaz de instituir a percepção generalizada de um país corrupto, liderado por políticos infames” e “As mentiras mil vezes repetidas tornaram-se finalmente na realidade”, causa-me um sentimento de náusea. Uma náusea breve, visto não ser o Manuel Carvalho, sozinho, o responsável directo por qualquer voto no Chega. Trata-se apenas de um exemplo relevante do que acontece quando o ideal jornalístico é pulverizado pela pulsão sectária. Cresce no espaço público quem melhor conseguir aproveitar esse sectarismo à solta. Contagiante. Inebriante.

10 thoughts on “Coisas do Carvalho”

  1. Muito bem, Valupi. A media mainstream criou os corvos que lhe vão comer os olhos, com Pacheco Pereiras, Teresas de Sousas, Manueis Carvalhos e que tais,… nenhum desse cobardes levantou a voz contra o avacalhamento do Estado de Direito no caso José Sócrates. Pelo contrário, alguns até fizeram dele o seu sustento, como JMT. Além isso, os partidos tradicionais, entretidos com wokismos, entregaram de bandeja ao Chega causas que afectam o quotidiano dos eleitores, como a condescendência com a ilegalidade quando praticada por determinadas etnias ou grupos sociais ou o descompasso entre a disponibilidade de casas, escolas e hospitais e as alterações demográficas.
    Isaltino já descobriu que é preciso utilizar a mesma linguagem para lhe fazer frente

  2. Lucas Galuxo, não passas de um pobre coitado. Se te julgas do lado do Estado de direito, ou como defensor de Sócrates, está na altura de procurares a receita debaixo do sofá e voltares à medicação. Tu és um fanático que se arrasta pelas caixas de comentários deste blogue a manifestar o seu apoio a ditadores e assassinos.

    Qual condescendência com a ilegalidade? Vai-te inscrever no Chega, se é que não o fizeste já. Só dizes merda, minha nossa senhora do Caravaggio.

  3. Mas sim, Valupi. Tudo o que escreves que não esteja relacionado com José Sócrates faz ter vontade de votar num partido que rebente com tudo pelos ares.

  4. ” com Pacheco Pereiras, Teresas de Sousas, Manueis Carvalhos ”

    oh xungoso deluxe! o que é as teresas de sousa estão a fazer entre os pachanchos dos carvalhos?
    achas que se trocares os rótulos dos comprimidos para a estupidez realizas o milagre dos pães e demonstras o poder divino de trump e a importância da fé e da partilha dos ideiais xungalistas? se não é parece.

  5. Teresa de Sousa anda há décadas a escrever o mesmo artigo de incitamento de ódio aos russos e a propagandear o nacionalismo chauvinista de Bruxelas, onde a decisão eleitoral do povo se dilui numa burocracia de tipo soviético. A sua hostilidade ao soberanismo nacional e o seu warmongerismo contribui para o refúgio do eleitorado para longe do centro como os demais. Mas ok, poderia ter escolhido outro nome naquele contexto.

  6. ” A media mainstream criou os corvos que lhe vão comer os olhos, com Pacheco Pereiras, Teresas de Sousas, Manueis Carvalhos e que tais,… nenhum desse cobardes levantou a voz contra o avacalhamento do Estado de Direito no caso José Sócrates. Pelo contrário, alguns até fizeram dele o seu sustento, como JMT, ”

    percebi perfeitamente, nem precisavas de explicar. a teresa de sousa é especialista em assuntos europeus e tudo o que seja europeísmo irrita o comunismo tutti-frutti do pudim flan-chino, amigo do teu amigo dos golden-showers, nada que a tua solidariedade neoconas possa deixar escapar a uma martelada. dai teres embrulhado o ódio de estimação teresa de sousa com o nome de outros caluniadores profissionais de direita para criar confusão e ver se cola, prática recorrente nos teus comentários, que revela o teu carácter xungoso de bronco aldrabão.

    ” Mas ok, poderia ter escolhido outro nome naquele contexto.”

    claro que podias, mas não foi porque te estragava a narrativa e não deve ser para isso que aqui andas.

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