O Requiem da Ginjinha

Perdemos a ginjinha do Rossio
E as bolas-de-berlim ao sol de Agosto.
Os pés hão-de deixar de fazer mosto
E o medronho de dar combate ao frio.

A varina, coitada, está sem pio.
A fruta unificada não tem gosto.
O jornal das castanhas foi deposto,
Mas Portugal ganhou o desafio.

Não temos quem nos ponha em risco a vida.
E se nos pesa muito qualquer carga,
Basta alijá-la logo na subida.

Já ninguém usa lança nem adarga,
Os burros são espécie protegida,
E a escola de Medrões tem banda larga.

12 thoughts on “O Requiem da Ginjinha”

  1. daniel, mais uma bela seta no alvo.
    e lembras-me a confusao que me fazia ver mulheres e homens descalc,ar galochas e enfiar pes suados de um dia inteiro (de uma vida inteira, em muitos casos…), com unhas encardidas, nas dornas cheia de uva e depois aquilo servir para fazer uma beberagem… no entanto a visao nunca me deixou inibida, quando se tratou de beber vinho aqui da adega. tinha era inveja de nao me deixarem ir la’ para dentro: eu, que tambem tinha trabalhado ao lado deles, por que razao nao tinha direito aquela brincadeira? agora so’ em produc,oes privadas e muito clandestinas sera’ tal coisa possivel.

  2. Valupi
    Muito bom? Não me parece… Um requiem nunca é bom, ainda que seja do Mozart.
    Fernando
    O O’Neill não é de certeza. E o diabo, talvez não também.
    Susana
    O Rui não é da concorrência. E aquilo que ele publicou hoje foi uma brincadeira que escrevi para alguns amigos se divertirem, se fosse caso disso. E vai ele e prega-me a história nas suas sete vidas.
    Rui
    Há os bos canalhas e os maus canalhas. Destes não falemos. Há duas espécies de bons canalhas. O que como canalha é bom, quer dizer, é mesmo canalha, e o que, apesar de canalha, é um bom tipo. Pertences à segunda espécie.

  3. Susana,

    O Palácio do Marquês de Balangandam tinha um salão esquecido na soma dos vinte e quatro que contava. Havia o salão grande, o principal, onde Abu-Al-Sharaf fez a apresentação dos seus oitenta e sete cavalos lusitanos, num desfile memorável a que assistiram todas as cabeças coroadas da Europa e alguns dos corpos, também. Outros doze eram para uso diário ao pequeno almoço. Os restantes dez pouco se abriam, só no Natal para arrecadar as prendas ou em dia de caçada para os cães repousarem, que os quartos ficavam fechados. Esse tal salão que escapava à memória de toda a gente tinha uma história de tristeza e crueldade passada num passado remoto. Consta que um aguadeiro da região terá seduzido (por trás, ao que parece) a prima da tia-avó do pai da velha criada do Marquês, uma tal de Armísia que, desonrada, terá acabado os seus dias no bordel da Ana Vesga, um casinhoto de madeira com uma só divisão e uma casota de cão à porta, feita de uma caixa de fruta que ainda cheirava a laranjas. Sou tanto concorrência do Aspirina como a casota do cão da Ana Vesga é concorrência do salão do Marquês para um desfie de lusitanos.
    Um kiss natalício para ti.

    Daniel,
    Uma cena canalha, portanto. Mal descubra se era elogio ou não, corro a ligar-te. Afinal para que servem os amigos?

  4. Rui, pensas que eu seria capaz de te dizer algo que não fosse um elogio?
    Fernando, tira o burrinho da chuva que não tens nada que ver com esta cena.

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