Chá de marmeleiro

Que há de comum entre o marmeleiro e o chá? Aparentemente nada, a não ser que ambos são originários da Ásia, embora um do Sudoeste deste continente e o outro de Assam e Manipur, no Nordeste da Índia.
No entanto, fala-se de um tal chá de marmeleiro, que é coisa que não se deseja a ninguém por se tratar de uma lambada com uma vara. E também se diz de alguém, que careça de boas maneiras, que não tomou chá em pequenino.
Ora um dos hábitos antigos era sovar as crianças como forma de educação. E, na China e no Japão, a cerimónia do chá obedecia a um ritual quase sagrado, costume que passou à Inglaterra e a muitas famílias europeias mais evoluídas socialmente. Tomar chá tornou-se, assim, um acto de civilidade e uma aprendizagem das tais boas maneiras que faltam a quem precisa de um chá de marmeleiro.
E eis como, afinal, entre um chá de marmeleiro e o simples acto de tomar chá em pequenino há uma certa relação, se bem que condenável aquele, e de melhores resultados e maior proveito este.

12 thoughts on “Chá de marmeleiro”

  1. Conta porém a lenda que o chá chegou à Inglaterra na bagagem de Catarina de Bragança, mulher do rei D. Carlos II. Foi ela que, habituada a beber aquela água quente com as folhas que os portugueses traziam das Indias Orientais, instituiu esse hábito na Corte Inglesa.
    Parece-me que de chá não precisamos, que bebemos muito em pequeninos. De uma vara de marmeleiro já não sei.

  2. É pena qua para mim o jogo de palavras não tenha tanto efeito, pois toda a vida ouvi falar de «Xarope de marmeleiro», por isso com chá não funciona tão bem nos meus neorónios.
    Mas após um esfoço, tenho que admitir gostei…

  3. O mais engraçado é que quem dava chá de marmeleiro aos alunos na minha escola primária (Santa Catarina-Caldas da Rainha) onde fiz a terceira e a quarta classe era da ilha do Daniel e chamava-se Mafalda Medeiros. A simples palavra «gaita» em exclamativo era suficiente para ela bater. Curiosidades da geografia.

  4. Sempre versátil, sempre original.
    Um texto simples,aparentamente informativo apenas, mas donde se retira bem a alegoria.
    E vem mesmo a calhar, esta história do chá.Ora lá não…

  5. O meu professor da primária, que se chamava Maduro Roxo (nunca lhe soube o nome próprio), tinha uma vara de marmeleiro com que nos vergastava as orelhas e nos aconchegava a roupa ao pelo. O grandecíssimo filho da puta, que espero apodreça nas profundas do inferno e seja depois comido por vermes doentes, espancava miúdos de sete, oito, nove, dez, onze anos anos com a tal vara. A esse ritual bárbaro, que hoje lhe daria prisão e expulsão da função pública, chamava ele “chá de marmeleiro”.

  6. Cicuta, não sei o que o Sócrates pensaria desse pseudónimo. Mas talvez preferisse voltar a beber um copo do que a chamar-se José. E diga chá ou xarope de marmeleiro que a gente sabe do que fala, não é? E às vezes apetece mesmo usá-lo, chá ou xarope. Mas isso fica para a altura de pôr a cruz no quadradinho (por acaso o símbolo chinês para “chá” – que se lê “té” em mandarim – é um quadrado). Mas pelo menos a Lia já sabe disto. E todos sabem que em democracia a cruzinha substitui a vara de marmeleiro.

  7. Ora bem.

    Estatisticamente, 0,0l por cento dos blogues daqui e além-mar faz um esforço bastante decente para se inteirar dos problemas com que a humanidade se defronta e algum, pouquinho mas sempre melhor que nada, para compreender a composição genuina do ar político que se respira. Infelizmente, o autor deste post não tem a honra de colaborar num deles. Prefere o desenfardamento das palavras carregadas de inocentes moralismos acompanhado de chá e torradas com doce de marmelo.

    Por mim, nem sei se valerá a pena ficar à espera do seu próximo post – sem dúvida com mais histórias de tautaus antigos em corpos indefesos de crianças, para as educar e corrigir através da excitação directa de vasos sanguíneos superficiais. Que venha, não posso impedi-lo, mas que não seja, por amor de Deus, sobre a origem do licor de toucinho a escorrer pelo rego dos seios de hamadríade, ninfa dos bosques alentejanos na região de Beja..

  8. Procópio
    Eu sei que os melhores são sempre os outros. Ou os leitores, que sabem mais do que quem escreveu. Esta regra não tem excepção, por isso a aplico a mim mesmo quando sou eu o leitor. Foi o que fiz ao ler o seu comentário. Mas agradeço sugestões para o próximo tema. Previno-o, no entanto, de que não serei capaz de fazer chover na Etiópia ou outras coisas do género.

  9. Fico às vezes espantada com as pessoas que pensam que escrever bem, é enveredar por becos e atalhos que dificilmente deixam encontrar a saída.
    E depois complicam. Complicam primeiro o nome que escolhem, maravilhados com a sua invenção; complicam o que querem dizer de tal forma ,que não dizem nada que préstimo tenha; complicam a boa digestão de quem percebe dos benéficos efeitos do chá e que deles tira proveito para dar algum ensinamento de forma esclarecida, como quem pega na chávena com gentileza ,por força do hábito de saber beber.Eu cá gosto muito detodos os chás. Do de berço, já nem falo.

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