A inflação conduziu no passado, segundo o nosso astuto Primeiro-Ministro, a “guerras muito grandes”. Nós na Europa não queremos guerras muito grandes, queremos paz muito grande. E por isso, quando se fala em usar o BCE para ajudar os governos da zona Euro fazer a Europa sair da recessão onde se está a afundar, lá vêm os pacifistas recordar-nos dum aparente facto incontestável : ligar as impressoras do BCE provoca inflação, e a inflação provoca guerras muito grandes. Mais dinheiro criado do nada, menos esse dinheiro vale. Parece uma evidência.
Vamos ver se isso corresponde à realidade, sim? Os americanos, para variar, dão uma ajuda.
O gráfico acima representa a quantidade de dinheiro que os americanos andam a imprimir. Ou seja, desde 2008 que a quantidade de Dólares triplicou. O que significa que a inflação, esse monstro guerreiro, deve ter disparado. Vamos verificar isso também:
Como podemos verificar, a inflação não foi aparentemente informada de que há muito dinheiro em circulação e que era suposto disparar. Nada temei, no entanto. Os mercados e os seus analistas estão atentos e não vão deixar isto passar em claro. Vamos ver os juros que os americanos pagam pelo regabofe:
Ora, vamos resumir: imprimiram como se não houvesse amanhã, ao mesmo tempo que controlaram a inflação e pagaram cada vez menos juros da dívida. O que basicamente só se explica por duas razões:
1 – os americanos têm uma magia muito grande
2 – A única coisa mais baixa que a taxa de inflação e juros americanos são os conhecimentos económicos de muitos que se fazem passar por economistas.
Alguns, dizem-me, têm cursos universitários. O que só pode significar uma coisa: essas universidades andam a ensinar pensamento mágico.
Elucidativo q.b. Excelente.
Ah, ah! Isto hoje está graficamente estupendo (como diria a mãe da Pépa).
Impecável. E a quantidade, e tipologia, dos disparates que Passos debita já merecia uma monografia.
Meu caro, à conta disto os russos e os chineses já não precisam de investir em armamento. No dia em que quiserem, acabam com o dólar e com a economia mundial. Ainda bem que a Europa não segue o mesmo caminho.
Porque o fim da economia americana era uma cena mesmo baril para a Rússia e para a China.
Ponto 1 – Os russos e os chineses continuam a investir muito em armamento.
Ponto 2 – A Fed neutralizaria qualquer tentativa de acabarem com o dólar. Mais, a desvalorização do dólar ainda dava um boost às exportações americanas.
Não era uma cena baril mas a economia americana enterra-se cada vez mais com estas políticas monetárias, estão cada vez mais endividados com aqueles que foram os seus grandes inimigos e rivais na guerra fria do século XX. E eles sabem que um dia vão acordar e não vão ter saída, vão estar vendidos aos russos, aos chineses e japoneses, tudo porque não quiseram fazer reformas dolorosas mas inevitáveis. E há quem diga que até ja é tarde demais.
Mas o que é irónico é ver um blogue de esquerda a defender esta política americana de direita de varrer o lixo para de baixo do tapete. Mas vale tudo para se ter razão. A Europa está a tomar o caminho mais longo e difícil mas é o caminho menos mau para resolver esta enorme alhada em que estamos metidos.
Tenho dúvidas face à política de alívio quantitativo. Apesar de o próprio Friedman sugerir que o governo pode expandir a moeda em circulação nos períodos de recessão, contraindo-a em períodos de crescimento, não sei se esta medida ajudará a estabilizar os mercados.
Haverá depois uma quantidade de dinheiro equivalente à quantidade de coisas tangíveis da economia (bens, serviços, empregos…)? Não sei mesmo. O exemplo americano não passa disso, um exemplo. Temos outros casos em que a emissão de papel-moeda resultou, efectivamente, em inflação.
Não é magia coisa nenhuma. O nível intelecutual do “nosso” PM estará algures entre o militante médio do tea party e dos lacaios dos irmãos Koch dos Catos Institutes e similares.
Como dizia o outro: a maneira de esmagar a burguesia é moê-la entre as mós da taxação e inflação.
Isto adaptado para a neo-conada-pseudoliberal transforma-se nas mós da taxação regressiva e deflação para esmagar a populaça desprezável.
Agora vão aumentar o IVA ao pão e ao leite pois não é justo os mais ricos pagarem uma taxa tão reduzida (sic).
Não vou fazer um comentário. Apenas uma pergunta. É ou não verdade que, numa economia fechada, a impressão de mais moeda, acima do nível daquela que é necessária para o funcionamento dessa economia, impulsiona a inflação e desvaloriza, na mesma proporção, essa mesma moeda?
Sendo verdadeiro este princípio, eu julgo que a disparidade (assinalada nos gráficos, em relação ao euro e ao dólar), entre a emissão de mais moeda e a evolução da inflação, poderá ser explicada pelo facto de se tratar de moedas utilizadas em pagamentos internacionais por outros países que a compram, através das bolsas, ao BCE e à Reserva Federal. Esses dólares e esses euros, que se escoam no mercado internacional, não entram na economia real dos EUA nem na da Europa do euro, respetivamente, explicando-se assim a anulação do seu efeito inflacionário.
Como não sou economista, mas apenas um curioso, gostava de ser esclarecido por quem sabe (um economista, certamente), sobre este assunto.
Obrigado.
Caro Alexandre – tens razão, desde que não haja alterações na velocidade de circulação da moeda (pelo menos é o que me lembro das equações IS-LM). E do ponto de vista empírico, variações na massa monetária acima do crescimento económico causam inflação.
Dito isto, um pouco de inflação (lower single digit) não é papão nenhum – como disse um economista nacional (e ex ministro das finanças) a inflação é um pouco como o sal da economia – nenhum, a coisa não sabe bem, demasiado, a economia sofre bastante.
Pessoalmente veria com bons olhos um pouco mais de inflação a nível da zona Euro. A Europa do Sul, nomeadamente Portugal, precisa desesperadamente da mesma, dado termos comportamentos económicos típicos de economias de alta inflação (diremos que ainda não fizemos o ajustamento por completo a uma moeda “forte”) – e.g. pensões relativamente altas face aos descontos e último salário.
Mas pense o que eu pensar – ou diga o Passos Coelho ou qualquer outro político nacional o que disser – não somos nós que mandamos na “impressora” (aka BCE). São os alemães. E fica uma pergunta – qual foi o país que foi o primeiro a sair de um alinhamento monetário internacional (sistema Bretton Woods) só para não desvalorizar a moeda (e isto num contexto de guerra fria…)?
Pois é…
Não há inflação pq há uma recessão mundial, uma crise de procura, desemprego, PIBs a cair.
Só haveria inflação se houvesse demasiado dinheiro a perseguir poucos bens/serviços o que até seria bom sinal, o Japão que o diga!
Os EUA não precisam da China nem da Russia para nada. Se estes deixarem de comprar dívida americana não há qq problema, senão para os próprios. Há demasiadas poupanças sem sitio para onde ir. Os EUA limitam-se a absorver essas poupanças a taxas muito baixas pq OTs americanas são o asset mais procurado e mais seguro do mundo.