Vamos fazer um pequeno ponto de situação: na sequência do chumbo, por toda a oposição, de uma solução de financiamento mais favorável e com contrapartidas mais suaves, sujeito a negociações informais e muito mais flexíveis, Portugal foi obrigado, e repito o obrigado, a assumir um modelo de ajuda muito mais duro, condicionado a um memorando de entendimento, escrito e assinado para gáudio de toda a direita, onde se detalhavam as medidas que teríamos que implementar para termos acesso a financiamento. Este programa, já todos sabiam na altura, e não venham jurar agora que não, iria trazer muito mais recessão e dificuldades à economia, sendo que nos sítios onde já tinha sido implementado os resultados iam de maus (Irlanda) a desastrosos (Grécia). Isso era perfeitamente sabido, tendo sido o preço que o PSD e CDS assumiram para voltar ao poder. O Primeiro-Ministro da altura tentou, sempre sob constantes sabotagens por parte do PSD (“vejam os esqueletos no armário!”), minimizar os efeitos desse programa, o que foi em parte conseguido. Mas o mal estava feito, e assinado.
Não satisfeitos com o que tinham conseguido, PSD e CDS resolveram duplicar – duplicar – as medidas recessivas constantes nesse memorando, numa estratégia perfeitamente ignorante de aplicar mais dor no início na esperança que para o fim, perto de eleições, tivessem que aplicar menos. Embora haja muito de ideologia meio mastigada e muito mal sabida naquelas cabecinhas, estou convencido que o principal factor foi o de uma absoluta ignorância económica combinada com chico-espertismo e um desprezo absoluto pelas consequências. Foi, como disse repetidamente o Primeiro-Ministro, uma aventura. Paga por nós.
Ora, passados pouco mais de dois anos deste governo de aventureiros ignorantes, os resultados que há para apresentar são os seguintes: recessão pelo terceiro ano, com um quarto em perspectiva. Desemprego praticamente nos 20%. Défice crescente em cada ano, nem uma única meta alcançada, e dívida num patamar insustentável. De onde já não sairá sem um perdão. Resultados em termos de competitividade: zero. Resultados em termos de estratégia para o futuro: zero. Investimentos que se vejam atraídos: zero.
E, mais grave do que isso, ao fim de três anos de governação pelo grupo de pessoas mais ignorante e impreparado que já alguma vez passou por S. Bento, sabe-se agora que a famosa recompensa pelos esforços dos portugueses é um segundo resgate. Portanto, três anos de sacrifícios, de recessão, de desemprego, de falências, para terminar com o que será, no máximo, um programa semelhante ao que foi chumbado com o PEC IV, possivelmente pior. Este é o resultado deste governo. O falhanço total. Reconhecido e certificado precisamente por Vítor Gaspar. Já sabíamos o que vale a gente séria, agora temos a certeza: vale zero.
Ora, face a isto, face ao implodir da coligação, e face à obrigação de cortes de 4700 milhões para pagar este regabofe de austeridade, que só vão piorar ainda mais a economia e inviabilizar por completo qualquer recuperação nos próximos 2/3 anos, digo, face a isto que tem a dizer Sua Excelência o Presidente da República?
Sua Excelência o Presidente da República quer agora um governo de “salvação nacional”.
Porque Sua Excelência o Presidente da República já percebeu estes resultados e a dimensão do falhanço, e Sua Excelência o Presidente da República já percebeu que em 2015 terá o seu querido PSD cilindrado nas eleições, apenas a um ano do final do mandato de Sua Excelência. E por isso Sua Excelência o Presidente da República, aproveitando uma crise política que, mal ou bem, estava resolvida, urdiu um plano para “envolver” o PS na bela merda, desculpem a expressão, que os seus meninos fizeram, usando como pau o “sentido patriótico” e como cenoura eleições antecipadas em 2014. É apenas este o objectivo, ligar o PS a este lindo resultado. Ao bom estilo de Sua Excelência, o rei absoluto e incontestado dos sonsos.
Da minha parte, e espero bem que da parte do PS, Sua Excelência o Presidente da República pode fazer neste preciso momento uma presidência aberta. Ao bilhar grande.
Caro Vega,
Seja.
Mas sem querer entrar em polémicas estéreis, falta sempre uma coisa nesse tipo de discurso. Como to proprio dizes, o Cavaco, e com ele toda a direita, fica encantado da vida com um cenario que consiste em ir de resgate em resgate. Para eles tudo bem. Quanto mais depressa destruirem o embrião de Estado Social que temos, melhor. Se ainda por cima podem fazer imediatamente dinheiro com isso, como é o caso, então é mesmo de deitar foguetes. Que este processo ocorra à custa da ridicularização de um Portas ou de um Passos Coelho é o menos na perspectiva da direita. Eles até têm uma escola particular para amestrar bestas que sirvam para este oficio, como bem demonstra o caso do amador de concertos para violino de Chopin…
Ora, como sabes muito bem, a direita esta inteiramente disposta a subscrever uma apolice de Seguro para cobrir o risco de vermos o povo cansar-se da brincadeira (OK, estou a brincar : a apolice também prevê palhaços mais à esquerda, admito-o perfeitamente, não vamos polemizar).
Portanto a questão inevitavel, é saber o que é que uma força de esquerda pode propôr para travar a chantagem de que estamos a ser objecto. Por outras palavras, como podemos continuar a acreditar de forma angélica que poderemos salvar o que quer que seja, se não ponderarmos, ainda que como mera possibilidade, ter um dia de bater com o punho na mesa.
Não digo que a questão seja facil. Também não pretendo ter a resposta.
Digo apenas que o PS, ao fazer de conta que esta questão não existe, ou que o problema não se põe, oferece uma garantia zero de poder resistir ao circulo vicioso em que estamos encurralados. Com efeito, a unica garantia que podemos ter supõe uma mobilização das forças da esquerda (por convicção ou por arrastamento). De outra forma, o poder do PS para pesar nesse sentido sera sempre zero, como foi até hoje.
E se o poder do PS para impôr soluções de esquerda fôr igual a zero, porque é que uma pessoa de esquerda havia de votar nele ?
Esta questão não pode permanecer sem resposta ! Ou melhor, poder até pode, mas depois não se queixem de andarmos nas mãos dos Cavacos que andam por ai à solta…
Boas
Exato, Vega. Como se tivesse sido o PS a provocar esta crise. A coligação que governa é incompetente e desentendeu-se e então, para Sua Excelência, a solução é amarrar-lhe o PS. Pour l’amour du ciel!
Excelente análise (aliás, como sempre).
Esta inenarrável comunicação de Cavaco tem acima de tudo uma insuportável chantagem sobre os partidos que os mesmos entenderam, por enquanto ignorar (salvo Ferro Rodrigues). E este é um ponto decisivo.
Por outro lado, a posição do PS só pode ser uma: saber apresentar-se ao eleitorado em condições de garantir uma maioria absoluta como esperança de uma mudança significativa de política.
Qualquer um pode ver que esta coisa dos compromissos de salvação nacional são um nado-morto, e apenas foi agora trazido a palco unica e simplesmente como último recurso para embaraçar e prejudicar o Partido Socialista.
A mão, agora à fente do arbusto, continua a mexer.
oh viegas! essa k7 foi êxito nos picnics e acampamentos transgénicos do brique à gauche no princípio do século, mas o proletariado fartou-se das homílias do anacleto. é um bocado penoso andar a ouvir exigências de quem nunca apresentou alternativas sérias, tudo fake ou batota como naquela cena paneleira do aipéde em 2011 ou nesta ao ’13
http://www.youtube.com/watch?v=4ft_-d4hgIU
Lamento, mas após seis parágrafos sem mácula, ao sétimo esta análise estraga-se e embaralha tudo. É precisamente aqui: «E por isso Sua Excelência o Presidente da República, aproveitando uma crise política que, mal ou bem, estava resolvida, urdiu um plano para “envolver” o PS na bela merda, desculpem a expressão, que os seus meninos fizeram, usando como pau o “sentido patriótico” e como cenoura eleições antecipadas em 2014. É apenas este o objectivo, ligar o PS a este lindo resultado. Ao bom estilo de Sua Excelência, o rei absoluto e incontestado dos sonsos».
Mal ou bem, estava resolvida? Resolvida? Sem comentários.
Independentemente das motivações de Cavaco, eventualmente mesquinhas, mas que estão longe de me interessar particularmente, «”envolver” o PS» num compromisso de salvação nacional está muito longe, quanto a mim, de pretender «ligar o PS a este lindo resultado».
Os portugueses não são assim tão estúpidos que não tenham já percebido COMPLETAMENTE que o desgoverno Passos-Portas-Relvas-Gaspar, com o mentecapto e constante patrocínio do Sr. Silva, falhou rotundamente e terminou. Já faz parte do Passado! Tal como a história do PEC-4! Que um dia se faça Justiça histórica não duvido e sou o primeiro a ansiar por ela, mas isso agora NADA RESOLVE!
A realidade é muito diferente da que este texto aponta: a “bela merda, desculpem a expressão” feita pela coligação PSD/CDS não tem hoje em dia qualquer alternativa à vista!
Acordem, líricos! Nem o Bagão, nem a Manela, nem o Rui Rio, nem o Pirex de Lima, NEM O PS DO SEGURO, Galambas e Costas inclusos, muito menos o BE, a CDU, o Dani Oliveira, os deolindos e os indignados FAZEM A MAIS PEQUENA IDEIA de como tirar Portugal desta bela merda!
Palavras, palavras e mais PALAVRAS não servem para NADA!
Senhor Vega, não se iluda. Senhor Cavaleiro, desça das nuvens: nem o PS está em condições de pedir (quanto mais de obter…) uma maioria absoluta (Lolololol!), nem nos oferece a mais pálida «esperança de uma mudança significativa de política»!
Quer dar-nos UM EXEMPLO que seja?
Ok, ok, o PS/Novo Ciclo pode sempre meter a cabeça na areia, façam o que quiserem, mas isto já não vai lá com baboseiras passadas da validade.
Se o PS não conseguir agarrar esta oportunidade para impor as suas condições e tomar as rédeas da situação, mostrando que quer fazer parte da solução (já alguém do PS o disse, aliás muito responsávelmente) e que A SOLUÇÃO TEM DE SER OUTRA – mas definam-na com termos, tá? -, o PS que se cuide.
Não diga é depois que eu não o avisei…
Muito bem escrito, tudo o que penso sobre estes fedelhos que nos governam está aqui. Já agora mais um “pormenor” – antes de saber que Paulo Portas se tinha demitido, não foi o próprio Cavaco que disse (há 1 semana?) que é na AR que os governos caiem, devendo a oposição tirar daqui as devidas ilações?
O PS que se convença que tem de mudar de leader. TÓ Zé não convence, de acordo com as ultimas sondagens. Urge mudar de cara…. Leva banhadas atrás de banhadas no parlamento… e agora está a ser apertado pelo PR, também. O comunicado a pedir urgência deverá quer dizer que Cavaco tem solução para este governo (que não aceita (PR) remodelar), mas condicionado por um calendário para cumprir tarefas ( orçamento 2014 ? medidas a implementar e comprometidas com a Troika ? , etc ?)….. E Seguro , pelo menos para mim, não é seguro e tão confiável como o outro jota…
A escrita escorreita, o brilhantismo analítico e a lucidez das ideias,são características que pessoalmente aprecio e me ajudam na busca permanente da clareza e da objectividade.Porque assim é interrogo-me:não vai sendo tempo de,conjuntamente com a saída de cena deste (des)Governo,pedir a EXONERAÇÃO do Presidente Da República,fundamentada num imenso rol de factos que ao País e a todos nós Portugueses,(exceptuando os seus amigos fundadores,gestores,administradores e afins do BPN),só tem produzido dor,sofrimento e sentimentos de revolta?
chama-se responsabilidade partilhada.
(mas também… o PS já fez 18 anos, não já?)
Nem mais!
Acrescento que como S.Exa quer agora o que devia ter feito Março de 2011, o PS faz-lhe a vontade e já reentrou em modo choninhas.
Desde que o Académico Maduro apareceu a substituir 5o% do Relvas, a barafunda instalou-se no Governo dos Metralhas. Logo que vi na TV o “petit” Maduro com uma gabardina, pois chovia, pensei: de onde conheço esta criatura?. Eureka, minha mãe era fanática do Cantinflas e levava as filhas e irmãs a ver todos os filmes. Depois de ver a entrevista do Maduro à Judite da TVI Fui pesquisar e encontrei 2 pérolas “Cantinflas – mi gabardine” e especialmente “Discurso de su excelencia” É fácil encontrar o link mas agora não tenho tempo pois estou atrasada para ir jantar ao Eleven do Judice que hoje dá uma entrevista para ver se nos esquecemos do papel que ele desempenhou nos atentado mortais com o Cónego Melo e outras personalidades important4es do Norte.
É um verdadeiro tratado de como falar sem dizer nada, tal como MADURO, CAVACO, PORTAS. Do discurso de Passos nem falo pois a sua pose de pretenso barítono, com agudos imprevistos, fazem-me pele de galinha, tanto mais que o conheci muito jovem, vagueando pelo Bairro Alto com o seu escudeiro o protector Relvas, cantando fado vadio na Adega Ribatejana, até aterrar num bar de moda da altura, onde se apaixonou pela Fá. Fez-se agente artistico das “Doce” e o resto não posso relatar, por respeito à Fátima e suas 2 filhas.
Caro Vega9000,
Excelente análise num mundo racional, mas, como estamos neste refundado Estado Tuga, não estou nada de acordo contigo. Ora vamos lá por partes.
O Presidente da República disse-nos que agora deixou de confiar nos partidos do Governo. Neste contexto, o Presidente da República agora quer que o PS passe a confiar nos partidos do Governo.
Num segundo passo, o Presidente da República lembrou-se também de adotar as boas práticas do setor privado – tal como as empresas que, quando vão à falência, transferem o património e abrem outra empresa ao lado baralhando os credores, o Presidente da República conseguiu criar dois Governos em simultâneo. Neste momento, ninguém sabe a que Governo se deve dirigir. Os pobres portugueses não sabem que Governo contestar… Os “pobres” credores não encontram o Governo a quem cobrar… Por via das dúvidas, quer uns, quer outros, só voltam lá para depois das férias – desejavelmente depois das eleições alemãs – para ver se o Presidente da República já lhes pode dizer afinal a que Governo se devem dirigir.
Como vês, tudo isto faz sentido… Ora, diz lá se não temos um Presidente da República genial…
Um abraço,