Calhou passar pelo período de maior boémia na minha vida nos anos em que abriu o Plateau, final de 1984 se bem me lembro, e o Bairro Alto se consagrava como o parque de diversões nocturnas de Lisboa, em parte decisiva criado pelo Frágil e seu vanguardismo. Por motivos circunstâncias ligados às pessoas com quem saía à noite, tornei-me um habitué da discoteca do Paco, logo depois também do Pedro Luz. Foi aí que conheci o Zé da Guiné.
O mais frequente era o Zé entrar sozinho e ficar sozinho depois de entrar. Registo esta memória porque costumava pousar entre o bengaleiro e a porta à conversa com os porteiros e com outros a descansar dos decibéis e do sufoco. A sua imponente figura, não por ser alto mas por nesse tempo estar musculado de uma forma que faria as delícias da estatuária grega clássica, transmitia uma irradiante calma. Ele era como um mestre Zen de origem africana embrulhado num visual que representava o melhor do cool lisboeta.
Eu e um amigo fazíamos questão de tentar falar com ele. Por falar, entenda-se: trocar algumas palavras. O resultado era invariavelmente o mesmo, não conseguindo mais do que criar a ilusão de que alguma coisa tinha sido dita embora ninguém estivesse em condições de saber o quê. O adiantado da hora explica parte do fenómeno, mas a outra parte é que é a boa. O seu sorriso. Um sorriso tão destemido, tão convicto, que nos fazia instantaneamente gostar daquele homem que, pela sua simples presença, vencia todos os preconceitos, epidérmicos ou latentes.
O Zé era parte essencial daquela Lisboa, daquela noite, daqueles que nós éramos. Daquilo que somos.
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Bela elegia: a beautiful child
tão lindo. porra, fiquei cheiinha de vontade de conhecer o Zé dos sorrisos que faz quebrar o gelo de homens e mulheres que parecem porque assim se mostram – mas não são – feitos de pedra. mas se calhar morreu. :-( deviam fazer-se elogios muito mais do que elogias.
Mas que porra é esta?!
Então agora, quando se visita o Aspirina, tem que se gramar o anormal do Coelho a chiar não se sabe onde?!
Ou é só falta de jeito minha?!
voyeur, tens de ir lá abaixo tirar o som ao animal.
qual som? estou a perceber nada.
só agora é que vi que escrevi elogias em vez de elegias. enganei-me, carago.
oh monte de banha! não percebes porque és burra, os senhores estão a pedir-te para desligares a tua fotografia que está a originar este ruído desagradavel, tipo chiar de coelho.