Isto é o que se disse … e não o que se diz que foi dito. pic.twitter.com/Qv60p2gAcJ
— Rui Rio (@RuiRioPSD) August 16, 2020
18 dias. Rui Rio passou mais de duas semanas a ver em silêncio o tumulto que a sua inconsciente (porque lhe saiu no momento, sem pensamento prévio nem prudência na ocasião) legitimação do Chega como potencial aliado do PSD causou em quem tenha uma costela liberal ou um mero pingo de social-democracia a correr nas veias. 18 dias. Até que, finalmente, tomou uma posição de comando na crise em curso, mostrou quem manda na barraca. E foi para o Twitter. Onde colocou em exposição o que factualmente tinha dito há 18 dias. 18 dias sem qualquer justificação, explicação ou interpretação só para acabar a provar ao mais matarruano dos cépticos que o actual presidente do PSD é bem capaz de ser o pior líder desde a fundação do partido.
Todos os vitupérios que desabem sobre esta vergonhosa imitação de estadista não serão de mais, bem pelo contrário. A avaliar pelo que entretanto se soube do apoio de dirigentes avulsos do PSD a uma parceria com Ventura, a situação revela-se extremamente grave para a salubridade do regime. Daí merecer escândalo e coragem o actual momento de um partido que tem sido pilar da democracia e do desenvolvimento do País (vamos fazer o favor de esquecer o Cavaquistão, a traição de Barroso, Santana e Passos). No entanto, porém, todavia, a última entrevista de Rui Rio à RTP tem outros momentos que superam em ilustração de incompetência a cena desonrosa sobre o Chega. Momentos que jamais alguém irá comentar dado que em Portugal não existe imprensa. Um deles começa no minuto 12 mais 16 segundos. Vítor Gonçalves lança o tema: “Na sua opinião, como é que o Governo tem estado na resposta à epidemia e às consequências da pandemia?“
Saltemos para o minuto 16 mais 34 segundos. É a altura em que o mesmo Vítor Gonçalves muda de assunto. Ficámos, contas exactas, com 4 minutos e 18 segundos gastos a transmitir ao público a avaliação do líder da oposição ao Governo adentro da actual crise de saúde, a qual é também uma crise económica e social sem precedentes e de consequências imprevisíveis. Ingénuos e distraídos que não tenham visto o segmento acreditarão em duas balelas: (i) que 4 minutos e tal de televisão (10% do tempo útil da entrevista) dá para dizer das quentes e boas; (ii) que um candidato a primeiro-ministro, a atravessar um período que ficará na História mundial e que a vai alterar, terá algo de muito importante para dizer, seja contra ou a favor, seja por isto ou por aquilo, seja lá o que for. O que nos saiu na rifa foi do reino do burlesco, os 4 minutos consistem num inacreditável festival de inanidades em que Rio conseguiu trocar os olhinhos a um jornalista que, não sendo a mais luminosa cabeça na profissão, esforçou-se realmente na procura de algo parecido com uma resposta, nem que fosse uma migalha qualquer mas concreta saída da boca do entrevistado a respeito da sua avaliação do Governo. O que mais se aproximou dessa meta está aqui, precisamente as suas últimas palavras acerca da ponderosa questão:
“Uma coisa é o início… e outra coisa é depois a consolidação… são coisas diferentes…“
Eruditos e clientes de táxis de imediato reconhecerão estarmos perante um naco de sapiência popular, o famoso axioma “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa” que já permitiu a conclusão pacífica de milhentas discussões. Pelo que vou aproveitar o balanço e fazer uma pequena adaptação ao poderoso argumento – uma coisa é um líder à altura da responsabilidade de ser candidato a primeiro-ministro, outra coisa é o Rui Rio.
“Isto é o que se disse … e não o que se diz que foi dito.”
portanto foi alguém que disse.
pergunta legítima: será que rio quer ser alguém ou só passar entre os salpicos da merda que cagou na ventoínha?