Conheço velhos que ainda não chegaram aos 20 anos de idade; votei em Manuel Alegre para as presidenciais — e voltaria a votar, perante elenco de candidatos igual ao de 2006. Feita a declaração prévia, passo para a urgência: temos de pôr os políticos velhos no lar da Terceira República. Quando se admite que o pateta Alegre imponha uma remodelação no Governo ou se aceita vê-lo a fundar um partido concorrente ao PS, não está mais em causa reconhecer uma doença, trata-se antes de validar a hipótese de já estarmos a ser enterrados. Porque deveria ser óbvio, para quem tenha a antiga 4ª Classe, que Manuel Alegre caducou faz tempo e ainda ninguém o avisou. Se mais provas fossem precisas, a leitura da entrevista conduzida por São José Almeida, que nunca o questiona nas perguntas que faz, exibe um homem ingénuo, ignorante e deslumbrado. Nada disso anula o seu passado, deveria ir sem menção, mas o seu passado não incomoda. É no presente que Alegre é um triste. É triste ler as suas declarações e procurar ligá-las com os acontecimentos da nossa vida profissional, social e pessoal, só para se concluir nada nos dizerem. Não conseguiria verter duas frases dignas de captar a atenção das gerações nascidas nos anos 90, 80, 70 ou 60. O seu olhar está ofuscado com o que viveu in illo tempore, cego para o futuro. Por isso não consegue apresentar uma única proposta que dê que pensar, sequer que falar, sobre qualquer um dos grandes e pequenos temas da actualidade. Por isso nunca soube o que fazer aos votos que recebeu, pois não tinha qualquer outro plano para além da soberba de ocupar o Palácio de Belém. E agora, atingido por uns Blocos que lhe exigiam votos contra o Governo no Parlamento, deu em vociferar por soluções alternativas, mas o coitado barafusta sem fazer a menor ideia de qual seja o processo para as obter; como um esfomeado, numa cozinha repleta de víveres e instrumentos, a berrar para que lhe façam o caldinho. Socialismo? Mas alguém, no século XXI, estará interessado em saber onde é que se escondeu o socialismo ou de que se travestiu? PS? Mas há quem tenha dúvidas do que seja o PS? É a organização a que preside José Sócrates, eis a resposta. Só os atarantados, que deliram partidos angélicos, se esquecem que o poder tem sempre corpo, sexo e vontade de nos foder.
Entretanto, veio à cena uma figura que nem vista se acredita nela. É Garcia Leandro, um general que puseram à frente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo. Ora, que se lembrou esta alimária de fazer? Nada mais, nada menos do que ameaçar com uma sublevação popular. O mais estouvado argumentista de TV teria pudor em tentar vender a história: o director de um organismo que tem como missão prevenir a insegurança é protagonista de uma burlesca chantagem ao próprio regime constitucional. Foi tudo explicadinho por escrito. E a principal razão para pegar em armas não podia ser mais desarmante:
Se sinto a revolta crescente daqueles que comigo contactam, eu próprio começo a sentir que a minha capacidade de resistência psicológica a tanta desvergonha, mantendo sempre uma posição institucional e de confiança no sistema que a III República instaurou, vai enfraquecendo todos os dias.
E dias depois, numa entrevista na SIC Notícias, o general explicou ainda melhor. Deu o exemplo de uma senhora de oitenta e tantos anos, do Norte, que lhe ligou a dizer que isto, o País, estava muito mau e que era preciso que alguém fizesse alguma coisa. E eu estou em crer, e comigo estarão milhares, que se esse telefonema é paradigmático das pressões que o militar está diariamente a sofrer, então não admira que a sua resistência enfraqueça, admira é ainda restar alguma, conhecida como é a capacidade de senhoras octogenárias levarem ao desespero muito herói de guerra. Que se seguirá? A fazermos fé no texto, há acontecimentos que já se inscreveram no grande livro do destino:
Mas a explosão social está a chegar. Vão ocorrer movimentos de cidadãos que já não podem aguentar mais o que se passa. […] quando as grandes explosões sociais acontecem, ninguém sabe como acabam.
São ideias poderosas. Pelos vistos, cidadãos que não aguentam o que se passa vão ficar passados, movimentando-se na via pública. Por outro lado, ninguém sabe como acaba uma explosão social, facto que admite a possibilidade de acabar bem, ou até muito bem. Mas, qual a causa? É a desvergonha excessiva, como acima se lê. Esta categoria sociológica, a desvergonha, na base da revolta anunciada, talvez até nem fosse excessiva caso o pessoal do BCP não tivesse os salários e prémios que tem. O general aponta o canhão e não faz prisioneiros:
O modo como se tem desenvolvido a vida das grandes empresas, nomeadamente da banca e dos seguros, envolvendo BCP e Banco de Portugal, incluindo as remunerações dos seus administradores e respectivas mordomias, transformou-se num escândalo nacional, criando a repulsa generalizada.
Cá está. O que o povo não aguenta, dia após dia, é a política remuneratória do BCP para os seus altos quadros, aquela que Cavaco também tinha denunciado. E com razão, toda, pois é uma vilania repulsiva que não deixa dormir descansados os trabalhadores, chegando a causar desavenças nos seios familiares. Algo tem de ser feito, e muito rapidamente se quisermos atenuar os danos do que aí vem. Como primeira medida, proponho eu nesta carta a Garcia, há que tentar que Paulo Teixeira Pinto devolva algum dinheiro dos 10 milhões de euros que recebeu como indemnização. Mas quanto? Quanto é que seria justo ter dado ao Paulinho? Isso o general não esclareceu, até porque ninguém lho perguntou. Apenas nos deixou uma linha muito ampla de acção:
Corrija-se o que está errado, as mordomias e as injustiças, e a tranquilidade voltará, porque o povo compreende os sacrifícios se forem distribuídos por todos.
É uma solução notável, porque de resultado imediatos. Basta corrigir o que está errado, e depois corrigir as mordomias, para finalmente corrigir as injustiças, e já está. Fica feito. A malta recolhe a casa, em paz, povo unido. A malta quer é que os sacrifícios toquem a todos, é só isso e não custa a perceber. Por exemplo, em vez de 10 milhões, o que é justo é que o Teixeira Pinto meta só 9 ao bolso. Assim já estaria bem. Dizia adeus a 1 milhão que era para ter consciência de quão difícil está a vidinha, e não se ficar para aí a rir.
Então, segundo a arcana lei de que os iguais se atraem, Alegre aplaudiu o levantamento de rancho:
[…] quando um general como Garcia Leandro vem dizer o que diz, o Presidente tem de estar muito atento e tem de ter várias maneiras de intervir, no sentido de abrir janelas para as pessoas respirarem e voltarem a ter esperança.
É óbvio que o poeta é mestre da palavra, do dizer: quando as coisas cheiram mal, tem de se abrir as janelas. E as declarações do Leandro cheiram mesmo muito mal:
Já fui convidado para encabeçar um movimento de indignação contra este estado de coisas e tenho resistido.
Que temos aqui? Um maduro com a necessidade de informar a Nação de haver grupos que o querem à frente de manifestações contra este estado de coisas. A expressão promete uma agenda variada, podendo ser qualquer coisa, desde o tal dinheirinho que está a ser mamado pelas administrações de bancos privados que fazem à volta de 500 milhões de euros de lucro declarado por ano, passando pela arquitectura das manchetes dos jornais e o nervoso dos comentadores, e chegando ao que anda Paulo Bento a fazer nos treinos. O general conta-nos que tem resistido, não que tem recusado ou que recusará. Ele pega na pena para nos dizer que ainda não espaventou a espada. Cruzada com a notícia da diminuição da sua resistência psicológica, que o próprio veicula, podemos esperar para breve um desfile em casaca ou um passeio numa camisa-de-forças.
Manuel Alegre adorou a imagem bélica da explosão social, vai usá-la até à sua implosão. E seria o militante mais feliz no PS se um par de taralhoucos desatasse a queimar caixotes de lixo e a mandar pedradas à polícia no cumprimento da generalíssima profecia. Este Manuel Alegre é o mesmo que verbalizou, há meses, do alto da sua perspicácia e bom-senso: Eu não subestimaria o Dr. Menezes. É, pois, um alucinado. E hoje reuniu 200 idosos num hotel para formalizar a sua candidatura ao papel de rabugento-mor do reino.
Os velhos jarretas não têm culpa nenhuma de quem lhes dá atenção. A culpa é dos imbecis. A culpa é sempre dos imbecis.
estar numa cozinha repleta de víveres e instrumentos a berrar para que lhe façam o caldinho é tipicamente masculino, deveria vir sem surpresa.
«o poder tem corpo, sexo e vontade de nos foder» é uma grandessíssima frase.
confirma-se que a inveja nem sempre é feia, pode ser hilariante. ideia brilhante, essa da mama da iniciativa privada passar a seios familiares pátrios.
É deliciosamente trucidado, o bom Garcia Leandro, velho amigo da família (cuido que foi ajudante de campo de meu avô, na Guiné) por aquele rapaz a família dos Tavares, que escreve no Expresso sobre a lei do tabaco.
só agora li a última em link. aquilo lembra-me o agarrem-me se não eu vou-me a eles!. e já foi a um congresso do PS? um…?
não admira que reitere que irá às urnas «no país». não é, de facto, produto de exportação.
o que lhe falta, tudo indica, é estar, também ele, nas mesmas condições de quem manda de nos tapar o buraco negro.
Mesmo que Alegre tivesse a soberba de ocupar o palácio de Belém ,pelo menos teríamos a oportunidade de ter uma figura representativa que sabe falar com um voz inconfundível e com um passado que justifica a nossa cobardia de muito falar e pouco sofrer.Alegre nunca será um triste, mas deve andar a miná-lo uma tristeza de um Abril sem a vibrante que também era a de um cravo que só utopicamente floresce nas naus de sonhos de coisa nenhuma.
Mas gostei da definição do espectro do socialismo Socrático que anda a pairar neste país que sofre de inanição e que precisa urgentemente de aspirima.Mas com a B já lá não vai.Agora só se fô D.
Porque será tão raro ouvir dizer o óbvio? Alegre está politicamente fora de prazo, não tem nem uma pindérica e pálida ideia que acrescente aos dois ou três estados de alma que manifesta por ano.Infelizmente por falta de material credível para fazer face a Cavaco deram-lhe a oportunidade de um brilharete nas presidenciais,o que deu origem a que o seu ego aumentasse extraordinariamente. Ficou ainda mais difícil de aturar, presa mais fácil dos que o rodeiam à espera de uma oportunidade de melhor fazer oposição e desmanchar a tenda governamental. Não só desses é certo, também os encandeados pela “voz que ninguém cala” ou pela aura poética ficam incapazes de distinguir a diferença abismal entre um soneto e a governação de um País no século XXI, sem cortinas onde alguém se possa esconder.
O resultado pode ser caricato: Uma oposição completamente mediocre que não consegue passar da cepa torta, apesar das oportunidades geradas por um governo que não teve medo de pegar em coisas difíceis, vê as suas chances de chegar ao poder aumentadas, não pelas tais medidas e reformas, mas pela ajuda interna do próprio partido do governo comandada pela “vaidade Alegre”. Se calhar ainda andam por aí convencidos de por este modo chegarem ao Socialismo! Os ineptos opositores, se forem espertos e tiverem fé no “Público”, ainda levam a carta a Garcia (de Menezes)…..
Manuel Alegre poderá estar fora de prazo. Mas este P. S. está podre, pelo que deveria limpar-se ou mudar de nome. No entanto, não creio que ele venha a criar um novo partido. Se eventualmente me pedir opinião, aconselhá-lo-ei a não repetir o Eanes.
val,
Vários mimos na prosa, um de orgasmo: «Só os atarantados esquecem que o poder tem sempre corpo, sexo e vontade de nos foder». Brilhante, deveras. Volto mais tarde, tenho duas broncas para te dar, também. Treme para aí, agora avisado!
Deixei para trás, de propósito, a laracha generalíssima de Garcia Leandro, donde Alegre partiu para um abrir de janelas e respirações amplas. Que diabo, o Carnaval ainda serve para alguma coisa, neste caso desculpar mais uma vez a aviso solene que nos faz Alegre todos os anos.
Mas fica bem visível a forma como exerceria a Presidência! Todas as manhãs abriria a tal janela e ditaria em voz alta ao PM como fazer pedra a pedra o socialismo de que é fiel depositário. O verdadeiro é claro!
É quase lamentável ver alguém dar cabo da sua história e dos seus méritos noutros tempos e também noutras lides. Mas lá está, a ele ninguém o cala, pelo menos quando lhe espevitam a utilidade presente: Ajudar a festas alheias a troco de algumas festas no lombo e no ego.
Daniel de Sá
Admitir que Alegre está fora de prazo já é um bom esforço! Receio no entanto que ele ouça mais outros conselheiros, menos emotivos mas mais matreiros. Felicidades para nessa altura reconstruir o podre PS. A analogia com Eanes é boa, só é pena que a análise das consequências não seja tão sólida. Mas lá virá então um óptimo PS, sadio ora essa, imbatível na oposição onde construirá o Socialismo. O verdadeiro, o mais Alegre.
Valupi e RVN
O orgasmo, perdão, a frase é brilhante! Só me parece incompleta se bem interpreto o sentido. É que foder a cabeça ao poder político é justo, é fácil e é velho, até o consolo dos pobres, mesmo os de espírito. O que é grave é deixar passar em branco a mesma arte de fornicação vinda de muitos poderes, alguns trabalhando com papel e gritando como virgens mas dando as suas quecas privadas. Ou menos privadas e mais bacanais de grupo..
Só não te entendo quando dizes que reincidirias hoje no voto no pateta Alegre. Tás como o FMV, não dás o braço a torcer.
Quanto ao Garcia Leandro, sofre de militarite, mazela que se agrava com a idade e o reumatismo. O canhão dele está solto – é um loose cannon, como dizem os nossos aliados – e atira para todos os lados, inclusive contra ele próprio.
Quando ouço estes peralvilhos fardados que devem ter merdalhas espetadas directamente nos miolos, lembro-me sempre dum grandessíssimo estupor que mandava ou manda no Público, um tal de Sarsfield, mais conhecido por Sapo Cocas, igualmente verde mas não lagarto, que um dia escreveu esta frase: “Se Portugal não estivesse na UE, já se ouviria o tilintar das espadas”. Queria ele dizer que era a altura para dar um golpe militar, mas que infelizmente não podia ser por causa de Bruxelas. Este e outros filhos da mãe deles fazem-me pensar que o fascismo e a bota militar só não voltaram ainda às nossas costas, porque pertencemos à Europa. Única razão. E às vezes divirto-me, masoquista, a imaginar quem sobraçaria as pastas, as presidências, as directorias e as intendências duma IV República de cor fascista.
Valupi, que alegria me invade quando vejo o discernimento de gajos como tu, que além de compinchas corajosos e intervenientes poderão, assim queiram os deuses, ser índices de uma geração. Eu não votei porque estava então como agora nos trópicos, embora tivesse prometido vir esgatanhar-me na segunda volta que afinal, e ainda bem?, não houve. Essa mulher barbuda que gosta de touradas e caçar bichos com a distância cobardolas de uma arma de fogo, não descansa enquanto a sua tonitruante voz não sufocar a nação, de ego whiskado.
Vá levar no cú: uma bojarda de sémen para ver se a testosterona lhe vai ao sítio e a próstata amansa.
Isto por cá está uma doçura de tudo que nem me apetecia estar a mandar bocas, mas vá.
Mas………
O socialismo não foi guardado numa gaveta desde o tempo do Soares ?????
É um poeta saudosista e esquecido (será da idade ???)
Quanto ao Garcia Leandro ouvi-o e não gostei
Aliás, fiquei duplamente preocupado
A subvelação vinda de quem vem
E a indiferença do poder
Não era suposto ser chamado a esclarecer o que vociferou ????
ou
Ser preso de imediato ???
Bem sei, é a democracia
Ora bem, primeiro foi o António Barreto, depois foi o José Manuel Fernandes e agora Manuel Alegre. Eu bem perguntei quem viria a seguir. Quem se mete com Sócrates, leva cacetada do Valupi.
António Barreto diz banalidades inconsequentes.
José Manuel Fernandes é um moralista, logo incompetente.
Alegre, apenas velho.
Ainda vais a Ministro, Valupi. Ou director de jornal.
O Manuel Alegre é um poeta, no verdadeiro sentido da palavra.
O Garcia Leandro um general com um exército munido de armas de rolhas com cordel…
O país? Uma fábula rotativista do século XXI, copiada do XIX (só falta mesmo o Dom Duarte para ajudar à festa…).
Nós?
Somo primos do Zé Povinho, com cabedal suficiente e insuficiente para resistirmos a todas estas “trovoadas”…
Só agora li o texto inacreditável do magala senil. O que é realmente espantoso é este general Strangelove estar à frente do tal observatório, que não é astronómico.
jdias :
«Ora bem, primeiro foi o António Barreto, depois foi o José Manuel Fernandes e agora Manuel Alegre. Eu bem perguntei quem viria a seguir. Quem se mete com Sócrates, leva cacetada do Valupi.»
O próximo até pode ser o próprio PS quando o Valupi der conta que vai acabar como Sócrates- o candidato socialista que o PSD não tem.
“:OP
Eu já estava à espera que o PS ia acabar a dar o tiro o no pé. O Sócrates tem servido de “fantasia de esquerda” porque a esquerda se coloca por reactiva de fantasmagorias de direita. Mas o mesmo Sócrates também serve de “ventríloquo da UE e da “modernização do país” que coloca aquele discurso igualmente na direita que vive de palavras.
Por isso- o mais que pode acontecer é cair por vir aí a bandeira de Abril. E a bandeira de Abril tem logo o PCP, o BE e mais metado do PS e grande parte de quem elegeu Sócrates a saltar lá para dentro.
Donde, Sócrates vai competir com isto- e tem isto à perna dentro da sua familiazinha. Para o país é que é lixado, uma vez que a alternativa ao Sócrates se assemelha demasiado àquela que ele próprio foi, em relação ao Santana.
Esta agora foi cinismo para mostrar ao Valupi que os moralistas e defensores da ética também são capazes de retórica cínica. Com a diferença que a usam como ironia e não com a beatificação da auréola da inocência.
valupi,
Dois modestos reparos, se me permites, o primeiro de atrevidote. Começar um texto destes a dizer ‘eu até votei Alegre’ pode até soar a um contricto bater no peito, com pretensões a garantia de electrodoméstico, do tipo ‘eu também tenho uma panela assim, por isso posso falar’. Já não é brilhante mas passa, com o barulho das luzes. Agora tentar compor a frase com um ‘voltaria a votar’ (mesmo com o truque retórico infantil do ‘perante elenco igual’) já é mangar com a gente, convenhamos, quando a seguir só não lhe chamas Papá, porque de resto ‘pateta’, gágá e doença de caixão à cova estão lá bem escarrapachados em todas as tuas letras. Ora tu, logo tu, não votarias para Presidente num tolinho, cheché, pateta alegre, oco e perdido no tempo e nas memórias de um passado glorioso, pois não? Pois não. Nem perante o mesmo elenco, estou certo, que até eu (que evito mais Cavaco que aguardentes brancas) não vejo comparação possível na estatura do um e do outro, enquanto estadistas.
Um princípio assim não lustra o embrulho da ideia. Que eu depreendi, evidentemente, fosse a crítica ao deslumbre de Alegre com o reflexo do seu próprio ego no espelho da insatisfação popular. Só que o espelho é de feira, digo eu. É dos que engorda o reflexo, e o faz parecer maior, desporcionadamente maior do que a realidade. Mas perfeito aos olhos de quem assim se quer ver.
O segundo reparo pode parecer contraditório do que disse até aqui, mas vai na mesma. Até porque creio nada ter a ver com contradição. Apontas a vacuidade de Alegre como razão de veto à possibilidade de uma figura assim ser um Presidente da República com utilidade histórica para os portugueses. Não digo o contrário no que toca ao ‘rotundo poeta’ (valupi!) em concreto, mas insisto em demarcar-me aqui do assentimento implícito a esse teu juizo. Não será Alegre o tal, mas um D.Sebastião assim podia muito bem ser o farol indicado para lidar com este nevoeiro político que nos faz perder na nossa própria costa. Mas estou de acordo contigo nesse ponto. Não é faroleiro de jeito aquele que começa por gritar ‘naufrágio’ antes de dar a luz.
Ocasional,
Terá sido por lapso ou por mera arrumação, estou certo, este seu dois-em-um na resposta que deu. Orgulha-me a parceria mas estou longe de a merecer. Por isso dei voltas às suas palavras para tentar encontrar o que nos uniu, a Valupi e a mim, no mesmo olhar seu de enlevo. Julgo ter encontrado, ora veja lá se não. Por entre ‘outros poderes’ e ‘gritos de virgens’, passando por ‘quecas e bacanais’ com referência ao ‘papel’, zurze o amigo a eito nos cabrões dos escribas e jornalistas, não é verdade? Mais palavrinha, menos floreado, o seu ponto é que há aí uns gajos que escrevem em blogues e em jornais e que na sua opinião também fodem o poder, certo? Ou que tentam, às vezes, certo? E isso deixa-o fodido, certo? Não, não é ao poder. É a si. Certo? Bom. Vejamos.
Espero ter percebido bem. Porque se assim foi quero dizer-lhe que tem toda a razão. E que eu sou o pior de todos. Um sacana do pior. Sei que zémanelei a minha resposta, repintando o seu alvo. Mas peço-lhe desculpa por isso. É que tudo tem um limite, como você próprio diz, no fundo, e bem. E a credibilidade da responsabilidade de quem escreve mora no limite de chacota aceitável para que a eventual pequenez do mensageiro não se confunda nunca com a eventual grandeza da mensagem. E eu cá adoro a minha arte e prezo a importância da informação, mesmo da que requer um filtro de isenção. É sempre melhor que nenhuma informação.
Cordialmente, aceite um abraço.
Post infeliz. Um exercício conhecido por «bater no ceguinho». De nada adianta estar, como habitualmente, bem escrito. Velhos jarretas? Talvez. Propostas vagas? Com certeza. Deste lado, parece-me antes que se limitaram a aproveitar o raro tempo de antena de que dispõem para, à sua maneira, servir de eco à insatisfação muda que vai pela ruas.
z,
percebi finalmente aquela coisa do ‘tufa’, que tu dizes:
«Vá levar no cú: uma bojarda de sémen para ver se a testosterona lhe vai ao sítio e a próstata amansa.»
é isto, não é?
rvn,
sobre assuntos sagrados e secretos faz-se segredo, descobri não há muito. Mas o tufa é mais multidimensional do que essa asserção mas a interpretação interrogado foi sua,
quanto ao alegre até pensava votar nele, quando soube que era caçador deportivo. Não suporto gente que mata por prazer de matar, e, escusado será dizer, lhes encomendo o mesmo destino, felizmente agora transponível para o espaço sacrificial da blogosfera,
não obstante, e usando a minha costela de druida, a terapia podia ter bons resultados…
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quanto ao resto, quero caras novas
(já tou a ver que tou fodido, com esta ‘prenda1 de me porem internet na mansão)
a terapia é pró alegre, e todos os caçadores desportivos
já estou a ver que há capikuador,
e as gralhas ficam para outra vez, outrossim é xonex
susana, sem surpresa, como dizes.
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Comendador, concordo. Embora, mais uma vez, quem ladra não morde.
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Lia, tiveste graça. Já quanto ao Alegre, só se vê desgraça.
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Ocasional, boa análise. Aliás, (muito) boas análises.
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Daniel, gostava que expusesses a podridão do PS. Não que te ache errado, mas como também não te acho certo, estou cheio de curiosidade.
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Rui, quanto ao primeiro reparo, dizer que gastas munição com sombras. De facto, voltaria a votar Alegre no pressuposto dado: elenco igual. Isto por duas razões: era consensual ser Cavaco a melhor escolha, não vindo daí nenhum mal; e, para mim, o que estava mesmo em causa era a derrota de Soares. Ora, Soares só ficaria derrotado se ficasse atrás do Alegre. E, felizmente, foi isso que aconteceu. Então, o meu voto foi contra Soares, indiferente para o Alegre (que apenas calhou estar em posição de derrotar o Animal). Voltaria a ser o mesmo, obviamente.
Quanto ao segundo reparo, reparo que tropeças no próprio raciocínio. Nada de mal com isso, está-me sempre a acontecer, mas, convirás, deixas-me a olhar para o tal nevoeiro.
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Nik, expliquei acima: não se trata de braços torcidos, antes de punho erguido. Mas para socar o rei do marasmo português, o Soares.
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z, também não alinho na prática da caça, mas aceito-a e compreendo-a. Tema que merece uma conversa, um destes dias. Até porque se cruza com as touradas, outra área fascinante da portugalidade em extinção.
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José Manuel Santos Ferreira, concordo muito. Espera-se de um militar (mesmo que inactivo) um grau superior de responsabilidade, por tudo e mais alguma coisa.
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jdias, mas como é que poderei usufruir dessas benesses que me desejas se o Governo Sócrates faz tanto mal a tanto português que nas próximas eleições só arrecadará os votos dos seus membros e alguns (não todos, seguramente) dos seus familiares?
No entanto, o teu comentário é útil. Permite dizer que quem se mete com a inteligência convida-me à bordoada. É esse o critério, mas ligado com uma preferência: ser patriótico o suficiente para desejar ao Governo as melhores decisões, na convicção de que a oposição estará, também, a desenvolver as suas próprias soluções alternativas (ou concordantes). Esta coisa de atacar o Governo por estar a governar é que me parece supinamente estúpido.
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luis eme, bem apontado, o Dom Duarte. Mas o século é o XXI, não te enganes.
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zazie, se há gente capaz de retórica cínica são os moralistas e os defensores da ética. Quanto ao PS, está a cumprir-se como a força de bloqueio a toda e qualquer reforma. É a verdadeira oposição. E com toda a lógica. Ilógico era o propósito de contar com o PS para redesenhar o rectângulo.
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josé quintas, que eu me lembre, nunca as ruas andaram satisfeitas (se exceptuarmos alguns anos do guterrismo do cartão de crédito para todos e já). Quando o ceguinho é um populista do calibre de Alegre, convém começar a bater logo pela manhã. Antes que seja tarde.
rvn
Certo! Não posso deixar de me sentir ofendido, não virgem mas lixado, quando vejo que a nobre e essencial missão de informar se transforma em caça ás bruxas, especialmente a bruxas de encomenda. A nobre arte de que gosta e se orgulha, da qual precisamos para conter a parte humana menos nobre de quem nos trata dos destinos presentes e futuros, só será arte e só justificará as protecções de serviço público se não se julgar acima da decência dos métodos, se não trocar a informação relevante e proporcional pelo negócio puro e duro, pelo frete sugerido ou para beijar a mão do dono. E é isso que está em causa, não os escribas e jornalistas como um todo, cabrões ou por cabrar. Diz-se que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Os supostos contra-poderes não podem ter sol na eira e chuva no nabal, declararem-se os guardiães da democracia e depois manchá-la, assistir sem um pio a perseguições pessoais que os mancham por contágio, clamar depois contra limitações do regabofe quando a auto regulação é reconhecidamente um conto de fadas! Censura, dizem alguns. É o que se vê. O País sobreviverá, mas é chato!
O dois em um com generais foi lapso. Estou convicto que estamos livres deles fora dos quartéis, embora não garanta que alguns mais saudosistas fiquem calados.
Cordialmente, retribuo o abraço
Expurgado dos excessos e das trivialidades, este Artigo acerta num tópico fulcral: a “classe política” em Portugal está velha e caduca.
Desde Soares a Paulo Portas, passando por Cavaco, Jerónimo e demais patetas, mais ou menos alegres, mais ou menos fardados.
Não diz nada que se aproveite, não tem “obra” de espécie alguma, esgota-se a “empatar” e a “encravar” qualquer esforço honesto de procurar uma saída decente e viável para o “cu-de-saco” em que nos enfiou.
Excepções a esta regra? Sócrates e António Costa pela acção, Louçã pela probidade, Rui Rio pelo potencial. Pouco, muito pouco…
Falta quase tudo! Ideólogos, pedagogos, líderes, tribunos. A estabilidade, neste ambiente, depressa se transformará em putrefacção.
Perceba-se isto a tempo, pois os velhos republicanos também terão dito “ah!…” a 29 de Maio, como o fizeram os vetustos monárquicos a 6 de Outubro, a por aí fora…
E, todos os sabemos, esses “ahs”, porém, são sempre “verdes”, a posteriori!
só p/agradecer a resposta e encerrar, da minha parte, o assunto.
é obvio que frequentamos ruas diferentes. até parece que nem sequer conheces ninguém cuja qualidade de vida tenha descido até níveis insustentáveis nos últimos anos.
se for esse o caso (não é o meu, pois trabalho nesse meio), resta-me desejar-te um futuro mais cor-de-rosa do que o do actual governo.
A. Castanho, de acordo. Mas, qual é a tua solução?
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josé quintas, sempre conheci pessoas cuja qualidade de vida desceu para níveis insustentáveis, nestes e noutros anos, alguns muito distantes. Que tem o cu a ver com as calças? Algumas pessoas erram por sua única responsabilidade, outras têm azar. Na minha como na tua rua. Discutir as políticas do Governo é outra conversa, e ainda não entraste nela.
sim, já sabia que o meu irmão Júlio não cai nos meus despautérios e respeita todas as manifestações estéticas de artes antigas e tradicionais, passe o quasipleonasmo,
tudo bem Valupi, eu também detesto proibir coisas e por aí me cumo, mas não sem ladrar e rosnar, com esperança de que alguns actantes se retirem voluntariamente de espectáculos que, contas feitas, alephs incluidos, me parece que indiciam graves disfunções da zona do sacro
Valupi
Disse que o PS está podre porque isto que se vai vendo não é socialismo. Tão-pouco social-democracia, que é o campo a que o PS sempre pertenceu. Quando o meu amigo Jaime Gama me convidou a inscrever-me no partido, eu respondi-lhe que só o faria quando o PS reconhecesse que era social-democrata. E cumpri a palavra.
Ora o que se vai vendo é que este Governo funciona com base num princípio de mercado. O que não dá lucro fecha-se. Maternidades, serviços de atendimento permanente, escolas, aldeias…
Se o PS não estivesse podre, arriscava nas pessoas. Porque uma pessoa só é menos do que mil em termos aritméticos. No mais, a dignidade humana não se soma. E muito menos se diminui. Mas é isto que este Governo está a fazer.
E nota, meu Caro, que nem falei na Educação.
Valupi: qual a minha solução? Pergunta difícil.
Mas seguramente terá que trilhar a seguinte pista:
– Discussão política saltar para fora dos viciados circuitos institucionais e mediáticos que a sufocam e condicionam (estádio onde terão especial utilidade e preponderância este, como muitos outros “blogues” descomplexados e informados);
– Libertação da linguagem política dos códigos e das gramáticas ultrapassadas, presas ainda no mundo mental do Séc. XX e na simplificação da oposição Direita-Esquerda à velha confrontação comunismo-capitalismo do tempo da Guerra Fria, de que aliás este último comentário de Daniel de Sá é um bom exemplo;
– Revisão urgente da Lei Eleitoral para a Assembleia da República, no sentido de voltar a conferir significado às escolhas individuais dos eleitores, o que exige o fim dos círculos distritais e a consagração do círculo único nacional como referente de garantia para a reposição de níveis aceitáveis de representação proporcional, sem prejuízo dos mínimos de governabilidade, que reconduzam a abstenção a níveis menos alarmantes;
– Fazer funcionar devidamente o sistema judicial quando aplicado à classe política, única forma de não degradar até ao insustentável os níveis de confiança popular no sistema democrático e no Estado de Direito;
– Investir na formação cívica e na educação política desde o ensino básico, identificando um conjunto de valores ideológicos consensuais e unificadores que possam considerar-se património de todas as correntes políticas democráticas, permitindo aumentar os índices de identificação popular com o exercício da política e com os valores essenciais do Estado português, um pouco à semelhança do que anteriormente acontecia no tempo do analfabetismo com o Serviço Militar Obrigatório, salvaguardadas as óbvias diferenças decorrentes da vitória da Democracia em Abril.
Só isto criará as bases para a regeneração do exercício da política em Portugal, e consequente substituição gradual de linguagens, actores e problemáticas, evitando chegar-se a pontos de conflito social sério ou mesmo rupturas, que a persistir-se neste rumo inconsciente e suicida se tornarão, muito provavelmente, inevitáveis…
(tufa)
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Daniel, obrigado. Discordo, pois acho a tua análise simplista. Afinal, que é isso de governar sem ligar ao mercado? É um absurdo. Por outro lado, ter em conta o mercado não impede a aposta nas pessoas, bem ao contrário. Quão melhor se prepararem as pessoas, melhor elas saberão criar riqueza. Este é o ponto, mas é também o inevitável reconhecimento de que a riqueza se cria através do mercado. A haver outro modelo alternativo ao capitalismo, ainda ninguém o descobriu.
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A. Castanho, obrigado. Tirando o último parágrafo (futurologia), não posso concordar mais com as tuas propostas. Tens aí uma síntese que seria uma boa base de trabalho para a germinação de uma alternativa.