Aviso aos pacientes: este blogue é antianalgésico, pirético e inflamatório. Em caso de agravamento dos sintomas, escreva aos enfermeiros de plantão. Apenas para administração interna; o fabricante não se responsabiliza por usos incorrectos deste fármaco.
Sim, com as garantias que todos os projectos comportam. Deverá ser fácil fundir todas as propostas numa única e aprová-la com grande maioria, Não concordo, de forma alguma, que os parlamentares cedam à pressão das forças ultra-conservadoras e venham a aceitar qualquer forma de referendo. Assuntos destes não se referendam, na resposta simplista de um sim ou não.
Os argumentos a favor da despenalização da eutanásia estão todos ditos. Andam para aí a confundir as pessoas com o sim ou não à eutanásia. Eu posso ser a favor da despenalização global de quem aceda ao pedido de antecipação da morte e ser contra a antecipação da minha morte. Eu posso ser a favor da despenalização de quem ajude a antecipar a morte de quem o peça e considerar a vida um valor supremo, visto que posso aceitar que não haja exceções à penalização do ato de matar mas compreender e perdoar quem afinal não mata mas apenas antecipa uma morte certa e iminente a pedido de quem não aguenta mais viver assim.
Talvez.
Em teoria tendo a dizer que sou a favor, porque há situações em que é preferível a morte e nestes casos queremos apoio para tal.
Na prática tenho muitas dúvidas.
Ocorrendo a despenalização da eutanásia temo que um dia poderemos correr o risco de os mais velhos serem pressionados socialmente a terminarem as suas vidas. E todos sabemos que a pressão social pode ser terrível. Pensem só no custo financeiro que o Estado tem em sustentar aqueles que já não trabalham e dependem daquele para receberem as suas reformas e para os atenderem nos hospitais públicos. Dito de outra maneira já imaginaram o alívio financeiro para o Estado se todos com idade superior a 80 desaparecessem? Largos milhares de milhões de euros por ano. Sem estes custos financeiros para o Estado os impostos poderiam ser reduzidos na mesma medida, milhares de milhões de euros. Música para a malta. Ora os políticos adorariam esta possibilidade, ainda que de forma gradual, era reeleição certa. Segundo o PORDATA em 2018 existiam no nosso país mais de 650.000 pessoas com 80 ou mais anos de idade. Deixem-me ser brutal e ao Estado juntar os herdeiros desejosos de receberem as suas heranças.
Têm a certeza que este cenário seria veementemente rejeitado pelos mais novos (esquecendo que um dia também serão velhos)? Olhem que eu ando aí pela rua e bem vejo a impaciência com que os mais velhos são tratados. Ou poderia andar pelos lares da terceira idade.
Não se esqueçam daquela personagem da história recente da humanidade que empurrava as pessoas para os fornos crematórios. Sempre me impressionaram as filas ordeiras daquelas vítimas a caminharem para os vagões dos comboios que os conduziam para solução final. Ou a serem conduzidas para os guetos. Ao seu redor ninguém via nada.
A ética teológica da Igreja, perante a ciência galopante actual, é cada vez mais uma contradição nos termos e desde Galileu que não acerta o passo com a condição e civilização humana.
Toma os mandamentos como valores absolutos porque emanam da vontade de Deus mas, mas como podemos conhecer a verdadeira vontade de Deus? Como podemos ter a certeza do que Deus quer que façamos? Pois se Deus ditou “não matarás” e tomou tal como um valor absoluto como justifica a mesma Igreja os seus condenados em autos-de-fé em nome do mesmo Deus? Porque matou a Igreja conta a vontade expressa de Deus?
Outra questão pertinente na ética da Igreja é o dilema de saber se Deus aprova os mandamentos porque são moralmente bons ou é o facto de serem aprovados por Deus que faz que sejam moralmente bons?
Esta questão de manter a vida a um morto-vivo ou dar a morte a um vivo-morto é sobretudo um problema de liberdade e livre arbítrio. É, como nas questões da vida prática uma “liberdade de escolha”. E está mais próximo do dever moral imperativo face ao mal que Deus não quis erradicar da condição humana.
O livre arbítrio concedido ao homem para justificar a maldade entre os homens e proteger a suma bondade de Deus, qualquer homem em plena faculdade mental e física pode exercer sobre si próprio sem dar explicações a ninguém mas quando incapaz de o fazer de moto-próprio já não lhe é permitido porque a lei divina não lhe permite: É-nos dado o livre arbítrio e quando mais precisamos dele é-nos retirado. Quem dá e tira…
Esta desavença permanente entre o misterioso divino e a existência humana não pára: foi a pílula, foi o aborto, foi o preservativo, foi a inseminação e fecundação in vitro, foi a homosexualidade, agora é a eutanásia e amanhã será o quê?
Quando chegar a clonagem será que vai aparecer o próprio Deus em pessoa a interpelar-nos?
Obviamente que não. Dizem que é uma questão de liberdade. Se se trata de um direito individual porque é que só os enfermos poderão usufruir desse direito? Porque é que eu não poderei gozar de tal direito? Estranha liberdade, que só pode ser usufruída por aqueles que estão a dar despesa ao Estado.
Mas pior e mais assustador: na Holanda, em 2001, começou tal e qual como aqui: só se aplica com o pleno consentimento dos visados, blá blá blá. A evolução ao longo destes últimos vinte anos mostra algo macabro. A eutanásia foi sendo alargada a pessoas que não estão em condições de dar o consentimento mas que se presume existir. São os pais a decidir a morte das crianças, são os filhos a decidir a morte dos pais, são as esposas a decidir a morte dos seus maridos. Mas nunca foi alargada àqueles que são sãos, que são úteis à sociedade, mas que simplesmente queiram morrer. É uma liberdade muito estranha.
Para quem tiver dúvidas, aqui vai a evolução da eutanásia na Holanda:
11-04-2001 – A Holanda é o primeiro país do mundo a permitir, oficialmente, que os médicos possibilitem a morte de doentes terminais (…) De acordo com a ministra, o paciente só poderá ter direito à eutanásia se estiver (…) ciente de todas as opções médicas disponíveis. O pedido deverá ser feito voluntariamente e pessoalmente enquanto o paciente estiver consciente. https://www.conjur.com.br/2001-abr-11/holanda_primeiro_pais_autorizar_eutanasia
07-07-2017 – “Um estudo realizado a cada cinco anos para conhecer as causas de morte da população na Holanda revelou que 431 holandeses perderam a vida em procedimentos de eutanásia sem consentimento, ou seja, não há nenhum registro de petição para morrer feita pelo próprio paciente. Eles foram mortos por que terceiros (familiares, médicos, cônjuges) assim determinaram.
Segundo informações da organização internacional Coalizão para a Prevenção da Eutanásia, o estudo analisa o período de 2010 a 2015 e contabilizou 7.254 suicídios assistidos, dentro dos quais estavam misturados esses 431 casos nos quais não houve consentimento do paciente.” https://www.semprefamilia.com.br/blogs/blog-da-vida/431-pessoas-receberam-eutanasia-sem-consentimento-na-holanda/
Note-se que em momento algum há a hipótese do são, do útil, poder ter a liberdade de morrer. Esse, tal como cá (Lei de Saúde Mental) não só não tem esse direito como se for apanhado a tentar suicidar-se poderá ser impedido pela força e internado de urgência pela polícia.
Matarem-me? não quero!
Se desejo morrer quero ser eu a decidir como e quando, e gostava de ter à minha disposição vários Kits de suicídio para escolher o que achasse mais compatível com a minha maneira de ser.
Sim ao Suicídio assistido, às salas de suicídio! Não à Eutanásia!
ó pinto manda-te da ponte salazar e eu seja ceguinho se houver prisão preventiva do cadáver, julgamento ou multas a descontar na herança.
Deviam estar a discutir se a ciência ( a única forma legitima hoje em dia de ler o mundo , que horror , um cego a conduzir um bando de doidos) deve continuar a sua cruzada de aumento de esperança de vida muito para além daquilo que se poderia chamar vida , viver , não zombiar.
e tenham presente que : para o novo nascer , o velho tem de morrer…. como no Egipto , Brasil e todos os lados com muita juventude.
Em resposta ao jose neves, e para que se larguem com alguns clichés plantados pelos ingleses na famosa Leyenda Negra (e que hoje ainda perduram), vou fazer uma breve contextualização o “caso Galileu” (eu sei que é à margem do tema principal mas é importante porque muitos raciocínios e muitas opiniões são distorcidas por estereótipos)
Galileu não se esgota na questão heliocêntrica. Mas quanto à questão do heliocentrismo, colocam-se duas questões: Galileu provou a tua tese? O que é que Galileu disse de novo?
Para a pergunta um é não, para a dois é nada.
A teoria heliocêntrica nasceu precisamente nos mosteiros da Igreja. Numa época em que não era aceite por ninguém foi um padre – Nicolau Copérnico – sustentado nos estudos de um outro – Jean Buridan – que lança a teoria pela primeira vez. E a Igreja não se opôs. E mesmo Galileu, amicíssimo do papa Urbano VIII, teve o apoio da Igreja para desenvolver a teoria. A questão azedou quando ele sugeriu a reinterpretação bíblica. Numa época em que surgiam os movimentos no norte da Europa, isso foi pólvora. Seria como um norte-americano a defender o fim da propriedade privada na década 60 nos EUA. Ou seja, os interesses geoestratégicos sobrepuseram-se. Alguma coisa estranha nos dias que correm?
A teoria era apoiada por membros da Igreja (p. ex. o padre Cristophoro Grienber, cardeal Giovanni Ciampoli, o cardeal Maurizio da Savóia, o padre Orazio Grassi, etc.) e rejeitada por outros. Mas o que é mais relevante é que apenas foi discutida no mundo católico pois nos restantes países nem sequer era opção discutível. O próprio Inquisidor de Galileu (e seu amigo e admirador), o cardeal Roberto Bellarmino, não rejeitava a hipótese: “Em terceiro lugar, eu digo que se houvesse uma demonstração verdadeira de que o Sol está no centro do Mundo e a Terra no terceiro Céu, e que o Sol não circula a Terra, mas a Terra circula o Sol, então, ter-se-ia de proceder com grande cuidado em explicar as Escrituras, na qual aparece o contrário. E diria antes que nós não as entendemos do que, o que é demonstrado é falso. Mas, eu não acreditarei que exista tal demonstração até que esta me seja mostrada”. (Carta do Cardeal São Roberto Bellarmino ao padre Foscarini, 12 de abril de 1615).
A teoria continuou a ser discutida mas apenas foi provada no séc. XIX, quando se conseguiu dar resposta à paralaxe do movimento (argumento que era sempre apontado por quem tinha a opinião geocêntrica).
Para terminar, Galileu fundamentou, de facto, a sua teoria com aspectos científicos. Estavam era errados.
Galileu argumentou que as marés eram o resultado do movimento da Terra. Hoje sabe-se que as marés não têm a ver com o movimento da Terra mas com a gravidade da Lua (como o sacerdote jesuíta Marcantonio de Dominisna já na época defendia e Galileu criticava).
«Galileu não se esgota na questão heliocêntrica. Mas quanto à questão do heliocentrismo, colocam-se duas questões: Galileu provou a tua tese? O que é que Galileu disse de novo?»
Claro, Galileu não se esgota na questão heliocêntrica, vai muito para além disso, segundo Bertrand Russell Galileu foi:
– Foi o maior fundador da ciência moderna, com possível excepção de Newton.
– Descobriu a importância da aceleração em dinâmica.
– Foi quem primeiro estabeleceu a lei da queda dos graves dado o conceito de “aceleração”.
– Foi quem primeiro estudou os projécteis descobrindo leis separadas das várias forças que agem sobre um corpo, um método imensamente fecundo.
– A lei da inércia explicava um enigma que antes de Galileu era inexplicável pelo sistema de Copérnico.
– Sabendo que um holandês inventara um telescópio, construiu também um e em breve fez descobertas importantes.
Segundo o Professor A. M. Amorim da Costa:
– Copérnico, terminado o curso universitário acerca de várias matérias, começou como professor de astronomia ptolomaica na Universidade de Roma onde tomou contacto com as ideias pitagóricas defendidas pelo grego Aristarco deb Samos acerca do heliocentrimo e, entusiasmado, deixou o ensino e entrou no sacerdócio e retirou-se para a sua terra natal de Frauemburgo.
– Enquanto trabalhava na sua obra ia expondo-as em cartas aos principais cientistas da Europa hesitando publicar os resultados do seu estudo, mesmo assim escreveu ao papa que “seria mais atinado seguir o exemplo dos pitagóricos, que não deixavam nada escrito mas transmitiam oralmente as suas observações apenas aos bastante inteligentes para para as comprenderem”.
– Copérnico acabou por publicar as suas conclusões pelo bispo de Kulm, seu amigo, poucos dias antes de sua morte. nessa primeira edição foi dita. sem conhecimento do autor “este livro foi escrito não para apresentar um facto científico, mas uma fantasia interessante”.
– Tal teoria abria horizontes verdadeiramente aterradores para a mentalidade religiosa da época. Esta foi a “heresia” que haveria de levar Geordano Bruno à fogueira.
Copérnico, kepler, Galileu e Newton são peeminentes na criação da ciência moderna; o que distingue o homem da ciência não é o que ele crê, mas como e porquê o crê. As suas crenças são tentativas e não dogmas, apoiam-se na evidência, na prova, e não na autodidade ou na intuição.
Precisamemte, o que Galileu fez foi provar, mesmo com instrumentos de fabrico próprio, a sua tese heliocêntrica e fê-lo contra a Igreja e por isso foi condenado pela Inquisição (porque não pelo poder temporal?), primeiro privadamente em 1616 e depois em público em 1633.
«Para terminar, Galileu fundamentou, de facto, a sua teoria com aspectos científicos. Estavam era errados.»
Caro Pinto, argumentar que Galileu fundamentou a sua teoria em estudos errados é um erro ainda maior e mais grosseiro que os erros que a sua teoria tinha na altura.
São erros que depois Newton esclareceu idênticos aos que tinham a teoria coperniana que Galileu esclarecera e que sucessivamente a descoberta de teorias cada vez mais elaboradas, como a da relatividade, vão depois aprofundando e esclarecendo.
Porque essa é a verdadeira actitude científica: avançar passo a passo, pela imaginação e experimentação, rectificando sucessivamente os erros de descobertas e leis anteriores.
Eutanásia – um assunto de grande importância que está a pôr em confronto ideias e sentimentos. O debate há de produzir alguma coisa valiosa e há de produzir um diploma, uma lei. Depois, e só depois, entram em ação os grupos de pessoas que vão ganhar dinheiro até chegar à decisão de cada caso. Não vejo ninguém discutir tendo isto na conta devida.
O dinheiro é a mola de funcionamento na sociedade. Então constatar-se-à que as belas ideias e as nobres intenções foram ultrapassadas pela dinâmica de obter vantagens económicas. Como conseguirá uma lei refletir as ideias e a justeza delas, os sentimentos e a nobreza deles e impedir que os interesses as suplantem?
Há dias, na TVI, a propósito da eutanásia, a Isabel Moreira teve como interlocutor um padre chamado José Nuno Silva, que se vangloriou (é o termo certo) de ter sido capelão hospitalar durante alguns anos, o que lhe dava autoridade especial para se pronunciar sobre a questão, achava ele, porque acompanhara os últimos tempos da vida de muita gente, frequentemente cheios de sofrimento. E esse sofrimento (a que muito cristãmente chamou “martírio”) era, segundo ele, uma oferta corajosa a Deus, que certamente a recompensaria. Portanto, há que preservar o sofrimento, porque senão Deus chateia-se, amanda cá para baixo uma cabazada de raios e coriscos e fode esta merda toda, não teremos de nos preocupar mais com o aquecimento global.
Se abstrairmos da questão, certamente parva, de que a única explicação lógica para tal crença é a de que Deus criador é um sacana sádico que se alimenta do sofrimento das suas criaturas, sobra ainda outra: por que raio de carga de água é que, acumulando o senhor, com a condição de Criador, a de pai de tudo e de todos, estimula, aprecia e recompensa o sofrimento dos seus próprios filhos, encorajando-os a passar por horríveis tormentos apenas para lhe agradar, exactamente o contrário do que qualquer pai, mesmo sádico, quer geralmente para a sua prole? Acaso não faz parte da cartilha teísta a tese de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança? Será que a humana criatura, ao fazer tudo para evitar o sofrimento dos filhos, está a contrariar a vontade e ensinamentos do pai?
Mas sobra ainda a questão do que fazer com os outros, os que, como eu, nesse Deus criador e pai não acreditam. E a resposta é óbvia: na sua caridade cristã, o padre Nuno Silva quer que eles se fodam, como incréus, infiéis dum cabrão que são. Daí achar perfeitamente legítimo o direito de os iluminados como ele, tocados pela graça, imporem a ideia, e o destino, do martírio cristão a toda a gente, cristã e católica ou não. Foi desse sofrimento que ele se alimentou, ao que parece com cristianíssimo deleite, ao longo dos seus anos como capelão, e privarem-no desse prazer, que lhe garante um lugar no Céu, é coisa que obviamente não lhe agrada.
Ontem ouvi outro, o padre Tiago Alves, da diocese Bragança-Miranda, no Jornal das 8 da TVI, bolçar a seguinte pérola (ipsis verbis): “Há porventura por aí quem use, também, na questão da eutanásia, dizer que é morrer com dignidade. Então, se no fim é morrer com dignidade, é sinal de que, durante a vida, não tivemos dignidade.” Corolário inevitável da parvoíce: “Se tivermos dignidade durante a vida, teremos obrigatoriamente uma morte sem dignidade. Eu, padreca de aviário que não me enxergo, burro e arrogante até dizer chega, tenho e tive uma vida cheia de dignidade, pelo que, inevitavelmente, estou condenado a uma morte indigna pra caralho!” E como chegámos aqui? Elementar, meu caro Watson: “Eu, padreca ignorante, cretino e idiota, arranjei a licença de padre na ‘Farinha Amparo’ e quando abro a boca só pode mesmo sair asneira.”
Nos meus primeiros tempos de liceu (Pedro Nunes, Lisboa), há algumas centenas de anos, havia uma disciplina chamada Religião e Moral. Não sendo eu baptizado, por “tradição” familiar do lado materno, e tendo a sorte de nunca haver sofrido qualquer educação/formação religiosa, entendeu porém minha mãe, ateia até ao último dia dos seus 98 anos de vida, não solicitar a minha dispensa de tais aulas (o que era possível e alguns pais faziam), por achar, e bem, que a sua frequência me enriqueceria no plano do conhecimento e que as bases do que eu um dia seria, e daquilo em que acreditaria, seriam tanto mais fortes e fundamentadas quanto as diferentes perspectivas e experiências que a vida me proporcionasse e eu tivesse ocasião de criticamente analisar.
Como idiotas os há em todo o lado, entendeu a Divina Providência, nesses primeiros anos, pôr na minha turma um minicretino de apelido fino, um tal Saldanha e Daun, que, tendo sabido da minha qualidade de incréu que se safara da santa dádiva do H2O na tola, de vez em quando me massacrava com mais ou menos isto:
“Este liceu é do Estado, é um liceu oficial, e o catolicismo é a religião oficial de Portugal. Assim, só é possível que ainda aqui andes por não se saber que não és católico. Quando se souber, és expulso e tens de procurar outra escola.”
A princípio não liguei ao idiota, mas o parvalhóide chagava-me os cornos quase todos os dias (“Ainda aqui andas?”), insinuando por vezes que o conhecimento do meu “crime” pelas altas instâncias poderia resultar da sua proactividade, como se diz agora. Aspirava a bully, o idiota, mas até para isso lhe faltava a estaleca, coitado, sendo que, apesar da alma reles de bufo, não passou das ameaças veladas de fazer queixinhas do incréu.
Um dia esperei pelo fim da aula de Religião e Moral e pedi ao professor, um padre, que me esclarecesse de uma vez por todas se havia alguma verdade no paleio do menino fino. Se sim, os meus pais procurariam rapidamente uma alternativa e o assunto ficava arrumado de vez.
O padre perguntou-me a idade (dez ou onze, julgo eu) e respondeu-me mais ou menos isto: “Para começo de conversa, o que o teu colega te disse é mentira, não penses mais nisso. Depois, és muito novo para te preocupares com essas coisas. Vai crescendo, vendo, ouvindo, lendo, aprendendo, e daqui a alguns anos, que podem ser poucos ou muitos, não há como sabê-lo agora, esse conhecimento acumulado levar-te-á a decidir se deves, ou não, ter uma religião, e qual, e se serás católico, protestante ou outra coisa qualquer, ou se continuas como agora, sem religião nenhuma.”
Só depois desta conversa contei toda a história a minha mãe, a começar no mini-idiota que andara a chagar-me os cornos. Ficou tão sensibilizada que alguns dias depois foi ao Pedro Nunes agradecer ao padre a isenção, a honestidade e a demonstração de uma verdadeira bondade. Porque uma coisa é certa: da padralhada que ao longo da vida tenho “visto e ouvisto”, a maioria ter-me-ia dado, criança que era, uma resposta no mínimo ambígua, que, a prazo, me teria eventualmente levado à segurança e conforto espiritual do redil teísta e da carneirada acéfala. Continuou minha mãe orgulhosamente ateia, mas nunca mais perdeu aquele padre de vista, acompanhou-lhe o percurso com interesse, e contou-me, anos mais tarde, que ele se oferecera como missionário para a Índia, para onde seguira pouco tempo depois, tendo lá morrido, confesso que não sei se muitos ou poucos anos depois. Um cristão a sério e coerente até ao fim, e isso só me merece respeito.
Serve este arrazoado para dizer que nenhum preconceito me move contra os padres, que podem ser bons ou maus ou assim-assim, como padres, e idem como homens, e que há padres que como homens não são bons, ou maus, ou assim-assim, mas simplesmente excepcionais, e que tive a sorte de um deles se ter cruzado no meu caminho, e que, ateu que sou e serei, a recordação de alguém de quem nem a cara lembro, ou o nome, ainda me humedece os olhos, simplesmente por neste terceiro calhau ele ter sido o que foi. Porque me orgulho dos homens bons, íntegros e honestos, de todas as cores e tamanhos e crenças e feitios, porque saber que eles sempre existiram, existem e existirão é para mim um consolo (no presente, dou outro exemplo de padre que me consola por, além de padre, ser o homem que é: Anselmo Borges).
É um consolo temperado de realismo, claro. Não há rapazes maus, dizem que pregava, ou apregoava, outro padre, o Américo, mas, como também garantem que alguém acrescentou logo em seguida: “Pois é, não há rapazes maus, há é grandes filhos da puta!” Paz na Terra aos homens de boa vontade, terá dito outro homem bom (ainda que eu não queira nada de nadinha com o alegado paizinho dele), e na adopção dessa máxima é o meu ateísmo muito mais cristão do que o de muito papa-missas da boca para fora que por aí anda batendo no peito. Quanto aos de má vontade, não há que hesitar: paulada nos cornos, só se perdem as que caem no chão!
jose neves, comecei precisamente por dizer que Galileu não se esgota na teoria heliocêntrica. Obrigado pelo reforço da explicação. No entanto não coloque palavras na minha boca nem nos meus dedos. Não disse (pois a própria expressão é absurda) que Galileu fundamentou a sua teoria em estudos errados mas em aspectos científicos errados. Não são os estudos que são errados. É a argumentação que pode ser ou não errada. Se o jose entende que a argumentação das marés estava correcta não o vou tentar dissuadir.
Convido-o também a ler a obra “Das revoluções das esferas celestes” para que perceba que a descrição realista que Copérnico realizou resultou da continuidade das observações e dos cálculos do sacerdote Jean Buridan e do bispo Nicolau d’Oresme.
Mas não é este o assunto do post. O assunto é a eutanásia. Tratando-se de uma questão de liberdade, ainda ninguém comentou a estranheza dessa liberdade só poder ser usufruída pelos enfermos. Estranha liberdade que ninguém comenta.
Porque é que eu não poderei gozar de tal direito?
16 DE FEVEREIRO DE 2020 ÀS 11:32
ó pinto manda-te da ponte salazar e eu seja ceguinho se houver prisão preventiva do cadáver, julgamento ou multas a descontar na herança.
“(O livre-arbítrio) qualquer homem em plena faculdade mental e física pode exercer sobre si próprio sem dar explicações a ninguém mas quando incapaz de o fazer de moto-próprio já não lhe é permitido porque a lei divina não lhe permite: É-nos dado o livre arbítrio e quando mais precisamos dele é-nos retirado. Quem dá e tira…”
O Pinto não reparou nesta frase do meu primeiro comentário e continua não percebendo o comentário de “Porque é que eu não poderei gozar de tal direito? ” de 16 de Fevereiro de 2020 às 11:32.
Tal comentário explicita que o Pinto pode livremente pôr fim à sua vida de moto-próprio desde que possa fisicamente realizar o acto.
Era o que faziam na antiguidade os heróis face ao amor de si próprio perante a ignomínia ou desonra na derrota como são casos célebres os de Catão, Cassio, Bruto, Marco António e outros e são os casos de “harakiri” nos japoneses.
A eutanásia é o meio possível de, a um enfermo terminal ou maquinal, manter a sua anterior liberdade individual de decidir dar a vida por… ou acabar com a vida para…
Tal comentário explicita que o Pinto pode livremente pôr fim à sua vida de moto-próprio desde que possa fisicamente realizar o acto
O que não é verdade. O jose tem tanta liberdade para pôr foim à sua vida como para pôr fim à vida do vizinho. Ou seja, pode desde que a polícia não o impeça. Porque se a polícia o vir a tentar o suicídio não só pode como deve impedi-lo, usando a força para o efeito. E algemando-o. E conduzindo-o ao hospital. E caso insista na pretensão não sai de lá até que abandone a ideia. Grande liberdade, não é?
Ou seja, se quiser pôr termo à vida mais for são, for últil à sociedade, não o pode fazer. Mas se estiver enfermo, se for um estorvo, um empecilho, aí já pode gozar dessa liberdade que os médicos dão uma ajudinha. A entanásia é isto. A eutanásia é uma medida eugénica. Que as pessoas insistem em não querer ver, metendo todo o tipo de tralha à frente dos olhos para confortar a consciência.
«O jose tem tanta liberdade para pôr fim à sua vida como para pôr fim à vida do vizinho. Ou seja, pode desde que a polícia não o impeça.»
Também não é verdade. Nesse caso a minha liberdade colide frontalmente com a liberdade do meu vizinho. Ele pode, nesse caso, contra atacar e até matar-me em legítima defesa e não ser penalizado por lei.
O meu suicídio é um caso de minha auto-determinação que não colide com a liberdade de outrem e a lei, neste caso, resta inoperacional, impotente, sem efeito, nula.
E sejamos despreconceituosos o suicídio é, do ponto de vista filosófico, fazer uso da liberdade individual absoluta. A lei que o proíbe só tem o valor moral de não aconselhamento, de resto não evita ninguém de suicidar-se.
Neste caso a lei tem um valor simbólico.
Sim, em casos extremos em que esteja em questão sofrimento extremo e impossibilidade absolutamente comprovada de irreversibilidade da patologia causadora do problema .
Agora, não se diga “ direito à morte “ .
Ou mesmo à morte com dignidade.
O que é morte com dignidade ?
Deve dizer-se “ direito a pôr fim ao sofrimento “. Quando causado por doença incurável.
Não existe o direito à morte .
Existe, sim, o direito à vida . E não o seu contrário.
Assim como não existe o direito à doença . Existe, isso sim, o direito à saúde.
Idem aspas para o direito à felicidade . Não me consta que exista o direito à infelicidade.
Portanto, existem direitos que não admitem o seu contrário.
A morte, não é um direito, é uma inevitabilidade .
Quanto à questão do envolvimento da religião, concretamente o “não ao aborto e sim ao direito à vida “, tudo bem desde que sejam efectivamente asseguradas condições dignas de vida, que dependem desde logo de um justo salário que permita viver com dignidade, e criar filhos, isso consta da chamada “ doutrina social da igreja “ mas é mera recomendação, de muito difícil concretização . Estarão os chamados “democratas-cristãos “ do CDS a dar o exemplo ?
Parece-me que não .
Sr. Merda , morrer não é um estado patológico , não é uma doença… morrer é tão natural como viver. portanto , também temos direito à morte – :) imagine que os sonhos mais loucos da idiotia se realizavam e conseguiam impedir a morte …só poderia nascer uma criança de 500 em 500 anos e andariam muitos a suspirar pelo descanso do tédio.
Muito bem snr merda!
Yo, isso foi no Batalha, melhor dizendo, num dos episódio do SPACE 1999 ( série televisiva de ficção científica realizada entre 1975 e 1977 ) em que os habitantes da Base Lunar Alfa, projectados com a Lua para o espaço e numa viagem desgovernada pelo Universo, encontram um planeta cujos habitantes tinham descoberto o segredo da imortalidade, e, cansados de viver, pediam para morrer .
Quanto aos direitos, se bem reflectir, verá que, também, não há direito sem obrigação .
Causa-me tristeza ver, que os partidos de esquerda, perdida a luta no plano sindical pela dignidade da vida laboral, – veja-se a realidade vigente, plasmada nos códigos do trabalho, que penalizam fortemente os trabalhadores, com o cortejo do “ precariado “, a instabilidade laboral, os baixíssimos salários, – se empenhem agora em causas, que, são uma agenda secundária .
Tais causas secundárias são aquelas que a direita actual, presente no mundo do trabalho sob a forma do vigente capitalismo selvagem, quer ver discutidas pela esquerda : não só demonstram que a esquerda desistiu ou esmoreceu na luta no plano laboral ( ou se mostra impotente por força dos acordos e tratados e dos ditames de vários organismos internacionais, Bruxelas, FMI, OCDE, etc. ) como são um alvo fácil de rebater para o populismo reacionário de direita, que sob o manto da hipocrisia, vai levando a água ao seu moinho, também nessas matérias secundárias .
Mais me ajuda jose. Se o suicídio não colide com os direitos dos outros porque é que o Estado dá poderes às polícias para o impedir desse “direito”?
Não encontra nenhuma incoerência nisto? Porque é que o jose, se não quiser viver, tem de o fazer à socapa e muitas vezes de forma que, não correndo bem, lhe causa um sofrimento atroz? E tantas vezes que a coisa corre de forma inesperada que o suicida não morre, ficando com lesões permanentes. Porque não podem os saudáveis poder pôr termo à vida de forma limpa e segura? Não encontra nenhuma incongruência nisto?
Andam muito preocupados com a extrema direita. Aqui d’el rei que aí vem o nazismo. E o pensamento nacional socialista a entrar pela porta a dentro como água numa inundação. E as pessoas insistem em não ver.
“Se o suicídio não colide com os direitos dos outros porque é que o Estado dá poderes às polícias para o impedir desse “direito”?”
no comentário que foi apagado (onde falavas de fé racional baseada em crenças científicas) trocaste suicídio por homicídio e agora confundes eutanásia com suicídio. deves pensar que somos todos iurdes e que rebolamos no chão com os teus pensamentos profundos.
“Porque é que o jose, se não quiser viver, tem de o fazer à socapa e muitas vezes de forma que, não correndo bem, lhe causa um sofrimento atroz? E tantas vezes que a coisa corre de forma inesperada que o suicida não morre, ficando com lesões permanentes.”
tá bom de ver que é para depois recorrer à eutanásia e já agora receber o subsídio de funeral.
“Porque não podem os saudáveis poder pôr termo à vida de forma limpa e segura?”
se calhar é porque não lhes apetece, mas enfim há malucos para tudo.
“Andam muito preocupados com a extrema direita. Aqui d’el rei que aí vem o nazismo. E o pensamento nacional socialista a entrar pela porta a dentro como água numa inundação. E as pessoas insistem em não ver.”
votaste no ventura e agora chamas-nos ceguinhos. bai dar banho ao cão.
Para mim , sim .
Mas já tenho o problema resolvido.
https://www.laatstewil.nu/english/
Sim, com as garantias que todos os projectos comportam. Deverá ser fácil fundir todas as propostas numa única e aprová-la com grande maioria, Não concordo, de forma alguma, que os parlamentares cedam à pressão das forças ultra-conservadoras e venham a aceitar qualquer forma de referendo. Assuntos destes não se referendam, na resposta simplista de um sim ou não.
Os argumentos a favor da despenalização da eutanásia estão todos ditos. Andam para aí a confundir as pessoas com o sim ou não à eutanásia. Eu posso ser a favor da despenalização global de quem aceda ao pedido de antecipação da morte e ser contra a antecipação da minha morte. Eu posso ser a favor da despenalização de quem ajude a antecipar a morte de quem o peça e considerar a vida um valor supremo, visto que posso aceitar que não haja exceções à penalização do ato de matar mas compreender e perdoar quem afinal não mata mas apenas antecipa uma morte certa e iminente a pedido de quem não aguenta mais viver assim.
Talvez.
Em teoria tendo a dizer que sou a favor, porque há situações em que é preferível a morte e nestes casos queremos apoio para tal.
Na prática tenho muitas dúvidas.
Ocorrendo a despenalização da eutanásia temo que um dia poderemos correr o risco de os mais velhos serem pressionados socialmente a terminarem as suas vidas. E todos sabemos que a pressão social pode ser terrível. Pensem só no custo financeiro que o Estado tem em sustentar aqueles que já não trabalham e dependem daquele para receberem as suas reformas e para os atenderem nos hospitais públicos. Dito de outra maneira já imaginaram o alívio financeiro para o Estado se todos com idade superior a 80 desaparecessem? Largos milhares de milhões de euros por ano. Sem estes custos financeiros para o Estado os impostos poderiam ser reduzidos na mesma medida, milhares de milhões de euros. Música para a malta. Ora os políticos adorariam esta possibilidade, ainda que de forma gradual, era reeleição certa. Segundo o PORDATA em 2018 existiam no nosso país mais de 650.000 pessoas com 80 ou mais anos de idade. Deixem-me ser brutal e ao Estado juntar os herdeiros desejosos de receberem as suas heranças.
Têm a certeza que este cenário seria veementemente rejeitado pelos mais novos (esquecendo que um dia também serão velhos)? Olhem que eu ando aí pela rua e bem vejo a impaciência com que os mais velhos são tratados. Ou poderia andar pelos lares da terceira idade.
Não se esqueçam daquela personagem da história recente da humanidade que empurrava as pessoas para os fornos crematórios. Sempre me impressionaram as filas ordeiras daquelas vítimas a caminharem para os vagões dos comboios que os conduziam para solução final. Ou a serem conduzidas para os guetos. Ao seu redor ninguém via nada.
A ética teológica da Igreja, perante a ciência galopante actual, é cada vez mais uma contradição nos termos e desde Galileu que não acerta o passo com a condição e civilização humana.
Toma os mandamentos como valores absolutos porque emanam da vontade de Deus mas, mas como podemos conhecer a verdadeira vontade de Deus? Como podemos ter a certeza do que Deus quer que façamos? Pois se Deus ditou “não matarás” e tomou tal como um valor absoluto como justifica a mesma Igreja os seus condenados em autos-de-fé em nome do mesmo Deus? Porque matou a Igreja conta a vontade expressa de Deus?
Outra questão pertinente na ética da Igreja é o dilema de saber se Deus aprova os mandamentos porque são moralmente bons ou é o facto de serem aprovados por Deus que faz que sejam moralmente bons?
Esta questão de manter a vida a um morto-vivo ou dar a morte a um vivo-morto é sobretudo um problema de liberdade e livre arbítrio. É, como nas questões da vida prática uma “liberdade de escolha”. E está mais próximo do dever moral imperativo face ao mal que Deus não quis erradicar da condição humana.
O livre arbítrio concedido ao homem para justificar a maldade entre os homens e proteger a suma bondade de Deus, qualquer homem em plena faculdade mental e física pode exercer sobre si próprio sem dar explicações a ninguém mas quando incapaz de o fazer de moto-próprio já não lhe é permitido porque a lei divina não lhe permite: É-nos dado o livre arbítrio e quando mais precisamos dele é-nos retirado. Quem dá e tira…
Esta desavença permanente entre o misterioso divino e a existência humana não pára: foi a pílula, foi o aborto, foi o preservativo, foi a inseminação e fecundação in vitro, foi a homosexualidade, agora é a eutanásia e amanhã será o quê?
Quando chegar a clonagem será que vai aparecer o próprio Deus em pessoa a interpelar-nos?
Obviamente que não. Dizem que é uma questão de liberdade. Se se trata de um direito individual porque é que só os enfermos poderão usufruir desse direito? Porque é que eu não poderei gozar de tal direito? Estranha liberdade, que só pode ser usufruída por aqueles que estão a dar despesa ao Estado.
Mas pior e mais assustador: na Holanda, em 2001, começou tal e qual como aqui: só se aplica com o pleno consentimento dos visados, blá blá blá. A evolução ao longo destes últimos vinte anos mostra algo macabro. A eutanásia foi sendo alargada a pessoas que não estão em condições de dar o consentimento mas que se presume existir. São os pais a decidir a morte das crianças, são os filhos a decidir a morte dos pais, são as esposas a decidir a morte dos seus maridos. Mas nunca foi alargada àqueles que são sãos, que são úteis à sociedade, mas que simplesmente queiram morrer. É uma liberdade muito estranha.
Para quem tiver dúvidas, aqui vai a evolução da eutanásia na Holanda:
11-04-2001 – A Holanda é o primeiro país do mundo a permitir, oficialmente, que os médicos possibilitem a morte de doentes terminais (…) De acordo com a ministra, o paciente só poderá ter direito à eutanásia se estiver (…) ciente de todas as opções médicas disponíveis. O pedido deverá ser feito voluntariamente e pessoalmente enquanto o paciente estiver consciente.
https://www.conjur.com.br/2001-abr-11/holanda_primeiro_pais_autorizar_eutanasia
07-07-2017 – “Um estudo realizado a cada cinco anos para conhecer as causas de morte da população na Holanda revelou que 431 holandeses perderam a vida em procedimentos de eutanásia sem consentimento, ou seja, não há nenhum registro de petição para morrer feita pelo próprio paciente. Eles foram mortos por que terceiros (familiares, médicos, cônjuges) assim determinaram.
Segundo informações da organização internacional Coalizão para a Prevenção da Eutanásia, o estudo analisa o período de 2010 a 2015 e contabilizou 7.254 suicídios assistidos, dentro dos quais estavam misturados esses 431 casos nos quais não houve consentimento do paciente.”
https://www.semprefamilia.com.br/blogs/blog-da-vida/431-pessoas-receberam-eutanasia-sem-consentimento-na-holanda/
E agora, passo a passo:
07-02-2020 – Holanda debate comprimido letal gratuito para maiores de 70 anos “cansados de viver”
https://observador.pt/2020/02/07/holanda-vai-aprovar-comprimido-letal-para-maiores-de-70-cansados-de-viver/
Note-se que em momento algum há a hipótese do são, do útil, poder ter a liberdade de morrer. Esse, tal como cá (Lei de Saúde Mental) não só não tem esse direito como se for apanhado a tentar suicidar-se poderá ser impedido pela força e internado de urgência pela polícia.
Matarem-me? não quero!
Se desejo morrer quero ser eu a decidir como e quando, e gostava de ter à minha disposição vários Kits de suicídio para escolher o que achasse mais compatível com a minha maneira de ser.
Sim ao Suicídio assistido, às salas de suicídio! Não à Eutanásia!
ó pinto manda-te da ponte salazar e eu seja ceguinho se houver prisão preventiva do cadáver, julgamento ou multas a descontar na herança.
Deviam estar a discutir se a ciência ( a única forma legitima hoje em dia de ler o mundo , que horror , um cego a conduzir um bando de doidos) deve continuar a sua cruzada de aumento de esperança de vida muito para além daquilo que se poderia chamar vida , viver , não zombiar.
e para quem não quiser desfrutar dessa maravilhosa experiência que é a 4ª idade zombie , presente da Deusa ciência, pode inscrever-se aqui , tornar-se membro da cooperativa e seguir o ritmo que a natureza tinha para nós.
.https://laatstewil.banster.nl/index.php?p%5B3.1%5D%5Bactivechild%5D=items&p%5B3.1.0%5D%5Bactivechild%5D=vereniging
e tenham presente que : para o novo nascer , o velho tem de morrer…. como no Egipto , Brasil e todos os lados com muita juventude.
Em resposta ao jose neves, e para que se larguem com alguns clichés plantados pelos ingleses na famosa Leyenda Negra (e que hoje ainda perduram), vou fazer uma breve contextualização o “caso Galileu” (eu sei que é à margem do tema principal mas é importante porque muitos raciocínios e muitas opiniões são distorcidas por estereótipos)
Galileu não se esgota na questão heliocêntrica. Mas quanto à questão do heliocentrismo, colocam-se duas questões: Galileu provou a tua tese? O que é que Galileu disse de novo?
Para a pergunta um é não, para a dois é nada.
A teoria heliocêntrica nasceu precisamente nos mosteiros da Igreja. Numa época em que não era aceite por ninguém foi um padre – Nicolau Copérnico – sustentado nos estudos de um outro – Jean Buridan – que lança a teoria pela primeira vez. E a Igreja não se opôs. E mesmo Galileu, amicíssimo do papa Urbano VIII, teve o apoio da Igreja para desenvolver a teoria. A questão azedou quando ele sugeriu a reinterpretação bíblica. Numa época em que surgiam os movimentos no norte da Europa, isso foi pólvora. Seria como um norte-americano a defender o fim da propriedade privada na década 60 nos EUA. Ou seja, os interesses geoestratégicos sobrepuseram-se. Alguma coisa estranha nos dias que correm?
A teoria era apoiada por membros da Igreja (p. ex. o padre Cristophoro Grienber, cardeal Giovanni Ciampoli, o cardeal Maurizio da Savóia, o padre Orazio Grassi, etc.) e rejeitada por outros. Mas o que é mais relevante é que apenas foi discutida no mundo católico pois nos restantes países nem sequer era opção discutível. O próprio Inquisidor de Galileu (e seu amigo e admirador), o cardeal Roberto Bellarmino, não rejeitava a hipótese: “Em terceiro lugar, eu digo que se houvesse uma demonstração verdadeira de que o Sol está no centro do Mundo e a Terra no terceiro Céu, e que o Sol não circula a Terra, mas a Terra circula o Sol, então, ter-se-ia de proceder com grande cuidado em explicar as Escrituras, na qual aparece o contrário. E diria antes que nós não as entendemos do que, o que é demonstrado é falso. Mas, eu não acreditarei que exista tal demonstração até que esta me seja mostrada”. (Carta do Cardeal São Roberto Bellarmino ao padre Foscarini, 12 de abril de 1615).
A teoria continuou a ser discutida mas apenas foi provada no séc. XIX, quando se conseguiu dar resposta à paralaxe do movimento (argumento que era sempre apontado por quem tinha a opinião geocêntrica).
Para terminar, Galileu fundamentou, de facto, a sua teoria com aspectos científicos. Estavam era errados.
Galileu argumentou que as marés eram o resultado do movimento da Terra. Hoje sabe-se que as marés não têm a ver com o movimento da Terra mas com a gravidade da Lua (como o sacerdote jesuíta Marcantonio de Dominisna já na época defendia e Galileu criticava).
«Galileu não se esgota na questão heliocêntrica. Mas quanto à questão do heliocentrismo, colocam-se duas questões: Galileu provou a tua tese? O que é que Galileu disse de novo?»
Claro, Galileu não se esgota na questão heliocêntrica, vai muito para além disso, segundo Bertrand Russell Galileu foi:
– Foi o maior fundador da ciência moderna, com possível excepção de Newton.
– Descobriu a importância da aceleração em dinâmica.
– Foi quem primeiro estabeleceu a lei da queda dos graves dado o conceito de “aceleração”.
– Foi quem primeiro estudou os projécteis descobrindo leis separadas das várias forças que agem sobre um corpo, um método imensamente fecundo.
– A lei da inércia explicava um enigma que antes de Galileu era inexplicável pelo sistema de Copérnico.
– Sabendo que um holandês inventara um telescópio, construiu também um e em breve fez descobertas importantes.
Segundo o Professor A. M. Amorim da Costa:
– Copérnico, terminado o curso universitário acerca de várias matérias, começou como professor de astronomia ptolomaica na Universidade de Roma onde tomou contacto com as ideias pitagóricas defendidas pelo grego Aristarco deb Samos acerca do heliocentrimo e, entusiasmado, deixou o ensino e entrou no sacerdócio e retirou-se para a sua terra natal de Frauemburgo.
– Enquanto trabalhava na sua obra ia expondo-as em cartas aos principais cientistas da Europa hesitando publicar os resultados do seu estudo, mesmo assim escreveu ao papa que “seria mais atinado seguir o exemplo dos pitagóricos, que não deixavam nada escrito mas transmitiam oralmente as suas observações apenas aos bastante inteligentes para para as comprenderem”.
– Copérnico acabou por publicar as suas conclusões pelo bispo de Kulm, seu amigo, poucos dias antes de sua morte. nessa primeira edição foi dita. sem conhecimento do autor “este livro foi escrito não para apresentar um facto científico, mas uma fantasia interessante”.
– Tal teoria abria horizontes verdadeiramente aterradores para a mentalidade religiosa da época. Esta foi a “heresia” que haveria de levar Geordano Bruno à fogueira.
Copérnico, kepler, Galileu e Newton são peeminentes na criação da ciência moderna; o que distingue o homem da ciência não é o que ele crê, mas como e porquê o crê. As suas crenças são tentativas e não dogmas, apoiam-se na evidência, na prova, e não na autodidade ou na intuição.
Precisamemte, o que Galileu fez foi provar, mesmo com instrumentos de fabrico próprio, a sua tese heliocêntrica e fê-lo contra a Igreja e por isso foi condenado pela Inquisição (porque não pelo poder temporal?), primeiro privadamente em 1616 e depois em público em 1633.
«Para terminar, Galileu fundamentou, de facto, a sua teoria com aspectos científicos. Estavam era errados.»
Caro Pinto, argumentar que Galileu fundamentou a sua teoria em estudos errados é um erro ainda maior e mais grosseiro que os erros que a sua teoria tinha na altura.
São erros que depois Newton esclareceu idênticos aos que tinham a teoria coperniana que Galileu esclarecera e que sucessivamente a descoberta de teorias cada vez mais elaboradas, como a da relatividade, vão depois aprofundando e esclarecendo.
Porque essa é a verdadeira actitude científica: avançar passo a passo, pela imaginação e experimentação, rectificando sucessivamente os erros de descobertas e leis anteriores.
Eutanásia – um assunto de grande importância que está a pôr em confronto ideias e sentimentos. O debate há de produzir alguma coisa valiosa e há de produzir um diploma, uma lei. Depois, e só depois, entram em ação os grupos de pessoas que vão ganhar dinheiro até chegar à decisão de cada caso. Não vejo ninguém discutir tendo isto na conta devida.
O dinheiro é a mola de funcionamento na sociedade. Então constatar-se-à que as belas ideias e as nobres intenções foram ultrapassadas pela dinâmica de obter vantagens económicas. Como conseguirá uma lei refletir as ideias e a justeza delas, os sentimentos e a nobreza deles e impedir que os interesses as suplantem?
Há dias, na TVI, a propósito da eutanásia, a Isabel Moreira teve como interlocutor um padre chamado José Nuno Silva, que se vangloriou (é o termo certo) de ter sido capelão hospitalar durante alguns anos, o que lhe dava autoridade especial para se pronunciar sobre a questão, achava ele, porque acompanhara os últimos tempos da vida de muita gente, frequentemente cheios de sofrimento. E esse sofrimento (a que muito cristãmente chamou “martírio”) era, segundo ele, uma oferta corajosa a Deus, que certamente a recompensaria. Portanto, há que preservar o sofrimento, porque senão Deus chateia-se, amanda cá para baixo uma cabazada de raios e coriscos e fode esta merda toda, não teremos de nos preocupar mais com o aquecimento global.
Se abstrairmos da questão, certamente parva, de que a única explicação lógica para tal crença é a de que Deus criador é um sacana sádico que se alimenta do sofrimento das suas criaturas, sobra ainda outra: por que raio de carga de água é que, acumulando o senhor, com a condição de Criador, a de pai de tudo e de todos, estimula, aprecia e recompensa o sofrimento dos seus próprios filhos, encorajando-os a passar por horríveis tormentos apenas para lhe agradar, exactamente o contrário do que qualquer pai, mesmo sádico, quer geralmente para a sua prole? Acaso não faz parte da cartilha teísta a tese de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança? Será que a humana criatura, ao fazer tudo para evitar o sofrimento dos filhos, está a contrariar a vontade e ensinamentos do pai?
Mas sobra ainda a questão do que fazer com os outros, os que, como eu, nesse Deus criador e pai não acreditam. E a resposta é óbvia: na sua caridade cristã, o padre Nuno Silva quer que eles se fodam, como incréus, infiéis dum cabrão que são. Daí achar perfeitamente legítimo o direito de os iluminados como ele, tocados pela graça, imporem a ideia, e o destino, do martírio cristão a toda a gente, cristã e católica ou não. Foi desse sofrimento que ele se alimentou, ao que parece com cristianíssimo deleite, ao longo dos seus anos como capelão, e privarem-no desse prazer, que lhe garante um lugar no Céu, é coisa que obviamente não lhe agrada.
Ontem ouvi outro, o padre Tiago Alves, da diocese Bragança-Miranda, no Jornal das 8 da TVI, bolçar a seguinte pérola (ipsis verbis): “Há porventura por aí quem use, também, na questão da eutanásia, dizer que é morrer com dignidade. Então, se no fim é morrer com dignidade, é sinal de que, durante a vida, não tivemos dignidade.” Corolário inevitável da parvoíce: “Se tivermos dignidade durante a vida, teremos obrigatoriamente uma morte sem dignidade. Eu, padreca de aviário que não me enxergo, burro e arrogante até dizer chega, tenho e tive uma vida cheia de dignidade, pelo que, inevitavelmente, estou condenado a uma morte indigna pra caralho!” E como chegámos aqui? Elementar, meu caro Watson: “Eu, padreca ignorante, cretino e idiota, arranjei a licença de padre na ‘Farinha Amparo’ e quando abro a boca só pode mesmo sair asneira.”
Nos meus primeiros tempos de liceu (Pedro Nunes, Lisboa), há algumas centenas de anos, havia uma disciplina chamada Religião e Moral. Não sendo eu baptizado, por “tradição” familiar do lado materno, e tendo a sorte de nunca haver sofrido qualquer educação/formação religiosa, entendeu porém minha mãe, ateia até ao último dia dos seus 98 anos de vida, não solicitar a minha dispensa de tais aulas (o que era possível e alguns pais faziam), por achar, e bem, que a sua frequência me enriqueceria no plano do conhecimento e que as bases do que eu um dia seria, e daquilo em que acreditaria, seriam tanto mais fortes e fundamentadas quanto as diferentes perspectivas e experiências que a vida me proporcionasse e eu tivesse ocasião de criticamente analisar.
Como idiotas os há em todo o lado, entendeu a Divina Providência, nesses primeiros anos, pôr na minha turma um minicretino de apelido fino, um tal Saldanha e Daun, que, tendo sabido da minha qualidade de incréu que se safara da santa dádiva do H2O na tola, de vez em quando me massacrava com mais ou menos isto:
“Este liceu é do Estado, é um liceu oficial, e o catolicismo é a religião oficial de Portugal. Assim, só é possível que ainda aqui andes por não se saber que não és católico. Quando se souber, és expulso e tens de procurar outra escola.”
A princípio não liguei ao idiota, mas o parvalhóide chagava-me os cornos quase todos os dias (“Ainda aqui andas?”), insinuando por vezes que o conhecimento do meu “crime” pelas altas instâncias poderia resultar da sua proactividade, como se diz agora. Aspirava a bully, o idiota, mas até para isso lhe faltava a estaleca, coitado, sendo que, apesar da alma reles de bufo, não passou das ameaças veladas de fazer queixinhas do incréu.
Um dia esperei pelo fim da aula de Religião e Moral e pedi ao professor, um padre, que me esclarecesse de uma vez por todas se havia alguma verdade no paleio do menino fino. Se sim, os meus pais procurariam rapidamente uma alternativa e o assunto ficava arrumado de vez.
O padre perguntou-me a idade (dez ou onze, julgo eu) e respondeu-me mais ou menos isto: “Para começo de conversa, o que o teu colega te disse é mentira, não penses mais nisso. Depois, és muito novo para te preocupares com essas coisas. Vai crescendo, vendo, ouvindo, lendo, aprendendo, e daqui a alguns anos, que podem ser poucos ou muitos, não há como sabê-lo agora, esse conhecimento acumulado levar-te-á a decidir se deves, ou não, ter uma religião, e qual, e se serás católico, protestante ou outra coisa qualquer, ou se continuas como agora, sem religião nenhuma.”
Só depois desta conversa contei toda a história a minha mãe, a começar no mini-idiota que andara a chagar-me os cornos. Ficou tão sensibilizada que alguns dias depois foi ao Pedro Nunes agradecer ao padre a isenção, a honestidade e a demonstração de uma verdadeira bondade. Porque uma coisa é certa: da padralhada que ao longo da vida tenho “visto e ouvisto”, a maioria ter-me-ia dado, criança que era, uma resposta no mínimo ambígua, que, a prazo, me teria eventualmente levado à segurança e conforto espiritual do redil teísta e da carneirada acéfala. Continuou minha mãe orgulhosamente ateia, mas nunca mais perdeu aquele padre de vista, acompanhou-lhe o percurso com interesse, e contou-me, anos mais tarde, que ele se oferecera como missionário para a Índia, para onde seguira pouco tempo depois, tendo lá morrido, confesso que não sei se muitos ou poucos anos depois. Um cristão a sério e coerente até ao fim, e isso só me merece respeito.
Serve este arrazoado para dizer que nenhum preconceito me move contra os padres, que podem ser bons ou maus ou assim-assim, como padres, e idem como homens, e que há padres que como homens não são bons, ou maus, ou assim-assim, mas simplesmente excepcionais, e que tive a sorte de um deles se ter cruzado no meu caminho, e que, ateu que sou e serei, a recordação de alguém de quem nem a cara lembro, ou o nome, ainda me humedece os olhos, simplesmente por neste terceiro calhau ele ter sido o que foi. Porque me orgulho dos homens bons, íntegros e honestos, de todas as cores e tamanhos e crenças e feitios, porque saber que eles sempre existiram, existem e existirão é para mim um consolo (no presente, dou outro exemplo de padre que me consola por, além de padre, ser o homem que é: Anselmo Borges).
É um consolo temperado de realismo, claro. Não há rapazes maus, dizem que pregava, ou apregoava, outro padre, o Américo, mas, como também garantem que alguém acrescentou logo em seguida: “Pois é, não há rapazes maus, há é grandes filhos da puta!” Paz na Terra aos homens de boa vontade, terá dito outro homem bom (ainda que eu não queira nada de nadinha com o alegado paizinho dele), e na adopção dessa máxima é o meu ateísmo muito mais cristão do que o de muito papa-missas da boca para fora que por aí anda batendo no peito. Quanto aos de má vontade, não há que hesitar: paulada nos cornos, só se perdem as que caem no chão!
jose neves, comecei precisamente por dizer que Galileu não se esgota na teoria heliocêntrica. Obrigado pelo reforço da explicação. No entanto não coloque palavras na minha boca nem nos meus dedos. Não disse (pois a própria expressão é absurda) que Galileu fundamentou a sua teoria em estudos errados mas em aspectos científicos errados. Não são os estudos que são errados. É a argumentação que pode ser ou não errada. Se o jose entende que a argumentação das marés estava correcta não o vou tentar dissuadir.
Convido-o também a ler a obra “Das revoluções das esferas celestes” para que perceba que a descrição realista que Copérnico realizou resultou da continuidade das observações e dos cálculos do sacerdote Jean Buridan e do bispo Nicolau d’Oresme.
Mas não é este o assunto do post. O assunto é a eutanásia. Tratando-se de uma questão de liberdade, ainda ninguém comentou a estranheza dessa liberdade só poder ser usufruída pelos enfermos. Estranha liberdade que ninguém comenta.
Porque é que eu não poderei gozar de tal direito?
16 DE FEVEREIRO DE 2020 ÀS 11:32
ó pinto manda-te da ponte salazar e eu seja ceguinho se houver prisão preventiva do cadáver, julgamento ou multas a descontar na herança.
“(O livre-arbítrio) qualquer homem em plena faculdade mental e física pode exercer sobre si próprio sem dar explicações a ninguém mas quando incapaz de o fazer de moto-próprio já não lhe é permitido porque a lei divina não lhe permite: É-nos dado o livre arbítrio e quando mais precisamos dele é-nos retirado. Quem dá e tira…”
O Pinto não reparou nesta frase do meu primeiro comentário e continua não percebendo o comentário de “Porque é que eu não poderei gozar de tal direito? ” de 16 de Fevereiro de 2020 às 11:32.
Tal comentário explicita que o Pinto pode livremente pôr fim à sua vida de moto-próprio desde que possa fisicamente realizar o acto.
Era o que faziam na antiguidade os heróis face ao amor de si próprio perante a ignomínia ou desonra na derrota como são casos célebres os de Catão, Cassio, Bruto, Marco António e outros e são os casos de “harakiri” nos japoneses.
A eutanásia é o meio possível de, a um enfermo terminal ou maquinal, manter a sua anterior liberdade individual de decidir dar a vida por… ou acabar com a vida para…
Tal comentário explicita que o Pinto pode livremente pôr fim à sua vida de moto-próprio desde que possa fisicamente realizar o acto
O que não é verdade. O jose tem tanta liberdade para pôr foim à sua vida como para pôr fim à vida do vizinho. Ou seja, pode desde que a polícia não o impeça. Porque se a polícia o vir a tentar o suicídio não só pode como deve impedi-lo, usando a força para o efeito. E algemando-o. E conduzindo-o ao hospital. E caso insista na pretensão não sai de lá até que abandone a ideia. Grande liberdade, não é?
Ou seja, se quiser pôr termo à vida mais for são, for últil à sociedade, não o pode fazer. Mas se estiver enfermo, se for um estorvo, um empecilho, aí já pode gozar dessa liberdade que os médicos dão uma ajudinha. A entanásia é isto. A eutanásia é uma medida eugénica. Que as pessoas insistem em não querer ver, metendo todo o tipo de tralha à frente dos olhos para confortar a consciência.
«O jose tem tanta liberdade para pôr fim à sua vida como para pôr fim à vida do vizinho. Ou seja, pode desde que a polícia não o impeça.»
Também não é verdade. Nesse caso a minha liberdade colide frontalmente com a liberdade do meu vizinho. Ele pode, nesse caso, contra atacar e até matar-me em legítima defesa e não ser penalizado por lei.
O meu suicídio é um caso de minha auto-determinação que não colide com a liberdade de outrem e a lei, neste caso, resta inoperacional, impotente, sem efeito, nula.
E sejamos despreconceituosos o suicídio é, do ponto de vista filosófico, fazer uso da liberdade individual absoluta. A lei que o proíbe só tem o valor moral de não aconselhamento, de resto não evita ninguém de suicidar-se.
Neste caso a lei tem um valor simbólico.
Sim, em casos extremos em que esteja em questão sofrimento extremo e impossibilidade absolutamente comprovada de irreversibilidade da patologia causadora do problema .
Agora, não se diga “ direito à morte “ .
Ou mesmo à morte com dignidade.
O que é morte com dignidade ?
Deve dizer-se “ direito a pôr fim ao sofrimento “. Quando causado por doença incurável.
Não existe o direito à morte .
Existe, sim, o direito à vida . E não o seu contrário.
Assim como não existe o direito à doença . Existe, isso sim, o direito à saúde.
Idem aspas para o direito à felicidade . Não me consta que exista o direito à infelicidade.
Portanto, existem direitos que não admitem o seu contrário.
A morte, não é um direito, é uma inevitabilidade .
Quanto à questão do envolvimento da religião, concretamente o “não ao aborto e sim ao direito à vida “, tudo bem desde que sejam efectivamente asseguradas condições dignas de vida, que dependem desde logo de um justo salário que permita viver com dignidade, e criar filhos, isso consta da chamada “ doutrina social da igreja “ mas é mera recomendação, de muito difícil concretização . Estarão os chamados “democratas-cristãos “ do CDS a dar o exemplo ?
Parece-me que não .
Sr. Merda , morrer não é um estado patológico , não é uma doença… morrer é tão natural como viver. portanto , também temos direito à morte – :) imagine que os sonhos mais loucos da idiotia se realizavam e conseguiam impedir a morte …só poderia nascer uma criança de 500 em 500 anos e andariam muitos a suspirar pelo descanso do tédio.
Muito bem snr merda!
Yo, isso foi no Batalha, melhor dizendo, num dos episódio do SPACE 1999 ( série televisiva de ficção científica realizada entre 1975 e 1977 ) em que os habitantes da Base Lunar Alfa, projectados com a Lua para o espaço e numa viagem desgovernada pelo Universo, encontram um planeta cujos habitantes tinham descoberto o segredo da imortalidade, e, cansados de viver, pediam para morrer .
Quanto aos direitos, se bem reflectir, verá que, também, não há direito sem obrigação .
Causa-me tristeza ver, que os partidos de esquerda, perdida a luta no plano sindical pela dignidade da vida laboral, – veja-se a realidade vigente, plasmada nos códigos do trabalho, que penalizam fortemente os trabalhadores, com o cortejo do “ precariado “, a instabilidade laboral, os baixíssimos salários, – se empenhem agora em causas, que, são uma agenda secundária .
Tais causas secundárias são aquelas que a direita actual, presente no mundo do trabalho sob a forma do vigente capitalismo selvagem, quer ver discutidas pela esquerda : não só demonstram que a esquerda desistiu ou esmoreceu na luta no plano laboral ( ou se mostra impotente por força dos acordos e tratados e dos ditames de vários organismos internacionais, Bruxelas, FMI, OCDE, etc. ) como são um alvo fácil de rebater para o populismo reacionário de direita, que sob o manto da hipocrisia, vai levando a água ao seu moinho, também nessas matérias secundárias .
Mais me ajuda jose. Se o suicídio não colide com os direitos dos outros porque é que o Estado dá poderes às polícias para o impedir desse “direito”?
Não encontra nenhuma incoerência nisto? Porque é que o jose, se não quiser viver, tem de o fazer à socapa e muitas vezes de forma que, não correndo bem, lhe causa um sofrimento atroz? E tantas vezes que a coisa corre de forma inesperada que o suicida não morre, ficando com lesões permanentes. Porque não podem os saudáveis poder pôr termo à vida de forma limpa e segura? Não encontra nenhuma incongruência nisto?
Andam muito preocupados com a extrema direita. Aqui d’el rei que aí vem o nazismo. E o pensamento nacional socialista a entrar pela porta a dentro como água numa inundação. E as pessoas insistem em não ver.
“Se o suicídio não colide com os direitos dos outros porque é que o Estado dá poderes às polícias para o impedir desse “direito”?”
no comentário que foi apagado (onde falavas de fé racional baseada em crenças científicas) trocaste suicídio por homicídio e agora confundes eutanásia com suicídio. deves pensar que somos todos iurdes e que rebolamos no chão com os teus pensamentos profundos.
“Porque é que o jose, se não quiser viver, tem de o fazer à socapa e muitas vezes de forma que, não correndo bem, lhe causa um sofrimento atroz? E tantas vezes que a coisa corre de forma inesperada que o suicida não morre, ficando com lesões permanentes.”
tá bom de ver que é para depois recorrer à eutanásia e já agora receber o subsídio de funeral.
“Porque não podem os saudáveis poder pôr termo à vida de forma limpa e segura?”
se calhar é porque não lhes apetece, mas enfim há malucos para tudo.
“Andam muito preocupados com a extrema direita. Aqui d’el rei que aí vem o nazismo. E o pensamento nacional socialista a entrar pela porta a dentro como água numa inundação. E as pessoas insistem em não ver.”
votaste no ventura e agora chamas-nos ceguinhos. bai dar banho ao cão.