Uma sova homérica

O último debate entre Seguro e Costa tem uma crucial diferença: não há mais ninguém para convencer a se predispor a votar. Isso implica um imediato corolário: neste momento, o resultado final já está concretizado, faltando só ser apurado. Quem se inscreveu para votar não tem dúvidas acerca do vai fazer com o seu voto – pelo contrário, foi por ter uma certeza consolidada numa esperança que os simpatizantes se deram à maçada da inscrição. Neste aspecto, as primárias configuram uma situação menos similar à de umas eleições universais e mais análoga à de uma eleição colegial.

Tal consciência do óbvio poderá levar a alterações, ou evoluções, nas estratégias dos candidatos; pressupondo que eles têm alguma (assunto em aberto, para espanto de quem esperava ver em Costa melhor profissionalismo de campanha). E também aqui há uma crucial diferença: quem se inscreveu para votar Costa em situação alguma ponderará mudar o seu voto para Seguro, mas tal lógica não se repete entre os apoiantes de Seguro. O voto em Seguro – se excluirmos o daqueles a quem fez promessas e o de fanáticos como Ana Gomes – nasce de um apelo emocional básico e basista que se agarra a competências cognitivas diminuídas, baixa cidadania e iliteracias várias. O seu grupo-alvo é o dos leitores do Correio da Manhã, o seu embrulho retórico é o do moralismo anti-políticos. Ora, algumas destas cabeças são recuperáveis até ao dia da eleição, seja porque poderão mudar de voto perante a consciência de estarem a ser enganadas, seja porque poderão desistir de votar por esgotamento da confiança em Seguro (o que equivale, no contexto das primárias, a darem directamente o seu voto a Costa). Por sua vez, os eleitores de Costa apenas terão de manter a motivação inicial – entretanto reforçada pela deriva degradante e terrorista de Seguro – para não faltarem ao último acto do processo.

Neste quadro, Costa tem uma estratégia ganhadora seja qual for a estratégia de Seguro no último debate. Consiste ela em ignorar olimpicamente o seu opositor e falar exclusivamente para o País – ou seja, exibir uma pose de Estado e assumir-se como o próximo primeiro-ministro a discursar já em plena posse de funções. Indo por aqui, Costa marcará pontos caso Seguro tente competir com ele quanto a qualidades de liderança e competência política, e marcará o dobro, ou triplo, desses pontos caso Seguro volte ao choradinho do coitadinho que odeia muito, muito, muito o malandro que ameaça tirar-lhe a chupeta.

Contudo, se a coisa se passasse ao meu gosto, Costa abdicaria de Olímpia e iria para Tróia. Lá chegado, encheria o peito da fúria de Aquiles e vingaria a traição que Seguro fez a 40 anos de história do PS. Ver o principal pilar político da democracia portuguesa nas mãos de um fulano que tem tanto (ou ainda mais) de estúpido como de populista justifica uma sova homérica.

10 thoughts on “Uma sova homérica”

  1. as sovas ohmerdas ficam pra depois e atrás da cortina, o costa nunca faria uma asneira dessas. se for preciso humilhá-lo para acabar com veleidades, ainda lhe dá uma pasta para o gajo se enterrar de vez.

  2. Ó Val,

    Agora só faltava era chegares-te á frente e tb ires votar nas primárias.
    Tenho a certeza que te inscreveste só para o caso de quereres lá ir….
    Era uma boa ocasião para dares o teu contributo á cidade, como cidadão que não se limita a exprimir profundos pensamentos, mas se detêm em face de pequenas falhas humanas.
    Era uma óptima oportunidade para demonstrares que, afinal, o aspirina não é só uma esquina de retórica bem elaborada, mas antes, parte da mudança que tanto apregoas e defendes.

    Por isso, daqui te apelo para não seres um Seguro e faças algo sem ser necessário vir alguem tirar-te a chupeta.

    ab,
    miguel

  3. Val, consegues melhor que isso.
    Já vi que te incomoda o tema… :-)
    Não admira.

    Temos de te começar a tratar por Tózélupi? ou vais mexer o rabinho da cadeira e fazer alguma coisa?

    Miguel

  4. Como diz o outro….não discutas com um néscio, perdes sempre , porque ele tem a experiência !!!!
    Concordo que Costa, mantendo uma conduta calma e indiferente às picardias, saia do confronto com uma credibilidade reforçada. É bom para o Pais e saudável para quem confia em homens verticais e ponderados !!!

  5. Também gostava de ver o Costa a pregar uma ‘sova Homérica’ no invertebrado! :)

    Não correria riscos de lhe partir ossos porque eles não constam ;)

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