Trump, Biden e um puto de 12 anos

Para um europeu, ver o documentário Trump: Um Sonho Americano consegue o feito de explicar tudo a seu respeito e de tudo tornar ainda mais misterioso a respeito da América. Porque se descobre que o homem já era exactamente assim, um arrogante e megalómano vendedor de feira, logo nos anos 80. O substancial não mudou nos últimos quase 50 anos. Intensificou-se, encheu-se de televisão, e atingiu o zénite na campanha eleitoral de 2016 para a Casa Branca – em que o vimos a destruir o Partido Republicano e os seus símbolos vivos, algo que considero muito mais impressionante do que depois ter vencido Hillary Clinton. Como é que este pavão vácuo e patologicamente narcísico, incapaz de servir a comunidade, pode congregar o voto de alguém que se respeite a si próprio? A resposta é que pode porque os processos cognitivos dependem da construção da identidade, esta a gerar afectividades que moldam os processos cognitivos. Simplificando, quem tiranete ama doce papá lhe parece.

Biden esteve ainda melhor do que no primeiro debate, e pareceu ainda mais frágil e mais gago. A um ponto tal que nos podemos questionar se, paradoxalmente, o que o desqualifica como líder forte na comunicação social – a falta de carisma, o centralismo e a postura friável – não poderá funcionar como fonte de atracção tal o contraste com a voracidade caótica e irresponsável de Trump.

Se Trump voltar a ganhar passarei a acreditar, sem um bit de dúvida, que o nosso é mesmo um Universo criado num computador. No computador de um cruel puto de 12 anos.

20 thoughts on “Trump, Biden e um puto de 12 anos”

  1. Ola,

    Nem mudou o Trump, nem mudaram os seus eleitores e a sua base eleitoral. Sempre existiram como os vemos. Sempre hão de estar por ai. Ninguém acredita, nem ninguém deseja alias, o desparecimento da tasca e da boçalidade dos seus clientes habituais.

    A unica coisa que mudou, é a nossa permeabilidade a este tipo de discurso e a nossa correlativa incapacidade para construir soluções responsaveis que permitam um debate verdadeiramente democratico e construtivo. O que mudou é a nossa concepção da responsabilidade politica. Não sei qual é a causa nem qual é a consequência. Mas é obviamente por ai, e por ai apenas, que a questão deve ser pegada. Não vale a pena perder tanto tempo a mostrar que o homem é um palhaço. A questão é querermos circo ao ponto de por em perigo os nossos principios, apenas.

    Boas

  2. é um processo parecido ao que levou o zézito ao poder. quem é que pode ter votado nesse pato bravo , de cultura instantânea , crescido no antro que são as jotas ? e isto ” quem tiranete ama doce papá lhe parece” é o que se passa neste blog -:) a agulha e o tronco , sempre actuais.

  3. e o azar dos republicanos será não arranjarem um A. Costa para apanhar os cacos do partido , colá-los e fazer esquecer o Trump.

  4. confesso que é. não percebo porque se metem com as eleições de outros países , não percebo como podem fazer bullying , como têm feito , a um tipo eleito democraticamente , não percebo como menorizam eleitores de outros países , não percebo mais coisas , mas estas chegam.
    e não percebo , sobretudo , porque são os beatos da democracia , os que rasgam as vestes , que têm este comportamento execrável do meu ponto de vista de pessoa que é democrata no conteúdo , não sei se perceberá o que isto quer dizer.

  5. yo: eis aqui uma pessoa que, sendo cidadã dos US seria indubitavelmente eleitora de trump e uma seguidora dos seus valores; porque digo isto?, por ir lendo, uma vez por outra, aquilo que ela escreve e que é revelador daquilo que ela deve ser.

  6. Ora vamos lá a ver, como diria o nosso primeiro.

    O que chateia os trumpofóbicos primários, por lá e por cá, é simples: a muito antiga arrogância da América deixou de estar, com Trump, dissimulada pelas camadas de verniz abundantemente usadas pelos seus antecessores. As bem-pensâncias de lá e de cá desesperam com o destapar da evidência de que a merda que sempre incensaram como farol da civilização, da democracia, da liberdade, dos direitos humanos e tutti quanti não passa, afinal, disso mesmo: merda.

    Alguém no Partido Democrático, por exemplo, criticou, combateu ou tentou inviabilizar a arrogância pompeo-trumpista que pretende obrigar a Europa a comprar gás liquefeito americano (30% mais caro) em vez de gás russo, para isso aplicando sanções a toda e qualquer empresa da querida e aliada Europa que contribua (minimamente que seja) para a construção do gasoduto Rússia-Alemanha? Não senhor, o apoio do Congresso, democratas e republicanos, foi e continua a ser esmagador a todas as iniciativas do javardo da Casa Preta e seus jagunços para dar cabo de empresas de “países aliados” que tenham a veleidade capitalista de fazer contratos e negócios absolutamente legítimos face às leis europeias e internacionais.

    O apoio do Partido Democrático ao bombardeamento trumpista da Síria, com o pretexto mentiroso dos ataques químicos de Bachar Al-Assad, foi praticamente unânime, exceptuando talvez a Tulsi Gabbard e pouco mais. Ainda hoje sinto vómitos quando me lembro do sipaio merdiático e feroz antitrumpista Fareed Zakaria, ex-Newsweek, hoje CNN, perante o “glorioso” espectáculo do lançamento de mísseis de cruzeiro contra a Síria, declarando, embevecido, que nesse dia Trump se tinha finalmente tornado “presidencial”! Phoda-se! Valha-me Deus que sou ateu, ou questionaria imediatamente o Altíssimo sobre os motivos que o levaram a poupar o javardito, no segundo em que largou a bojarda, à sorte de Sodoma e Gomorra.

    E o que dizer da inqualificável palhaçada da recepção ao jagunço de terceira classe Juan Guaidó, no Congresso, com a Barbie fóssil Nancy Pelosi a aplaudi-lo freneticamente após a apresentação e elogio de Trump? A Pelosi e o resto da quadrilha, claro. Coraria de vergonha, se fosse americano, reconhecendo eu, no entanto, que o Nicolás Maduro é um idiota cuja incompetência facilita a interferência do Império.

    E onde está a oposição democrática, com um mínimo de eficácia e audibilidade, à política trumpista de apoio ao esbulho continuado de terras palestinianas pela ladroagem sionista? Não está! A política é a mesma, o resultado é e foi sempre o mesmo, a única diferença é que o “arrogante e megalómano vendedor de feira” é um homem prático e não vê a necessidade de gastar dinheiro em verniz. Para todos os efeitos, como “aliados” só tem castrados, qual é o problema?

    E o inqualificável abandono do acordo nuclear com o Irão? Mais uns arrotozinhos castrados, que o lobby de Israel tem muita força e a gente precisa deles nas eleições. Para disfarçar, engrossam um pouco mais a voz com o abandono do Acordo de Paris, treta para inglês ver, como quaisquer dois neurónios entendem, pois as empresas americanas sabem perfeitamente que, num mercado global, com ou sem acordo, vão continuar a ter de competir com produtos e tecnologias cada vez mais limpas. Foi isso que o Trump percebeu, e agitou-lhes à frente dos cornos uma capa onde uns fingem que marram furiosamente e a imensa maioria acredita que a tourada é a sério.

  7. Há uma diferença histórica abissal entre um visionário e um retrovisionário; o primeiro olha o que existe e acha pouco, insatisfeito quer, pensa e procura o novo, investe no novo, cria o futuro. O outro olha o que existe e acha mal, muito mau o que vê e nem pensa, vira-se para o passado, para os velhos métodos, velhas indústrias, velhas teorias económicas e sociais de desenvolvimento que criaram uma época mas, uma vez já absoletas, repetidas tornam-se anacrónicas e retrógradas além de desastrosas.
    Trump é o modelo tipo dessa anacronia retrógrada; não educado minimamente na leitura e estudo da história da ciência e pensamento das ideias mas, antes pelo contrário, preparado tão só para o sucesso no mundo dos negócios, obtido tal sucesso no mundo corrupto do dinheiro sujo das traficâncias globais o seu mundo de vida é ele próprio, o seu exemplo de vida é a sua vida, o seu objectivo e fim na vida é vencer ou destruir o outro visto como um obstáculo, uma ameaça, um inimigo a vencer ou mesmo destruir se não se submeter.
    Um tal formato de homem, quase normalmente, torna-se um bronco estúpido e louco que se julga o Midas que transforma em ouro tudo o que toca; certamente, não por acaso, os seus objectos do seu mundo personalizado para mostrar (demonstrar) ao mundo da vida dos outros são peças douradas que usa para informar os outros acerca de sua grandeza humana; ele é o homem de raça dourada acima dos brancos, pretos e amarelos do mundo.
    Um tal homem é altamente perigoso pois, como se vê, não aceita nenhuma derrota, nenhuma contradição ao seu querer, nenhuma alteração à sua vontade. Começa por querer impor-se, maravilhado com a sua própria pessoa, aos outros homens do seu país a qualquer custo contra a democracia e, tornado altamente poderoso, tenderá fazer impor-se ao mundo do mesmo modo.
    Será a democracia americana suficientemente forte para se opôr e vencer o bacoco cesarismo de um imitador de imperador de lata e penacho dourado?

  8. Ainda há gente decente na América, mesmo que pouca, como Tulsi Gabbard, que aqui nomeia mais alguns americanos decentes e o que em relação a eles deve ser feito. Estes, sim, “true American heroes”, nos antípodas do marçano rancoroso John McCain, fervoroso distribuidor de napalm ao domicílio, ou do comissionista e facilitador de negócios Joe Biden, estúpido da quinta casa e corrupto até à medula, para quem o conceito de vergonha na cara é estapafurdice alienígena.

    https://youtu.be/Bm7K5HR-R7g

  9. Não sendo formalmente americano e sim australiano, Julian Assange não deixa por isso de ser um “true American hero”, na medida em que arrisca a liberdade e a vida em prol de uma América mais decente e mais justa, coisa que nunca passou pela cabeça do herói bombista John McCain ou do merceeiro comissionista Joe Biden. Mas é mais do que isso, é um herói universal, que, desmascarando filhos-da-puta e filhas-de-putice, sacrifica tudo pela esperança de um mundo melhor.

  10. Camacho: completamente de acordo com o teu comentário das 14H25.
    Lembro a venera no dólmen dos USA, o embargo total a Cuba por estes, perfaz 60 (sessenta) anos !!!
    A extinção da prisão USA em Guantánamo (Cuba), coisa jurada por Obama, é a prova real do espírito democrático do farol do Ocidente !

  11. anónimo , por acaso até nem sou má pessoa , é por isso que não preciso de uma insígnia , tipo cruz , na lapela com o símbolo de uma qualquer esquerda para o provar , é só observarem como me comporto com os outros ( todos ) na vida real. de teóricas “boas” pessoas , passo.

  12. Não conheço ninguém que entenda melhor a política americana contemporânea do que Joaquim Camacho. Nesta casa ou em qualquer espaço de opinião pública, em Portugal ou no resto da Europa.

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