Todos cobardes

Ivo Rosa, alvo de uma campanha de assassinato de carácter e de coacção em vários órgãos de comunicação social desde que foi escolhido por sorteio para dirigir a fase de instrução da Operação Marquês, surgiu referido numa escuta a suspeitos de tráfico de haxixe. Luís Agostinho, em telefonema à namorada, disse o seguinte: ““Olha, amor, aponta aí o nome do juiz Ivo Rosa e dá à minha mãe esse nome que ela precisa para mandar para o meu irmão (…). Aponta esse nome que é o nome do juiz para ele mandar lá para cima para fazer um trabalhinho. (…) É para dar 1.000 euros para ele fazer lá o que tem de fazer.” Em consequência, os procuradores desse processo de tráfico de droga enviaram a escuta que referia Ivo Rosa para o Tribunal da Relação e abriu-se um inquérito relativo à suspeita de corrupção do juiz.

Interessante, né? Mas a coisa é ainda mais interessante. Este Luís Agostinho fez o tal telefonema a partir do Estabelecimento Prisional de Lisboa, onde estava à espera de ir para prisão domiciliária. A 15 de Outubro de 2021 fora interrogado por Ivo Rosa, o qual negara ao Ministério Público o pedido de prisão preventiva e decidiu pela prisão em casa com pulseira electrónica. Enquanto os equipamentos de vigilância eram instalados na sua habitação, ele aproveitou para oferecer ao Ministério Público e à Justiça portuguesa um registo de voz onde se ficava a pensar que, às tantas, o tal Ivo Rosa é um bandalho que se vende por mil euros aos pilha-galinhas que lhe aparecem no tribunal.

Mas a cena é ainda mais interessante. Isto porque a Cofina, em cima das eleições legislativas (a 27 de Janeiro), lançou esta capa. Repare-se que o canto inferior direito também fica sumamente adequado à quadra eleitoral. A matéria do juiz odiado pela pulharia é anunciada como um “exclusivo” da revista. Quer dizer que algum agente da Justiça vendeu ou ofereceu à Cofina a informação para tão edificante e relevante capa. E mais quer dizer que termos uma escuta a referir Ivo Rosa num caso sórdido, a qual cai na Cofina em cima de um acto eleitoral, e isto no auge do conflito entre esse juiz e Carlos Alexandre, é uma série de coincidências de arrebimbomalho. Faz lembrar o Valentim Loureiro e a sorte que ele teve com a lotaria, a qual ganhou umas três ou mais vezes, sortudo dum cabrão.

Pois onde se atinge o interesse máximo neste episódio é na paisagem mediática à volta do mesmo. Silêncio absoluto nos editoriais e no comentariado. O mesmo silêncio absoluto que se decretou a respeito das razões para a constituição de Carlos Alexandre como arguido por suspeita de crime na forma como a Operação Marquês lhe foi parar às mãos.

Todos a assistir calados, todos cúmplices, todos cobardes.

6 thoughts on “Todos cobardes”

  1. se o agostinho está em prisão domiciliária, o curral da manha já deveria ter mandado lá a casa a ténia laranjo para uma jam session confessional. a tornezeleira electrónica não grava conversas, acusa visitas ou deteta fumo de haxixe, portantes entrevista 100% segura e garantia de mais umas capas com destaque ao ivo affair. hoje o destaque vai para o benfica e as famílias portuguesas castigadas com a guerra que abrava as contas da luz e gás. até parece que o director daquela merda é o mula russa.

    https://www.vercapas.com/capa/correio-da-manha.html

  2. bom , se o método indiciário e a prova indirecta não servem para o zezito , também não deverão servir para mais ninguém e este post é só prova indirecta e indícios. talvez arranjando um delator , lá na prisão , que prove isso tudo?

  3. “talvez arranjando um delator , lá na prisão , que prove isso tudo?”

    já tentaram, chama-se bataglia. não funcionou, custou uma pipa de massa e incriminou o lado contrário. tiveram que apagar, é melhor nem falar nisso para não irritar aquele moço que come bolo-rei com a boca aberta.

  4. talvez , a cena do bataglia , na sê .
    hoje descobri a razão da fraudemia pandemia de assintomáticos : o que é que os sacanas sem lei donos disto tudo andaram a montar enquanto nos prendiam em casa. ?

  5. !ah! desconhecia isto tudo. deu-me riso a parte do haxixe, no meio de tanta realidade miserável, porque mais abaixo, por conta da referência ao Valentim Loureiro, juntei tudo: eu vi-o um destes dias e quase nem o reconheci: está muito verde e seco.

    de resto, estou perplexa e triste.

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