The silence of the lambs

A propósito da carta que Ana Paula Vitorino enviou aos deputados do PS, e independentemente da validade dos elementos que o Ministério Público de Aveiro tenha coligido para investigar Mário Lino por corrupção, vai ter muita graça registar a reacção de muitos que agora se calam, alguns gozando o prato, quando lhes tocar a eles, ou a alguém por quem tenham estima, as manobras dissolventes do Estado de direito que, na prática, se constituem como o principal esteio da oposição à direita.

Quanto aos que exploram a violação do segredo de justiça e as deturpações daí resultantes, o nosso agradecimento. Assim, ninguém se ilude a seu respeito.

6 thoughts on “The silence of the lambs”

  1. Quando não. Se lhes calhar a eles. Como está amplamente demonstrado com o caso BPN, as fugas de informação são selectivas conforme o partido. E não estou a ver o PSD a afrontar uma máquina judicial que lhes tem sido tão favorável. Junte-se a isso uma comunicação social dominada pelo aparelho laranja, e percebe-se que quem agora goza o prato sabe perfeitamente que estará imune a este tipo de ataques, pelo que indigestões são improváveis.

    Exemplo: como se viu com o deputado Branquinho, as pessoas ligadas ao PSD são sérias e acima de qualquer suspeita. Quanto tempo é que durou essa história? 1 dia? Agora imagina se fosse um deputado do PS a ir para a Ongoing…

  2. Vega9000, deixo-lhe outra hipótese que ilustra ainda melhor o que refere. Lembre-se do amigo e correligionário de Dias Loureiro e Oliveira e Costa, que, em 2001, comprou, fora da bolsa, acções da SLN, as quais vendeu, também fora da bolsa, em 2003, com um ganho de 150%, numa altura em que, nem a SLN, nem o BPN tiveram qualquer valorização idêntica ou, sequer, próxima (se é que tiveram alguma). Acrescente-lhe as hesitações desse amigo e correligionário em apear Dias Loureiro do Conselho de Estado. Agora imagine, por um momento, o que teria acontecido se o nome do personagem fosse José Sócrates. Já imaginou o ensurdecedor ruído mediático? O cortejo de directores de jornais e de informação de canais televisivos, de jornalistas vários e dos “comentadores” do costume a sangrarem indignação e a pedirem, de dedo em riste, a cabeça de Sócrates? Os sindicatos dos magistrados, judiciais e do MP, a clamarem por uma investigação? E, no entanto, sendo quem é o personagem, a única coisa ensurdecedora foi o silêncio (excepção de Mário Crespo, que, julgo, não grama o personagem).

  3. Os (argutos) comentários anteriores puseram-me a imaginar um cenário, no mínimo, arrepiante. Imaginemos um Presidente da República laranja (não é difícil) com um governo laranja (provável), com uma maioria parlamentar laranja, uma comunicação social subordinada ao poder económico e político laranja (já assegurado) e um poder judicial fortemente simpatizante da cor (nem se dão ao trabalho de disfarçar)…

    Sobra algum poder fora da alçada? Vocês querem ver que o sonho do Cavaco – uma maioria, um governo, um presidente – vai, afinal, revelar-se modesto, face à realidade?

    (gulp, agora que encarei a sério a probabilidade da coisa, fiquei mesmo nauseada)

  4. Começa a ser escandalosamente evidente que toda esta trapalhada do orçamento não é mais que o estrebuchar de certa elite de banqueiros e outros endinheirados portugueses a não quererem cumprir as ordens dos “mercados” (as ordens daqueles que hoje mandam no PS).

  5. Val, eu já nem comento…Nada tenho a acrescentar aos magnificos e corretos três primeiros comentários – para além de concordar completamente com o seu texto.

    Assim, para quê reagir a mais uma provocação do “Manolo”…

  6. Também é interessante verificar o timing cirúrgico de cada fuga de informação do processo Face Oculta: ficámos todos a saber que estes funcionariozecos da justiça (até me custa chamá-los de juízes) não gostaram de ver o seu modesto rendimento (em muitos casos, superior ao do PR) reduzido. Principalmente aquela parte dos 800 euros para apoio a encargos com a habitação, que deixou de ser isenta e ainda levou um cortezito percentual…

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