Sugestão para o “Expresso da Meia-Noite”

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"Temos de comprar o Expresso ao sábado para saber o que é que se passa no país, o que é que se passa com o Orçamento, o que é que se passa nas Forças Armadas e nos paióis militares?"

Pedro, antigo especialista em aeródromos municipais da Região Centro que tinha o sonho lindo de um dia vir a chefiar o Governo para meter a classe média na ordem e acabar com os madraços e os estróinas dos subsídios

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É público que o império de Balsemão está a dar a berro e Pedro Santos Guerreiro e o mano Costa parecem andar a fazer os possíveis para acelerar o processo. A manchete que escolheram para ajudar o PSD a uma semana das eleições autárquicas podia ser usada nas escolas secundárias para ilustrar o conceito e prática do famigerado jornalismo de referência. Quando estas pessoas, no meio em causa, assumem que apenas se regem pelo sensacionalismo, pelo sectarismo e pelo eleitoralismo, então o círculo completa-se. A irrelevância onde chafurdam após desistirem de servir os seus compradores, leitores e comunidade em geral de uma forma isenta, e que respeite os mínimos deontológicos da profissão, torna desejável que desapareçam do mapa. Não precisamos de mais um pasquim – precisamos é, e cada vez mais, e como sempre e para sempre, de jornalismo corajoso e inteligente.

A forma como PSG tem defendido a sua opção editorial é de fazer corar as pedras da calçada. A miséria profissional da sua argumentação, contudo, não deve ser recebida em silêncio; como David Dinis e Paulo Baldaia fizeram, para dar dois exemplos corporativos e igualmente sectários na temática em causa que não botaram faladura sobre o episódio. A temática em causa é o tiro ao ministro da Defesa e, por extensão, ao Governo e ao PS, levando a que se esteja em pleno registo de comício por parte de jornalistas com responsabilidades editoriais. Nada contra se tal fosse assumido pelas direcções, mas o problema é que isto é feito sem a frontalidade, sem a força e beleza de carácter, de se declarar que não passam de opiniões para apoiar uma qualquer facção política ou para dar vazão a uma qualquer embirração pessoal nascida da pacóvia arrogância de se imaginarem moralmente superiores aos políticos.

Nada melhor do que usar o que os artistas andam a dizer para se expor a escabrosa tanga:

- "É um relatório que nós compreendemos que não fazia parte de uma das estruturas oficiais militares."
- "Nós checkámos [sic] a veracidade do texto e, portanto, constatámos que era um texto verídico, não era uma coisa forjada para o efeito de ser publicado no Expresso para fazer bum. E, por outro lado, checkámos [sick] também a credibilidade do que está na sua origem."
- "Não foi feito para ser plantado [no Expresso]."
- "A notícia nunca diz que se trata de um relatório oficial e final."
- "O primeiro-ministro veio dizer que é fabricado, o ministro da Defesa diz que é forjado, há uma insinuação, que vem através do PS, que foi o PSD que teria preparado o documento para o Expresso para depois o próprio PSD poder comentar. Enfim, são aqueles delírios habituais..."
- "Isto é um relatório que não é final."
- "Nenhum relatório de um organismo destes tem 63 páginas."
- "Isto é um relatório que contém muita informação que servirá, eventualmente, para afinar investigações em relação ao assunto principal que é Tancos."
- "Este ministro [Azeredo Lopes] ainda existe?"
- "- O que eu te pergunto é se ele [Azeredo Lopes] verá nesta polémica, que foi lançada pelo Governo na tentativa de descredibilizar esta notícia, uma tábua de salvação construindo uma teoria conspirativa para se vitimizar? - Nós percebemos que existe alguma coisa em curso nesse estilo, pelo que tem sido dito."

Filipe Santos Costa, um fanático com carteira da jornalista, atribui ao Governo o nascimento da polémica e imputa ao ministro da Defesa as porcarias que lhe atulham o bestunto. Admirável descaramento, já normalizado por Trump, onde temos um jornal, que se apregoa como modelo do melhor jornalismo português, a inventar um ataque político a uma semana de eleições autárquicas cujas bases, após ter sido desmentido por todas as entidades que o poderiam legitimar, são folhas soltas de um relatório afinal com palavreado a mais e inacabado e que, portanto, não sabemos como ficaria na suposta versão final nem sabemos qual seja a sua autoria e finalidade. É que dizer-se que a finalidade consiste em contribuir para as “investigações em relação ao assunto principal que é Tancos” – isto é, o relatório teria como objectivo promover a descoberta do que aconteceu ao armamento dito em falta – significa que já se perdeu qualquer respeito pela própria honestidade. Em que medida as citações venenosas de baixa política canalha, ou subjectivismo corporativo, contra o ministro da Defesa estão a facilitar as investigações judiciárias e militares ao assalto, ou desvio, ou falha, em Tancos?

Os responsáveis por mais este prego no caixão da credibilidade do Expresso podem guardar a identificação das fontes para eles próprios. O que não podem é esperar que a anomia circundante seja total. Haverá sempre alguém a olhar para o óbvio: a menos que seja hábito o Expresso estar a receber relatórios destas fontes e teor, então o acontecimento que consiste em terem acesso ao material neste calendário é, em si mesmo, um acontecimento político. E ainda mais óbvio: perante um documento que alegam saber que não é final, a opção de seleccionarem as partes que permitiam construir uma trapaça contra Azeredo Lopes e Governo é da exclusiva responsabilidade de quem quis lançar a atoarda. O destaque dado, parangona, e a sugestão de ser um relatório oficial das secretas militares, não tem defesa possível. Usaram excertos de declarações que extravasavam por completo o âmbito da investigação a Tancos para continuarem a fazer pressão no que julgam ser uma brecha política no Governo, a imagem de Azeredo Lopes e as reacções que está a causar em alguns elementos das Forças Armada que estão a querer guerrear na política.

Espero que nesta sexta-feira, ali por volta das 11 da noite e com a excelência do jornalismo de opinião praticado diariamente na SIC Notícias, se possa dilucidar ao pormenor este estupendo caso que une numa juliana reles a decadência da Impresa com a decadência do PSD.

4 thoughts on “Sugestão para o “Expresso da Meia-Noite””

  1. Meu! Para notícia falsa (em amaricano, ‘treta nius’) não é preciso inventar nada. Como eu, em 25 DE SETEMBRO DE 2017 ÀS 21:30, já disse aqui:

    https://aspirinab.com/valupi/o-armamento-nao-tera-sido-fanado-pelos-ciganos/

    o Pedro Santos Guerreiro produziu nesse mesmo dia, no Jornal da Noite da SIC, sem qualquer ambiguidade, esta magnífica pérola:

    “O Expresso está a veicular informação relacionada com um caso muito grave de falha de segurança nacional que aconteceu há dois meses e meio. Como eu dizia, há ARMAMENTO NUCLEAR a circular não se sabe onde porque houve uma falha de Estado grave.” (sic, aliás sick, escrevi então e repito)

    Tinha à sua direita a pivota da SIC(K) e à sua esquerda o Miguel Sousa Tavares, que não pestanejaram sequer. Se alguém tem dúvidas, é ir ao site da estação e ouvir com os seus próprios ouvidos.

  2. O Pedro Santos Guerreiro que em vésperas da queda do GES/BES, ainda garantia que o Banco não tinha problema nenhum. Narrativa que já tinha usado nas vésperas do aumento de capital. Que o problema do GES dizia respeito só à área não financeira do grupo e blá blá blá. Como aliás se veio a constatar… E eu até sou da opinião que o caso BES foi mesmo muito mal gerido. Quer pela regulação, quer pela supervisão bancária. Que apesar dos problemas gravíssimos também na área financeira, como a fuga de capitais no escândalo BESA – ainda à solta no meu clube – tempos houve em que tinha sido muito fácil afastar a família dos destinos do banco em qualquer parte do mundo. Até porque a idoneidade exigida não se compadece com sucessivas declarações de IRS. Soubemos todos bem porquê. E com o afastamento da família e a alienação de parte da área não financeira, ambas a tempo e a horas claro, talvez tivesse sido possível evitar os custos para todos os contribuintes de um banco presente em larga escala na economia portuguesa.

    Isto tudo para dizer que o verdadeiro jornalismo ficou quase todo no séc XX. Infelizmente. Hoje há é muitas marionetas.

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