A Fernanda tratou do assunto. Fica um sentimento de incredulidade, os episódios absurdos sucedem-se num crescendo. E a comparação com o trapalhão Américo Thomaz não é justa, pois Cavaco é o primeiro Presidente patafísico. Só de pensarmos no potencial de violência que estas palavras transportam para as vítimas involuntárias da guerra, militares e civis, estropiados e traumatizados, a que se junta a angústia das famílias que planeavam mandar os seus filhos menores para o estrangeiro de modo a evitar o alistamento obrigatório, atinge-se um paroxismo nauseabundo.
E pouco mais há a dizer, talvez só recordar dois outros factos. Que as declarações não foram espontâneas, antes escritas para serem proferidas na cerimónia do 50º Aniversário do início da Guerra em África – o que implica que alguém teve tempo para as pensar, depois para as escrever, talvez para as reler ou dar a ler a outros na Casa Civil. E que no infame discurso da tomada de posse não se faz, nem sequer formal ou lateralmente, uma única referência às Forças Armadas – cujos efectivos arriscam a vida, e dão o seu melhor, em diferentes palcos internacionais ao serviço da paz e do nome de Portugal.
Falou-se muito na ausência de contextualização da crise nacional com a europeia e mundial na catilinária de 9 de Março. Era uma prova grosseira da intenção sectária, divisionista e persecutória que enformava todo o discurso. E também se falou da ausência de endosso literário para Camões, Pessoa ou Torga, ou mesmo para Margarida Rebelo Pinto só para irritar a alma eterna de Saramago. Cavaco preferiu citar boletins do Banco de Portugal e sua poesia desconstrutivista. Mas nenhuma figura pública se escandalizou (ou se escandalizou o suficiente…) com a ausência de uma singela palavra para os portugueses que servem o Estado e a Comunidade através das carreiras militares por parte do seu Comandante Supremo na solenidade da sua investidura na Assembleia da República. O que me leva a concluir que já é possível decretar oficialmente que neste país não mora ninguém de direita.
Fiz a guerra colonial em serviço militar obrigatório. A alternativa era fugir como vi tantos fugir. Até chegaram a reservar-me lugar no táxi que ia conduzir amigos meus à fronteira. Optei por ir à guerra, mas foi por tudo menos por aqueles “nobres motivos” evocados por este infeliz presidente Cavaco. Onde foi ele buscar aquelas ideias, a não ser ao ideário salazarento? Chego a pensar que nem Salazar nem Américo Tomaz, nesta altura do campeonato, falariam deste jeito. Sinceramente, duvido cada vez mais da saúde do PR. Vamos ter mais cinco anos desta decadência?
Este homem perdeu definitivamente o tino, só pode…
desde as escutas,
as suas derrotas nas legislativas 09, no congresso do PCoelho, agora contra abstenção das presidenciais,
com aqueles discursos de “vitoria”, que, miseraveis, foram mais uma derrota
e este outro, imcompreensivel, de posse
com sua luta ingloria pela vinda do FMI
e
contra exito da diplomacia tuga junto da Europa
para serenar nossas condições de recuparação da economia
Homem perdeu os trilhos das conveniencias e bom senso…
Ajudemo-lo cristãmente, com bom sentido de familia, a terminar o que, infelizmente, posa ter iniciado…
Eu só não fui à Guerra por um triz, por causa da especialidade de Contabilidade e Pagadoria. Mas pensaria sempre o mesmo – o senhor em causa é doente e até desmaiou na posse do Guterres.
conta lá como é que te seleccionaram para essa especialidade de amanuense, deve ter sido pelos teus dotes literários. não foste à guerra porque chegaste atrasado, o que não te impede de reivindicar direitos como se tivesses ido.
Este homem está a deixar vir à tona o que sempre foi. Não m’espanto, só m’avergonho.
A guerra Ultramarina:
Faz dia dezassete de Abril, quarenta anos, que parti para Angola no Barco Vera Cruz. No dia quinze à tardinha despedi-me da minha mãe e dos meus irmãos, o meu pai acompanhou-me até Campanhã, de táxi, naquele tempo a maioria das famílias não tinham carro próprio. Sabe Deus o que me ia na alma mas, tentei resistir o mais que pude, para não ver a minha mãe verter lágrimas ou, entrar em alto choro, o que veio a acontecer. Neste momento, em que escrevo, escorre-me pela face uma lágrima ao lembrar-me esse momento e a minha mãe, há anos falecida.
Como se depreende, não fui alegre, se fosse defender a Pátria, ia com todo o gosto, os nossos pais sentiam orgulho na nossa partida. O que íamos defender eram interesses de outros e subidas na carreira militar. Não me esqueço de ouvir alguns brancos, europeus, residentes em Luanda, dizerem que nós íamos para ali matar a fome que aqui no Continente, vulgo, Puto, estávamos todos a morrer à fome.
Não tinha outro remédio senão este. Não tenho vocação para emigrante e nesse caso nunca podia voltar ao meu País se não era preso. Assim não, tinha ideias próprias, tais como constituir família. Por estas e outras coisas é que decidi ir para a guerra ultramarina. Só quem esteve lá, no Mato, isolado a comissão toda, a sofrer as agruras, não se ganhava para adquirir os produtos higiénicos e tabaco, ao contrário da classe dos sargentos e oficiais, estes sim, juntavam uns cobres para a sua vida futura.
Cavaco Silva ao referir e dar alento aos jovens, com a atitude desses mesmos, há cinquenta anos, não o pode fazer de consciência tranquila, porque ao invés de nós que estávamos sem familiar algum, isolados no Mato, levou a sua esposa e pelo que julgo passou o seu serviço militar em Lourenço Marques. A não ser que como herói que é, resolveu levá-la para demonstrar que ele já naquela altura valia por dois. Não vejo cavaco Silva, no Mato, mais a sua esposa a viver numa cubata. Portanto falar de barriga cheia por toda uma geração merecia ser mais prudente.
Antes dizia-se: ditosa Pátria que tais filhos deste. Quem o escreveu não sabia que ia nascer um Cavaco Silva.
Obrigado pelo excelente texto, amigo Pacheco. Ainda há dias encontrei numa rua de Lisboa um ex-colge seu no EP Paços de Ferreira. Um abraço forte JCF
Este grande guerreiro de Boliqueime não é o mesmo chico-esperto que ainda há poucas semanas, para ganhar uns votitos, tentou inventar uma costela antifascista que nunca teve, queixando-se de que o regime de antes de 25 de Abril lhe fizera a maldade de o enviar para Moçambique “dez dias depois de casar, quando estava ainda em viagem de núpcias”, malfeitoria agravada pelo facto de assim o impedirem de terminar o curso?
Esqueceu-se este grande herói da perigosíssima especialidade de Administração Militar de que na mesma altura acrescentou que essa ida forçada para Moçambique era a prova de que “eu e a minha mulher com certeza que não pensávamos bem do regime”?
Então a mesmíssima criatura que desse modo apresentava a sua própria ida para a guerra colonial como um castigo e um sacrifício não tem um resto de vergonha na tromba que o iniba de bolçar as alarvidades que agora ouvimos?
O tipo tem uma fé assim tão cega na falta de memória do povo português? Acredita ele mesmo que o facto de ter sido reeleito prova que é presidente de uma cambada de estúpidos?