«Depois de mais de uma hora de reunião, André Ventura e o Presidente do Governo regional faziam ambos uma comunicação lado a lado. De Ventura, surgiu logo a referência à “estupefação e desconforto com as notícias que tinham vindo a lume com a nomeação de familiares no Governo regional dos Açores”. Na sua edição semanal, o Expresso deu hoje conta da existência de várias nomeações para cargos públicos com relações familiares, dentro da orgânica governativa, ou ligadas aos partidos da coligação que suportam o executivo regional.
O líder do Chega, que teve em tempos nas ruas de Lisboa um cartaz onde se lia “Chega de familiares no Governo”, sublinhou que é preciso não repetir erros do passado onde “a presença de familiares no Governo manchou a ação política e descredibilizou a ação governativa”. Ventura diz que tomou como “boa a explicação que foi dada pelo senhor presidente e os objetivos de maior controle desta situação”, voltando a falar na criação, nos próximos meses, do gabinete contra a corrupção, uma das bandeiras do partido.
Sobre o aumento do número de cargos e dos custos no novo executivo açoriano - que, em quatro anos, poderá ser quase 8 milhões de euros mais caro que o anterior - André Ventura também se diz tranquilo. “Haverá uma diminuição não só do número de lugares como de despesa do Governo portanto tomámos como boas as garantias que foram dadas, temos todos as condições para uma solução que se mantenha estável do ponto de vista governativo”, assegura o líder do Chega.
José Manuel Bolieiro também se mostra igualmente agradado com o que encontra do outro lado. “Foi um gosto pessoal e institucional receber André Ventura. Os acordos serão cumpridos na íntegra e em franca e em constante articulação porque há identidade naquelas causas, os partidos políticos não perdem a sua autonomia”, assegura o social democrata.»
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No padrão dos crimes mafiosos e dos crimes de violência doméstica há radicais diferenças e perfeitas semelhanças. Como exemplo destas, em ambas as tipologias está em causa cometer a violência secretamente e obrigar as vítimas a uma subjugação de longo prazo. No padrão destes criminosos e no padrão dos políticos populistas da actual direita decadente igualmente encontramos radicais diferenças e perfeitas semelhanças. Os políticos populistas que utilizam uma retórica maniqueísta contra a classe política – portanto, contra a democracia e contra a liberdade – anunciam sem rebuço o seu plano para se comportarem como chefes mafiosos e como agressores domésticos. A linguagem incendiária, insultuosa, revolucionária e delirante que espalham tem um duplo efeito: confunde e imobiliza. Daí o fenómeno Trump. E daí o fenómeno Ventura.
Os criminosos de vocação aprendem, geralmente muito cedo na sua existência, que a enorme maioria da humanidade quer viver em paz e rodeada de boas pessoas. Há nesta enorme maioria uma pulsão para a convivência que nos faz acreditar no que nos dizem. Se não acreditássemos, por automatismo cognitivo, nas mensagens dos outros seria muito difícil criar grupos de humanos para além dos elos genéticos. Aliás, talvez nem a linguagem verbal se tivesse desenvolvido. Falamos porque há vantagens evolutivas em confiarmos uns nos outros, em trocarmos informações, em acumularmos conhecimento e corrigirmos aprendizagens para que melhor consigamos resolver problemas e evitar perigos. É dessa capacidade de sermos comunidade que nasceu e continua a nascer a civilização. Os criminosos sabem disto muito melhor do que nós, os ingénuos.
A vítima de violência doméstica, o mesmo para a vítima de abuso sexual por familiar ou figura de autoridade (professor, médico, religioso, …), é atingida pelo choque psicológico de se saber alvo de um comportamento imprevisto e exteriormente absurdo: aquele indivíduo que era suposto querer-lhe bem, protegê-la, é quem lhe quer mal, quem a ataca. Resulta profunda a desorientação assim causada, levando a um estado de impotência auto-infligida. O criminoso conta com isso, nalguns casos depende desse mecanismo para conservar o seu poder sobre a vítima. A mesmíssima lógica se pôde constatar na ascensão de Trump ao topo do poder político nos EUA. No início da corrida eleitoral para as eleições norte-americanas era apenas tratado como um palhaço, e mesmo durante a sua presidência foi sempre defendido pela direita americana institucional (partido, representantes) e mediática contra todas as evidências, diárias, de se ter deixado entrar na Casa Branca o rei dos mentirosos – um chefe mafioso. Numa outra vertente, a capacidade para confundir jornalistas e cientistas sociais radicava na incredulidade generalizada de que Trump viesse a ser realmente aquilo que ele já mostrava que era. Assim, o dia 6 de Janeiro de 2021 ficará como monumento, para os séculos vindouros, da possibilidade de se deixar o melhor que conseguimos construir juntos, o Estado de direito democrático, nas mãos de um ogre narcísico e sem qualquer escrúpulo. Um reles criminoso, responsável moral e político pelo caos e pelas mortes que abalaram a América e o mundo democrático.
Ventura não é Trump, diz a falange que trabalha para o seu branqueamento. Bolieiro, Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Maria João Avillez, Cavaco, eis algumas das mais distintas figuras da direita “tradicional”, e do regime, que anunciaram querer aproveitar o que Ventura traz para a política portuguesa e está disposto a oferecer-lhes à primeira oportunidade. Como aconteceu nos Açores, literalmente a primeira oportunidade para todos estes jogadores mostrarem as cartas. Por sua vez, Ventura assume ser o João Baptista de Passos Coelho, anunciando para breve o regresso do messias de Massamá e o triunfo do Bem sobre o Mal. Quando diz que a sua missão política está ligada a Fátima e que nunca seria o Presidente de todos os portugueses, Ventura continua a ser apenas o palhaço de quem se espera que largue qualquer aberração para animar a malta. Mas depois, como podemos ler acima, as coisas acontecem. Vão acontecendo. E o plano é o de continuarem a acontecer, de preferência numa escala cada vez maior.
O Chega era contra os “familiares no Governo”, mesmo que esse número fosse irrisório e sem qualquer significado político ou social? Pois facilmente pode deixar de ser, inclusive quando essa familiaridade é à fartazana, basta que haja algo para a troca. Essas coisas resolvem-se numa reunião à porta fechada, omertà. E pronto, está feito. A suposta aversão ao “sistema”, portanto, não passa de um outro tipo de sistema: a frontal violência moral e política que Ventura publicita ser capaz de cometer ao serviço dos chefes.
“Não há maior tirania do que a que é exercida sob o escudo da Lei e em nome da Justiça” (Montesquieu).
Pelos vistos para esta gentalha fascista “familiares no governo” só é mau nos governos socialistas… :)
Pelos vistos para esta gentalha fascista “familiares no governo” só é mau nos governos socialistas… :)
sim, nos governos cavaco era um direito adquirido e prática comum de quem governava porque a tolerância da sociedade era diferente. os socialistas avacalharam o que era um privilégio da casta e agora até o genro do gerónimo aperta lâmpadas nos paços do concelho da mui nobre e invicta cidade de loures, as gémeas mortalha ambas deputadas ou a família do césar que deixou de parecê-lo. enfim, a democracia é uma fonte de promiscuidade e a coisa só lá vai com um duque de bragança ou mesmo um borbón espanhol.
duarte lima – o charmoso – EXPLICA LÁ QUE COGUMELOS ANDAS A FUMAR……
agora xuto minis mendes, mas drunfei cavacos quando a malta curtia a passa do coelho e snifava irrevogabilidades. isso de cagomelos é mais com bifinhos de perú e cenas betas.
«voltando a falar na criação, nos próximos meses, do gabinete contra a corrupção, uma das bandeiras do partido.»
Qual o significado da “criação de um gabinete contra a corrupção” e, na prática diária qual será o âmbito de actuação de um tal ‘Gabinete’?
Estamos perante a origem de um tipo de polícia de costumes, moral e por fim de uma polícia política das ideias e do pensamento?
Estas coisas começam sempre por algo que parece inócuo.
Maior “violência moral e política” do que 47 anos de Regime Abrilista? Com os resultados que deixa para a geração seguinte, e seus filhos, pagarem durante os próximos 50 anos?