SIC reúne os seus dois melhores crânios para lidar com Vara

O crânio da esquerda disse que o “tráfico de influências” é um “tipo de criminalidade actual, contemporânea” – ou seja, que não havia no passado, dita a lógica que o levou à escolha da adjectivação. Será verdade? Será que, e vamos esquecer toda a ordem dos primatas, existe algum mamífero em algum recanto do Planeta que ignore ser o tráfico de influências a mais antiga das práticas sociais, inerente aos laços familiares e à socialização em qualquer tempo e lugar? O que o mano Costa quis fazer foi o branqueamento da violência de Estado exercida sobre Vara através de alegadas “provas indirectas” para um suposto novíssimo tipo de crime que só assim, sem provas, daria para condenar. Mais acrescentou que “Em Portugal, seguramente que há muito tráfico de influências” – ou seja, assumiu conhecer por testemunho directo e/ou indirecto muito criminoso desta laia, dita a lógica que o levou à escolha do advérbio, do verbo e do substantivo. Porém, não consta que ele os tenha denunciado, servem apenas para se exibir na TV como um craque deste tipo de pseudo-jornalismo onde se defende a excepcionalidade de uma condenação só porque o alvo é tomado como inimigo político.

O crânio da direita disse que “poderia haver um outro julgamento, que envolveria José Sócrates” se certas escutas de Vara a falar com o Diabo não tivessem sido apagadas. Ao seu lado, o director-geral de informação do Grupo Impresa consentiu calando e agitando a cachimónia. Isto é, validou institucionalmente o que ouviu e ouvimos. Afinal, tratava-se de uma declaração saída da mesma boca que semanas antes tinha usado a mesma SIC para defender a “pena máxima” para o tal bandido que já tinha levado com a pena máxima para o crime em causa, o que nos faz soltar a imaginação a respeito do castigo em que a senhora estava a pensar. Pista: talvez 25 anos de choça não chegassem para o seu palato. O mano Costa foi sábio em anuir e despachar. Só quando inventarem computadores quânticos plenamente operacionais vamos conseguir contabilizar quantas vezes os decadentes já nos despejaram em cima a mesma denúncia nos últimos 10 anos. Até lá chegarmos, podemos ficar entretidos a descobrir o que nos estão a dizer estas inteligências. É uma de duas coisas, terceira opção excluída. Ou que existem provas nessas tais escutas referidas que eram válidas para condenar Sócrates em tribunal, no mínimo fazer uma acusação minimamente séria; ou que não existem provas válidas nas escutas apagadas, mas que mesmo assim daria para fazer uma acusação fajuta cujo objectivo seria o de meter Sócrates em tribunal, o desfecho sendo indiferente porque já se teria ferido de morte o animal. Para a primeira hipótese ser aceite como verosímil, os cérebros desses infelizes têm de consumir toneladas de açúcar pois as tais escutas apagadas nunca foram realmente destruídas e existem por aí à disposição até ao final dos tempos. Isso significa que os magistrados de Aveiro, procuradores e juiz de instrução, conhecem por inerência o seu conteúdo. Se eles o conhecem, os jornalistas a quem passaram as informações que invadiram caudalosamente a indústria da calúnia a respeito do “Face Oculta” idem e aspas. Se esta maralha leu essas transcrições, assim os políticos do PSD e do CDS, pelo menos. Pergunta: com tanta, tão zeloza e tão valente gente a tomar conhecimento desses indícios inequívocos de um “atentado contra o Estado de direito”, por que razão nunca se lançaram no espaço público essas “provas”? Foi a pergunta que Noronha do Nascimento fez nas várias ocasiões em que os jornalistas lhe rosnaram e morderam nas canelas com essa calúnia. Pinto Monteiro repetiu a evidência de outra forma, criticando Sócrates por não ter permitido a sua divulgação dado nada lá estar de incriminatório (embora estivesse de privado, e daí a exploração tentada e alcançada). Podemos ainda chegar a outra inferência. Se em Aveiro os seríssimos e impolutos magistrados descobriram que um primeiro-ministro em funções cometeu um crime, e que esse crime foi apagado pelo Procurador-Geral da República e pelo Presidente do Supremo, por que razão essa inaudita e colossal sequência criminosa que atingiu os pilares do regime não recebeu do Conselho Superior do Ministério Público, do Conselho da Magistratura, do Presidente da República e da Assembleia da República a devida resposta, ou sequer uma qualquer resposta? Porque são todos corruptos e todos às ordens de Sócrates; é isso, Manela? Quanto à segunda hipótese, dois neurónios dão para o gasto. Poder espiar um primeiro-ministro socialista que parece invencível nas urnas é o sonho mais húmido do direitola decadente, e isso foi alcançado simulando uma captação fortuita entre o alvo e uma pessoa da sua intimidade, Vara. Simples de pensar e de montar, desde que não haja escrúpulos e se usufrua de uma blindagem garantida pelo próprio regime. A ilegalidade que permitiu captar conversas de merda entre dois amigos e parceiros políticos ofereceu trunfos potencialmente devastadores contra Sócrates e contra o PS mesmo em cima das eleições legislativas e autárquicas de 2009. 10 anos depois, os mesmos continuam a usar essa golpada como arma de arremesso ao mais alto nível informativo, não havendo ninguém no PS, ou fora dele, que desmonte o obsceno sofisma. Sequer perdem tempo a explicar como é que Mário Lino nem arguido foi no “Face Oculta”, e isto apesar de se garantir ter sido Ana Paula Vitorino quem permitiu apanhar Vara – a tal testemunha cujo depoimento “decisivo” consistiu na reprodução de uma conversa que teve com… [introduzir aqui sons de tambores a rufar]… Mário Lino, o ministro de quem era secretária de Estado. Faz isto algum sentido jurídico? Sim, mas só quando o objectivo é fazer uma vingança e obter um troféu.

Ver Ricardo Costa ao lado de Manuela Moura Guedes, ambos a debitar o seu sectarismo cínico e empáfia odiosa contra Vara (ou seja, contra Sócrates), é uma daquelas cenas em que o Universo nos parece o tal relógio divinamente afinado. Nasceram para ficar assim juntinhos, fazem o mais tétrico dos casais. Dois crânios que definem o que é a imprensa ao gosto do militante nº 1 do PSD.

5 thoughts on “SIC reúne os seus dois melhores crânios para lidar com Vara”

  1. Estava a ver a SICN quando anunciaram que estes dois vinham já a seguir para comentar a prisão de Vara, mudei de canal imediatamente. Nem sequer vale a pena ouvir o que estes dois canalhas têm a dizer de tão farto que estou de saber o que eles pensam e o que querem com as suas intervenções no espaço mediático. Já nem sequer há a mínima preocupação em tentar disfarçar a propaganda nefasta e o apelo aos sentimentos mais torpes. Nem uma ténue tentativa de algum contraditório, alguma moderação, é verdadeiramente obsceno isto. Revela bem a impunidade com que se sentem, o quanto gozam com toda a gente. Aliás eu acho que isto já só serve mesmo para isso, uma espécie de “surplus” enjoyment”, decadente, depravado, pornográfico. É nojento ver estas duas criaturas a grunhir alarvidades na TV. Só cobertos de esterco é que estão felizes.

  2. Concordo em pleno com o comentário de DS, é isso mesmo, cheiram mal!
    O caminho seguido pela Impresa levará ao afundamento dos seus baluartes
    de comunicação televisão e jornal … perderam por completo a pouca credibi-
    lidade que lhes restava pelo seu descarado pendor direitista!!!

  3. Haja quem tenha coragem para denunciar esta máfia de fake news e descaradíssimas perseguições ad hominem sem qualquer valor jornalistico e com ostensivo cunho ideologico. Esta escumalha falida e gerida por incompetentes na era do youtube já nada tem a perder, pelo que só lhes resta fazer propaganda politica e servir grupos de interessas. Bem hajas, Trump.

  4. Que nojo de media! Eu felizmente não ouvi nenhuma desta bocarras podres desta vez. Como há muito tempo que não tenho paciência para o porta-chaves do post anterior numa televisão ainda pior. Quando ainda há dias o juiz dos Vistos Gold achou perfeitamente normal o tráfico de influências de outro Ministro para benefício de um amigo. Mais que discutir culpados ou inocentes há muito tempo que urge denunciar os dois pesos e duas medidas da Justiça Portuguesa actual. Claro que Vara tinha que ser o primeiro condenado com prisão efectiva por tráfico de influência. Depois do frete dos julgamentos na praça pública lhe chamarem corrupto não sei quantas vezes nos jornais.

    Mas ainda ontem vi e ouvi por exemplo o porquinho do Leitão Amaro voltar a dissertar sobre a teia de corrupção urdida por José Sócrates que levou o país à bancarrota. Como se já tivesse em poder de alguma sentença transitada em julgado. Alguém vai fazer alguma coisa? Já sobre os custos do BPN – já transitados em julgado – nem uma palavrinha. Já sobre a verdadeira golpada do regime, urdida entre os principais homens do seu partido à altura, assim como da própria múmia nem uma palavrinha para amostra. Urdida entre os principais homens de alguém que chefiou o PSD mais de uma década, que entre Ministro e PM chefiou Ministérios e o próprio país mais de uma década, passando a década seguinte em Belém como PR – o mais alto Magistrado da Nação. E que infelizmente para todos nós, também nunca percebeu nada. A não ser na altura de se desfazer das acções claro. Urdido no verdadeiro seio do regime à altura. Ou já que gosta tanto de teias do Despacho do Ministério Público que aponta para teia de corrupção entre autarcas e autarquias do PSD. Ainda por investigar claro.

    Isto tudo para dizer que no Portugal pós crise financeira, os verdadeiros pilares do Estado de Direito são detonados todos os dias nos media. E ninguém faz nada?! Será que só nós é que amamos verdadeiramente a Democracia? E porque razão só no Portugal pós crise financeira? Porque nunca ninguém teve paciência para ouvir falar de corrupção depois de ver o seu salário aumentado. Não por acaso a corrupção foi sempre um dos temas preferidos dos populismos pós crises. É a história que o diz! Porque razão então foi preciso chegar Rui Rio para de alguma maneira incomodar os trastes do MP? Já agora, justiça também seja feita a Jorge Lacão e até a pessoas como a ex -bastonária dos advogados no auge do processo Marquês. Será que António Costa seria hoje PM se como qualquer um de nós denunciasse o mais que óbvio vilipêndio que foi a detenção de José Sócrates em directo na televisão? E a própria prisão preventiva que se seguiu. Algum destes actos serviu alguma coisa a investigação além da óbvia humilhação para o “suspeito” à altura? Mais uma vez sem sequer entrar nos meandros de um processo que a maior parte nem sequer conhece de todo. Independentemente de para a minha pessoa não foi preciso sequer esperar pelo súbito e estranho desaparecimento do histórico da tramitação do processo para concluir que o maior crime de José Sócrates foi ter voltado ao comentário político. Mas concedo perfeitamente outras opiniões. Já sobre os dois pesos e duas medidas aliados à completa politização do MP não concedo outras opiniões. Daí que volte à pergunta se Costa seria hoje PM? Se tem mostrado a coragem que Mário Soares ainda mostrou nos últimos dias de vida? Sim, porque como as coisas estão hoje, para um político no activo enfrentar as bestas é mesmo preciso muita coragem. Muita coragem e um verdadeiro golpe de asa que nunca esteve ao alcance de todos os políticos. Até porque para muitos Costa estaria sempre a defender um irmão de partido ou pior, de corrupção. Não era fácil.

    Portugal precisa de um movimento cívico a sério, porque se cada um de nós, como cidadão de pleno, pode sempre tentar denunciar muita coisa, inclusive junto das autoridades, inclusive o porco do Leitão Amaro, de nada serviria. Portugal precisa de um movimento cívico a sério, talvez encabeçado pela própria Ordem dos Advogados, que também é quem mais sabe do milieu e quem mais sofre, para repor um verdadeiro Estado de Direito. Onde todos voltemos a gozar de algumas garantias e alguns direitos que até há bem pouco tempo ninguém se atreveria a questionar. Como julgo que ainda ontem alguém lembrava aqui no aspirina. E não estou a exagerar nada. Porque chamar Estado de Direito ao ambiente que se vive hoje em Portugal em que até podemos assistir à PGR a chantagear o Parlamento na boa só mesmo por brincadeira. Com consequências muito graves e que ninguém duvide se farão sentir nas urnas. Ou só eu é que conheço pessoas com o cérebro completamente lavado por tanta merda que os media não param de emitir? E atenção que falo de amigos, até família, que sempre tive por pessoas inteligentes. Alguns, concedo, talvez pouco politizados mas inteligentes.

    Por isto tudo quando o Valupi escreve: – “não havendo ninguém no PS, ou fora dele, que desmonte o obsceno sofisma” – já ontem era tarde para denunciar. Porque este é que é o verdadeiro busílis da questão à volta da Justiça hoje em Portugal. Muito mais que perder tempo a publicitar este ou aquele bronco. Até porque e que se saiba Portugal ainda não é uma Republica de Magistrados do MP.

  5. Valupi , é tempo de, seguindo um dos teus conselhos preferidos, também tu largares o vinho, neste caso a mania que tens de assistires e analisares as opiniões da moura e do mano.
    Queres convertê-los à decência ou ainda tens esperança que o menos velhaco, o mano do primeiro, tenha uma recaída justa?

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