Shame on you, Bloco Central

Marcelo Rebelo de Sousa esteve hora e meia no Bloco Central e nenhum dos três bravos companheiros de palestra aproveitou para lhe pedir a sua professoral opinião a respeito da “Inventona de Belém”. Tendo em conta a inaudita gravidade do caso, o seu picaresco e a superioridade analítica do convidado, perdeu-se uma oportunidade de ouro para finalmente recebermos de alguém com autoridade jurídica, política e moral um esclarecimento definitivo a respeito.

Compreendendo eventuais melindres nessa matéria que justifiquem a timidez interrogativa, já acho inaceitável que os estimados feitores do Bloco Central não tivessem repescado esta passagem da mais recente lavagem cerebral:

Ah, e a Espanha quer mudar as metas do défice… Mas a Espanha não está com um programa com a troika. Ainda está na fase anterior, está na fase que nós estávamos com o Sócrates, que era discutir se realmente o défice pode ser um bocadinho maior ou menor.

Marcelo estava aqui a justificar o discurso do Governo de recusa de qualquer alteração ao acordo com a troika enquanto outros países europeus já iniciaram negociações para atenuarem as medidas de austeridade, dessa forma facilitando a obtenção de crescimento ou diminuindo o risco de recessão. E saiu-se com esta verdade: a Espanha poderá adoptar políticas mais inteligentes porque não se enfiou no beco sem saída do resgate. Ora, se na TVI não houve ninguém para continuar o raciocínio, esperava eu na minha santa ingenuidade que o melhor espaço de debate político no País não deixasse fugir os corolários. E que são estes: se o acordo com a troika impede Portugal de estar agora a fazer o mesmo que Espanha e Irlanda, então estávamos melhor sem esse acordo; e se teria sido preferível não ter recorrido à “ajuda externa”, então aqueles que a pediram insistentemente, mais aqueles que a provocaram ao boicotarem uma alternativa, são os responsáveis por estarmos fatalmente incapacitados de defender os nossos interesses.

A pergunta a fazer seria, pois, a seguinte: quantos valores dá o professor àqueles que impediram Sócrates de continuar a lutar por melhores condições para os portugueses tal como agora Rajoy está a lutar por melhores condições para os espanhóis?

8 thoughts on “Shame on you, Bloco Central”

  1. Val ja leste o que o coelho disse, que a culpa de irem alem da troika é do sócrates??

    Foda-se é preciso não ter vergonha na cara…

  2. Pois, JPFERRA, e esse Passos Coellho é o mesmo que afirmou solenemente que nunca se iria “desculpar com o passado”. Entretanto, Seguro vai falando na mesma linha da promessa quebrada de Passos Coelho, repetindo quase todos os dias que só “olha para a frente”, que o passado é passado, para não assumir o odioso legado de seis anos de governação socialista, que ele sempre combateu.
    E os socialistas, salvo raras excepções, como Silva Pereira, Basilio Horta ou Santos Silva, dão cobertura ao discurso dos dois homens ex-jotas. Nâo admira que na hora desses encontros palradores do bloco central ninguém assuma o legado dos governos socialistas de Sócrates e o raciocinio emperre face às maiores barbaridades que lhes são lançadas à cara, como esta de culpar Sócrates por se estar a ir “além da Troika”.
    O acabrunha mesmo nem são as atoardas de Passos ou as cavaquices do Presidente. O que amachuca é ver as alarvidades ecoarem estrondosamente em toda a comunicaçâo social, sem contraditório com visibilidade, ampliadas por enxames de comentadores fidelissimos e o assentimento tácito do PS BE e PCP que sempre estiveram unidos no combate aos governos de Sócrates. Não foi por acaso que Seguro ganhou o PS.
    Claro que esta atitude de Passos só revela desespero, quando ele e os “seus” já perceberam que meteram o país num buraco profundissimo.
    E andou muito bem o Valupi em recordar o papel nefasto do Presidente Cavaco. Porque o Presidente teve um papel miserável no derrube dos governos socialistas e agora que se torna evidente o resultado do seu rancor, quer tirar o corpo da chuva e temos o espectaculo degradante de um verdadeiro ou simulado arrufo dos comparsas que clamaram pela vinda do resgate. Espero que a Judite de Sousa volte a gabar-se da parte que lhe coube para forçar a vinda da Troika, usando a “sua” TVI em Março de 2011 como a Moura Guedes o fez em 2009 e 2010 para difamar Sócrates.
    E tudo isto se passa em democracia, com a mais completa complacencia dos democratas republicanos e outros democratas.

  3. E o prof Marcelo diria mas o que é lutar pelo interesse dos Portugueses??? É aumentar a divida publica para o dobro do que tínhamos 6 anos antes?? É aumentar o défice para 10% e não conseguir baixar desse valor apesar de se diminuírem salários, aumentarem imposto, diminuírem apoios sociais, fecharem centros hospitalares, fecharem escolas…………… É conseguir bater recordes de desemprego, é levar a que mais de 600mil famílias não consigam pagar os seus créditos. Se for isso, decerto que a nota para o salvador da pátria deve ser muito baixinha.
    Já agora quem mandou o Sócrates para Paris foram os eleitores que não votaram nele e que acharam que o esforço tão meritório efectuado pelo sr eng era tão grande que era altura de ele descansar, depois de 6 anos de tanto sucesso, e assim ficar na história de Portugal como tendo lutado pelas “melhores condições para os portugueses”. Mas, claro que se ele tivesse continuado decerto que hoje seria um estarola ao aplicar as medidas da troika… claro que não…. estou a brincar…. hoje faria uma austeridade inteligente (como fez quando era governante) e estaríamos todos bem.. com crescimento económico, com desemprego a baixar e com ordenados ao nível da Alemanha… isto no mínimo.

  4. oh zé! isto é qué governo à séria, nem os alemanhosos.

    o ritmo de nomeações em 2012, média de 3,7 pessoas por dia desde a tomada de posse, baixou em fevereiro para 3,5, mas governo promete retomar o ritmo para que o desemprego não suba mais.

  5. zezito o teu discurso já cheira a desespero, pois já falta pouco para não teres nada a dizer a favor deste desgoverno. E digo-te já quem me dera estar enganado.

  6. É o crime perfeito?

    Sim, talvez… Mas só até ao dia em que esta merda estoirar e se abrirem os armários cheios de esqueletos. Nesse dia, salve-se quem puder, pois ninguém daqui vai saír impune: nem o Cavaco (o mandante), nem o Passos e o Portas (os executantes), nem o Louçã, o Jerónimo e o Seguro (cúmplices principais, entre muitos outros, como a “comenicassão sussial”, a “justissa”, os sindicatos e certas corporações).

    Mas o “peixe graúdo” é o que vai levar mais no toutiço, não se esqueçam. Por isso, ponham-se a pau, tratantes, que o boi pode ser cego, mas quando marra…

    E entretanto os zés vão gritando olés, no seu papel de burros e com as suas pobres cangalhas cheias de espertos e gulosos…

  7. Sou eleitor de direita mas ninguém me tira da cabeça que o detonador do buraco em que caímos foi a o chumbo do PEC IV, em 23/3/11, momento de farsa e mentira. Essa data será recordada e destacada em muitos gráficos de evolução dos nossos indicadores financeiros e económicos e marcará o ponto em que linhas parelelas com as de outros países do Sul passaram a divergir.

  8. Muito bem, Nuno Gaspar!

    Ser justo para com o desempenho (desigual) dos dois Governos de José Sócrates e para com o tortuoso e vil processo político-mediático que descambou no bem designado “momento de farsa e mentira” do 23 de Março de 2011 – que é já, sem dúvida, a data mais marcante da nossa História política neste Século – NÃO é sequer uma questão distintiva entre Direita e Esquerda: é primeiro uma questão de honestidade e, depois, apenas uma questão de inteligência e de lucidez.

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