Sérgio Sousa Pinto, um príncipe da Cagadócia

Nesta edição de A Lei da Bolha, Sérgio Sousa Pinto estava a pontapear a Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital (começa ao minuto 22:30) quando lhe perguntaram o seguinte:

FCSTu és deputado do PS. Foi o PS o principal proponente desta lei. Foi com os votos a favor do PS, essencialmente, que esta lei foi aprovada. E estava lá também o teu voto. Por que é que votaste a favor de uma coisa sobre a qual tens estas críticas?

SSPPorque não conhecia. Não vi. Não conhecia.

O homem admite ter votado à maluca. Chega a lançar a suspeita, como reles sonso, de ter sido enganado. Resultado: deixa a farfalhuda suspeita de não estarmos perante uma anomalia bizarra na sua conduta, antes perante um paradigma. O que será, a acontecer, algo perfeitamente de acordo com a postura dandy que cultiva, exalando desprezo pela política e pelos políticos de cada vez que abre a boca. Como é que este nefelibata vai encontrar tempo e pachorra para se informar sobre as votações em que participa, quando participa, se é tão mais interessante fingir que é fã de Hölderlin? Santa ingenuidade.

E depois falou a Isabel Moreira. Por sorte, estava lá a Isabel. Para grande sorte dos que preferem a inteligência e a coragem à verborreia demagógica e sensacionalista. Porque ela de imediato, com implacável rigor, coloca no seu lugar de voluntária e militante estupidez deturpadora tanto os jornalistas, como os comentadores e, especialmente, o próprio Sérgio que vota de costas, olhos fechados e mãos a tapar os ouvidos. Tudo o que ela diz é não só útil para se entender o que está em causa na tal carta como altamente valioso para se contemplar a quantidade de trabalho parlamentar e a qualidade democrática que está na origem da lei. É do fundamental labor de legislar que fala, esse trabalho que sustém e molda a nossa comunidade de acordo com os princípios constitucionais e para dar as melhores soluções aos nossos problemas quotidianos. Um trabalho da mais preciosa responsabilidade e complexidade, o qual depois acaba invariavelmente achincalhado nestes espaços de “opinião” transversais a toda a paisagem mediática. Espaços de sistemática perversão da própria soberania só para alimentar a política-espectáculo e o cortejo de bonzos que nela enche os bolsos e a vaidade.

Repare-se ainda na forma como o Sérgio tenta arrastar a Isabel para um bate-boca de taberna e como ela o ignora olimpicamente (o mesmo tendo feito a igual pulsão do jornalista logo desde o começo do programa). Não admira que esta infeliz e ridícula figura prefira conviver com André Ventura, só porque lhe ofereceram palco para se ouvir a si próprio e receber aplausos de serôdios e neo-fachos, e se recuse a criticar a normalização do Chega pelo PSD. Ele esperava vir a ser um dos reis do PS quando liderava a JS, nos finais de 90. 20 anos depois, arrastando-se enfastiado e cínico pelos corredores do regime, já só quer usufruir das prebendas e sinecuras próprias de um genuíno príncipe da Cagadócia.

11 thoughts on “Sérgio Sousa Pinto, um príncipe da Cagadócia”

  1. Dizer que não conhecia a lei quando a aprovou com o seu voto é a confissão da mais completa indigência política desse deputado. Mas eu não acredito que Sousa Pinto a desconhecesse. Ele constatou simplesmente que a direita não votava contra a lei e foi por isso que decidiu aprová-la.

  2. Já vi o resto do debate e a Isabel tem toda a razão, ainda que por vezes se desconcentre na argumentação. O Sousa Pinto revela-se uma vez mais o canalhita que é, não vale a pena perder tempo com ele. O Santos Costa também faz de parvo, mas deve ser a fingir. Quando compara a ERC a um “Ministério da Verdade”, está claramente a fingir de imbecil, que penso ele não será.

    Mas os argumentos genuinamente imbecis do Sousa Pinto são correntes nos media portugueses, vindos daquelas sumidades-nulidades que ele mesmo cita. Eu gostava muito de ouvir esses gurus da defesa da liberdade comentar sobre o fact-checking que fazem o Twitter, o Facebook, o Instagram, o YouTube, etc., e sobre as penalizações ou “censuras” com que essas redes sociais calam, suspendem ou expulsam os que espalham notícias falsas ou discurso de ódio. Isso é “censura” ou não? Estão de acordo com essa prática ou não? As grandes empresas em questão nem sequer têm “selos de qualidade” emitidos pelo Estado, como aqui é o caso da ERC (que não é um organismo estatal). Há muito quem ache que o Facebook ou o Twitter ainda são demasiado permissivos e deveriam ser mais responsabilizados e penalizados pelas campanhas de difamação e ataques soezes que veiculam.

    Eu julgo que as acima referidas sumidades-nulidades têm um critério único: se for o Estado a regulamentar a esfera digital, é censura, se forem empresas privadas, estão no seu direito e, consequentemente, a defender a liberdade. É tão estúpido quanto isso. Os media privados portugueses há muito que tentam sistematicamente implantar na opinião pública uma condenação ou desconfiança de tudo o que seja do Estado ou tenha o seu aval, muito especialmente quando o governo é de esquerda. O argumento da “censura” é muito usado por essa gente, por causa das conotações do termo com a censura estatal que tivemos durante 48 anos. Como se os media portugueses não exercessem eles próprios diariamente várias formas de censura, das mais básicas até às mais subtis.

  3. os arautos da liberdade de expressão impõem censura aos leitores. já faltou mais para a sic autuar os leitores que não concordam com as patranhas que nos impingem.
    se forem ao twitter do polígrafo vai para lá uma gritaria a pedir para poligrafarem as aldrabices do gomes ferreira sobre marte & arredores. resposta dos poligrafistas: não fazem fact cheking de jornalistas nem de jornais só da malta que não pertence ao clube.

    https://twitter.com/JornalPoligrafo/status/1404521522602127367

  4. A verdade, a centelha divina segundo Rilke, tem um tal efeito, um brilho tal, uma evidência inocultavel de tamanho calibre, que, quanto mais é negada, mais se mostra ! O desespero dos mentirosos é a necessidade que eles têem de sempre ter de a misturar com a mentira, para esta ser plausível! E a liga que compõem tem sempre linhas de ruptura que ,fatalmente, se escancaram !
    Vejam este palermão do Sousa Pinto ; o arquétipo do videirinho enfunado, não se acredita nele nem que esteja a dizer as horas!
    É para o PS não se rir do Marques Mendes “nem para porteiro”/!
    E levanta-se um padeiro de madrugada, para dar ce comer a ” gênios ‘ como esses dois…

  5. A cena do Hölderlin foi magnífica.
    Sérgio não dispensa ao pequeno almoço, com os corn flakes.

  6. “se for o Estado a regulamentar a esfera digital, é censura, se forem empresas privadas, estão no seu direito e, consequentemente, a defender a liberdade. ”

    Concerteza, Júlio. Se o Twitter banir o Aspirina B podemos continuar a vê-lo noutra plataforma ou site. Se os seus inimigos circunstancialmente ocuparem as instituições do Estado e o banirem, morreu de vez. Estou admirado com a tua ingenuidade.

  7. nada admirado com a suposta ingenuidade de quem pretende um estado desregulado para poder eliminar quem não convêm em nome da liberdade individual. és um génio, ò galuxo!

  8. Ò lei da bala:
    Tão constrangido te sentes pelos esbirros da IV Internacional que nem ousas falar das doçuras do CM, das meiguices do Orelhas dos Santos nem pelas ternuras do Milhazes ?
    Que bom seria se te dessem todo o prazer do Mundo e não te pagassem !

  9. este post é sobre quê ? disciplina de voto ?
    não me digas que não sabias que os deputados, trabalhadores partidários, votam segundo as ordens daqueles que lhes deram o prémio de consolação deputice pelos serviços prestados ao partido , de modo a terem pensão de reforma … evidente que só precisam de saber premir o botão ou levantar o braço , o resto , ler o que votam , é completamente desnecessário… tens vivido onde?

  10. ò clementina! decifra lá isso, só comentei uma neoconice banoneira do afilhado do teu kamarada gaspacho ou será que passaste do nível de maria-vai-com-as-outras para o nível de maria-fode-com-todos?

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