Seguro, um caso de psiquiatria

A fuga para a frente que Seguro encetou perante o desafio levantado por Costa foi vista, justamente, como a manifestação de um interesse particular que colidia com os interesses do PS e do País. Contudo, ninguém poderia antecipar o benefício que ela está a trazer. Um benefício que não surpreenderá alguns, mas que pode ser útil a muitos. Trata-se da auto-exposição do caso de psiquiatria em que Seguro se tornou.

Ferreira Fernandes, eufemisticamente, vai hoje por aí nas pontas dos pés – Afetos tirados a ferrinhos – mas não poderá reclamar originalidade. Quando Francisco Assis, no contexto da disputa com Seguro para secretário-geral em 2011, apontou para o “imenso magma de afectividade” que o seu adversário se preparava para despejar na política nacional, estava a dizer tal qual: que Seguro intentava substituir o discurso político por um registo que se encontra nos líderes religiosos, e tão mais presente quão mais frágil for a influência da doutrina. Uma espécie de Síndrome de Jerusalém a descer ex machina no Largo do Rato.

Para medirmos a gravidade da presente situação, basta olhar para o mesmo Francisco Assis, disposto a trocar a sua credibilidade e reputação por um poiso no Parlamento Europeu. O mesmo para Alberto Martins, subitamente tomado pelo odor a santidade que Seguro espalha pelos ares de cada vez que abraça e beija um espécimen da turba-multa. Daí não fazerem apelos à racionalidade no seu argumentário mas ao moralismo. Isto porque racionalmente a posição de Seguro é indefensável. Mas não só a posição, também a conduta e a postura. Nada se salva em Seguro, nada de nadinha de nada. Pelo que resta o apelo à emoção, a farsa da vitimização farsola.

Imaginando que Seguro vence as primárias, quem dos actuais militantes, sejam celebridades ou desconhecidos, vai querer pertencer a um partido cujas bandeiras são o ataque aos corruptos socialistas que governaram de 2005 a 2011 e o ataque a Lisboa? Que é isto? Que demência é esta? Mesmo no mero plano de uma retórica eleitoral que depois dará origem a abraços de reconciliação e lugares negociados para listas disto e daquilo, o PS irá sobreviver a uma estratégia kamikaze?

A recente declaração de Seguro a propósito do pedido de maioria por António Costa ultrapassa aquele limite a partir do qual passamos a cúmplices quando não a denunciamos. Disse isto:

O líder socialista reagia a declarações de António Costa no encerramento da convenção "Mobilizar Portugal", no sábado, em Aveiro, onde garantiu que "o PS pretende governar com uma maioria absoluta, porque é necessário estabilidade para criar um Governo forte, que permita fazer a mudança que é necessário fazer".

"É curioso, porque, em abril do ano passado, no encerramento do congresso do PS, eu tive a oportunidade de dizer que essa é a ambição do PS", afirmou António José Seguro, durante uma visita à Feira Regional de Oliveira do Hospital (ExpOH).

Por isso, deixou uma sugestão a António Costa: "Que não repita mais aquilo que eu tenho andado a dizer, nem aquilo que são as posições do PS e que diga qualquer coisa de diferente e de novo".

Seguro pede a Costa que deixe de o imitar

Quem se oferece assim em sacrifício público, seja porque se imagina a palrar no meio de alimárias, seja porque já não toca com os pés na terra, perdeu a noção. Se ver Costa a pedir uma maioria absoluta lhe permite invocar a sua pessoa, um dia destes Seguro acusará Costa de o estar a imitar por este se dizer socialista, coisa que ele já terá anunciado um ano antes. Costa que diga algo diferente e de novo; por exemplo, que já não é socialista, que passou a ser antivivisseccionista. E vai terminar com Seguro a declarar que se sente perseguido e copiado por Costa falar em português. Ocasião que Eurico Brilhante Dias irá aproveitar para lançar no Facebook a pergunta fatal: “E se Ricardo Salgado contar tudo o que sabe acerca da relação de Costa com a língua portuguesa?”

21 thoughts on “Seguro, um caso de psiquiatria”

  1. De fato há coisas que não surpreendem, mas outras que não entendo e quase me sinto enganado: a posição de Alberto Martins, por exemplo. Que se passa ? E depois faz aquele discurso na AR a assumir a história do PS , aquela que é renegada pelo Tocador de Ferrinhos… Francamente, não entendo. Para mim as coisas são claras: consigo perceber o discurso de A Costa; mas a vacuidade das declarações do Tocador de Ferrinhos não as consigo perceber; nem sequer é o caso de discordar ou não; pura e simplesmente não identifico uma ideia e as promessas sobre o quer vai fazer roçam o ridículo- E, reafirmo que não é certo que se demita se perder. Há gente convencida que sim, mas eu não acredito. Ele, Tocador de Ferrinhos, não o afirmou! Creio que mandou dizer. Logo, há manha na decisão… basta ver a forma como se blindou no lugar…

  2. Ganhe quem ganhar, sou de opinião da Constança Cunha e Sá: a atitude de Seguro ao exigir eleições primárias em vez de enfrentar o Congresso antecipado vai fazer implodir o PS e que tal facto terá consequências gravissimas para o PS e para o país. Há um ano atrás, Mario Soares conseguiu impor-se e evitou a cisão no PS. Neste momento, com Seguro “fora da gaiola” , o que fizer ou disser Soares já não interessa. E Seguro sabe que tem a direita toda com ele. Seguro não tem estatura nem para perder nem para ganhar. O PS lixou-se ao eleger este passarão. Paciência. É a vida. E a vida continua, mesmo sem PS.

  3. enapa, escreve tu um texto daqueles mesmo bons sobre um assunto magnífico, como só tu sabes fazer, que eu publico.

    Força nisso, campeão.

  4. Seguro tem vindo a baixar de nível dia após dia. É surpreendente e chega a ser embaraçoso de ver. Para mim o momento “ferrinhos” é bastante triste e ainda que eu estivesse tentada a dar uma imensa gargalhada não o fiz por uma questão de decência. Mas não é possível aguentar tanto ridículo, será que ele não se dá conta de que desta vez atingiu em pleno o seu momento “eu é que sou o pdrrresidente da junta”?
    O PS não merecia isto, nem pela sua história nem pela sua memória.

  5. Por favor não dêem mais corda ao Tozé Inseguro
    senão, ainda acaba por se enlear e enforcar na dita!
    Nunca a política andou tão por baixo, seja pelo de-
    sintresse dos eleitores, seja pela falta de civismo
    generalizada, seja pelas élites de pés de barro que,
    se limitam a usufruir do bom esquecendo os verda-
    deiros interesses de todos, o chamado bem comum!
    O actual regime passados 40 anos já mostrou ter
    falhado redondamente no resgate do País, pelo con-
    trário só agravou a situação, a partidocracia teceu
    uma teia (Leis) em que a culpa morre sempre solteira,
    veja-se a estória das contrapartidas dos milhares de
    milhões gastos em equipamentos militares … não há
    saídas limpas! Está por se apurar o “buraco” do GES e,
    todos assobiam para o lado … lá vai ser o mexilhão a
    entrar mais uma vez! Será isto uma DEMOCRACIA ???

  6. Não há mesmo dúvida que o ferrinhos só podia ter sido parido e medrado no PS: é tal e qual a vossa viscosa identidade e coerência. É o prémio merecido por tantos anos de flatulência e diarreia ideológico – política.

    É TODO VOSSO É NÃO SE QUEIXEM !

    E o Costa ? Um BLUFFFFFFF completo

  7. val,
    além de chamares campeões, bêbedos e estúpidos aos interlocutores menos concordantes, consegues arranjar contra-argumentos menos campeões, bêbedos e estúpidos?

  8. Melhor do que fazer-te reconhecer as tuas limitações no diálogo com os pacientes? Não consigo. É uma limtação vitoriosa. Mas também é tua. Vê lá se deixas o ego defensivo de parte, vais ver que a troca de impressões fica muito mais interessante.

  9. edie, estás então a dizer que vens para estas caixas de comentários ajudar-me a ter trocas de impressões mais interessantes? É isso que te motiva, e te faz perder o teu rico tempo? Conta-me mais sobre o teu problema, porque parece fascinante.

  10. receita retórica muito gasta, Val. precisas de inovar,até para aprenderes alguma coisa, estás demasiado previsível na resposta K7: dar-te resposta é perder o nosso rico tempo, que tu gostas de aproveitar para “negativar” todos os contributos. fazer-te não rebater, assumir isso, hoje na caixa, foi tempo ganho, porque me chateia a táctica. olha o ego, pá, vê lá se não está te (nos) está a empatar.
    Isto foi um intervalo, não uma motivação. see you soon – or not.

  11. edie, começo a perceber. Tu vens para aqui porque te encontras confusa, não sabes o que fazer perante a imensidão do mundo, já para não falar na do universo. E depois isso de teres tempo livre pela frente sem um guia que te diga como o utilizar dá nisto, começas a querer cuidar de mim. Pelo que vens para aqui, achas que tens coisas para dizer.

    Eis o meu conselho: experimenta sair de casa. Mas mesmo que tal te pareça arriscado, tenta ir até à varanda ou abre simplesmente uma janela. No mínimo dos mínimos, garanto-te, vais sentir que estás a respirar melhor.

  12. Este blog qualquer dia morre, e é pena porque se aprende tanta coisa por estes lados!

    Ando por aqui há um ano e só agora vi que edie é no feminino.

  13. este blog pode até acabar, tudo tem um fim, certo?

    ERRADO, por exemplo a estupidez de tipos como o Luís Rodrigues, tanto não acaba, como pode até aumentar…

  14. Caça ao Seguro: Episódio 54; Temporada 3 – Transmitido em directo no Aspirina B – Apresentador – Valupi Cãozinho de Serviço – nuno cm

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