A imagem dos deputados sentados no hemiciclo a ouvir alguém a falar, outro deputado ou governante, como se nada mais tivessem de fazer durante o dia para sacar o seu ao fim do mês e viverem à grande e à de-putedo, corresponde a uma das caricaturas favoritas tanto dos broncos como dos pulhas. Estes dois grupos convivem em simbiose, os pulhas exploram os broncos e os broncos aplaudem os pulhas. Mas há diferenças radicais entre eles: o bronco teve azar, o pulha acha-se com sorte. Quer dizer que é mais provável um bronco deixar de o ser do que um pulha largar o osso. Se a matéria for atinente ao que seja o Estado de direito democrático, o bronco começa o lento processo de resgate da inteligência própria quando se permite aumentar o seu conhecimento acerca dos princípios republicanos, da teoria e prática democrática, da lógica das instituições públicas, das condições e circunstâncias em que se produz, valida e estabelece a legislação. O pulha já passou pelo mesmo descobrimento, conhece de ginjeira o que a casa gasta, mas agora escolhe utilizar a sua inteligência para se aproveitar da falta dela nas suas vítimas.
As comissões de inquérito parlamentar são tratadas com os pés na imprensa portuguesa. O editorialismo e o comentariado são unânimes no cinismo, e até desprezo, com que reduzem as CPI a pouco mais do que comícios para historiador rever e para a indústria da calúnia e o sensacionalismo lá irem buscar lenha para queimar os alvos. Culpa primeira na ordem do tempo? A dos deputados, será a conclusão inevitável. Tanto nas intervenções como no desfecho, a elaboração e aprovação dos relatórios finais, o drama é invariavelmente tribal com os partidos a vestirem a camisola da interpretação sectária dos factos apurados. O que nos leva para a culpa segunda, a da comunidade. A quase totalidade dos cidadãos, num cálculo para mim impossível de fazer mas que não me surpreenderia se excedesse os 99% da população, não liga pevide ao que se passa realmente nas comissões de inquérito. Por razões óbvias: tal exigiria literacias e conhecimentos especializados em Direito, Economia e Finanças (pelo menos, mas há mais e muito mais) que não possuem nem consideram necessário, sequer importante, virem a obter. Donde, basta-lhes a versão espectacular, redutora e descontextualizada que a comunicação social oferece de acordo com a vulgata populista reinante e os oportunismos de ocasião.
Ora, as CPI, como consta do Artigo 1.º do Regime Jurídico dos Inquéritos Parlamentares, “têm por função vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os atos do Governo e da Administração“. Esta responsabilidade, no plano formal, é levada a sério, conferindo-se às CPI os mesmo poderes de investigação das autoridades judiciais. Isto significa, pragmaticamente, “podemos ter acesso à papelada que quisermos” e “podemos chamar, interrogar e deixar com a imagem em risco quem nos apetecer”. Havendo alguém seriamente preocupado com as temáticas da fiscalização das autoridades e do combate à corrupção em Portugal, essa ave rara iria fazer da ARTV – Canal Parlamento a sua fonte principal de informação. Porque estão lá os conteúdos mais completos e detalhados, e suficientes, para se chegarem às melhores hipóteses acerca dessas temáticas. Só que ninguém os utiliza, nem sequer os jornalistas – ou principalmente os jornalistas, os quais não se concebem como investigadores isentos, na sua enorme maioria, antes como advogados das causas e dos interesses dos seus patrões. Exagero? É averiguar quantos viram todas as sessões da II Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco. E se não viram, melhor se entende como é tão fácil ajudar a esconder o que se passou nas quase seis horas em que Vara foi interrogado – pela segunda vez – no mesmo local e sobre o mesmo assunto.
A partir do minuto 14.30 da inquirição de Constança Urbano de Sousa (Ep2) podemos testemunhar um dos momentos mais clarividentes sobre o que esteve em causa no modo como se usou Vara para atacar Sócrates e o PS – portanto, para judicializar a política; por tanto, para violentar e emporcalhar o Estado de direito. A deputada, irritada com a franqueza na resposta que tinha acabado de ouvir, e para a qual não encontrou nada de válido para ripostar a não ser recorrer à difamação, avançou a direito para os terrenos da calúnia usando um dos sofismas que tinham sido explorados insistentemente pelos deputados do PSD e CDS noutras audições a diferentes protagonistas das decisões na CGD à época na berlinda. A resposta de Vara, indignada, é transparente. O que estava em causa era absolutamente irrelevante, ridículo, e nem isso a deputada sabia. Ainda mais grave, a deputada, do PS, não foi capaz de assumir a sua tão alta responsabilidade naquela comissão e naquele papel outorgado pela liberdade dos restantes concidadãos. Essa ausência de respeito pelo respeito que Vara estava a demonstrar possuir pela Assembleia da República foi uma exuberante manifestação da pior corrupção que nos pode atingir: vermos os representantes do Soberano enterrados na ignorância e na cobardia.
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O inquérito da Joana em nada difere do da Constança além de que esta, novata nestas lides, carregando sobre si a lembrança da culpa que lhe atribuíram nos mortos dos fogos de Pedrogão os seus pares da outra bancada à sua frente, novamente novata e estúpida, praticou uma inquirição sobre suspeitas sem fundamentação mas com palavreado duro vulgar para mostrar aos tais pares presentes que não estava ali para fazer fretes; a coitada ainda não percebeu o linchamento político que Marcelo e tais pares ali presentes lhe fizeram então e pior ainda pensa que ainda a absolverão se for dura a acusar um ex-amigo e governante de Sóctates.
Foi, além de uma miséria intelecrtual, sobretudo uma miséria ética.
A Joana já é uma batida nos modos e costumes de usar os poderes que conferem “às CPI os mesmo poderes de investigação das autoridades judiciais”. Ela não tem outra experiência de vida além dos livros e da escola, nunca teve de resolver o mínimo caso pessoal de ter de decidir sobre algo difícil da sua vida prática para a subsistência do seu pão na mesa, tem passado a vida a decidir sobre política e sobre terceiros e, logo, os seus erros e respectivos custos recaiem sobre a comunidade, diluídos, despercebidos e impunes.
Essa impunidade começa na posição autorgada à CI na qualidade de juíz de interrogatório intocável de hoje questionando alguém já condenado e caído na praça pública há dez anos num contexto bancário de banca rota global. Com uns papéis na frente e um dedinho acusatório apontado também ela, não obstante a sua experiência e pose doutoral não vai além de fazer, tal como a Constança, observações sobre a gestão de porquês e descobertas tão inteligentes assim como aquela que a leva a explicar a Vara que uma carta que começa com a frase “conforme combinado é porque é sobre algo de que tem conhecimento, ou não?”
Aliás também esta douta deputada bloquista transporta consigo a triste decisão e responsabilidade nunca contabilizada nem respondida em CI de ter chumbado o PEC IV. E como tal, quase logo mal começa o interrogatório, atira à cara de Vara se não foi Sócrates que o nomeou para a Caixa assinalando que o fazia como já todos, de resto, o tinham feito, insinuando que tal facto era prova provada e apenas desmentida pelo “desavergonhado” Vara.
A culpla que carrega sobre o facto histórico de Passos e a tróika nos ter imposto o inferno como merecido para expiação está sempre presente no seu constante recurso à narrativa inventada pela direita corrupta do cavaquistão.
E a futura historia verdadeira desse tempo ainda lhe irá pesar muito mais que hoje.
É tão fácil ser inquisidor ! Fantástica a facilidade de certa gente em vestir essa triste pele, colocando-se na confortável posição de detentores de uma verdade intemporal. Quando se vê e ouve estas encenações em redor da actividade creditícia, se nada se souber do assunto, até se pode ficar com a ideia de que se trata de uma espécie de ciência exacta, ponderada com recurso matemático a constantes da fisica, e não uma encenação construida para dar a ilusão de controlo sobre o imponderável.
A jovem deputada mas já muito douta em usar e abusar do poder que lhe é devido na sua qualidade política sobre outros já julgados e condenados na praça pública pela opinião formatada da vox populi abusa, especialmente, desse facto como corolário próprio da ideologia bloquista de estar sempre, sempre ao lado da opinião da grande massa do povo votante.
É também por isso que aceita todas as narrativas inventadas pelo cavaquistão corrupto como no caso “processo” marquês mesmo que para qualquer pessoa medianamente lógica inteligente, facilmente seja entendida como completamente impossível uma única pessoa empreender tantas, faraónicas, megalómanas e tão façanhudas acções de corrupção para para mais praticadas continuamente ao longo de dez anos, sem que ninguém tivesse detectado nada de anormal nem ninguém tivesse obtido um documento como prova iniludível de tanta quantidade de actos grandiosos praticados.
E em cima de toda a dificuldade de um homem normal e só poder fazer tanta acção de maldade de forma invisível e misteriosamente acresce que fez tudo isso em plena crise financeira global que o obrigava a passar semanas e meias semanas em reuniões constantes na UE.
Realmente obra sobrenatural apenas possível a um deus feito diabo.
É devido a esta adopção da narrativa da direita corrupta, a verdadeira assaltante do pote, que a Joana alude a um senhor Cunha e Sá com uma tese absurda que atira a Vara, assim, “sabia que o ministro Cunha e Sá se demitiu por causa da sua nomeação para a Caixa?”
Só um político idiota, e a joana pode ser tudo menos isso, percepcionou na altura que tal pedante criatura se demitiu por tal pobre causa. Vimos que, três meses após ser empossado entrou em desacordo com o PM sobre determinada obra (novo aeroporto?) e correu logo em promover nos media tal desacordo emperaltado de economista académico conta o “inqualificado” Engenheiro-Técnico, PM.
Claro que perante uma personalidade forte acabada de obter uma maioria absoluta o Cunha, mais forte em pedantice do que em economia ( como se constatou pela sua carreira posterior apesar do alarido sobre si próprio que andou anos a representar nos media) foi logo metido nos eixos e de seguida posto fora do governo.
O Cunha e Sá, mais que um erro de casting foi, primeiro, mais um sem qualidades além de imaginar-se grande economista e fazer-se de pavão.
Ora querer convencer-nos, a sabida política Joana do Bloco, que tal persona de palco se demitia por Sócrates ter nomeado Vara para a Caixa, é mesmo e tão só arranjar um falso argumento para, mais uma vez, prosseguir a narrativa dos corruptos por conveniência de oportunismo próprio.