Quem tramou Armando Vara? Nós todos (Ep1)

Foi o pulha certo para a pulhice do momento. Quando André Ventura declarou que o estado de emergência iria trazer de volta a “cultura da impunidade” estava a usar uma senha criada por Paula Teixeira da Cruz enquanto ministra da Justiça – “o tempo da impunidade“/ “o fim da impunidade” – a qual foi explorada à outrance por uma maioria parlamentar, um Governo, um Presidente da República, uma procuradora-geral da República, um procurador e um juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal como capa de perseguições políticas contra Sócrates e qualquer outro cidadão, com ou sem ligação ao PS, que pudesse ser apanhado e carimbado pelo Ministério Público como “cúmplice socrático”, num frenesim mediático-judicial que ainda hoje continua e continuará durante décadas na direita decadente.

Ventura apontou os holofotes para Armando Vara. Era o exemplo que tinha para dar do iminente, eminente e assustador perigo do estado de emergência, ver-se um fulano que foi condenado a 5 anos de prisão por causa de supostos crimes pecuniários tentados que nunca se realizaram, e por causa de 25 mil euros que nunca se descobriram na sua posse nem há prova de lhe terem sido entregues, a sair de um estabelecimento prisional por questões de saúde e ir para prisão domiciliária durante o período da pandemia. Acontece que Ventura estava a acertar em cheio no sentimento nacional, daí o silêncio com que a sua expressão de ódio desumano e violência cívica foi recebida. O regime e a comunidade concordam com o Ventura nesta matéria. Vara não merece perdão nem misericórdia.

Este blogue nasceu em Novembro de 2005 e, in illo tempore, eu não tencionava escrever sobre política corrente. Havia quem o fizesse sistemática e apaixonadamente no grupo inicial, o qual rapidamente cresceu com outras vedetas de igual calibre e vocação. Mas o balão rapidamente esvaziou e, apenas 6 meses depois, o blogue sofreu uma debandada quase geral e esteve para desaparecer ainda antes do Verão de 2006. Três malucos aguentaram o barco e eu aceitei manter a herança do posicionamento inicial, começando a dizer disparates sobre o quotidiano da governação e dos partidos. Factores imprevistos levaram a que o Aspirina B ganhasse uma notoriedade na então “blogosfera política” que ultrapassou a mais fantasiosa capacidade de previsão que tivesse alguma vez tido. Quando vi o Pacheco Pereira na Sábado (portanto, a troco de dinheiro) a garantir que este e mais dois blogues davam guarida a membros do Governo de Sócrates que neles escreviam sob anonimato – isto ao mesmo tempo que acusava esses blogues de lançarem calúnias, para ao mal não faltar a caramunha – não tive apenas uma experiência de pasmo hilariante, igualmente recebi uma profunda lição de antropologia.

Nestes quinze anos de acompanhamento diário da política nacional e de introdução à ciência política tenho sido um inveterado aprendiz. As minhas opiniões não ultrapassam a banalidade descuidada e não me recomendo a ninguém, antes sugiro a quem passa que gaste a ligação à Internet, ou o corpinho, com actividades que não provoquem remorso pelo inevitável desperdício dos preciosos neurónios. Porém, cumpro-me ao revelar neste dia comemorativo da liberdade e da democracia nacionais que a mais importante aprendizagem sobre Portugal, até à hora em que teclo, foi obtida ao ver a totalidade das audições da II Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à Gestão do Banco. Motivava-me o retrato que Marques Mendes e Manuela Moura Guedes, para dar só os referentes mais espectacularmente doentios, fizeram na televisão a respeito de um indivíduo de seu nome Armando Vara. Disseram que ele era, em simultâneo, o maior dos incompetentes e o mais sofisticado dos ladrões. Acusaram-no de ter sido o singular arquitecto ou o sabujo verdugo da ruína de bancos e do Estado. Cuspiram-se para a câmara no desvario bacante de o assassinarem simbolicamente.

Ora, não se concebe situação de maior fragilidade política do que essa de já se estar acusado, condenado e preso e ainda ter de sair da cadeia para enfrentar um tribunal só de políticos. Um tribunal político onde todos os intervenientes, à excepção do inquirido, trabalham para a acusação. O único advogado de defesa permitido tratando-se de Armando Vara, o primeiro e único preso na História de Portugal por crime de tráfico de influências à data, só podia ser o próprio. O próprio contra todos, sem condições de se preparar para o embate e carregando a certeza de ir ser alvo de insultos, ofensas, humilhações e desprezo odiento durante o tempo da sua exposição na Assembleia da República. Parecia-me uma ocasião imperdível para, finalmente, ficar a conhecer os podres dessa figura que representa por antonomásia a corrupção e o alarme público, como agitou o Ventura há dias. Como é que ser tão desprovido de competências bancárias e tão manifestamente criminoso conseguiria resistir à avalanche de factos, de argumentação litigante e retórica letal que foi lançada contra a sua desgraçada pessoa por impolutos e ferozes deputados?

O que encontrei dividi em 12 episódios. Cada vídeo apresenta uma intervenção por partido que se reproduz na íntegra, mantendo a ordem sequencial da sessão. Acrescentei o vídeo da ronda final, em que todos os partidos lançam perguntas para Vara responder em conjunto e onde também deixa a sua última declaração, e ainda o vídeo da sua declaração inicial, prévia às intervenções dos deputados, a terminar a série.

Se alguém fizer o que fiz, ouvir as partes com sagrada curiosidade, vai ter um hercúleo trabalho para não se comover com o linchamento que nós todos estamos a fazer, ou a deixar fazer, a este cidadão, a este português, a esta pessoa.

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21 thoughts on “Quem tramou Armando Vara? Nós todos (Ep1)”

  1. “Quem tramou Armando Vara?”
    Todos os que meteram a viola no saco, perante: a pressão da direita; do politicamente correcto; da pressão justiceira dos media -que têm enormes telhados de vidro- para venderem papel;

  2. Tantos !
    Só para citar alguns, o Princípio de Peter, identificável na sua profunda incompetência, quer política, quer de gestor bancário, o Princípio da Apropriação da Coisa Pública, típico da maneira de pensar, ser e estar, de alguns socialistas, que julgam que a democracia portuguesa é propriedade exclusiva do PS, e que são credores da mesma, pelo que esta lhes deve servir de sustento, e por aí adiante .

  3. 1.º O próprio A.V, que se esqueceu que a política é um mundo cão. Ingenuamente dispôs-se a servir os “compagnon de route” para, de forma consciente, gamar a coisa pública a favor daqueles. Quanto sacou para si? Não sei.
    2.º Os seus companheiros de partido (e não só) que precisaram de eleger um bode expiatório para pagar as sacanagens que andavam a fazer e que se tornaram públicas. Deste modo afastaram-se do foco luminoso e esconderam-se nas sombras, deixando o A.V. a arder.
    3.º Outros interessados em que se soubesse que os políticos são gente série ainda que, tal como em todos os grupos sociais, pode existir um ou outro desonesto.
    4.º Alguma opinião publicada.

    Não estou a dizer que o A. V. não devesse ter sido tramado, apenas estou a responder à pergunta de Valupi.

  4. ele é que se tramou. não é bandido quem quer , é quem pode. pato bravo é fácil de caçar. consultadoria sem recibos , dinheiro em off shores ?
    este faz o pino para defender os amiguitos do zézito.

  5. Fulgêncio Cacete, viste o vídeo do interrogatório de Virgílio Macedo a Armando Vara?
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    Eu mesmo, viste o vídeo do interrogatório de Virgílio Macedo a Armando Vara?
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    yo, viste o vídeo do interrogatório de Virgílio Macedo a Armando Vara?

  6. ” viste o vídeo do interrogatório de Virgílio Macedo a Armando Vara?”

    e se vissem, onde é que isso ia alterar a perspectiva murcona da malta que emborca lixívia e bronzeia o vírus com ultra violetas? só os nomes e apelidos dessa gente dizem ao que vêm e o que vendem, é bloquear para não infectarem as estatísticas.

  7. Dei-me ao trabalho de ver o vídeo do interrogatório e faz lembrar os interrogatórios medievais da Inquisição como se vê em filmes históricos (Joana d’Arc de Preminger p.ex.) e na leitura de julgamentos históricos de casos de heresia e fé.
    E como nesses casos a verdadeira heresia humana e crendice na fé beata está nos inquisidores, e não nos inquiridos, que neste caso A. V., está estampada na personagem desempenhada pelo Virgílio Macedo. Tudo são insinuações sobre as ligações políticas do inquirido e suas nomeações ou capacidades para o cargo sem um único documento nem fundamento sério que prove as acusações atiradas à cara do inquirido tomado à priori como um criminoso que tem o crime marcado na pele socialista.
    Afinal quem é este Virgílio, ou outros, para saber das capacidades de gestão bancária de A. V.? Este que viera, precisamente, da aprendizagem prática e tarimba de bancário e depois de ser Secretário de Estado de um governo não tinha capacidaddes mas todos os outros anteriores nomeados (pelo Cavaco p.ex.) politicamente como Vara vindos do zero esses sim tinham bué de “capacidades”.
    Mas o grande “Final” marca o grande inquisidor: tudo estava preparado e ordenado para atingir o climax de grande final da ópera bufa interpretada pelo Virgílio, pela senhora de branco angelical a um lado e do outro o eterno deputado olho de boi.
    O tal grande “Final” estava mesmo para ser revelado no fim, em cima da hora, em estrondosa apoteose final canina inspirada naquele facto mais que provado do grande, inigualável, incomparável, irrefutável, inesquecível, inqualificável, mastodôntico, faraónico e imperdoável “golpe” do grande “Diabo”.
    Afinal o Vara era um filho da costela de Sócrates.

  8. Sr. Neves :
    Agora que puncionou o tabu e ousou referir o nome próprio do grande “Diabo” , ouso fazer~lhe confidência de uma angústia que me assarapanta:
    – Com este ronco informático que o professorado alcançou, ninguém lembra a tentativa “”Magalhães” que esse Belzebu alvitrou e lançou ao terreno? E já lá podiam ir 16 anos com hardware acessível… dá que pensar…
    Se a ciência custa caro, a burrice custa caríssimo !

  9. Valupi:
    Sim, vi esse interrogatório como vi outros das ditas comissões visando outras pessoas.
    Num aspecto particular concordo com o José Neves: os interrogatórios que ali se fazem por vezes metem nojo, e agora acrescento, sobretudo quando a personagem que vai ser ouvida já foi marcada pelo sistema para ser “queimada”. Esta era a condição do A.V., de que ele tinha consciência.
    Por isso escrevi o meu comentário anterior.
    Aliás, preocupa-me a postura de alguns inquisidores, perdão, inquiridores, da esquerda e da direita. Tem justificação o nosso passado? Está-nos no sangue?
    Quanto à culpa do Vara prefiro estar calado, para não referir certas práticas, pois Varas e varas há algumas.
    Agora também tenho a ideia que A.V. é estóico e como transmontano que é vai ficar calado. A vida nas pedras é dura.

  10. Valupi:
    O 1.º comentário foi para responder ao teu título: “Quem tramou Armando Vara? “.
    O 2.º foi para responder à pergunta que me fizeste, se tinha visto o vídeo, e para tecer algumas considerações sobre certos membros das comissões.
    Deixa que refira que para responder ao título não é necessário ver o vídeo. O vídeo em si, e não a propósito do A.V, pode é suscitar uma reflexão a respeito das comissões de inquérito, seus poderes, seu modo de funcionamento, etc..

  11. Eu mesmo, constato, portanto, que não precisas da realidade para teres opiniões a respeito do Armando Vara. O que não me surpreende mas que aproveito para registar.

  12. o bídeo não era necessário porque só prova o mau funcionamento das comissões parlamentares e o julgamento no tribunal tamém não pelos mesmos motivos, portantes o gajo deve estar preso porque o correio da manhã investigou e julgou. ólhó dinheiro que se poupava se a justiça fosse concessionada à cofina.

  13. It doesn’t matter, há badalhocos(as) que estão tratando de o “ destramar “, v.g., o badalhoco .
    Tantas fotocópias e tantas máscaras . Para textos + ou – “ erudictos “ escreve-se lá para o topo, quando se trata de descer à ordinarice, muda-se de máscara .
    Ó ignatz, queres chupa misto ?

  14. O cacete é para mim !

    (…) ólhó dinheiro que se poupava se a justiça fosse concessionada à cofina. (…)

    Poupava-se e depois era para repartir entre tí e o infractor, mais o IVA e as alcavalas, e com acréscimos por sobre-faturação.

    Se fosse eu a mandar, já tinhas perdido o que ainda nem ganhaste, ó Advó-Assessor, Spin Gama .

  15. Valupi:
    Tendo por referência a irrelevância que atribuí à visualização do vídeo acusas-me “que não precisas da realidade para teres opiniões a respeito do Armando Vara”.
    O vídeo só apresenta a realidade do que se passou naquela reunião. Claro que o tom era em desagradável, mas os factos relativos ao A.V. passaram-se anos antes. Ainda que o tema do inquérito fossem essas ocorrências antigas, cada um disse o que entendeu, não sendo por isso que se alteraram os factos passados. A narrativa do A.V. vale o que vale, não resultando dela a reprodução da realidade.
    Tendo em conta o tom da reunião e desequilíbrio entre as partes referi que aquele tipo de comissões era um tema interessante para ser discutido.
    Porém, não é pelo que se passou na nessa reunião que eu tenho a opinião que tenho sobre os factos imputados a A.V. relativos à sua passagem pela CGD em anos que já lá vão. Por isso a irrelevância do vídeo para esse efeito.

  16. Carai … !
    Porque é que você nao pergunta antes, quem tramou a filha do dito-cujo, por ter-lhe concedido ao balcão da agência da CGD, em Vinhais (*), um empréstimo para aquisição de uma habitação, amortizável quando ela completasse 120 anos de idade !!! ?
    É uma situação muito mais cão dente !
    E dava uma novela mexicana mais bem-divertida !

    (*) Trata-se da mesma agência bancária onde o marmanjo iniciou a activadade de empregado bancário, atendendo ao balcão, antes disso, também trabalhou ao balcão mas no comércio retalhista, onde vendia por exemplo, coturnos de algodão do “ Egipto “ .
    O PS parece que já ao tempo, tinha “ novas oportunidades “, não acha ?
    Quanto a facto et al, não consta que alguma vez tivesse trabalhado como aprendiz de alfaiate, portanto não há fatos .

  17. eu sei de um facto , não é crime hoje em dia , mas já foi e diz muito do carácter do individuo : emprenhou a mulher de um amigo e companheiro de aventuras ,, o professor domingueiro do zézito , coitado , que criou o rebento durante anos sem saber que não era dele. ( depois exigiu-lhe a massa da criação em tribunal) .novela mexicana , pois é , e que actores , my god , feios porcos e maus , numa grande bouffe. -:)

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