Quando o telefone não toca

No discurso de derrota, Seguro disse, e mais uma vez, que tinha feito História. Será até provável que já tenha perdido a conta às vezes em que fez História só nestes três anos de poleiro. E disse que a sua campanha tinha sido “memorável”, algo que ninguém se atreverá a contraditar. E mais disse que vai continuar a lutar pela separação entre a “política” e os “negócios”, o que será especialmente interessante de acompanhar caso Costa não o inclua na lista de deputados para a próxima legislatura. O que Seguro não vocalizou foi a declaração convencionada de etiqueta democrática entre rivais políticos no desfecho da contenda: “Telefonei ao fulano e dei-lhe os parabéns.” Ou seja, antes e depois, acima e abaixo, do páreo está a comunidade, é o que esse ritual celebra e consagra.

Terá telefonado? Terá mandado alguém telefonar por ele? Ainda não li nenhuma referência a esta questão. Porque é uma questão. A qual aponta, se ficarmos apenas limitados ao espectáculo mediático, para uma ausência de contacto pessoal. Contudo, se Seguro telefonou a Costa, não o ter referido na sua declaração de derrota continuará a ser relevante para as contas finais deste longo e destruidor ciclo no PS – e na oposição – que começou em Setembro de 2011.

Por sua vez, Costa dirigiu-se a Seguro com pujantes gestos políticos. Primeiro, quando apareceu de cravo ao peito. Depois, quando lançou o cravo para a plateia, ridicularizando o ridículo vídeo do ridículo Seguro. Por fim, quando se dirigiu ao Rato e se passeou triunfal no que poucas horas antes tinha sido o quartel-general do seu adversário. Foi uma humilhação à antiga, de sabor e requinte clássicos, mas a qual só foi possível de aparecer como oportunidade pelo absoluto desrespeito de Seguro pela democracia interna do partido nascido da confusão que fez até ao último momento entre a sua carreira política e a sua vidinha.

Para o meu palato, teria preferido que Costa falasse de Seguro. Para o pendurar na parede, em nome do partido. E para o expor como um pulha, em nome da cidade.

7 thoughts on “Quando o telefone não toca”

  1. @G_L, de que falas? Quais grosserias? E qual é o problema de reconhecer que o partido está dividido e, quiçá, deve mesmo é aprofundar a sua divisão?

  2. Estou convencido, Val, de que António Costa só por acaso dirá aquilo que outros (incluindo eu) esperam. Observo que ele tem uma personalidade política singular, o seu discurso é sobretudo acção, não que ele não tenha pensamento, estratégia ou convicção mas, ao que parece, não pretende verbalizá-los .
    Será pressionado por todos os quadrantes políticos a manifestar-se sobre a “agenda do momento”, a crise, a dívida, a herança, a culpa (Sócrates, sempre Sócrates), o que fará, o que não fará. E ele resistirá até aos (seus) limites.
    A seu tempo se verá, se este modo de estar na política merece o reconhecimento que por enquanto ainda não lhe falta. De facto, estamos fartos de palavras e sedentos de atitudes firmes, de atitudes construtivas. Precisamos todos (refiro-me à generalidade dos nossos concidadãos) de acreditar, de voltar a acreditar, de ter esperança. Para já, António Costa já fez cair uma das criaturas mais nefastas do seu partido e da política portuguesa, Talvez ele venha a surpreender-nos, talvez venha a decepcionar-nos. Estamos cá para ver.

  3. A história que o Tóze reclama como sua é a realização
    das primárias que, por sua vez foram classificadas como
    uma “farsa” pelo camarada jerónimo este sim, já está a
    marcar a sua posição face à eleição de A. Costa!
    Há pouco ouvi na SIC-N o joão soares num rasgado elo-
    gio ao seu apoiado tão amargamente incompreendido!?!
    O arrumar a casa não vai ser fácil, há muito pó e lixo por
    para ser removido e apeado por falta de condições!!!

  4. Deixem as pessoas desabafar !! Qual é o mal em se excederam um bocadinho !!! Qual dividir o partido…qual quê !!! O cidadão comum não é de ferro e o militante e simpatizante também não !!! Quanto a Costa….o homem dá confiança….porque já deu provas !! E no discurso de vitória disse ” ninguém saiu derrotado” !! Ora aqui está o suficiente para calar ao que queriam uma mesura de piedade !!
    Quero, no entanto, na minha qualidade de simpatizante DIZER, ALTO E BOM SOM, que se Costas tivesse renegado a história passada do PS e nomeadamente SOCRATES, eu e muitos milhares não o apoiaríamos !!! Sacos de boxe, há-os nos ginásios !! E que os despeitados e invejosos de danem !!!
    Desejo um grande desempenho de Costa e cá estarei para o apoiar !!!

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