O senhor não pode imaginar, porque é bonito e tem saúde o que é a gente ter nascido e não ser gente, e ver nos jornais o que as pessoas fazem, e uns são ministros e andam de um lado para o outro a visitar todas as terras, e outros estão na vida da sociedade e casam e têm baptizados e estão doentes e fazem-lhe operações os mesmos médicos, e outros partem para as suas casas aqui e ali, e outros roubam e outros queixam-se, e uns fazem grandes crimes e há artigos assinados por outros e retratos e anúncios com os nomes dos homens que vão comprar as modas ao estrangeiro, e tudo isto o senhor não imagina o que é para quem é um trapo como eu que ficou no parapeito da janela de limpar o sinal redondo dos vasos quando a pintura é fresca por causa da água.
Maria José, corcunda e tudo
Muitas vezes,
perante esta insanidade colectiva que nós somos,
tento sim imaginar
o que os meus iguais,
mas nestas circunstancias de Maria José e outros,
sentem, pensam, acham da sua e nossa outra existencia.
Abraço Maria José
eu diria que, além de corcunda, esteve exposta a poeiras respiráveis durante 30 anos e sofre, efectivamente, de silicose. :-D
Valupi e Sinhã:
Esta é para os dois: http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/05/na-cadeia-das-15-melhores-series-de.html
Muito muito bom.
Muito muito doloroso, também.
Que maravilha! Fernando Pessoa a escrever com coração de mulher corcunda e mãos de homem poeta.
Esta Maria José é uma sábia.